• Nenhum resultado encontrado

Após um longo período de reforma administrativa e fiscal desencadeado a partir de 1995, o Estado do Pará alcançou o equilíbrio em suas contas, através do corte de gasto públicos e do aumento das receitas próprias, principalmente pelo o aumento da arrecadação de ICMS. Passado este período, a gestão deste mesmo ICMS passou as ser um instrumento chave para política de desenvolvimento do Estado, com a adoção do programa de incentivos fiscais do Estado do Pará.

Entre outros, esste programa tinha como principais objetivos: o estímulo e dinamização de empreendimentos no Estado, dentro de padrões técnicos-econômicos de produtividade e competitividade; a diversificação e integração da base produtiva, incentivando a descentralização da localização dos empreendimentos e a formação de cadeias produtivas; a promoção de maior agregação de valor no processo de produção; a qualificação de mão-de-obra; a ampliação e recuperação ou modernizar o parque produtivo instalado; a incorporação de métodos avançados de gestão empresarial; adoção de tecnologias apropriadas e competitivas; a garantir a sustentabilidade econômica e ambiental dos empreendimentos no Estado; a relocalização de empreendimentos já existentes e operando no Estado em áreas mais apropriadas do ponto de vista econômico e ambiental; o estímulo da infra-estrutura logística de transportes, de energia e de comunicação; o fortalecimento da atividade turística e por fim o estimulo à atração de fundos de capital de risco, privados ou de natureza tecnológica.

Inúmeras são as críticas a tais programas. Uma vez praticados, os mecanismos de renúncia fiscal tendem a ser insuficiente para a promoção do desenvolvimento endógeno e auto-sustentado da economia regional. Isoladamente, não tem forças para criar um sistema produtivo local. Ao atrair empresas, produz, na maioria das vezes, um amontoado de empresas sem ligações orgânicas entre sí e com o local, desprovidas de externalidades e que podem facilmente desaparecer ao longo do tempo, principalmente por falta de condições propícias à geração de aglomerações e de rendimentos crescentes.

O programa incentivos fiscais do Pará, apesar de ter representado uma enorme transformação nos mecanismos institucionais do Estado, se revelou incapaz de atrair novos investimentos para a região. Foram beneficiadas principalmente empresas locais, já há muito estabelecidas, pouco intensivas em tecnologia e que tinham nas vantagens absolutas de custo a sua principal estratégia competitiva, convertendo matérias primas locais em produtos finais, com baixos custos de logística e transação e vendendo-os no mercado local. De forma geral, estas empresas estavam excluídas dos grandes mercados e setores mais dinâmicos da economia brasileira, intensivos em tecnologia e dominados por estruturas de mercado oligopolizadas.

Para as empresas locais, a adesão ao programa de incentivos fiscais desencadeou uma melhora nas suas taxas de lucro e, principalmente no seu fluxo de caixa, o que veio a incrementar fortemente os outrora pífios níveis de investimentos. Este novo período é denominado neste trabalho fase de „expansão incentivada‟ das empresas. Ao contrario do que seria de esperar, a forte expansão da produção nesta nova fase, não acarretou mudanças significativas, quer na estratégia competitiva das empresas, quer no modelo de desenvolvimento industrial do Estado do Pará.

Nesta fase, as empresas expandiram sua produção incorporando mão-de-obra com melhor nível de qualificação ou qualificando-a internamente para operar processos de produção novos para a região, porém já largamente empregados no mercado nacional, resultando em produtos igualmente já existentes no mercado nacional, que passam a ser produzidos localmente e disseminados no mercado local. Vale dizer que este processo não se fez acompanhar por mudanças organizacionais significativas nas empresas incentivadas, de forma a lhes permitir o desenvolvimento interno de competências tecnológicas.

De modo geral, a política de incentivos fiscais permitiu às empresas alargar sua paleta de produção, sem alterar-lhes a estratégia competitiva, agora, como dantes, baseada nas mesmas vantagens absolutas de custo, porém estendidas a uma gama maior de produtos em setores pouco intensivos em tecnologia e não dominados por estruturas de mercado oligopolizadas. Para o Estado do Pará, a política de incentivos não altera seu modelo de industrialização, nem mesmo

sua forma primário-exportadora de inserção competitiva nos mercados globalizados, exatamente por excluir mecanismos de geração loção de inovações e progresso tecnológico. Tal fato não representa uma falha de concepção ou implementação do programa, mas redunda de suas próprias limitações enquanto instrumento de desenvolvimento regional.

Dada as características da economia paraense, onde predominam baixos índices educacionais, elevada concentração de renda, elevado índice de pobreza e precariedades da infra- estrutura, políticas de renúncia fiscal encontram pouca legitimidade, principalmente quando seus benefícios se restringem às empresas incentivadas, haja vista os limites da nova fase de „expansão incentivada‟. Questiona-se igualmente a concessão de incentivos fiscais a grandes empresas já estabelecidas, que, do contrário, muito provavelmente permaneceriam operando no Estado graças, entre outras, à abundancia e proximidade de fontes de matérias primas.

O Estado do Pará necessita urgentemente expandir sua política industrial para além dos o incentivos fiscais, desde o direcionamento dos investimentos ao provimento de serviços eficientes de infra-estrutura econômica e física, até o desenvolvendo do sistema estadual de inovação, compreendendo não só a criação de instituições de ensino e pesquisa, mas também o estabelecimento de mecanismos instituições capazes de gerar e difundir tecnologias, estreitando a relações entre empresas e centros de pesquisa. Não existe indústria intensiva em conhecimento sem um forte ambiente institucional e econômico que promova e incentive as competências específicas da região, agregando ensino, pesquisa, investimentos e infra-estrutura, que muitas vezes resultam de um longo processo de aprendizado na geração de sinergias tecnológicas.

Documentos relacionados