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CAPÍTULO I – CONSIDERAÇÕES FONÉTICO-FONOLÓGICAS DAS VOGAIS NA

1.1 ABORDAGEM FONÉTICA

1.1.1 Fonética Acústica

1.1.1.2 Produção e caracterização das vogais e consoantes orais

1.1.1.2.2 Consoantes orais

Na produção das consoantes, a obstrução total ou parcial no trato vocal pode ser rápida, como em [p], ou mais demorada, como em [m]. Ladefoged e Johnson (2011) afirmam que em termos de análise acústica não é possível perceber o ponto de articulação das consoantes no oscilograma (waveform), mas o modo de articulação é facilmente percebido como o é também a diferença entre um som vozeado e um desvozeado. No oscilograma, portanto, percebemos e identificamos as consoantes oclusivas, as fricativas, as nasais e as aproximantes.

FIGURA 16 – Oscilograma da frase “my two boys know how to fish”.

Fonte: Ladefoged e Johnson (2011, p. 18).

Já vimos que as vogais são identificadas a partir dos seus formantes, dos dois primeiros, principalmente. Com as consoantes não é tão simples, pois a maioria delas não têm formantes. Ladefoged e Johnson (2011, p. 198) afirmam que “a estrutura acústica das consoantes é geralmente mais complicada que a das vogais3” (tradução nossa). Esses autores afirmam que não há diferença entre as oclusivas vozeadas [b], [d], [g] e as desvozeadas [p], [t], [k] no momento da oclusão, pois em todas elas acontece o silêncio da oclusão. O intervalo entre o silêncio da oclusão e o início da vogal é chamado de VOT (Voiced Onset Time) (KENT; READ, 2002). Para diferenciar as consoantes oclusivas, por exemplo, observa-se, no espectrograma, o espaço entre a explosão e o início da vogal seguinte que se difere de uma consoante para outra. As fricativas também podem ser identificadas pela fricção, que pode chegar a ser registrada por volta dos 8000Hz, no espectrograma. Estas consoantes atingem as frequências mais altas da fala. Esses são apenas alguns dos fatores que podem ser observados na análise acústica das consoantes.

As consoantes provocam alterações nos formantes das vogais que as seguem ou as precedem, a depender da configuração do trato vocal, durante a produção. Na produção da sílaba [b], por exemplo, o formante da vogal começa a partir da abertura dos lábios. A frequência dos formantes corresponderá à maneira particular em que os lábios se encontram (iniciando a abertura) após a explosão da consoante e o início da vogal. Ladefoged e Johnson

(2011) acrescentam que, de acordo com a teoria da perturbação4, o fechamento dos lábios acarreta abaixamento de todos os formantes. Na sílaba [b], portanto, os formantes começam em uma posição mais baixa e depois sobem ligeiramente. Os autores pontuam que processo parecido ocorre em [b] em que os formantes têm um ligeiro abaixamento que indica o fechamento dos lábios para a produção da consoante final (LADEFOGED; JOHNSON, 2011, p. 198). Diante disso, a extração dos formantes das vogais orais e nasais, neste trabalho, é realizada na parte estável do formante, que é praticamente no meio deste e é a parte que tem menos interferência da consoante vizinha, seja ela localizada à direita, seja à esquerda. Então, tem-se uma palavra manga. No espectrograma, aparece a palavra inteira e as outras partes da sentença em que ela está inserida (subseção 2.2), mas a extração das medidas é realizada apenas na vogal nasal.

Apresentamos, a seguir, um espectrograma das palavras bed dead e do logátomo5 geg, do inglês americano, tirado de Ladefoged e Johnson (2011, p. 199), em que se observa a formação do F2 e do F3, resultado da configuração do trato vocal para a produção das oclusivas vozeadas [b, d, g].

FIGURA 17 – Espectrograma das palavras bed, dead e do logátomo geg.

Fonte: Ladefoged e Johnson (2011, p. 199).

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A teoria da perturbação postula que a configuração do trato vocal e a posição dos lábios, no momento da produção das vogais, provoca alteração na frequência dos formantes. Há configurações que farão com que a frequência do formante suba e há configurações que farão com que a frequência caia (LADEFOGED; JOHNSON, 2011).

5 Palavra artificial de poucas sílabas que obedece a todas as regras fonotáticas de uma língua, mas que não tem

Antes de passarmos às observações sobre a figura, apresentamos alguns termos e suas definições usados na análise espectrográfica: a) lócus: “aparente ponto de origem do formante para cada lugar de articulação”; b) barra de vozeamento (voice bar): “estrias” que surgem na linha base, em abcissa, durante a produção de um som vozeado; c) esmagamento velar (velar

pinch): aproximação das extremidades dos formantes no início e no fim da vogal precedida e

seguida por uma velar.

A partir das observações dos autores, percebemos que os F1s das três palavras iniciam em um nível baixo e depois têm uma ligeira elevação. Os autores afirmam que esse fato está relacionado ao fechamento dos lábios para a produção dessas oclusivas e não deve ser considerado característica para distinguir lugar de articulação. Na primeira palavra, bed, o F2 e o F3 iniciam mais baixo que os mesmos formantes da palavra dead; “o F2 é notadamente alto com a inicial [b], a partir de um locus comparativamente baixo”. Em dead, o F2 é estável no início, enquanto que o F3 cai um pouco. Na terceira palavra, o logátomo geg, tem-se o início e o fim dos formantes aproximados, ou seja, no início e no fim da vogal os formantes se aproximam. Conforme os autores, esta é uma característica marcante das consoantes velares. Esse fenômeno é chamado de esmagamento velar (velar pinch) (LADEFOGED; JOHNSON, 2011, p. 199).

Os fonemas denominados aproximantes são, ao contrário dos oclusivos, produzidos sem oclusão no trato vocal. Neste grupo, em cuja produção há um estreitamento no trato vocal, estão as semivogais [j] e [w] e as consoantes [] e [r]. Esses fonemas são caracterizados pela frequência de seus formantes, que são produzidos com bem menos energia em relação às vogais. A lateral [], por exemplo, tem formantes parecidos com os das vogais, mas que se localizam por volta de 250, 1200 e 2400Hz e com menos intensidade. Outro tipo de consoante que possui formantes são as nasais, tópico de nossa apresentação na subseção seguinte.