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2. As novas tecnologias e a sociedade da informação, mas agora em rede

2.3. A consolidação do dispositivo midiático

Para entender a extensão desta perspectiva, faz-se necessário uma breve retrospectiva sobre a evolução dos meios tecnológicos que possibilitaram a centralização social da mídia. Aqui, a atenção estará focada no desenvolvimento técnico dos aparelhos de comunicação; pois os media estão em constante evolução tecnológica, mas a natureza das mudanças acaba sempre por refletir traços e características de tecnologias já existentes. Mas afinal, o que é continuidade e o que representa uma mudança radical no surgimento das tecnologias?

"[Por volta do início dos anos 80,] novas sementes começaram a brotar no campo das mídias com o surgimento de equipamentos e dispositivos que possibilitaram o aparecimento de uma cultura do disponível e do transitório: fotocopiadoras, videocassetes e aparelhos para gravação de vídeos, equipamentos do tipo walkman e walktalk, acompanhados de uma remarcável indústria de video-clips e video-games, juntamente com a expansiva indústria de filmes em vídeo para serem alugados nas videolocadoras, tudo isso culminando no surgimento da TV a cabo." (Santaella, 2003, pp.26-27)

Primeiramente, vale voltar novamente ao conceito de media, que desde a primeira metade do século XX passou a ser usado para designar uma realidade coletiva, através da figura dos meios de comunicação de massa. Na segunda metade do século, em 1953, McLuhan utilizou-se desta base para falar sobre novos media, associando o novo conceito a aspectos de natureza técnica. (Ferreira, 2014) Nas décadas seguintes, os intelectuais do campo debateram - e ainda debatem - a designação "novo" no termo, trazendo à tona a continuidade tecnológica que caracteriza a evolução dos meios de comunicação e coloca em causa o caráter de novidade de seus surgimentos. "A grande diferença em relação a outras revoluções tecnológicas do passado é que, na atual, a matéria-prima é a informação moldada pelo novo meio tecnológico que é o computador". (Del Bianco, 2004) Após o computador, o que mudou?

Deuze (2011, p.138) dirá que, de forma abstrata, a novidade percebida na condição humana contemporânea poderia ser melhor entendida como uma "experiência técnico-social da realidade". Ou seja, independente da conceituação acadêmica de "novo media", aqui o importante será perceber quais mudanças sociais foram trazidas pela chegada de novos elementos tecnodigitais para o cotidiano da sociedade. "This argument builds on my earlier suggestion that media should not be seen as somehow located outside of lived experience, but rather should be seen as intrinsically part of it." (Deuze, 2011, p.138)

Isso acarreta no que Deuze (2011, p.138) irá chamar de "media life", uma realidade onde vive-se nos media, e não com os media. E esta será uma premissa para a análise da sociedade contemporânea ocidental e como ela se relaciona através dos meios.

A primeira mudança radical a ser considerada na sociedade contemporânea foi a chegada da Internet e suas variações. Como já dito no capítulo anterior, a sintetização do tamanho do computador, o barateamento do computador pessoal, a evolução e popularização da Internet e suas vias (cabo, fibra ótica, wireless) e a disponibilização da web ao grande público, através da WWW, são as origens para uma transformação social indiscutível, visto que alterou quantitativa e qualitativamente as noções de tempo e espaço, de troca de informação e descentralizou a comunicação. É a gênese da "media life" de Deuze e representa um momento onde a mídia está em todas as esferas da vida pessoal, profissional e pública de um indivíduo. O armazenamento, produção e gestão das informações básicas para vida social, antes preservados através da tradição oral e, posteriormente, da escrita em papel, agora dá-se de modo digital, através de aparelhos com tecnologia computacional, em grande parte conectados à rede. "A Internet é a espinha dorsal da comunicação global mediada por computadores: é a rede que liga a maior parte das redes” (Castells apud Carneiro, 2012, p.3)

"A comunicação mediada por computadores tomou outra dimensão quando a Internet se tornou global e mais tarde comercial, o que levou à sua adoção massificada." (Pellanda, 2007, p.6)

Foi este o início da comunicação mediada por computador, que alguns denominam na sigla CMC. "Se anteriormente os grupos de pessoas centravam-se nos contextos de interação face a face, agora, a tecnicidade medeia a construção de novas práticas de interatividade através das diferentes linguagens dos meios." (Carneiro, 2012, p.3) Naturalizando-se entre os utilizadores individuais e entre empresas que prospectavam novas formas de se comunicar com seus públicos, a computação passou a estar presente em diversas ocupações cotidianas e a mediar estas atividades, assim como outras formas de tecnologias: "O nosso mundo é um mundo de comunicação mediada por tecnologias como o lápis e o papel, o telefone, a televisão e a Internet", apesar de não extinguir por completo o modelo tradicional de comunicação, já que "continua a ser também o mundo da comunicação face a face." (Cardoso, 2007, p.29)

"This mediation of everything is premised on the increasing invisibility of media which, in turn, makes media indivisible from (all aspects of everyday) life. The moment media become invisible, our sense of identity, and indeed our

experience of reality itself, becomes irreversibly modified, because mediated." (Deuze, 2011, p.140)

O que Deuze quer dizer, ao falar da imperceptibilidade da mídia ao penetrar e alojar-se no dia a dia social, é que as pessoas já não reparam que estão a interagir e utilizar elementos que fazem parte do sistema midiático. Uma das razões para esta impercepção é o fato de que as mudanças ocorrem aos poucos, acumulando conhecimentos de hábitos anteriores. Como já foi dito, uma das principais apostas dos investidores quando do lançamento dos computadores pessoais era o entretenimento através dos jogos, utilizando uma experiência já socialmente bem-sucedida. Assim também aconteceu com os 'novos media', que surgiam coletando e reconectando características de meios e tecnologias já existentes. Afinal, "a idéia de sociedade em rede tem também implícita uma lógica de coexistência e de não-substituição imediata." (Cardoso, 2007, p.24) A mudança gradual é indispensável em sociedades desiguais entre si e em si, levando muito tempo para que todos sejam atingidos por igual.

Na simultaneidade dos momentos de transição, os meios acabaram por se fundir e as tecnologias foram integrando-se e complementando-se. Televisores com Internet integrada e telefones móveis com câmera de fotografar e filmar são apenas alguns exemplos dessa associação que hoje é chamada por alguns de multimídia. O termo "mídia" por si só já remete à pluralidade, à multiplicidade. (Pernisa, 2010) Multimídia seria, então, aquilo que "emprega diversos suportes ou diversos veículos de comunicação". (Lévy, 1999, p.63)

Por sugerir o uso de múltiplos suportes, Lévy (1999, p.65) propõe que o termo multimídia seja substituído por "unimídia", quando a intenção for referir-se à tendência atual de interconexão e convergência. Em um único meio já é possível encontrar reunidas múltiplas mídias, expandindo as funções do aparelho tecnológico e as possibilidades do utilizador. De qualquer forma, os termos multimídia e mídia já fazem parte do vocabulário popular, e "é possível entender que o termo mídia pode contemplar todos os meios de que trata hoje o universo da comunicação." (Pernisa, 2010)

Já Cardoso (2007:17) afirma que não há convergência, mas antes uma "articulação em rede" das mídias e de suas utilidades. E, assim, o autor defende a hipótese de que "o sistema de mídia se articula cada vez mais em torno de duas redes principais, que por sua vez comunicam-se por meio de diferentes tecnologias de comunicação e informação. Essas redes constituem-se respectivamente em torno da televisão e da Internet estabelecendo nós com diferentes tecnologias de comunicação e informação como o telefone, o rádio, a imprensa

escrita etc." As tecnologias tradicionais, como a imprensa escrita e a televisão, coexistem com a Internet na era digital, ainda com força considerável.

Apesar da tecnologia computacional ser uma "tecnologia definidora" (Oliveira, 1997, p.20) a televisão permanece sendo a principal fonte de informação da maioria da população. No Brasil, por exemplo, um levantamento buscando conhecer os hábitos de consumo de mídia da população brasileira em 2016 revelou que 90% dos brasileiros alegam se informar pela televisão, e, desses, 68% consideram seu principal meio de informação. A Internet aparece em segundo lugar neste ranking, sendo a principal fonte de informação de 26% da população. O relatório mostrou, então, que apesar da Internet receber ampla atenção do mercado, dos investidores e da própria mídia, grande parte da sociedade não se conecta para se informar.

Em seguida à Internet, jornais, revistas e o rádio foram citados como meios cotidianos de informação, prevalecendo o consumo de suas versões analógicas às digitais. Reflexo do que acontece no mundo, as dimensões brasileiras não permitiram um alastramento por igual das novas tecnologias da informação e comunicação. Desigualdades econômicas, sociais e geográficas fazem até hoje com que os meios e a informação atinjam as pessoas desproporcionalmente. Assim como a difusão radiofônica levou seu tempo para se espalhar, também a maior parte da população mundial não tem acesso à Internet, seja por falta de dinheiro para comprar um computador e pagar as tarifas de conexão, seja por ignorância e analfabetismo, ou mesmo por dificuldades de instalação da tecnologia devido a características geográficas.

Faz-se muito importante aqui uma ressalva. Este trabalho não ignora o fosso social que a globalização da informação vem agudizando. O acesso à informação, apesar de expandido democraticamente, não significa que está disponível a todos independentemente do contexto social em que está inserido; pelo contrário, não há mágica na transformação social que os media vêm construindo! (Lévy, 1999) Antes, ela termina por agravar ainda mais a desigualdade entre classes e regiões, a partir do momento que o saber e o conhecimento também ganham valor. Radical, Schiller (1996) já supracitado, revela que a information inequality, que gera lacunas sociais, serve também de ferramenta para o "Imperialismo Cultural" da qual os media fazem parte e que propagam os ideias capitalistas.

"Trata-se de evidências que não são escamoteáveis e para as quais os cidadãos dos países desenvolvidos não podem deixar de estar preparados, sob pena de, pura e simplesmente, serem marginalizados da sociedade por falta de meios legítimos de sobrevivência (trabalho legal)." (Oliveira, 1997, p.56)

Este é um problema de difícil solução, com muitos elementos envolvidos e, pelo impacto em curto e longo prazo na sociedade, merece toda a atenção das investigações científicas e acadêmicas. Entretanto, por razões de direcionamento, a presente investigação terá como amostra a parcela da população que utiliza computadores e a Internet diariamente, mais especificamente para consumo de informação, e são desse modo influenciadas. Trata-se, de maneira geral, de características da população letrada, ocidental, de centros urbanos, massivamente jovem e/ou intelectuais formadores de opinião. Mais especificamente, um reflexo da distribuição de consumo digital no Brasil, onde apenas 37 cidades representam quase 50% dos acessos à banda larga fixa no país - de um total de 5569 municípios brasileiros. Estes 50% são os que têm a vida mais atingida pelos novos media.

Trata-se da parcela da população que pode desenvolver o que hoje é chamado de "literacia dos media". Por literacia dos media entende-se "a capacidade de aceder aos media, de compreender e avaliar de modo crítico os diferentes aspectos dos media e dos seus conteúdos e de criar comunicações em diversos contextos."9 Ou seja, essa capacitação essencial para o indivíduo lidar de forma saudável com superexposição aos media, idealmente vinculada ao processo educativo, tem por objetivo "igualmente sensibilizar os indivíduos para o conjunto das mensagens mediáticas com as quais estes se vêem confrontados diariamente, visa ajudar a reconhecer como os media filtram as suas percepções e crenças, como influenciam as suas escolhas pessoais e, finalmente, como modelam a cultura popular." (Vieira, 2008, p.196)

A velocidade com que as características das sociedades mudaram e que a tecnologia dominou as atenções faz com que haja uma reflexão sobre o conteúdo transmitido no processo educacional tradicional e sua atualização face às novas necessidades de aprendizado. Para promover a inclusão social, a literacia dos media "reúne competências semióticas, técnico- instrumentais e, finalmente, interpretativas e culturais, que permitem o desenvolvimento do pensamento crítico e da capacidade para resolver problemas." (Vieira, 2008, p.195)

Segundo estudo da agência francesa ZenithOptimedia lançado em 2016, as pessoas passam 435 minutos por dia em atividades mediadas, seja ler jornais e revistas, ouvir rádio, assistir TV, ir ao cinema ou navegar na Internet. Em uma média de 71 países, incluindo o Brasil, descobriu-se que um indivíduo tem passado 7 horas e 15 minutos consumindo meios de comunicação. Levando em conta a atuação "invisível" da mídia levantada por Deuze, pode-se considerar este número ainda maior se considerar-se também o tempo em que as pessoas estão expostas à mídia sem perceberem ou sem mesmo desejarem.

Muitos elementos foram sendo incorporados aos meios, tornando-os mais atrativos e funcionais. Os utilizadores ficam cada vez mais íntimos das interfaces, dominando suas linguagens e comandos. Esta intimidade dá-se por diversas razões ligadas à cognição e afetividade humanas, e como elas se relacionam com as realidades que lhe são apresentadas pelos meios. O principal elemento aqui considerado será a atração audiovisual das novas tecnologias.

Carlos Pernesa (2010) irá dizer que todos os meios digitais – sejam eles a própria rede (Internet), suportes óticos (CD-ROM, DVD, Blu-Ray) ou aparelhos analógicos que vêm se transformando em digitais (tv, rádio, fotografia) - utilizam-se da pluralidade como suporte, reunindo caracteres de som, imagem e texto. E, por isso, o autor diz que o termo multimídia pode perfeitamente ser substituído por "mídia digital".

A importância dos elementos audiovisuais no aparecimento de novas tecnologias e na mutação das antigas é tamanha que alguns autores chegam a chamar de "Revolução Audiovisual" (Franco, 1995; Winck, 2007), processo iniciado com o cinema. Franco (1995:50) dirá que para cumprir um papel de "equilíbrio humanizador" num contexto de revolução Industrial, onde a sociedade passava por um processo de mecanização da atividade humana, "o cinema transcende a simples exploração da nova tecnologia e cria uma linguagem, isto é, uma forma específica de comunicação. No início, até à década de 30, essa linguagem teve como suporte a articulação arbitrária de imagens, capturadas do real. A partir dos anos 30 se acrescentou o som e definiu-se o que hoje chamamos de linguagem audiovisual".

"Aceitando o princípio geral de que a comunicação humana se processa através de referências concretas, na ausência da coisa ou facto a melhor e a mais pertinente referência é uma representação visual da coisa ou facto. Como é do conhecimento geral, 80% da informação que recebemos é canalizada pela visão (Blanco, 1983). O visual é icónico e por isso se parece com aquilo que representa.” (Oliveira, 1997, p.42)

Cientes do sucesso e efeitos do cinema no público, os meios posteriores a ele apropriaram-se da linguagem cinematográfica e também incorporaram o som e o vídeo em suas apresentações, desde a televisão até o momento em que os computadores deixaram de transmitir apenas textos e passaram a comportar também conteúdo de áudio e vídeo. A imagem em movimento recria a realidade ante os olhos da pessoa, enquanto o som complementa a experiência do "real", lhe conferindo credibilidade. "Quando nos sentamos

diante das telinhas ou telonas para usufruir do universo onírico de sons e imagens criados a semelhança e à revelia da realidade, abrimos todos os nossos sentidos para que nenhum detalhe nos escape." (Franco, 1995, p.51)

"A "opulência comunicacional", enunciada por Moles (1987) contribuiu para a formação de um homem "audiovisual e informático"" (Oliveira, 1997:52). A comunicação audiovisual torna possível a emissão de múltiplas mensagens, exigindo do receptor o acesso a mais de um sentido. A famosa máxima de McLuhan sobre as mídias serem extensões do corpo humano desenvolve-se a partir do momento em que os meios de comunicação estimulam outros sentidos humanos, transformando-se em vias para o homem expandir suas capacidades.

“Any invention or technology is an extension or self-amputation of our physical bodies, and such extension also demands new ratios or new equilibriums among the other organs and extensions of the body. There is, for example, no way of refusing to comply with the new sense ratios or sense "closure" evoked by the TV image. But the effect of the entry of the TV image will vary from culture to culture in accordance with the existing sense ratios in each culture.” (McLuhan, 1964, p.55)

A conhecida frase de que uma imagem vale mais que mil palavras é uma expressão popular daquilo que já foi comprovado cientificamente. Ao superar a limitação ao texto e introduzir a imagem na comunicação - desde a fotografia, passando pelo cinema e televisão, e chegando ao mundo digital - os meios expandiram o contato com os humanos e exigiram novas interações sensoriais. Fidalgo afirma que ao ler ou ouvir, o receptor da mensagem fica livre para imaginar já que esta é passada de forma indireta, e o emissor tenta usar argumentos para convencer o leitor/ouvinte. Já ao utilizar imagens, a mensagem apela para a percepção e, de forma direta, não precisa convencer o espectador, já que este pode ver por si próprio e concluir por si mesmo a informação que está sendo passada. "É neste ponto que a mais pobre reportagem televisiva suplanta a mais rica reportagem radiofónica. É preferível ver a imaginar." (Fidalgo)

Como já foi dito, os media tentam recriar a realidade e, assim, a visão é o sentido mais apropriado para o convencimento. "Quem vê e ouve não reflecte o que vê e ouve. Aqui a força do convencimento é a força do que entra pelos olhos dentro." (Fidalgo)

Diferentemente do cinema, a tv comporta conteúdos não-narrativos (Cádima, 1995) e isso trouxe elementos, que também seriam deixados de herança aos meios posteriores.

Umberto Eco (1984, p.336) destaca o marco do início das transmissões diretas, pois este será a característica da televisão que a distinguirá dos outros meios. Eco (1984, p.337) complementa:

"Ahora bien, con la toma directa televisiva se ha ido afirmando un modo de "narrar" los acontecimientos totalmente distinto: la toma directa manda a las ondas las imágenes de un acontecimiento en el preciso momento en que tiene lugar, y el director se halla, por un lado, obligado a organizar una "narración" capaz de ofrecer una exposición lógica y ordenada de cuanto ocurre, pero, por otro, debe también saber introducir en su "narración" todos aquellos acontecimientos imprevistos, aquellos factores imponderables y aleatorios que el desarrollo autónomo e incontrolable del hecho real propone."

Cádima (1995) dirá que "foi através do directo que surgiu um "modo de contar" os factos e de legitimar os acontecimentos totalmente diverso do que se vinha a fazer até então." E o autor complementa que "ao emitir as imagens de um acontecimento no momento da sua ocorrência [...] a televisão encontra a forma de mostrar o tempo na sua "durée", e isso era de facto novo. A simultaneidade e globalidade do directo vinha de facto organizar um novo espaço-tempo cujo registo é desde logo o da "telerealidade", registo onde velocidade e proximidade completam a ilusão do dispositivo "global" da televisão."

Escrevendo em 1984, Eco não poderia saber que a hibridação dos aparatos de telecomunicação expandiria a distinção da transmissão ao vivo para outros meios. O primeiro passo foi a miniaturização da câmera, de fotografar e, posteriormente, de filmar. "Com a facilidade de fazer imagens nos nossos dias, fotografia, vídeo, a simplificação, a miniaturização e portabilidade das respectivas câmaras, e o seu baixo custo, o uso da imagem universalizou-se e trivializou-se nos mais diferentes domínios da vida humana." (Fidalgo)

Após o exemplo da transmissão ao vivo da informação televisiva, os meios seguintes também apelavam para este recurso em busca de atingir "o princípio de realidade emergente, o regime de visibilidade e o contrato de credibilidade" que a televisão instituiu como padrões. (Cádima, 1995) A miniaturização dos circuitos elétricos transformou os aspectos tecnológicos. A câmera, a exemplo do telefone e do rádio, “foi produzida para uso doméstico e para milhões.” (Briggs e Burke, 2006, p.158) Este pensamento já fazia parte do crescimento da sociedade capitalista de consumo.

O sucesso do telefone celular também assume responsabilidade na popularização do recurso de transmissão ao vivo. "O que chamamos de telefone celular é um Dispositivo (um artefato, uma tecnologia de comunicação); Híbrido, já que congrega funções de telefone, computador, máquina fotográfica, câmera de vídeo, processador de texto, GPS, entre outras; Móvel, isto é, portátil e conectado em mobilidade funcionando por redes sem fio digitais, ou seja, de Conexão; e Multirredes, já que pode empregar diversas redes, como Bluetooth [...], Internet (Wi-Fi ou Wi-Max) e redes de satélites para uso como dispositivo GPS." (Lemos, 2007, p.25 apud Coutinho, 2014, p.12)

A partir dos anos 2000 o termo "smartphone" popularizou-se, representando o aparelho telefônico que reunia capacidades e sistema operacional semelhantes ao de um computador pessoal. Este fenômeno que juntava em um mesmo aparelho diversas funções é chamado de "convergência" e Jenkins (2009, p.27) assim a definiu: "fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase