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Foi no ano de 1936 que ocorreu um marco fundamental na história da arquitetura brasileira: a vinda do arquiteto Le Corbusier ao Brasil, a convite do então Ministro da Educação e Saúde Gustavo Capanema, para assessorar a equipe de arquitetos encarregada do projeto do edifício do Ministério. Desse trabalho, resultou o célebre edifício do Ministério da Educação e Saúde, concluído em 1943, marco da transformação decisiva da arquitetura contemporânea no Brasil (Figuras 11 e 12).

Figura 11: Ministério da Educação e Saúde/RJ. Lúcio Costa e equipe. Fonte: (Bruand, 1999).

O convite ao arquiteto franco-suíço foi feito devido a sua grande influência na arquitetura internacional na época, onde suas opiniões e idéias eram muito apreciadas e respeitadas. Como o processo de contratação do projeto foi muito atribulado3, para se ter uma maior credibilidade aos estudos, Lúcio Costa4, que já era conhecedor das idéias de Le Corbusier, achou prudente convidar o mestre para amenizar as questões que estavam em jogo.

Neste período, Le Corbusier já estava modificando ou aperfeiçoando os conceitos de proteção solar. Conceitos estes que eram muito antigos, como foi visto anteriormente, porém cabe a ele dar uma nova tipologia arquitetônica regida por novos princípios construtivos e programáticos.

Após experimentar a proteção solar das fachadas com o uso de balcões ao longo da década de 20, Le Corbusier previu em um projeto de conjunto residencial para Barcelona (1933) o uso de lâminas com pivotamento horizontal protegendo as janelas. No mesmo ano, em Alger5, em outro projeto de programa semelhante, o arquiteto concebeu o uso de elementos vazados (GÓES, 1993).

Segundo JORGE (1995), Le Corbusier transformava a janela num ato de luz onde o externo deveria ser contemplado, porém era importante haver uma preocupação com a incidência solar. Por esse motivo criou o “brise-soleil”, que de acordo com BAKER (1994), para ele o mesmo funcionava como um filtro, com uma pele permeável que rodea o edifício permitindo a penetração espacial suavizando o impacto da relação entre a massa da edificação e o espaço que o envolve. Diz ainda BAKER (1994, p.312) que para o arquiteto franco-suíço,...”o

brise-soleil destruía a sensação de forma cúbica das edificações dando um significado à forma através de um tratamento superficial”.

Baseado nos estudos iniciais do mestre arquiteto, a equipe brasileira passou a adaptar, então, estas idéias para a realidade do local, no tocante ao

clima e ao conforto ambiental. De acordo com GÓES (1993), o primeiro estudo para a sede do Ministério, considerando sua locação em terreno na antiga praia de Santa Luzia, apresentou brise-soleils protegendo parcialmente a fachada posterior (orientação norte, desenhados a maneira dos protetores previstos para Argel). Diz o mesmo autor que o segundo estudo não registra o uso de proteção solar para a fachada principal (orientação nordeste), prevendo proteção parcial na fachada posterior. Alertado para o fato às vésperas da partida do Brasil, Le Corbusier recomenda verbalmente o uso dos brises na fachada mais ensolarada. Este último estudo serviu como base ao projeto definitivo (GÓES, 1993).

Esta obra, que poderíamos dizer ser uma das precursoras dos “edifícios

inteligentes”, apresentava uma preocupação com a ventilação cruzada constante e

também pelo uso de simples divisórias a meia altura, fáceis de modificar quando necessário, acarretando em uma maior flexibilidade do uso dos espaços para trabalho.

O autor entende que “Edifício Inteligente” é aquele que aproveita ao máximo todo o espaço disponível, tornando-o mais produtivo com uma grande redução energética e projetado levando-se em consideração a insolação das fachadas como também sua ventilação natural. Possui como pontos fundamentais os seguintes aspectos: flexibilidade, infra-estrutura adequada, elementos construtivos racionais, serviços de qualidade e variados, além de um bom gerenciamento de todos os sistemas integrados.

Segundo BRUAND (1999), a fachada sudeste do prédio do MEC (...), recebia diretamente os raios solares apenas alguns dias do ano e no período da manhã, fora do horário de trabalho. Nela foi adotado o uso de grandes caixilhos de vidro, possibilitando a máxima penetração da luz solar, sem aumentar o ganho térmico no interior dos escritórios.

Ao contrário desta fachada, continua BRUAND (1999), a face oposta necessitava de uma proteção solar diária. Para proteger dos raios solares,

pensarem em uma solução com emprego de lâminas horizontais, necessariamente móveis, já que o brise-soleil fixo, mesmo assegurando uma proteção eficaz nos dias claros, faria com que nos dias escuros fosse necessário utilizar iluminação artificial. Assim, a equipe brasileira optou por um sistema móvel, que permitia orientar as placas de proteção de acordo com a incidência dos ângulos dos raios solares. Esta solução adotada proporcionou um grande apelo visual, em virtude do movimento causado nas fachadas pelos brises móveis.

Segundo GÓES (1993, p.14) Le Corbusier, que perdera o contato com a

equipe após sua partida, conheceu o projeto definitivo somente próximo à inauguração da obra, em 1945. Naquela ocasião, criticou a mobilidade das lâminas horizontais, convicto de que não cabia ao usuário a decisão de como dispor da luz natural, mas ao projetista. Além disso, não lhe agradou o aspecto mutável da fachada, preferindo um padrão regular. Ao tomar conhecimento dessas críticas, Lúcio Costa determinou que os painéis fossem fixados numa inclinação constante.

Finalizando, o mesmo autor diz ainda que o uso de brise-soleils no Brasil se deu de forma sistemática a partir da década de 40, com a disseminação dos conceitos funcionalistas na teoria e na prática projetivas dos arquitetos. Após esse período, muitos arquitetos se destacaram pelo uso de protetores solares em seus projetos. São eles6: M.M.M. Roberto, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, entre tantos outros que contribuíram para o desenvolvimento destes elementos arquitetônicos. Para ilustrar melhor essa contribuição, mostraremos alguns exemplos de nossa arquitetura moderna que utilizou protetores solares em suas fachadas.

Começamos pelo escritório M.M.M. Roberto que foi pioneiro no campo da arquitetura moderna. De acordo com GÓES (1993, p. 16), certamente foi o que

mais ousou em termos de design de proteção solar. Todos os projetos mais importantes do grupo incorporaram os mais diversos tipos de brises. Podemos

- Edifício Marquês de Herval (1952): Esta edificação utilizou

basculantes em alumínio, sustentado por armações metálicas inclinadas e arqueado, de modo a possibilitar a visibilidade do ambiente externo (Figuras 13 e 14).

Figura 14: Croqui das persianas basculantes. Fonte: (GOÉS, 1993).

- Edifício Seguradoras (1949): Utilização de painéis de venezianas

pivotantes com relação ao eixo horizontal apoiado em lajes vazadas em balanço (Figura 15).

Analisando outro grande arquiteto da época, Affonso Eduardo Reidy, verificamos também uma grande quantidade de tipologias de protetores, utilizados principalmente em edifícios públicos. Temos como exemplo seu o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, projetado em 1953 (Figura 16).

Figura 16: Vista geral do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Reidy(1953). Fonte: (GOÉS, 1993).

Por fim, temos outro grande ícone da arquitetura brasileira, como Oscar

Niemeyer. Possuidor de grande acervo arquitetônico, onde seria objeto de estudo

individualizado, utilizou elementos de proteção aos raios solares em vários dos seus projetos. Apenas para exemplificar, mostraremos o edifício do Hospital Sul América, projetado em 1952, onde utilizou brises verticais e elementos vazados cerâmicos na fachada Norte (Figura17).

Nesta última parte do capítulo, tivemos uma abordagem geral de como o elemento de proteção aos raios solares foi introduzido na concepção arquitetônica brasileira. Sendo usado nas mais variadas formas de edificação, desde casas até edifícios públicos. Estes últimos foram os maiores alvos dos nossos arquitetos modernos, nos quais puderam colocar em prática toda a sua capacidade criativa.

Aliado à parte estética, os arquitetos da época se preocupavam, também, com a eficácia destes elementos arquitetônicos. Devido a isto, sentiram a necessidade de estudar e compreender melhor a geometria solar, de forma a permitir um sombreamento perfeito no interior dos ambientes dos edifícios. No próximo capítulo, passaremos a pesquisar, para um melhor entendimento dessa geometria, os possíveis movimentos do sol.

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