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4. RESULTADO

4.1. Acesso a cargos no serviço público brasileiro: uma visão sob o prisma das constituições

4.1.7. Constituição de 1988

Os fenômenos políticos, sociais e econômicos que levaram à elaboração da Constituição de 1988, demonstram, na afirmativa de Ribeiro (2002), uma objetiva constatação de que ela surgiu a partir do desencadeamento do processo de transição para a democracia, e da chegada ao poder do governo civil, dando uma nova moldura para o arcabouço institucional do Estado. Nesse sentido, Ribeiro (2002) afirma:

[...] O governo da transição democrática assumiu tendo sob seu comando uma burocracia estruturada sob bases autoritárias e forte intervencionismo econômico e social. A reforma administrativa foi incluída na agenda das reformas a serem promovidas pelo governo para o restabelecimento da nova ordem democrática. [...] O processo de expansão da administração indireta decorrente da descentralização implementada pelo Decreto-Lei 200/67 fora diagnosticado como danoso ao Estado, que teria perdido o controle operacional da máquina pública por excesso de flexibilidade administrativa. (RIBEIRO, 2002, p.08)

Segundo Abrucio (2008), o período que antecedeu a elaboração da Constituição de 1988 foi caracterizado pelo momento de maior efeito dos problemas históricos da administração pública brasileira, os quais ele cita: “falta de responsabilização dos governantes perante a sociedade, politização indevida da burocracia nos estados e municípios e fragmentação das empresas públicas com a perda do foco de atuação”.

Com vistas à profissionalização do serviço público, as regras de acesso ao emprego público e dos direitos previstos na Constituição de 1988, Abrucio (2008) ainda afirma que tal Carta Magna favoreceu o crescimento do corporativismo14 estatal e não o desempenho do servidor público, com a criação de falsas isonomias, com a incorporação de gratificações, benefícios e outras legislações que fizeram a burocracia mais distante da sociedade.

A essas situações, acrescente-se a crise fiscal do Estado, a passagem das crises institucionais da era Collor, um cenário cujo maior incentivo ao funcionário estava no final de sua carreira por meio da aposentadoria integral, enquanto os salários se reduziam e só cresciam com as parcelas das gratificações, essas, por sua vez, conquistadas mais pela força política do que pelo mérito das avaliações de desempenho (ABRUCIO, 2008).

Esses dados citados por Abrucio (2008) podem ser cuidadosamente percebidos no texto original da Carta Magna do período:

[...] Art.37- I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei.[...] II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; [...] V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento; [...] IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público. (BRASIL, 1988, p.31- 32)

14 Corporativismo estatal em sentido amplo, significa uma referência a uma forma de representar interesses do Estado em termos de categorias sociais específicas, geralmente a partir da atividade ocupacional, organizada coletivamente na defesa de interesses comuns de grupos específicos. (BOSCHI, 2003, p.116)

No texto constitucional de 1988, em que se trata do acesso a cargos públicos, registramos as seguintes novidades perante a Constituição de 1967:

i-) a possibilidade de acesso a estrangeiros no serviço público, desde que preencham os requisitos da lei; ii-) as funções de confiança somente podem ser exercidas por funcionário efetivo de carreira com percentuais mínimos registrados em lei; iii-) a criação do instituto da contratação temporária para atender interesse público. Por outro lado, a Constituição de 1988 manteve os mesmos critérios de acesso a cargos comissionados, sem a exigência do concurso público, em relação à Constituição de 1967.

Segundo Bresser-Pereira (2000), sob o marco legal da Constituição de 1988, um dos principais desafios do período foi deixar de lado uma cultura burocrática que apoiava o patrimonialismo, para uma cultura de cunho gerencial, em busca de resultados.

Para o Bresser-Pereira, o conceito de gerir o Estado mudou com o apoio das reformas institucionais necessárias, dentre elas: a quebra da estabilidade dos servidores e a tomada de consciência para o fortalecimento do profissionalismo dos servidores, tornando-os mais autônomos e responsáveis, bem como os serviços sociais e científicos prestados por entidades especializadas, ficando o estado com suas atividades-fim: saúde, educação, transporte, segurança, moradia etc.

Em síntese, segundo Barbosa (2006), todas as Constituições brasileiras deixaram uma lacuna quanto às inovações sobre o mérito no acesso a cargos públicos e ao processo de ascensão na carreira, e ainda afirma a meritocracia de maneira subliminar apenas como critério absoluto e pontual, mas que não condiciona para as promoções. Essas, por sua vez, são concebidas na maior parte dos processos de seleção para acesso, pelo método da antiguidade, ao passo que para o método baseado no mérito é utilizado em menor escala, bem como não há marco jurídico que dê suporte ao talento e capacidade individual do Quadro efetivo.

Todas as Constituições, segundo Barbosa (2006), fazem alusão ao mérito para se conseguir o acesso, mas não para as promoções internas dentro dos órgãos.

4.2. Uma análise da contratação de pessoal em cargos comissionados no Governo Federal