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Para constituição da amostra, foram usados dois critérios de inclusão. O primeiro critério exigia que os entrevistados fossem mães ou cuidadores de crianças portadoras de deficiência, pertencentes a faixa etária de 0 a 5 anos de idade. Nessa idade, os encurtamentos das partes moles e as deformidades têm menor risco de se instalar, sendo a ação do cuidador imprescindível, porque as alterações osteomusculares decorrentes do desequilíbrio muscular, as alterações de tônus muscular e as alterações sensoriais não são ainda graves e a maleabilidade dos tecidos moles torna a mobilização mais eficaz.

O outro critério de inclusão foi o de que as crianças deveriam estar em tratamento fisioterapêutico há mais de noventa dias da primeira avaliação, para que se observasse o nível de envolvimento materno no tratamento e porque julgou-se necessário que a criança já estivesse há algum tempo em tratamento para a formação de conceitos, impressões e hábitos pelo cuidador..

Foram entrevistadas quinze mães de crianças que estavam sendo atendidas nessas duas entidades e cujos filhos preenchiam os critérios de inclusão (idade e tempo de atendimento).

Segundo Minayo (2004) a amostragem qualitativa privilegia os sujeitos sociais que detêm os atributos que o investigador pretende conhecer, considerando-os em número suficiente para permitir uma certa reincidência das informações, sendo que o conjunto de informantes deve ser diversificado para possibilitar a apreensão de semelhanças e diferenças. A escolha do locus e do grupo de observação e informação deve conter o conjunto das experiências e expressões que se pretende objetivar com a pesquisa.

De acordo com Turato (2003), a amostragem proposital, intencional ou deliberada é aquela em que a escolha dos respondentes, sujeitos e ambientes é dirigida. A construção da amostra deverá ser distintamente pensada e ser apropriada às questões da pesquisa, sem, entretanto ser simplesmente ditada pela conveniência.

Baseando-se nesses autores, as mães das crianças da APAE e do Ambulatório da Universidade foram selecionadas propositadamente com o objetivo de ter representadas na amostra, mães de crianças portadoras de diversos tipos de deficiência e que, supostamente, poderiam se pronunciar sobre as motivações e as dificuldades na participação no tratamento de seus filhos, por vivenciarem a situação. Julgou-se que os significados, motivações e dificuldades, traduzindo-se em senso comum Minayo (2004), estariam presentes no discurso das mães, sendo veiculados por meio de idéias, imagens, concepções e visão de mundo.

O número de mães entrevistadas e visitadas não foi predefinido, obedecendo ao critério de saturação, isto é, o grupo se fechou quando, após informações coletadas com um certo número de sujeitos, novas entrevistas passaram a apresentar repetições do que já tinha sido dito. Entendendo que novas falas passaram a ter acréscimos pouco significativos em vista dos objetivos inicialmente propostos para a pesquisa, decidiu-se encerrar a amostragem na 15ª entrevista. Também com relação à visita domiciliar, percebeu-se repetição das situações e comportamentos observados.

O tamanho da amostra coloca em questão, na pesquisa quantitativa, a possibilidade de generalização dos resultados. Entretanto, na pesquisa qualitativa, essa possibilidade, não se dá por significância estatística podendo ser feita quando determinada população estiver social, cultural e historicamente interligada àquela população pesquisada, segundo avaliação de quem generaliza.

Assim se coloca Vasconcelos (1997, p. 3) sobre a possibilidade da generalização em pesquisas qualitativas:

O trabalho procura estudar um problema teórico amplo num local circunscrito, a partir do acompanhamento de um numero limitado de atores envolvidos. Qual a possibilidade de generalização do conhecimento produzido? A possibilidade de generalização nasce do pressuposto de que há dimensões estruturais e recorrentes na realidade. Assim, o estudo dirá respeito a outras realidades.Mas a generalização não pode ser imediata. São feitas afirmações sobre a realidade estudada; a generalização e a aplicação a outras realidades se farão pela mediação do leitor através de sua interpretação aplicada aos contextos em que estiver inserido. Será o leitor que julgará se o texto oferece chaves de compreensão aplicáveis a sua problemática.

A possibilidade de generalização é suportada também pelo conceito de Representação Social, desenvolvido por Moscovici (1961). Esse autor pressupõe que as percepções, sentimentos, conceitos e comportamentos são socialmente produzidos, embora individualmente expressos.

A Representação Social compreende o conjunto de conceitos, de afirmações e explicações que têm origem nas comunicações interindividuais de sujeitos que vivem uma realidade comum, partilhando necessidades, soluções, modos de interações, sistema simbólicos e uma mesma história. Através da construção de um senso comum, procede-se a interpretação da realidade social.

De acordo com Vigotsky (1994), a base das funções psicológicas é cultural e, portanto, histórica, sendo os elementos mediadores na relação entre o homem e o mundo (instrumentos, signos e todos os elementos do ambiente humano carregados de significado cultural) construídos nas relações entre os homens.

Para Guareschi e Jovchelovitch (2003), o indivíduo é sempre uma entidade social e, conseqüentemente, um símbolo vivo do grupo que ele representa. Portanto, o discurso que esse indivíduo produz representa as idéias e os significados que são produzidos coletivamente por um grupo social. É por meio da ação de sujeitos sociais agindo no espaço, que é comum a todos, que a esfera pública aparece como o lugar em que uma comunidade pode desenvolver e sustentar saberes sobre si própria, ou seja, representações sociais.

Segundo Lefèvre e Lefèvre (2003), as representações sociais podem ser vistas como o discurso de uma coletividade sobre um conjunto vastíssimo de fenômenos sobre os quais é possível aos indivíduos comuns pensarem.

A representação social, ao mesmo tempo, pode demonstrar uma interpretação individual ou do grupo, pois a sociedade a que este indivíduo pertence, construiu no mesmo a forma com que suas interpretações são representadas. Ela é, assim, socialmente produzida (SALLES, 1995).

Ressalte-se, entretanto, que as Representações Sociais constituem também uma expressão da realidade intra-individual e uma exteriorização do afeto, revelando o poder da criação e da transformação social pelo individuo. A realidade intra- individual é também uma construção social e embora com características específicas do indivíduo, guarda as características do grupo social em que foram produzidas.

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