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2. A EDUCAÇÃO INCLUSIVA COMO DIREITOS HUMANOS E

3.1 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88)

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88), conhecida como a “Constituição Cidadã”, representa para o Brasil o início de inúmeros avanços relacionados aos direitos das pessoas com deficiência, pois todo seu texto está voltado ao reconhecimento dos cidadãos como sujeitos de direitos e deveres. Algumas Constituições brasileiras anteriores já apresentaram dispositivos legais referentes aos direitos das pessoas com deficiência, porém não de forma ampla como a Carta Magna Atual.

A Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946, em seu artigo 157, inciso XVI, restringia-se apenas ao direito à previdência nos casos de invalidez, essa previsão foi reproduzida também na Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, no artigo 158, inciso XVI. Contudo, avanços maiores ocorreram através das Emendas Constitucionais n. 1 e n. 12 à Constituição de 1967, a primeira foi em 1969 e dispôs uma legislação especial para a educação dos “excepcionais”; a segunda emenda citada foi no ano de 1978, a qual englobou em um só dispositivo diversas medidas de proteção e garantia aos “deficientes”, ainda que de forma genérica.66

A CF/88 em seu artigo 1º, incisos II e III,descreve como sendo fundamentos da República:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania; II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. (GRIFOS NOSSOS).67

66

MADRUGA, Sidney. Pessoas com deficiência e direitos humanos: ótica da diferença e ações afirmativas. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 226 e 227.

67

BRASIL. Constituição Federal. Brasília, 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 06/05/16.

Novelino descreve como fundamentos de um Estado, basicamente, os valores essenciais que fazem parte de sua estrutura.68

A cidadania é um conceito decorrente do princípio do Estado Democrático de Direito e está relacionado à participação do indivíduo nos negócios do Estado e em diversas áreas de interesse público.69 Já a dignidade da pessoa humana possui um papel de superioridade entre os fundamentos do Estado Brasileiro; é considerada o “valor constitucional supremo”, pois, compreende o núcleo do constitucionalismo contemporâneo. Portanto, deve servir como diretriz para elaborar, interpretar e aplicar as normas jurídicas.70

Os dois fundamentos em destaque, assim como os outros, são inerentes para o desenvolvimento de uma sociedade democrática. Ênfase é dada a cidadania e a dignidade da pessoa humana, pois refletem princípios extremamente importantes para a valorização de qualquer pessoa, com deficiência ou não. Todo ser humano tem o direito de exercer sua cidadania e ter uma vida digna.

A CF/88 descreve também como seus objetivos fundamentais:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (GRIFOSNOSSOS).71

Ao determinar como sendo um dos objetivos da República Federativa do Brasil a “erradicação das desigualdades sociais” a CF/88 propõe que se busquem medidas para efetivar esse objetivo, e ao propor o modelo de escola inclusiva o Estado busca exatamente isto.

Definindo como um de seus objetivos fundamentais a promoção do bem de todos, sem preconceitos e sem discriminação, a Carta Magna apresentou um marco histórico na política do país, reconhecendo o avanço dos direitos, sem distinguir qualquer natureza.72

O caput do artigo 5º da Lei Maior deixa explícito o direito à igualdade: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e

68

NOVELINO, Marcelo. Manual de Direito Constitucional. São Paulo: Método, 2013. p. 359. 69

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 148. 70

NOVELINO, Marcelo. Manual de Direito Constitucional. São Paulo: Método, 2013. p. 361 e 362. 71

BRASIL. Constituição Federal. Brasília, 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 06/05/16.

72

SILVA, Aida Maria Monteiro; COSTA, Valdelúcia Alves da. Educação Inclusiva e direitos humanos: perspectivas contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2015. p. 93.

aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)”.73

Do caput do artigo 5º da CF/88 podem ser extraídas duas concepções diferentes de igualdade: igualdade jurídica e igualdade fática.

A igualdade jurídica pode ser dividida em duas, igualdade jurídica formal e igualdade jurídica material, a primeira consiste na ideia de proporcionar um tratamento imparcial a todos, sem ser analisados critérios subjetivos, como exemplo temos o artigo 14 da CF/88; a segunda impõe que o desigual seja tratado desigualmente como medida para alcançar a justiça, a título de exemplo o artigo 5º, LXXIV.74

Segundo Novelino a igualdade fática “impõe aos poderes públicos a adoção de medidas redutoras ou compensatórias de desigualdades de recursos ou de acesso a bens e utilidades”.75

Como exemplo de igualdade fática pode ser citado o artigo 37, inciso VIII, CF/88: “a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão.”76

A Educação Inclusiva enquadra-se na igualdade fática, onde o Estado tem a obrigação de proporcionar mecanismos de inclusão para que as pessoas com deficiência possam gozar seus direitos igualmente a todas outras.

A CF/88 nos artigos 205 e seguintes elenca o direito de todos à educação, assegurando ainda mais que as pessoas com deficiência possuem todo o direito de ter uma educação com qualidade e sem haver distinções por causa de suas singularidades: “Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”77

São elencados no artigo 206 da CF/88 os princípios que regem o ensino, segundo podemos ver:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

73

BRASIL. Constituição Federal. Brasília, 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 06/05/16.

74

NOVELINO, Marcelo. Manual de Direito Constitucional. São Paulo: Método, 2013. p. 479, 480 e 482.

75

NOVELINO, Marcelo. Manual de Direito Constitucional. São Paulo: Método, 2013. p. 483. 76

BRASIL. Constituição Federal. Brasília, 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 06/05/16.

77

BRASIL. Constituição Federal. Brasília, 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 06/05/16.

III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;

VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade.

VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (GRIFOS NOSSOS).78

Através dos princípios que conduzem o ensino, especialmente os elencados nos incisos I, II e III, a CF/88 proporciona mais uma vez a ideia de igualdade no ensino, mostrando que é imprescindível a educação inclusiva.

A igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola exala mais uma vez o principio da igualdade fática, onde cada aluno, com sua singularidade, necessitará de mecanismos apropriados para permanecerem na escola.

Os incisos II e III do artigo 206, exprimem a concepção da liberdade de ensino e do ensino pluralista, que não estão pautados em mecanismos pré-estabelecidos, ou seja, visam alcançar todos os alunos, sempre respeitando as suas diferenças.

A Carta Magna acrescenta, ainda, em seu artigo 208 que:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria;

II - progressiva universalização do ensino médio gratuito;

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;

IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade;

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;

VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didáticoescolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (GRIFOS NOSSOS).79

A CF/88 deixa explícita a importância de o AEE ser utilizado na rede de ensino regular, concluindo-se que este não substitui a escola comum, sendo aplicado como recursos de complemento ou suplemento à escola regular.

78BRASIL. Constituição Federal. Brasília, 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em:

06/05/16. 79

BRASIL. Constituição Federal. Brasília, 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 06/05/16.

A CF/88 é garantidora dos direitos que todo ser humano tem à educação e ao acesso escolar. Toda escola que seja reconhecida pelos órgãos oficiais devem acolher os princípios constitucionais e, consequentemente, não poderá excluir nenhuma pessoa devido sua origem, raça, sexo, cor, idade, deficiência ou falta dela.80

A Educação Inclusiva garante à realização de um direito indisponível que é o de qualquer criança ter acesso a escola, pois através desta sugere uma organização pedagógica diferenciada que atenda as singularidades de cada aluno, alcançando todos os que fazem parte da escola e os beneficiando com o crescimento da pluralidade.81

De acordo com todas as ideias e artigos expostos acima, observa-se que para a CF/88 todos “são iguais perante a lei”, sendo vedada, portanto, a exclusão ou a negação a qualquer indivíduo, com ou sem deficiência, dos direitos que lhe cabem. Através do ideal de igualdade são oferecidos certos mecanismos para que todos possam gozar de seus direitos de forma igual, sendo observadas as barreiras existentes e quais as formas necessárias para proporcionar o patamar de igualdade entre todos.

3.2. LEI Nº 9.394/1996 – LEI DE DIRETRIZES E BASES DA

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