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CONSTITUIÇÃO DO BRASIL DE 1988 E A NATUREZA JURÍDICA DA

3 SERVIÇO NOTARIAL E DE REGISTRO SOB A ÓTICA DA ATUAL

3.2 CONSTITUIÇÃO DO BRASIL DE 1988 E A NATUREZA JURÍDICA DA

Os serviços notariais e de registros possuem caráter público que, por força do disposto no art. 236, da atual Constituição Federal, não são executadas diretamente pelo Estado, mas, sim, desempenhados em caráter privado pelos notários e registradores, veja-se: ―Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público‖ (BRASIL, 2015a).

Isto quer dizer que, na laboração de suas funções, são pertencentes ao gênero dos agentes públicos, na espécie de agentes delegados, considerados funcionários públicos em sentido estrito (nesta esteira decidiu o STF na ADI n.º 2.602/05-MG). Não obstante, estão sujeitos aos princípios norteadores da Administração Pública.

A respeito do exposto, menciona-se o que entende Rafael Maffini, in

verbis:

[...] notários e registradores, cujo regramento constitucional é encontrado no art. 236 da CF e, no plano infraconstitucional, na Lei 8.935/94. Tais agentes delegados têm, em verdade, uma relação jurídica híbrida que coliga características de servidores públicos (ex: ingresso por concurso público, submissão a um regime disciplinar etc.) e de concessionário de serviços públicos (ex: responsabilidade objetiva, administração da serventia por sua conta e risco etc.). No entanto, não são exatamente servidores públicos nem concessionários de serviços públicos. [...] (2008, p. 247).

De igual modo, do que se extrai da norma legal, especificamente no art. 3º, da Lei Federal n.º 8.935, de 18 de novembro de 1994, o notário e o registrador, analise-se: ―[...] são profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é

delegado o exercício da atividade notarial e de registro‖ (BRASIL, 2016d).

Portanto, são profissionais do direito que exercem uma função pública delegada pelo Estado, sem, entretanto, integrarem o corpo orgânico da Administração Pública.

Ainda, além de não integrarem o funcionalismo público, também não são remunerados por àqueles, a remuneração provém das expensas dos usuários dos serviços prestados para estes.

A princípio, sobre a natureza jurídica da atividade exercida pelos tabeliões e oficiais de registro, convém reproduzir a ementa da ADI n.º 2.602/05-MG, emenda esta que restou na pacificação de que tais profissionais são particulares em atividade colaborada com o poder público, ipsis litteris:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PROVIMENTO N. 055/2001 DO CORREGEDOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. NOTÁRIOS E REGISTRADORES. REGIME JURÍDICO

DOS SERVIDORES PÚBLICOS. INAPLICABILIDADE. EMENDA

CONSTITUCIONAL N. 20/98. EXERCÍCIO DE ATIVIDADE EM CARÁTER PRIVADO POR DELEGAÇÃO DO PODER PÚBLICO. INAPLICABILIDADE DA APOSENTADORIA COMPULSÓRIA AOS SETENTA ANOS. INCONSTITUCIONALIDADE. 1. O artigo 40, § 1º, inciso II, da Constituição do Brasil, na redação que lhe foi conferida pela EC 20/98, está restrito aos cargos efetivos da União, dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios --- incluídas as autarquias e fundações. 2. Os serviços de registros públicos, cartorários e notariais são exercidos em caráter privado por delegação do Poder Público --- serviço público não privativo. 3. Os notários e os registradores exercem atividade estatal, entretanto não são titulares de cargo público efetivo, tampouco ocupam cargo público. Não são servidores públicos, não lhes alcançando a compulsoriedade imposta pelo mencionado artigo 40 da CB/88 --- aposentadoria compulsória aos setenta anos de idade. 4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente. (ADI 2602, Relator (a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Relator (a) p/ Acórdão: Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 24/11/2005, DJ 31-03-2006 PP-00006 EMENT VOL-02227-01 PP-00056) (BRASIL, 2017e).

O art. 3º, da Lei dos Cartórios, diz que o ―notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro‖ (BRASIL, 2017d).

Sendo assim, recebendo esta investidura por parte do Estado, praticam as atividades que lhe conferem, porém, não na qualidade de pessoas físicas e sim na qualidade de agentes públicos delegados. Logo, estes não presentam, mas sim representam o Estado, em virtude da função delegada por este. Consequentemente, age o Estado por interposta pessoa, descentralizando as atividades notariais e de registros em favor destas pessoas, ou seja, os particulares.

Quando o Estado faz esta descentralização, não está criando outra entidade, dotada de personalidade jurídica, os representantes do Estado, em razão da investidura institucional que lhe foram designadas, agem por suas contas, riscos e expensas, pelos próprios termos definidos em lei no ordenamento jurídico brasileiro.

Corroborando, destaca-se o entendimento de Luís Paulo Aliende Ribeiro, analise-se:

Os notários e registradores, embora exerçam função pública, não são funcionários públicos, nem ocupam cargos públicos efetivos, tampouco se confundem com os servidores e funcionários públicos integrantes da estrutura administrativa estatal, por desempenharem função que somente se justifica a partir da presença do Estado – o que afasta a ideia de atividade exclusivamente privada –, inserem-se na ampla categoria de agentes públicos, nos termos acolhidos de forma pacífica pela doutrina brasileira de direito administrativo (2009, p. 54).

Destaca-se, igualmente, a visão do doutrinador Uadi Lammêgo Bulos, veja-se:

―A atividade notarial e registral‖, ainda que executada no âmbito de serventias extrajudiciais não oficializadas constitui, em decorrência de sua própria natureza, função revestida de estatalidade, sujeitando-se, por isso mesmo, a um regime estrito de direito público. A possibilidade constitucional de a execução dos serviços notariais e de registro ser efetivada 'em caráter privado, por delegação do poder público' (CF, art. 236), não descaracteriza a natureza essencialmente estatal dessas atividades de índole administrativa. As serventias extrajudiciais, instituídas pelo Poder Público para o desempenho de funções técnico-administrativas destinadas 'a garantir a publicidade, a autenticidade, a segurança e a eficácia dos atos jurídicos' (Lei n. 8.935/94, art. 12), constituem órgãos públicos titularizados por agentes que se qualificam, na perspectiva das relações que mantêm com o Estado, como típicos servidores públicos (2014, p.1.650).

Pelo todo exposto, em virtude do notário e do registrador serem profissionais particulares em colaboração com o Estado e que possuem como missões darem legalidade e publicidade a atos e fatos jurídicos que a todos interessam e afetam, movimentando a vida econômica e política de um Município, Estado e País, mais importante se torna a figura destes profissionais e serventias.

Da própria forma, quanto mais importante se torna tais funções para a sociedade em geral, maior deve ser o rigor na seleção destes profissionais e na delegação destas serventias. Logo, imperioso a necessidade de um profundo saber jurídico destes profissionais, razão pela qual devem possuir conhecimento as leis, de

acompanhar as alterações do ordenamento jurídico e de ser exímio nas interpretações e nas decisões dos tribunais.

Neste viés, um dos requisitos para o ingresso na atividade notarial e de registro é o diploma de bacharel em direito, estabelecido no art. 14, V, da Lei dos Cartórios, da seguinte forma: ―art. 14. A delegação para o exercício da atividade notarial e de registro depende dos seguintes requisitos: [...] V - diploma de bacharel em direito; [...]‖ (BRASIL, 2016d).

O notário e o registrador, afinal, devem ser juristas, conhecedores não apenas do direito inter pars, do direito particular, como também de outras matérias que possam produzir efeitos sobre os atos que praticam, como as diversas áreas do direito, a título de exemplo: direito constitucional, direito tributário, direito administrativo, direito civil e etc.

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