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CAPÍTULO II: O PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA

2.4 CONSTITUIÇÃO DO CORPUS

Compreendemos que o corpus é o fundamento alternativo para a coleta de dados, tendo como finalidade “expor atributos desconhecidos direcionados a perceber os signos, sentidos e representações presentes em uma determinada prática social” (SILVA e SILVA, 2013, p.04).

Nosso corpus foi constituído pela observação participante e pelos textos produzidos pelos alunos antes e depois da aplicação da SD na turma do 9º ano do Ensino Fundamental II, com base na leitura das charges selecionadas. Aplicamos a SD e, por meio dela, os alunos foram solicitados a responder atividades sobre algumas charges, finalizando com a produção de um texto interpretativo, para o qual tiveram total autonomia quanto à quantidade de linhas ou extensão necessária para produção textual. Para isso, precisaram captar o ponto de vista adotado sobre os assuntos tratados nas charges, de maneira a compreender qual o posicionamento do chargista diante da temática social em questão. A pouca quantidade de atividades produzidas se deu pelo alto índice de desistência da turma, iniciamos com dez alunos matriculados e frequentando as aulas e terminamos o ano letivo com apenas cinco alunos em sala.

Para materializar as leituras dos alunos, consideramos que a produção textual seria a maneira mais válida. Ao tentar produzir sentidos, os alunos apresentavam por meio da escrita o que entenderam das charges e os textos produzidos por eles deram subsídios relevantes para os resultados da pesquisa, bem como as respostas dadas nas atividades realizadas. Silva e Silva (2013, p.6) postulam que “os critérios de relevância referem-se à composição de materiais que, dado o conhecimento prévio do pesquisador, são considerados pertinentes aos propósitos da pesquisa.”.

Através das produções textuais escritas e das atividades respondidas pelos alunos, baseadas na leitura das charges, compreendemos que os discentes conseguiram entender a criticidade presente no discurso chargístico. Desse modo, identificamos os níveis de habilidades de leitura que os alunos se encontravam.

Compreendemos a relevância social da pesquisa por acreditarmos que para uma educação de qualidade se faz necessária a formação leitora dos alunos, de maneira que tenham condições de interagir com o texto/contexto e posicionar-se diante dele. Defendemos que as charges exigem uma postura reflexiva do leitor por polemizar acontecimentos sociais, estimula no aluno uma interpretação, seja oral ou escrita, mais atuante, que o torna capaz de interagir com os demais gêneros textuais.

Não é novidade que a educação vem passando por sérias dificuldades em todo o país, principalmente no que se refere às escolas públicas. Vários fatores corroboram para que isso aconteça, por isso, não é possível identificar um único culpado para destinar a ele as responsabilidades para todos os impasses. As instâncias sociais, muitas vezes, destinam a culpa da falência do ensino aos professores, por considerarem que são os únicos responsáveis

pelo sucesso da educação, no entanto, eles são apenas constituintes de uma parcela das classes sociais que precisam estar sincronizadas para que os processos de ensino e aprendizagem tenham êxito.

Cada instância social deve ser incumbida de contribuir para o reconhecimento do papel que a educação exerce na vida das pessoas. Os profissionais educadores sozinhos não poderão mudar uma realidade que pertence a todo cidadão brasileiro. A educação é destinada para a maioria dos membros das sociedades, um direito reconhecido, portanto, não é uma minoria que irá desempenhar a função coletiva de corrigir os rumos que a educação vem tomando no país no decorrer dos tempos.

Durante a observação participante, constatamos o quanto são valiosos os apoios da esfera familiar, social, do próprio aluno e da instituição de ensino. Consideramos que esses são os pilares para que a educação tenha condições de adquirir melhorias. No entanto, analisamos que na realidade apresentada naquela instituição de ensino, esses apoios quase não existem, dificultando assim a aprendizagem dos alunos nas diversas áreas do conhecimento.

Por compreendermos que algo precisaria ser feito para mudar aquela realidade, percebemos que precisávamos direcionar práticas pedagógicas que contribuíssem para a melhoria nos posicionamentos didáticos presentes na escola. Para dar início ao que, para nós, seria o viés principal do estudo, consideramos que seria necessário conhecer os níveis de leitura apresentados pelos alunos, então julgamos que seria pertinente realizar uma atividade de sondagem. Com essa proposta, selecionamos uma charge para que os alunos se posicionassem diante dela, de modo que deixassem transparecer a capacidade leitura apresentada através de uma produção textual.

Não poderíamos levar para a sala de aula gêneros textuais com os quais eles não tivessem afinidade ou contato. Objetivar que os discentes fizessem uma leitura consistente, sem terem acesso a informações prévias sobre o gênero ou sobre as informações tratadas por meio dele com produções textuais que não estão presentes em seu cotidiano, seria algo inconcebível, pois teriam que construir sentidos diante do desconhecido.

Diante disso, nossa proposta consistiu em propor que os alunos analisassem um gênero que circula nos ambientes em que eles estão acostumados a frequentar e que serve, a princípio, de distração. Reconhecemos na charge uma excelente aliada para aproximar os alunos do mundo da leitura. Dentre a diversidade de textos veiculados nas diferentes fontes de informação, consideramos que as charges despertam a atenção dos alunos pela sua diversidade de linguagem e modos de abordar o conteúdo. As imagens nas charges auxiliam o

aluno a construir sentidos, dão forma aos personagens, que em outras circunstâncias precisariam ser criados mentalmente pelo leitor.

Conhecendo a difícil realidade em que os jovens alunos viviam, queríamos propor uma atividade para a sala de aula que não estivesse vinculada com estratégias enfadonhas de ensino, pois eles já demonstravam que não tinham como prioridade praticar atividades relacionadas à leitura. Então, acreditamos que levar um texto para a sala de aula que desviasse a língua de sua característica estática, com elementos interessantes para os jovens,seria uma boa estratégia para redimensionar o ensino voltado para uma abordagem que considere o uso real da língua.

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