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6. A FAHL e a sua atuação no PARSC Possíveis contributos do Brasil

6.2 A Constituição de uma FAHL

Um dos objetivos deste trabalho é verificar as condições para a constituição de uma FAHL, como apoio ao PARSC. Jacy Júnior enfatiza que a criação de uma FAHL é importante, “[...] não apenas para atividades humanitárias, mas também de manutenção da paz faz parte dos objetivos maiores da CPLP, e como tal, devem estar contempladas nas aspirações de seus membros [...]” (op.cit.).

De forma convergente, Kamila Rizzi (op.cit.) acredita que a criação desta Força “[...] seria importante, útil e coerente [...], pois reforça as demandas dos EM por ações dentro da temática da cooperação em defesa e segurança [...]”, ratificando o alto nível de interação nesta componente.

Tal é partilhado por Gonçalves da Silva (op.cit.), que reforça a relevância da criação desta Força, acrescentando que sua atuação poderia começar nos países da CPLP e posteriormente ser ampliada para outras nações, agindo como um “ativo” com disponibilidade para ser empenhado em qualquer cenário de catástrofe.

Estas afirmações contrastam com o que expõe Walter Sobrinho (op.cit.), do MD do Brasil. Para ele, a criação de uma FAHL, no momento, não pode ser vislumbrada, pelo fato do MRC ainda se encontrar em discussão. Contudo, o Exercício Militar da série “FELINO” e a busca por certificações internacionais, tais como INSARAG, podem contribuir para este intento.

Nesse sentido, observa-se que há divergências de perceções entre os entrevistados que são especialistas no assunto. Com isso, pode-se depreender que a constituição da FAHL não estabelece pleno consenso, gerando incertezas sobre a sua imediata formação, o que suscita uma discussão mais abrangente sobre o tema.

A criação de uma FAHL deve ser direcionada para constituir um catálogo de capacidades, que se colocarão à disposição de acordo com as emergências requeridas e não se pode caraterizar no principal meio de ajuda humanitária a um país lusófono em caso de catástrofe, conforme apontado por Sobrinho (op.cit.).

Nesse sentido, quanto às capacidades, esta formação deve possuir capacidades vocacionadas para a prestação de socorro humanitário. Além de reunir diversos órgãos e agências, esta força deve possuir mobilidade de ação na área de operações, rapidez de projeção, flexibilidade de atuação, C2 eficiente e unidade de comando, conforme aponta Márcio Barbosa (op.cit.).

Tal visão alinha-se com o que Georges Kanaan (op.cit.) aborda como capacidades necessárias, que são: evacuação de vítimas, constituindo equipas de busca e salvamento;

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restabelecimento de linhas de comunicações; tratamento de água, bem como confeção e fornecimento de alimentação; combate a incêndios florestais; acolhimento de emergência de desalojados desobstrução e/ou reconstrução de vias; transporte e de descontaminação/desinfeção (DNBQR).

Além de que, como refere Bezerra (op.cit.), uma FAHL deve ter a capacidade de deslocamento, projeção no terreno, fluxo logístico com o Brasil, autonomia em suprimentos coerente com a hipótese levantada, apoio sanitário e em transporte, comunicação e de capacidade em ampliar suas estruturas.

A combinação de meios civis e militares pode incrementar a atuação de uma FAHL. A diversidade de atores é um ponto favorável, de forma que o trabalho conjunto, uma vez que se identifica como grande a assimetria de capacidades das FA dos países da CPLP. Também porque as capacidades requeridas seriam um incremento de capacidades militares em geral (organização, treinos e formação, aquisição de materiais, investimentos em infraestrutura). Deve-se atentar para o incremento de capacidades político-estratégicas (por meio da elaboração e efetivação de legislação pertinente, políticas de informações e defesa coerentes e próximas), como releva Kamilla Rizzi (op.cit.).

Soma-se a essas reflexões a seguinte afirmação de Jacy Júnior (op.cit.):“[...] as operações interagências são uma realidade em qualquer ambiente de assistência humanitária, onde inclusive normalmente as FA não são as protagonistas, mas responsáveis pela segurança, apoio logístico e de comunicações em suporte aos demais atores. Ter integrantes destes outros atores é essencial [...]”.

Desse modo, as capacidades requeridas para uma Força desta natureza são voltadas para o socorro imediato e a reconstrução de infraestrutura do EM atingido. Além disso, não pode estar estritamente focada nos meios militares. A combinação com meios civis é fundamental e fator preponderante de sucesso. Segundo Ricardo Bezerra (op.cit.), uma FAHL dessa magnitude só pode estruturar-se corretamente com a combinação de meios civis e militares para a sua atuação.

Quanto à dimensão desta possível FAHL, Georges Kanaan (op.cit.) acredita que vai depender muito do tipo de missão e duração, mas a ligação interagência é fundamental.

Tal coincide com a exposição de Ricardo Bezerra (op.cit.), que releva que o dimensionamento da FAHL deve estar coerente com a hipótese de emprego. De qualquer forma, o uso gradativo dos diversos escalões parece o mais adequado; uma resposta rápida pode ser dada com um escalão subunidade, enquanto os escalões superiores se preparam para um eventual reforço.

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Nesse sentido para esses dois militares do EB, que em momentos diferentes estiveram envolvidos em ajuda humanitária internacional, a dimensão é bastante dependente da situação. Não servindo, portanto, uma organização já disposta para este fim sem o conhecimento dos danos causados e capacidades necessitadas na situação de urgência.

De forma divergente, Márcio Barbosa (op.cit.) acredita que uma FAHL deve ser fruto de uma conjugação de esforços entre os países lusófonos e que o escalão Brigada seria o mais adequado, sendo as forças militares subordinadas de escalão Batalhão e/ou Companhia dos EM.

Por sua vez, este pensamento alinha-se com a visão de Jacy Júnior (op.cit.) que afirma ser o escalão ideal “[...] uma Brigada, por considerações de sustentabilidade na atividade, mas dentro da viabilidade que se observa da realidade dos países da CPLP, um batalhão reforçado (particularmente com tropas de engenharia) seria o escalão possível de se manter adestrada e prontamente enviada a uma região de necessidade [...]”.

Quanto ao treino, pode ser realizado com exercícios de quadros49, de exercícios no terreno

com efetivos reduzidos, sendo que o Brasil já possui experiência em Exercícios Multinacionais, como apontado por Bezerra (op.cit.). Cabe destacar que para Jacy Júnior (op.cit.) “[...] o treino pode ser feito à semelhança dos Exercícios Militares da série “FELINO”, que anualmente realizam atividades conjuntas, um ano com planeamentos na carta e no seguinte com tropas no terreno [...]”.

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