• Nenhum resultado encontrado

2. O Projecto “PAEIGB”

2.3. Constrangimentos

O PAEIGB confrontou-se com alguns constrangimentos ao longo dos 6 anos de vida dos quais se destacam:

 A instabilidade política e governativa da RGB, (mudança de interlocutores, extravio de documentos importantes, adiamento de reuniões e, inclusive, inflexões nas orientações das políticas) que interferiram negativamente nas actividades do projecto;

 A ausência de um documento actualizado, de orientação da política do sector da educação e formação. Os programas de formação ministrados pelo Projecto, embora tenham sido validados pelo INDE e pela Direcção-Geral do Ensino Básico, foram elaborados com base nas experiências da FEC, com o apoio da ESE de Viana do Castelo, Universidade de Aveiro e ESE de Torres Novas;

 A inexistência de um sistema de certificação da formação em serviço com incidência na carreira dos formandos, o que constituiu uma limitação ao desenvolvimento dos recursos humanos no sector da educação;

 A heterogeneidade dos grupos de formação (normalmente constituídos por colectivos de escola) e a grande rotatividade dos professores, que condicionaram a eficácia da intervenção no domínio da formação em exercício;

 As inúmeras tarefas atribuídas aos professores, que criaram dificuldades na actuação do Projecto. Estas dificuldades fizeram-se sentir com maior acuidade nos períodos pré-eleitorais, em que os professores participaram em campanhas de recenseamento em detrimento das aulas;

 O crónico atraso no início dos anos lectivos, que tornou impossível ao projecto cumprir a programação inicialmente prevista das acções de formação;

 As dificuldades de acesso às tabancas, especialmente durante as chuvas, que colocaram sérios problemas à implementação das actividades do projecto, estando mesmo na origem da retirada do PAEIGB da região de Tombali;

 Apesar do crescente número de escolas comunitárias, e não obstante a importância deste novo tipo de escola na elevação dos padrões de acesso à escola nas regiões mais isoladas, não existe ao nível do Ministério uma atitude inclusiva para com esta nova realidade. Estas escolas ficam sistematicamente marginalizadas na definição de estratégias e prioridades.

 A educação é um sector eminentemente masculino. O aumento da escolarização das raparigas exige uma participação mais pronunciada de mulheres no corpo docente das escolas e a criação de uma estratégia conducente;

Síntese O PAEIGB é relevante quer para a RGB quer para Portugal.

Os dados e informações disponíveis e os resultados alcançados permitem afirmar que foi

eficaz, ainda que não tenha havido quantificação prévia dos resultados a atingir pelo Projecto.

A análise da eficiência foi dificultada quer pela ausência de informação quanto aos recursos

financeiros utilizados quer quanto à sua estrutura, quer ainda pela dificuldade de encontrar indicadores de eficiência.

Face aos resultados alcançados é possível identificar efeitos ao nível individual (beneficiários

directos) quer ao nível local e regional, traduzindo-se no aumento da capacidade técnica e pedagógica dos professores e dos inspectores da DRE, da utilização e compreensão da LP, incutindo hábitos de leitura, e da sensibilização da população para a importância da escola e da educação.

Ao nível da sustentabilidade, há indícios de apropriação individual e institucional e inserção

sociocultural mas se o apoio da CP parar não há garantias de um normal funcionamento das actividades do Projecto, facto que advém da natureza frágil das instituições em causa.

Houve alguma coordenação e complementaridade entre este projecto e outras intervenções

da CP, nomeadamente com o PASEG, bem como com outros doadores, como foi o caso da articulação e trabalho conjunto com ONGD. Também houve articulação com instituições locais, nomeadamente com o INDE e as DRE.

A intervenção no EB constitui uma mais valia da CP não só pelo profundo conhecimento da

realidade mas também pela língua comum, colocando Portugal numa posição privilegiada de actuação ao nível do sistema de ensino guineense.

Apesar de se tratar de um projecto desenvolvido no interior da RGB a sua visibilidade

estendeu-se a todo o país, sobretudo graças à colaboração com rádios locais. Também teve ecos em Portugal e Espanha, através da sua divulgação em eventos específicos.

Os principais constrangimentos sentidos situam-se ao nível da própria natureza do Estado

guineense, das fragilidades do sistema de ensino, da heterogeneidade dos beneficiários alvo e da sobreocupação dos docentes guineenses, a par do não reconhecimento da formação para efeitos de progressão na carreira.

3 – O PASEG

3.1. Breve historial

O Programa de Apoio ao Sistema Educativo da Guiné-Bissau (PASEG) resulta de decisão política e da coincidência de posições entre Portugal e a Guiné-Bissau no tocante ao diagnóstico dos graves problemas que afectavam o sector do ensino guineense. Em implementação desde o ano lectivo 2000-2001, nasceu no quadro das relações de cooperação bilateral, através de um pedido formulado pelo Governo guineense saído das eleições legislativas de 1999, por ocasião da deslocação àquele país de uma missão conjunta dos então ICP e GAERI. Essa missão teve como objectivo identificar as prioridades de intervenção no sector da educação, no sentido de Portugal retomar a cooperação interrompida com a eclosão da crise político-militar de 1998.

O objectivo global do programa é “contribuir para o desenvolvimento do sistema educativo da Guiné-Bissau, através da divulgação e promoção do ensino em língua portuguesa”, colocando no terreno um contingente de docentes portugueses, com a missão não apenas de ensinar língua portuguesa nos liceus mas, também, de apoiar na formação dos professores guineenses, nomeadamente do ensino básico. Contrariamente ao que vinha sendo a interpretação das prioridades do país no sector da educação, a pedido das autoridades guineenses, foi considerado prioritário o subsector do ensino secundário, estabelecendo-se, desde então, a promoção da língua portuguesa como vector estruturante e grande prioridade na intervenção da Cooperação Portuguesa na área da educação na RGB.

O programa não teve, desde o início, um documento de concepção e orientação da intervenção. Embora com identificação de objectivos, estes não foram quantificados e da documentação não se conseguiu perceber qual a estratégia de intervenção, o que leva a pensar que a mesma não foi definida. Podemos dizer que o programa se foi desenvolvendo no terreno, tendo-se iniciado com 10 professores, quase exclusivamente a leccionar nos liceus de Bissau, tendo entretanto sido criadas as Oficinas de Língua Portuguesa (OfLP), iniciado a formação de professores do ensino básico e começado a formação de professores no ensino secundário (através dos GAP) e a alfabetização. No momento da deslocação ao terreno estavam 39 professores portugueses em Bissau (quadro 11).

Não foi possível encontrar qualquer documento do Programa para os primeiros 3 anos da sua existência. De acordo com os documentos de orçamentação anual e relatórios de acompanhamento disponíveis, o Programa tem, pelo menos desde 2003, os seguintes objectivos específicos: (i) promover a alfabetização, em português, de mulheres e jovens; (ii) melhorar a qualidade do ensino básico através do apoio à Escola Normal 17 de Fevereiro; (iii) apoiar o ensino

secundário em português e, (iv) garantir, ainda, acções complementares para a promoção e expansão do português.

Quadro 11 – Evolução Geral do PASEG

Ano 2000/2001 2001/2002 2002/2003 2003/2004 2004/2005 2005/2006 2006/2007 2007/2008 Professores 10 10 11 11 17 18 39 39 Leccionação Ensino Básico/Formação OfLP Alfabetização GAP

Quadro 12 – Evolução das escolas abrangidas pelo PASEG e respectivas actividades

Escolas 2000/01 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06 2006/07 2007/08

Liceu Agostinho Neto L L; O L; O L; O L; O L; O L; O; G L; O; G

Liceu Jorge Ampa L L; O; G L; O; G

Liceu Nacional Kwame Nkruma L L; O L; O L; O L; O L; O L; O; G L; O; G

Liceu Rui Cunha L; O L; O; G L; O; G

Liceu Samora Machel L L; O L; O L; O L; O L; O L; O; G L; O; G

Liceu João XXIII* L; F L; F L; F L; F

Escola 17 de Fevereiro** F F F F F F F

Escola Salvador Allende*** O L; O; F L; O; F

Escola da UCCLA*** L; O; F L; O; F

* Liceu Privado; ** - Escola de formação de Professores; *** Escolas do ensino básico; L – leccionação; O – Oficina de Língua Portuguesa; G – Grupo de Apoio Pedagógico; F – formação de formadores/orientadores de estágio Fonte: PASEG (Coordenação no Terreno)

3.2. Os critérios de avaliação

Documentos relacionados