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Construção das Categorias de Análise e do Guião de Entrevista

No documento F REGUESIAS DE S. N ICOLAU E S É (páginas 31-35)

Capítulo II - Metodologia

Parte 3 Construção das Categorias de Análise e do Guião de Entrevista

As categorias de análise definidas para a nossa investigação, assim como o guião de entrevista que foi utilizado na recolha dos dados, estão de acordo com o definido no Protocolo de Vancouver (OMS, 2007b).

23 Assim, estabelecemos como categorias de análise: espaços exteriores e edifícios; transportes; habitação; respeito e inclusão social; participação social;

participação cívica e emprego; comunicação e informação; apoio comunitário e serviços de saúde. Estas categorias correspondem aos tópicos abordados na investigação que deu origem ao Guia Global das Cidades Amigas das Pessoas Idosas (OMS, 2009) e procuram traduzir as áreas a considerar numa cidade amiga do idoso.

Por sua vez, estes tópicos foram identificados previamente em investigações realizadas por Kihl, Brennan, Gabhawala, List e Mittal (2005) e pelo Visiting Nurse Service of New York (2004) acerca das especificidades de comunidades amigas da terceira idade.

Neste sentido, cada categoria inclui os aspectos mais importantes a serem avaliados numa cidade. Desta forma, na perspectiva da OMS (2009) a categoria espaços exteriores e edifícios refere-se essencialmente ao ambiente, condições de segurança e acessibilidade dos espaços públicos, das lojas e dos edifícios públicos, enquanto a categoria transportes se refere genericamente à disponibilidade, acessibilidade, fiabilidade e segurança dos transportes disponíveis na cidade, assim como às características do trânsito, rodovias e sua sinalização. Por sua vez, na categoria habitação são incluídos aspectos relacionados com a segurança, conforto e condições estruturais das residências dos participantes e das habitações existentes no seu meio urbano. Da mesma forma, nesta categoria são abordadas questões relacionadas com disponibilidade de alternativas adequadas e acessíveis de habitação na cidade.

A categoria respeito e inclusão social, tal como a designação indica, refere-se à forma como as pessoas idosas são respeitadas, incluídas, reconhecidas e valorizadas pela comunidade, pelos serviços e pela família. Quanto à categoria participação social, esta está relacionada com a adequabilidade e variedade das oportunidades de participação em actividades de lazer, sociais, culturais e espirituais existentes na cidade. No mesmo sentido, a categoria participação cívica e emprego diz respeito às possibilidades das pessoas idosas se envolverem em actividades produtivas remuneradas, não remuneradas ou de cariz voluntário, assim como nos assuntos cívicos da cidade (OMS, 2009).

Por sua vez, a categoria comunicação e informação refere-se à quantidade e qualidade da informação a que as pessoas idosas têm acesso, enquanto que a categoria apoio comunitário e serviços de saúde relaciona-se essencialmente com a forma como estes serviços correspondem às necessidades dos idosos da cidade (OMS, 2009).

24 Para além de alicerçarem a recolha de dados, providenciando a estrutura para o guião de entrevista descrito no Protocolo de Vancouver19 (OMS, 2007b), a análise dos resultados e a lista de verificação das características fundamentais de uma cidade amiga das pessoas idosas presentes no Guia Global das Cidades Amigas das Pessoas Idosas (OMS, 2009) são organizadas pelas oito categorias. Logo, considerando que categorias são “rubricas ou classes, que reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, agrupamento esse efectuado em razão dos caracteres comuns destes elementos” (Bardin, 2004, p. 111) e que a categorização permite organizar a análise dos dados recolhidos (Patton, 2002), julgamos adequado que as nossas categorias correspondam às oito áreas distintas a considerar numa cidade amiga do idoso, descritas pela OMS (2009).

Adicionalmente, consideramos que estas categorias obedecem a critérios defendidos por autores como Bardin (2004) e Patton (2002) para uma categorização apropriada. Assim, julgamos que as categorias possuem homogeneidade interna, uma vez que a classificação das categorias é governada pelo mesmo princípio e cada categoria se refere a um tema específico e distinto (Bardin, 2004; Patton, 2002). Por sua vez, a homogeneidade fundamenta outro critério que consiste da exclusão mútua (Bardin, 2004) ou heterogeneidade externa (Patton, 2002), que se traduz no facto de um elemento não poder ter dois ou vários aspectos susceptíveis de serem classificados em duas ou mais categorias.

Para além de considerarmos que as categorias definidas na nossa investigação respeitam estes dois critérios, julgamos que possuem ainda as seguintes qualidades defendidas por Bardin (2004): são pertinentes uma vez que correspondem ao que a evidência demonstra como as áreas a considerar numa cidade amiga do idoso; e são produtivas no sentido que, ao alicerçarem a investigação do projecto das Cidades Amigas das Pessoas Idosas, deram origem a resultados que permitiram construir um documento pormenorizado com os aspectos das cidades que são amigos dos idosos (OMS, 2009).

Assim, o guião de entrevista utilizado na nossa investigação assume a estrutura definida no Protocolo de Vancouver (OMS, 2007b), sendo que o seu conteúdo foi alvo de uma adaptação cultural (o guião de entrevista original constitui o anexo II deste trabalho). Este processo, tal como descrito na bibliografia (Beaton,

19 Apesar de no Protocolo de Vancouver (OMS, 2007b) definirem o conjunto de questões a serem colocadas ou abordadas nos grupos de discussão como “questionário do focus group”, ao longo do nosso trabalho utilizaremos a terminologia de “guião de entrevista” uma vez que, segundo Krueger e Casey (2000), ambos as expressões podem ser usados com o mesmo significado.

25 Bombardier, Guillemin, & Ferraz, 2000; Maher, Latimer, & Costa, 2007; Pedroso, Oliveira, Araujo, & Moraes, 2004), não visou apenas uma tradução linguística do documento original, mas sim uma adaptação semântica, idiomática, conceptual e experimental considerando a população em estudo e o contexto em que se insere.

Efectivamente, segundo Beaton, Bombardier, Guillemin e Ferraz (2000) e Pedroso, Oliveira, Araujo e Moraes (2004), a adaptação cultural de um questionário deve visar a obtenção de uma equivalência semântica (assegurando que as palavras têm o mesmo significado), equivalência idiomática (traduzindo adequadamente os coloquialismos da língua original), equivalência conceptual (adequando os conceitos utilizados ao contexto cultural da população alvo) e equivalência experimental (garantindo que os “termos utilizados são coerentes com as experiências vivenciadas pela população à qual se destina” (Pedroso, et al., 2004, p. 131)).

Com base nestes pressupostos, foi preparada uma primeira versão do guião pelos investigadores envolvidos no projecto. Esta versão foi posteriormente submetida à análise de um painel de peritos20 de forma a validar a adaptação realizada (Beaton, et al., 2000; Maher, et al., 2007; Pedroso, et al., 2004). Como resultado dessa análise foi elaborada uma nova versão do guião de entrevista que, por sua vez, tal como indicado na literatura, foi testado e aplicado a um grupo constituído por elementos do universo de estudo, mas que não faziam parte do grupo a estudar21. Nesta aplicação teste foi averiguada a qualidade da adaptação cultural pela análise das respostas, sendo que os participantes foram questionados sobre a clareza e significado das questões. Após análise dos dados recolhidos no referido processo de adaptação cultural, foi elaborada uma versão definitiva do guião de entrevista (anexo III).

Neste documento, para além de serem enumeradas as questões que devem ser colocadas em relação a cada categoria, é também descrita uma questão introdutória mais geral sobre o tema de investigação, assim como pistas ou questões mais específicas que podem ser utilizadas caso as perguntas colocadas não despertem a discussão pretendida sobre um tópico em particular.

De facto, como defendem Krueger e Casey (2000) e Lewis (2000), as questões colocadas num grupo de discussão devem obedecer a uma sequência natural e lógica, sendo colocadas questões mais gerais numa fase inicial para proporcionar o início da discussão e reflexão sobre o tópico. Com o desenrolar da discussão, o moderador

20 O painel de peritos foi constituído por Joaquim Faias, Nuno Rocha e Paula Portugal, docentes da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto do Instituto Politécnico do Porto.

21 O grupo de discussão teste foi constituído por 4 pessoas idosas residentes na zona histórica da cidade do Porto.

26 pode então colocar questões mais específicas e que “usualmente permitem obter informação mais útil” (Krueger & Casey, 2000, p. 12).

Ao listar as questões a serem exploradas durante a realização dos focus groups, o guião de entrevista assegura que os mesmos temas são abordados nos diferentes grupos (Bender & Ewbank, 1994; Gizir, 2007; Patton, 2002). No entanto, como afirmam Bender e Ewbank (1994, p. 67), o guião de entrevista deve “guiar, não limitar, as questões que podem ser colocadas”. Esta perspectiva está de acordo com descrito por Patton (2002, p. 343), que declara que apesar de o guião de entrevista providenciar os tópicos que o investigador deve explorar, o moderador tem a

“liberdade de desenvolver uma conversa sobre um tema particular e de colocar as questões de forma espontânea”.

Para além de garantir que os mesmos tópicos são abordados em grupos diferentes, o guião de entrevista é essencial para a “realização de focus groups uma vez que mantém a discussão focada no tema abordado enquanto permite a partilha de perspectivas e experiências individuais” (Patton, 2002, pp. 343 - 344).

No documento F REGUESIAS DE S. N ICOLAU E S É (páginas 31-35)

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