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4.3. A dimensão do Ethos nos Aconselhamentos Sentimentais 1 A noção de Ethos Discursivo

4.3.2. Construção do Ethos nos Aconselhamentos Sentimentais

Charaudeau (2011) discorre acerca dos diversos tipos de construções de ethé relacionadas ao desenvolvimento das figuras identitárias do discurso político. Considerando que o discurso político se assemelha ao discurso religioso, por ambos trabalharem com a argumentação e a manutenção de poder, no nível do convencimento das ideias, entre os vários tipos de ethé

88 possíveis, que Charaudeau propõe dividir em duas categorias - os ethé de credibilidade e os ethé de identificação -, elencaremos alguns que, mesmo se referindo às figuras identitárias do discurso político, podem ser relacionados ao discurso religioso e à construção da imagem da pastora Sarah Sheeva.

Em relação aos ethé de credibilidade, Charaudeau (2011, p. 119)

coloca que, de modo geral, “a credibilidade repousa sobre um poder fazer, e

mostrar-se crível é mostrar ou apresentar a prova de que se tem esse poder”. Ou seja, uma pessoa pode ser considerada digna de crédito se existirem maneiras de verificar que o que ela diz corresponde sempre ao que ela pensa (condição de sinceridade ou de transparência), que ela possui os meios de colocar em prática o que anuncia ou promete (condição de performance), e que o que ela anuncia e aplica é seguido de um efeito (condição de eficácia). Os dois ethé de credibilidade que podemos associar à imagem da pastora Sarah Sheeva são o ethos de virtude e o ethos de competência.

O ethos de “virtude” é uma “resposta a expectativas fantasiosas da instância cidadã, na medida em que esta, ao delegar um poder, procura fazer-se representar por um homem ou por uma mulher que seja modelo de

retidão e honradez” (CHARAUDEAU, 2011, p. 124). Esse ethos exige que

o sujeito demonstre sinceridade e fidelidade, às quais se deve acrescentar uma imagem de honestidade pessoal.

De maneira geral, o ethos de “virtude” se faz acompanhar por uma atitude de respeito para com o cidadão: o sujeito deve ser transparente, direto, e não deve se valer de embustes. O ethos de virtude pode ser relacionado com a imagem de Sarah Sheeva, na medida em que a mesma veicula na mídia a imagem de uma mulher que segue os próprios ensinamentos. Exemplo disso, é que ela proclama em suas entrevistas em programas de televisão e até mesmo nos aconselhamentos, como podemos visualizar abaixo, que já está há 10 anos sem sexo e 9 anos sem beijo na boca, atitudes que ela prega como ideais para as mulheres que a seguem:

89 (35) Eu tenho 40 anos, sou uma mulher solteira de 40 anos que vive em santidade há muitos anos. Há mais de 10 anos espero em santidade o homem de Deus que o Senhor tem pra mim, me encontrar. (AS 6)

Sarah prega essa abstinência e contenção sexual para as mulheres da igreja baseada em uma visão tradicional, conservadora, na qual a mulher deveria se guardar para o homem até o casamento, mantendo-se pura e virgem. Essa visão conservadora, por sua vez, é baseada na Bíblia, na qual, a exemplo das histórias de Rebeca e Rute, citadas por Sarah Sheeva em seu Aconselhamento Sentimental número 1, as mulheres deveriam se resguardar, se possível até dos olhos de seus futuros maridos, até o dia do casamento, quando então elas passariam a obedecer-lhes como mulheres virtuosas.

Por sua vez, o ethos de “competência” exige de quem o detém, ao mesmo tempo, saber e habilidade. O sujeito deve possuir um conhecimento profundo acerca do domínio particular no qual exerce sua atividade, mas deve igualmente provar que tem os meios, o poder e a experiência necessários para realizar completamente seus objetivos, obtendo resultados positivos:

(36) Eu percebo nisso uma forma que você tem de justificar pra você mesma e pra mim né, pensando que você vai conseguir me tapear como você se tapeou esse tempo todo. Você pensa que eu vou também cair nessa conversa dele. Ele é muito bom de lábia, esse cara que você namorou e você caiu na lábia dele, você é muito boa pra cair na lábia e ele é muito bom de falar. Eu não tenho essa fraqueza, eu já treino ó, há anos meu amor, canto a musiquinha: palavras não tem valor, atitudes tem valor; não entra no meu ouvido, eu quero ver a atitude. (AS 4)

90 No exemplo, a pastora demonstra para a mulher que ped iu o aconselhamento, e consequentemente para todos os internautas que assistirem a este vídeo, que ela possui conhecimento e experiência (eu já treino ó, há anos meu amor) acerca do comportamento masculino, o que confere para a pastora, dessa forma, a capacidade de discernir se o que este homem diz é verdadeiro ou não, ou seja, confere-lhe a competência necessária para ajudar sentimentalmente a mulher que pediu o conselho.

Em relação aos ethé de identificação, temos que toda construção do ethos se faz em uma relação triangular entre o eu, o outro e um terceiro ausente, portador de uma imagem ideal de referência, imagem esta que o Eu

procura endossar. “É assim com os ethé de credibilidade e também com os

de identificação, cujas imagens, dessa vez, são extraídas do afeto social: o cidadão, mediante um processo de identificação irracional, funda sua

identidade com na do político”. (CHARAUDEAU, 2011, p. 137). Podemos

associar cinco ethé de identificação à construção da imagem de Sarah Sheeva. São eles, os ethos de: “caráter”, “inteligência”, “humanidade”,

“chefe” e “solidariedade”.

O ethos de “caráter” pode aparecer por meio de diversas figuras,

como a da “força protetora de quem guia o rebanho, com a serenidade do pastor que sabe aonde vai” (CHARAUDEAU, 2011, p. 142-143); outra figura, similar a anterior, é a do “controle de si”, que evidencia um caráter

equilibrado de quem não se deixa afetar por pequenas coisas, que mantém- se calmo em todas as circunstâncias, sem se entregar a agitações inconsequentes. Sarah Sheeva pode ser relacionada a essa força protetora que guia o rebanho, devido ao grande alcance de suas pregações, tanto físicas quanto virtuais, o que pode ser comprovado, por exemplo, pelo fato de que seus cultos e ministrações possuem instruções41 que devem ser seguidas pela igreja que a convida para ministrar a palavra, tamanha a procura pelos seus eventos:

41 Essas instruções podem ser encontradas tanto no site, quanto no blog da pastora. Disponível em:

http://sarahsheeva.wordpress.com/condicoes-para-a-realizacao-do-culto-das-princesas/. Acesso em: 14/09/2013.

91 (37) O Culto das Princesas só pode ser realizado em locais fechados (que não sejam ao ar livre), com um mínimo de estrutura para comportar pelo menos 1.500 mulheres sentadas. Ele é uma campanha que precisa ser realizada à portas fechadas, num local onde não vaze o som. Não poderá ser gravado, filmado ou transmitido. [...] O local precisa ter a capacidade para (no mínimo) 1.500 (mil e quinhentas) mulheres, pelo menos mil e quinhentos assentos (cadeiras) devido a grande procura deste trabalho. (Sarah Sheeva Blog Oficial42)

Além disso, no Aconselhamento Sentimental 26/10/11, Sarah Sheeva responde para uma mulher que diz não conseguir esquecer o ex-noivo, por mais que ela tente, e que ainda sonha com a transformação da vida dele e com o casamento que eles teriam:

(38) Meu bem, a escolha é tua se você quer se relacionar com pessoas que têm esse tipo de problema. Você é a pastora dele? Você é a pessoa, o pastor dele? Você é a pessoa que vai tratar essa área da vida dele? Você é a terapeuta dele? Não é, meu amor. Então você precisa se amar mais, pra escolher uma pessoa saudável pra se relacionar com você. Pare de aceitar relacionamentos com pessoas que não querem ser curadas. Isso é um sentimento de auto-destruição que você tem, aceitar um relacionamento que te faz mal, com uma pessoa que não quer ser resolvida, é muito ruim isso pra você. (AS 4)

Nesse aconselhamento, percebemos a figura da força protetora de quem guia o rebanho, pois Sarah aconselha a mulher no sentido de que ela deve procurar se relacionar com pessoas saudáveis, de que ela deve se amar mais. Sarah aconselha essa mulher como uma amiga o faria, acolhendo -a e

42 Blog pessoal da pastora Sarah Sheeva. Disponível em:

http://sarahsheeva.wordpress.com/condicoes-para-a-realizacao-do-culto-das-princesas/. Acesso em 14/09/2013.

92 confortando-a. Essa figura da força tranquila, da força protetora vem corroborar com a construção do ethos de caráter de Sarah Sheeva.

O ethos de inteligência pode despertar a admiração e o respeito dos sujeitos por aqueles que demonstram possuí-lo, fazendo assim com que esses sujeitos venham a aderir às ideias propostas. Segundo Charaudeau (2011), uma das maneiras deste ethos se manifestar é através da confirmação, por comportamentos atuais, de um capital cultural herdado da origem social e de uma boa formação. Esse ethos pode ser identificado nos Aconselhamentos Sentimentais, quando Sarah Sheeva cita, em algumas passagens, o livro, de sua autoria, Defraudação Emocional:

(39) é um comportamento super comum nas mulheres, no livro Defraudação Emocional eu falo sobre isso, tem um capítulo inteiro dedicado a esse assunto, o nome do capítulo é: O homem procura, a mulher

espera. (AS 1/ parte 1).

(40) Quando há as afinidades há paz, tranquilidade, o relacionamento, leia lá no meu blog, complemento do livro Defraudação Emocional, tem os oito sinais que Deus dá. Você vai entender do que eu estou falando, ok? (AS 4).

(41) Esse pecado eu descrevo ele claramente, com base bíblica no livro, primeiro livro que eu escrevi, chamado “Defraudação Emocional”. O que é defraudar? Gerar expectativas que não podemos suprir. O que é auto defraudação? É quando a expectativa parte de nós [...] (AS 5).

Citando o livro de sua autoria para aconselhar as mulheres que a procuram, Sarah Sheeva demonstra possuir o ethos de inteligência, o que acaba por despertar o respeito e a admiração de seus seguidores, levando-os a adotarem as ideias dela.

93 O ethos de “humanidade” refere-se à capacidade do ser humano de demonstrar sentimentos, compaixão para com aqueles que sofrem, confessar suas fraquezas, demonstrar quais são suas preferências. Podemos perceber exemplos do ethos de humanidade na seguinte passagem dos aconselhamentos:

(42) [...] eu recebo muitos e-mails pedindo aconselhamento, pedindo uma, uma palavra, uma direção, apesar de eu ser apenas uma pregadora, uma missionária. Eu não sou uma pastora de igreja, mas muitas pessoas me pedem né, conselhos [...] (AS 1/ parte 1)

(43) Talvez essa seja a tua dúvida, essa seja a tua crise, o momento que você tem vivido, então talvez eu possa lhe ajudar. (AS 4)

(44) Deus vai tirar do teu coração esse sentimento, eu creio porque eu já passei por isso algumas vezes na minha vida, eu também já fui auto defraudadora, tá bom? Tem solução, tem jeito. É um treino e você vai conseguir, se Deus quiser, em nome de Jesus, amém? (AS 5)

Nos dois primeiros exemplos, Sarah Sheeva demonstra compaixão com as mulheres que pedem os aconselhamentos ao se dispor a tentar ajudá - las. No terceiro exemplo, podemos perceber o ethos de humanidade quando a pastora confessa uma fraqueza: já ter sido, também, uma auto defraudadora, assim como a mulher a quem ela está aconselhando.

O ethos de “chefe” é direcionado ao cidadão e se manifesta por meio de diversas figuras - de guia, de soberano e de comandante. Nos deteremos, aqui, a figura de guia, que é a que mais se relaciona com a imagem da pastora Sarah Sheeva. Segundo Charaudeau (2011, p. 54), a figura do guia supremo é uma necessidade para a permanência de um grupo social. “É como se, consciente de sua incapacidade de se determinar e de ver qual é o

94 seu destino, o grupo tivesse necessidade de ressuscitar a existência de um ser superior capaz de guiá-lo em meio aos acasos do tempo, à fortuna da

vida e às peripécias do mundo”. Essa figura conhece diversas variantes: o

guia-pastor, o guia-profeta, o guia-soberano. Destacamos a variante do guia-pastor,

que é aquele que reúne o rebanho, o acompanha e o precede, ilumina seu caminho com uma perseverança tranquila. Ele tem um caminhar pausado e regular, detendo-se apenas em certas etapas previamente determinadas. Transpostos para uma moral humana, esses traços tornam-se, metaforicamente, os de um condutor de homens que sabe se fazer seguir, do sábio que tem uma vida interior e do homem determinado que sabe aonde vai. (CHARAUDEAU, 2011, p. 154)

Com o impulso do movimento feminista na década de 70, as mulheres começaram a ganhar mais liberdade em todos os campos da sociedade, inclusive no sentimental. Contudo, para Sarah Sheeva, essa maior liberdade de ir à busca de parceiros afetivos trouxe não só felicidade emocional, mas também acabou acarretando muitas vezes uma frustração nessas mulheres; e é justamente contra essa frustração que Sarah Sheeva construiu seu discurso religioso, no intuito de ensinar para as mulheres o comportamento ideal para se conseguir um marido. Nesse sentido, podemos considerar que todo o aconselhamento pressupõe que Sarah Sheeva é guia, como podemos constatar na passagem a seguir:

(45) As mulheres têm sofrido. Por quê? Porque não têm aprendido a se olhar, a se valorizar. E aí o que acontece? Os homens vão ficando mal acostumados, o costume do mundo entra dentro da igreja, a mulherada começa a fazer igual as mulheres do mundo, que que acontece, meu bem? Você começa a ser tratada como uma mulher do mundo. Lógico. Princesas se comportam como princesas e aí atraem quem para elas? Os príncipes de Deus. Mas mulheres que se comportam como as mundanas, vão atrair homens

95 mundanos, com coração mundano, vão ser tratadas sem carinho, sem respeito. (AS 1/ parte 3)

Nessa passagem, Sarah Sheeva explica para suas seguidoras o motivo pelo qual as mulheres da igreja têm sofrido, e ensina que para serem tratadas como princesas, com respeito e carinho, essas mulheres devem aprender a se valorizar. Ou seja, podemos afirmar que a pastora tenta guiar essas mulheres para o que ela acredita ser o caminho da felicidade amorosa.

A partir da enunciação alocutiva, o sujeito falante Sarah se “enuncia

em posição de superioridade em relação ao interlocutor, atribuindo a si papéis que impõem ao interlocutor a execução de uma ação (fazer fazer/ fazer dizer)” (CHARAUDEAU, 2010, p. 82). Essa imposição de Sarah Sheeva, sobre as mulheres que pedem os aconselhamentos, estabelece entre elas uma relação de força, como podemos perceber pelo uso das modalidades de injunção e interpelação:

(46) Você acha que isso é compatível com o caráter de Deus? Você acha que o caráter de Deus combina com isso? Você acha que Deus mandaria uma mulher, princesa dele, orar por um homem que nunca olhou na cara dela? Meu bem, isso não combina com o caráter de Deus. Óbvio que foi a tua alma, óbvio que você confundiu a voz das suas emoções, a voz do pensamento da tua alma com a voz de Deus. (AS 1/ parte 2)

(47) Guarda estas palavras, ouça várias vezes, decora, escreve, faça o que você tiver que fazer e ore. Fecha os teus olhos pra quem não olha pra você. Se não serve pra ser amigo, não serve pra ser marido. (AS 1/ parte 3)

Percebemos nos trechos destacados que, através do questionamento, a pastora utiliza uma estratégia argumentativa eficaz, pois se coloca como conselheira (guia), ao mesmo tempo em que impõe um comportamento. No

96 ato alocutivo pode haver, também, uma simulação de diálogo direto entre os sujeitos, como podemos perceber na passagem:

(48) Você quer um príncipe de Deus, um homem de Deus, um homem consagrado, um homem santo, apaixonado por Jesus, que segue os princípios da Palavra, honesto, um caráter tratado? Sarah, eu quero. Então, meu bem, se comporte como uma princesa, e não se comporte como uma mendiga emocional, que tá aí, pelo amor de Deus olha pra mim. Isso é um absurdo, isso não é o comportamento de uma mulher de Deus. (AS 1/ parte 2)

Nessa passagem, Sarah pergunta para a mulher que pediu o

aconselhamento se ela quer um homem honesto e de “caráter tratado”, mas

como a situação de comunicação dos vídeos de aconselhamentos são

monologais, a pastora mesmo responde o questionamento: “Sarah, eu quero”, o que nos faz identificar, neste fragmento, uma estrutura

diferenciada, pois a pastora fala em nome da interlocutora.

Por fim, através do ethos de “solidariedade” cria-se a imagem de um sujeito que está atento às necessidades dos outros, que compartilha dessas necessidades e, por isso, se torna responsável por elas. Segundo Charaudeau:

A solidariedade caracteriza-se pela vontade de estar junto, de não se distinguir dos outros membros do grupo e, sobretudo, de unir-se a eles a partir do momento em que se encontrarem ameaçados. Aquele que é solidário não está em uma posição diferente da dos outros; ele partilha as mesmas ideias e os mesmos pontos de vista de seu grupo e vai ao encontro das ideias e dos pontos de vista dos outros grupos. A solidariedade não deve ser confundida com a compaixão. A solidariedade pressupõe um sentimento igualitário e recíproco, já a compaixão pressupõe um sentimento assimétrico entre um indivíduo que sofre e outro que, apesar de não sofrer, está, no entanto,

97 emocionado pelo sofrimento alheio. (CHARAUDEAU, 2011, p. 163)

Dessa maneira, percebemos que a solidariedade se caracteriza pelo fato de a pessoa se colocar no mesmo nível das outras pessoas e unir-se a estes nos momento em que se encontrarem com dificuldades. Esse ethos pode ser identificado na seguinte passagem dos aconselhamentos de Sarah Sheeva:

(49) O homem procura, a mulher espera. Este valor foi perdido na humanidade, este valor é um valor hoje totalmente destruído no mundo, mas dentro da igreja nós precisamos restaurar este valor. Dentro da igreja, também o mundo, o costume do mundo tem entrado dentro da igreja, né, o costume mundano, que não é dos princípios da Palavra. Então as mulheres, cada vez mais, tem tido esse comportamento, comportamento de procurar homem, comportamento de tomar a iniciativa, quando ela na verdade deveria esperar o homem tomar a iniciativa. E a primeira iniciativa que muitas mulheres tomam, que é o caso desse e-mail dessa irmã, uma iniciativa terrível, é um problema sério isso, isso é uma grande rebelião, muito sutil, muito disfarçada que as mulheres tem, estou falando especificamente agora para as mulheres da igreja, as mulheres fora da igreja elas não tem nenhum objetivo em seguir nada disso, mas nós, mulheres de Deus, que queremos agradar o coração de Deus, precisamos seguir esse princípio. (AS 1/ parte 1)

Nesse trecho do aconselhamento 1, Sarah, por meio do ethos de solidariedade, se mostra preocupada com o comportamento indevido das mulheres da igreja em relação aos relacionamentos amorosos. Dessa forma, ela demonstra estar alerta a essa necessidade de, segundo ela, restaurar o valor de que cabe ao homem a conquista, e à mulher ser conquistada, em outras palavras: o homem procura e a mulher espera, pelo menos dentro da

98 igreja, já que, segundo ela, as mulheres de fora da igreja não têm interesse em seguir esses ensinamentos.

O ethos de credibilidade se constrói na interação entre identidade social e identidade discursiva, entre o que o sujeito quer parecer e o que ele realmente é em seu ser psicológico e social. Esse ethos pode ser identificado na pastora a quando ela cita, em seu Aconselhamento 1, a história de duas mulheres da Bíblia (Rute e Rebeca), no intuito de demonstrar que o comportamento destas seria o comportamento ideal de uma mulher da igreja. Sarah Sheeva também tenta provar sua competência e conhecimento da tese que defende - O homem procura e a mulher espera -, quando cita, em seu Aconselhamento Sentimental 1, o livro que escreveu:

(50) [...] no livro Defraudação Emocional eu falo sobre isso, tem um capítulo inteiro dedicado a esse assunto, o nome do capítulo é: O homem procura, a

mulher espera. Este valor foi perdido na humanidade,

este valor é um valor hoje totalmente destruído no mundo, mas dentro da igreja nós precisamos restaurar este valor. (AS 1/ parte 1)

Nesta passagem do livro, podemos perceber que ela faz assertivas - esse valor foi perdido na humanidade; este valor é um valor hoje totalmente destruído no mundo – que irão corroborar com a opinião dela de que é preciso restaurar o valor de que é o homem quem procura e a mulher espera dentro da igreja. Através dessas assertivas tão enfáticas, ela procura atribuir credibilidade aos seus aconselhamentos e pregações, pois, já que é preciso restaurar este valor na igreja, ninguém melhor para ajudar do que alguém que restaurou este valor em sua própria vida.

Dessa forma, Sarah Sheeva não tenta esconder o seu passado, pelo contrário, em suas biografias, no site, blog, e no livro Defraudação Emocional, faz questão de ressaltar que atuou por cinco anos no grupo

99 Ministerial. Em suas entrevistas em programas de televisão e nos seus testemunhos, ela afirma ter sido mundana na época do SNZ, inclusive ninfomaníaca; contudo, atualmente ela defende a castidade e a contenção sexual: “Eu era promíscua, não parava com homem. Minha vida era vazia e