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Como afirma Sarmento (2005) a identidade profissional “é um processo social e humano que se desenvolve na interação de cada um com o mundo e com o outro” (p. 72). Desta forma, considero que é completamente indissociável o desenvolvimento profissional da pessoa que exerce a função de educador. Por conseguinte, todas as experiências e vivências que me foram proporcionadas quer a nível da minha formação inicial, quer a nível da minha vida pessoal me ajudaram a construir a minha identidade profissional. Do mesmo modo, os valores pelos quais me rejo na minha vida pessoal são os mesmos que norteiam as minhas práticas pedagógicas. Assim, considero que a aprendizagem também provoca transformações a nível pessoal, ou seja, ao próprio profissional de educação, a pessoa que é, também sofre várias transformações, definindo assim uma experiência de identidade (Wenger, 1998).

Ao longo de toda a minha licenciatura, mestrado e experiências que me são proporcionadas na PPS tenho tentado encontrar-me enquanto profissional de educação. Deste modo, a construção da minha identidade profissional tem-se desenvolvido através de vários processos sociais e, na minha opinião, complexos, no qual sou confrontada com escolhas, decisões, reflexões e constrangimentos.

Refletir sempre foi uma palavra que imperou na minha prática profissional e, que penso, que um educador não deve descurar. É com a reflexão sistemática e cuidada que vamos construindo inúmeras aprendizagens. As reflexões que fui realizando ao longo dos dois estágios – nas valências de creche e de JI – permitiram-me responder a algumas inquietações e procurar soluções para os problemas que iam surgindo. Concomitantemente, com as reflexões fui-me apercebendo de aspetos que deveriam ser repensados e melhorados e do meu desempenho profissional:

“A E. caiu no jardim. Veio ter comigo a chorar: - M: O que aconteceu? - E. Cai ali (aponta) - M: Já passou” (8 de março de 2016)

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É visível no meu discurso que intervim rapidamente sem deixar que a criança se explicasse. Não lhe dei oportunidade de se explicar. Depois deste episódio, pensei que se tivesse ocorrido comigo gostaria que o

interlocutor estivesse disponível para mim e ouvisse apenas o porquê de me estar a sentir assim. (Excerto da reflexão de 7 a 11 de março – estágio em creche)

O excerto acima descrito é exemplo de como a reflexão me ajudou a planear a minha prática, a procurar soluções para as minhas dúvidas, a questionar as minhas ações. Segundo Alarcão e Tavares (2003), a reflexão permite que o educador repense as suas atitudes, com o objetivo de tornar a sua prática mais adequada. Posto isto, quero assumir, ao longo de todo o meu desempenho profissional, uma atitude reflexiva e crítica, procurando sempre exercer uma prática de qualidade.

No contexto de creche foram inúmeros os conhecimentos que adquiri, mas, de facto, tenho de destacar dois: a importância da comunicação e a importância de envolver crianças tão pequenas na resolução dos conflitos.

Na valência de creche, realizei a minha prática com um grupo de crianças, com idades compreendidas entre os dois e os três anos de idade, em que a linguagem ainda estava a ser desenvolvida. Assim, a comunicação, pensava eu, seria mais difícil. Com este estágio compreendi que se promovermos tempos e espaços para que a criança possa escolher, seja autónoma, então a criança é capaz de manifestar as suas opiniões, interesses e opiniões, seja através de linguagem oral, gestos e/ou comportamentos. No meu percurso profissional eu pretendo proporcionar às crianças este espaço e tempo, sem apressar o processo.

A atitude calma, é uma caraterística que me define bastante, uma vez que considero que o educador deve ser o modelo comunicacional e interelacional com quem as crianças aprendem a negociar e a relacionar-se com os outros. São estes momentos, que demonstram as formas respeitadoras de interação com os outros, que podem “ajudar a criança a aprender a negociar e resolver disputas” (Papalia & Feldman, 2001, p. 266). Deste modo e, devido à minha investigação em creche, envolver as crianças na resolução de conflitos é imperativo.

A relação afetiva positiva que estabeleço com as crianças será sempre uma prioridade, procurando adotar uma atitude responsiva e demonstrar total disponibilidade para responder aos seus interesses, necessidades e capacidades. A confiança que a criança

52 deposita no adulto é a base para o desenvolvimento da iniciativa, da autonomia e da empatia. As crianças precisam de sentir que podem confiar no adulto, sendo que a qualidade dos cuidados que lhes são prestados, bem como as interações positivas entre adulto-criança são essenciais para o seu desenvolvimento. Como refere Portugal (2012) “garantida a satisfação das suas necessidades, estão reunidas as condições base para a criança conhecer bem-estar emocional e disponibilidade para se implicar em diferentes actividades e situações, acontecendo desenvolvimento e aprendizagens” (p. 5).

Na PPS na valência de JI, este ano, comprovei ideais que defendia já há algum tempo. O primeiro refere-se à importância de educadores e crianças construírem uma comunidade de aprendizagem. Defendo que, o educador e as crianças, juntos conseguem ir mais além das suas capacidades, uma vez que, como referi no capítulo 3, “os processos psicológicos superiores exclusivos do ser humano só se podem adquirir mediante da interação com outro” (Leont’ev, 1981, citado por Weel, 2001, p. 150). Deste modo, o trabalho em conjunto para além da construção dos saberes “permite-lhes, ao mesmo tempo, viver em direto os valores e os problemas da vida em democracia, preparando [as crianças] para a sua integração numa comunidade mais alargada” (Serralha, 2015, p. 11). Assim sendo, defendo valores como a cooperação e a democracia. Pretendo que as crianças se sintam valorizadas, aceites e competentes, que se apoiem nos outros para aprenderem e desenvolverem-se. Pretendo que as crianças me vejam como alguém que as ouve, as incentiva e as encoraja nas suas iniciativas, ampliando as suas aprendizagens, não de forma diretiva, mas de forma cooperativa.

Para adotar a atitude mencionada em cima, saliento a pedagogia da escuta, defendida por Malaguzzi, que me fez olhar para a criança, em todos os sentidos, e ter a consciência do seu grande potencial, ou seja, observar a criança e escutá-la permitiu-me conhecê-la no tempo, no espaço e nos seus conhecimentos. Assim, quero ser uma profissional de educação que pratica a pedagogia da escuta e que baseia a sua prática nas capacidades, interesses e necessidades das crianças.

A transparência foi uma caraterística que adotei na minha intervenção pedagógica durante este ano letivo. Compreendi que as crianças são sensíveis e apercebem-se do bem- estar do adulto; são como uma “esponja” que absorvem as emoções, os sentimentos das pessoas que são significativas para elas. Assim sendo, compreendi que quando algo nos

53 afeta mais profundamente ou algo que altere a dinâmica da sala de atividades é importante partilhar com as crianças e, assim, mais uma vez estamos a dar à criança um modelo adequado de ação interpessoal; a situação descrita é exemplo do que foi referido: “Hoje tínhamos combinado fazer o teatro que andamos a preparar aos meninos da sala da T., mas a M. (auxiliar de ação educativa) sentiu-se mal no recreio e, portanto, a organização da instituição foi alterada. À tarde, quando nos sentámos no tapete expliquei às crianças que tínhamos de fazer o teatro mais tarde. O grupo perguntou logo porquê e eu respondi que a M. se tinha sentido mal, que tinha ido para o hospital e que a T. tinha de ficar com o grupo da M. As crianças compreenderam e planeámos a tarde, marcando o teatro para mais tarde” (18 de janeiro de 2017).

Levo para o meu futuro a convicção de que a avaliação constitui um momento determinante na nossa prática pedagógica. Ao nos avaliarmos e/ou nos avaliarem tomamos consciência de aspetos reveladores na nossa prática que de outra forma não seriam percecionados. Assim, o uso de instrumentos contribui para a qualidade de práticas pedagógicas. Do mesmo modo, tomamos consciência de que as nossas ações influenciam as ações das crianças e o ambiente da sala de atividades.

Por fim, e como afirmam Luís, Andrade e Santos (2015), “pensar em intervenção educativa … implica vivê-la e considerá-la um caminho contínuo de reflexão-ação- transformação. Implica também um caminho de autovigilância em torno de quem somos e de quem queremos ser” (p. 2015). Assim, pretendo começar e recomeçar, errar, ultrapassar, alterar, procurar, encontrar e alcançar. Procurarei sempre a qualidade da minha prática educativa, para que as crianças encontrem na sala de atividades o gosto que é partilhar, aprender e ser.

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