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A construção do paradidático como ferramenta para a educação popular numa

4 OS PARADIDÁTICOS NO ENSINO E APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA NA

4.2 OS PARADIDÁTICOS NA EJA: ALTERNATIVA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA

4.2.1 A construção do paradidático como ferramenta para a educação popular numa

A relação ensino-aprendizagem precisa antes de tudo contemplar o contexto em que vai se efetivar. Isso implica na observação acurada de um educador, a fim de não agir à revelia do contexto, nem, por consequência, justapor uma ação que redunde no fracasso da aprendizagem. Essa observação é significativa, pois ajuda no desenvolvimento dos mecanismos a serem postos em marcha em sala de aula. Dentro do processo de ensino, se torna significativa não só a metodologia a ser escolhida e utilizada pelo professor, mas qual o instrumento, a ferramenta que subsidiará essa metodologia na relação ensino-aprendizagem.

Refletindo sobre o assunto, Kenski (2012, p. 19) esclarece que:

A escola representa na sociedade moderna o espaço de formação, não apenas das gerações jovens, mas de todas as pessoas. Em um momento caracterizado por mudanças velozes, as pessoas procuram na educação escolar a garantia de formação que lhes possibilite o domínio de conhecimentos e melhor qualidade de vida. Essa educação escolar, no entanto, aliada ao poder governamental, detém para si o poder de definir e organizar os conteúdos que considera socialmente válidos para que as pessoas possam exercer determinadas profissões ou alcançar maior aprofundamento em determinada área do saber. Assim, a definição dos currículos dos cursos, em todos os níveis e modalidades de ensino é uma forma de poder em relação à informação e aos conhecimentos válidos para que uma pessoa possa exercer função ativa na sociedade. Por sua vez, na ação do professor na sala de aula e no uso que ele faz dos suportes tecnológicos que se encontram à sua disposição, são novamente definidas as relações entre o conhecimento a ser ensinado, o poder do professor e a forma de exploração das tecnologias disponíveis para garantir melhor aprendizagem pelos alunos.

No contexto escolar, o uso de um paradidático aparece como importante ferramenta, mais ainda se este paradidático tem como pressuposto o próprio

contexto escolar. Se o paradidático em si traz abertura às reflexões diversas, é possível refletir o quanto essa ponderação se tornará mais profunda tomando o contexto como ponto de partida a ser estudado. É nessa perspectiva que a proposta curricular de Jaboatão dos Guararapes, ao tratar da modalidade de ensino EJA, reflete que é preciso situar essa mesma proposta reiterando aspectos fundamentais como a dimensão humanizadora da educação e a realidade local (SEDUC – JABOATÃO DOS GUARARAPES, 2011, p. 26).

O sentimento de pertencimento é aquilo que mais é percebido como ausente no âmbito escolar na EJA, e essa situação também é percebida junto aos alunos dessa modalidade de ensino na Escola Luiz Lua Gonzaga. Esse pressuposto culminou na criação de um material com o fim de auxiliar os alunos para a reflexão- ação, no afã de perceberem-se nesse pertencimento.

Nesse aspecto, ao tratar do professor da EJA, Santana (2012, p. 6) traz a seguinte contribuição:

Conforme a atual conjuntura social, o professor que trabalha no contexto da EJA precisa conhecer a realidade destes educandos desde o seu processo de formação inicial. Isso significa que o professor que atua na modalidade de ensino Educação de Jovens necessita de um preparo adequado, ou seja, este profissional deve ser orientado a adotar uma metodologia de ensino própria para a realidade de seu alunado. Os livros didáticos devem contemplar a realidade local e não o cenário de outras comunidades e grupos sociais.

Partindo da reflexão trazida pela autora, a construção de um paradidático que contemple a história local do município de Jaboatão dos Guararapes e todos os atores que contribuíram para a formação desse município implicará também em uma relação mais profunda, uma busca maior por parte dos alunos da EJA da escola em estudo, fazendo com que os mesmos saiam do lugar comum e passem a enxergar com outros olhos o contexto em que estão inseridos e a possibilidade de mudança que podem produzir sobre suas vidas, bem como na conjuntura sociocultural do município em que vivem.

Tal premissa corrobora com a proposta de ensino de Jaboatão dos Guararapes, quando esta trata do Ensino de História, uma vez que “[...] as propostas pedagógicas neste âmbito de ensino têm compromisso com as práticas historiográficas, no sentido da produção do conhecimento histórico com as devidas especificidades e particularidades” (SEDUC – JABOATÃO DOS GUARARAPES,

2011, p. 100).

Sobre o assunto se faz pertinente a observação feita por Cerri (2011), ao esclarecer que não compete ao saber disciplinar do professor de História na escola formar a consciência histórica nos alunos — eles já chegam com suas consciências formadas em seus traços fundamentais —, mas possibilitar o debate, a negociação e a abertura para a ampliação e complexificação das formas de atribuir sentido ao tempo que os alunos trazem com eles.

Corroborando com essa reflexão, Cainelli e Barca (2018, p. 2) chamam a atenção que:

Nosso trabalho se fundamenta na ideia de que, para a constituição de aprendizagens históricas, é importante que os alunos sejam capazes de compreender as diversidades históricas do passado humano reconstituído pela historiografia. Isso implica na capacidade de produzir conhecimentos a partir da consciência de que o entendimento sobre o passado é realizado com base na evidência histórica. Esta investigação tem como suporte teórico e metodológico os pressupostos da investigação em educação histórica, no sentido de que a forma como os indivíduos mobilizam os conhecimentos históricos e constroem a sua consciência histórica conferem sentido à história e a eles próprios.

Refletem, ainda, que é preciso haver relação entre o aluno e o que ele aprende e apreende da história, o que segundo Freitas Neto (2015) mostra a necessidade de haver uma articulação entre os conteúdos históricos e a história vivida pelo aluno. Logo, o paradidático voltado aos estudantes da EJA precisa, antes de tudo, contemplar sua singularidade, pois essa aprendizagem diferencia-se das demais modalidades de ensino, não só pela lógica de sua conjuntura ou pela especificidade do seu currículo, mas por existir na EJA a necessidade de uma ferramenta que contemple de maneira específica o que é inerente à Educação de Jovens e Adultos, em específico, o contexto em que essa modalidade está inserida.

É nesse sentido que, ao direcionar o olhar para o município de Jaboatão dos Guararapes, bairro de Cajueiro Seco, e para o espaço da Escola Municipal Luiz Lua Gonzaga, na modalidade do EJA, percebemos a urgência em construir um material paradidático que contemplasse a história do município e que, com isso, auxilie o aprendizado dos alunos acerca do município em questão. Assim, acreditamos que um paradidático que possua em seu conteúdo a história local em quadrinhos poderá dinamizar o aprendizado desses alunos e permitir o evidenciado por Bittencourt (2008), ao afirmar que o cotidiano do aluno deve ser utilizado como objeto de estudo

escolar pelas possibilidades que oferece de visualizar as transformações possíveis realizadas pelos homens comuns, ultrapassando a ideia de que a vida cotidiana é repleta e permeada pela alienação.

É nesse contexto que urge um aprendizado que faça sentido e que possa encontrar em um material paradidático a possibilidade de construção desse aprendizado. Um instrumento que se relacione com o que é de conhecimento próprio dos estudantes, que transforme seu cotidiano em literatura, em narrativas gráficas e assim haja o pertencimento esperado sobre seu espaço, seu cotidiano, sobre a própria história do aluno.

Com base nesse pensamento, surge a nossa proposta de utilização de um livro paradidático que utilize o formato de história em quadrinhos para o ensino- aprendizagem da história local na modalidade da EJA em Jaboatão dos Guararapes. Com a finalidade de continuar subsidiando nossa proposta, passamos a estudar, no item que segue, o papel dos quadrinhos na relação de ensino-aprendizagem da disciplina de História na EJA.