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CONSTRUINDO PONTES LUDOPOIÉTICAS ENTRE A FORMAÇÃO ACADÊMICA E AS VIVÊNCIAS DO LAZER

APRECIANDO E DISCUTINDO A AUTOFORMAÇÃO HUMANA NO LAZER

4.5 CONSTRUINDO PONTES LUDOPOIÉTICAS ENTRE A FORMAÇÃO ACADÊMICA E AS VIVÊNCIAS DO LAZER

Após a realização das análises sobre a relação entre a formação humana durante o curso e as vivências de lazer ao longo da vida, torna-se necessário identificar as conexões mais relevantes entre a formação humana institucionalizada e a autoformação humana como vivencialidade própria do lazer que assume valores de criação e expressão de si mesmo na eco- convivencialidade.

O processo formativo do futuro profissional do lazer que atua necessariamente com uma perspectiva educacional mais ampla visando o desenvolvimento cultural de pessoas, grupos, comunidades e instituições, deve começar com o aprofundamento da compreensão do valor da cultura de si mesmo por si mesmo. Nesse sentido, entra em campo a autopoiese do humano. Trata-se de uma epistemologia que exige vivencialidade, emocionalidade. A Biologia do Amor entrou no cenário acadêmico para ressignificar a subjetividade humana, rompendo de vez com os dualismos mecanicistas que afastou o humano da sua natureza biológica para justificar estruturas sociais discriminatórias que privilegiam a racionalidade da competição de uns humanos contra outros humanos.

Para Maturana (1999), a educação para a competição não se constitui em exercício de caráter natural/biológico, mas é algo construído culturalmente. É enfático ao afirmar que a competição não é e nem pode ser sadia, uma vez que se constitui na ação do outro, sendo na realidade um fenômeno cultural e humano e não em constitutivo do biológico. Assim, torna-se necessário reconhecer que os processos educativos competitivos que ensinam a competição são processos que afastam o ser humano da natureza.

Nos seus estudos sobre o amar e o brincar, Maturana e Verden-Zöller (2004, p. 256) analisam a contradição emocional do tipo estrutural que se vive hoje na sociedade contemporânea. Por um lado, busca-se manter o conforto e o prazer do consumismo de nossa cultura e por outro, deseja-se preservar a natureza para o nosso bem-estar e contemplação. Para os estudiosos, a vida humana não pode ser vivida em harmonia e dignidade se essas contradições não forem resolvidas. Acreditam os autores que para ocorrer tal mudança é

necessário recuperar o amor e a ludicidade como guias fundamentais em todas as dimensões da coexistência humana.

Aliando-se a este enraizamento biológico proposto pelos teóricos da Autopoiese, trazemos a teoria das Experiências de Fluxo com Csikszentmihalyi (1999) para nos apoiar sobre a necessidade de propostas de ensino- aprendizagem para o usufruto do tempo livre e do lazer. Para o autor, ter tempo livre à disposição não é uma garantia de vivência do lazer. Seus estudos evidenciam que é mais fácil fluir no trabalho e em outras obrigações institucionais com regras bem definidas do que fluir no lazer que exige autonomia do sujeito para momentos determinados em sua coexistência social.

Assim, os estudos recentes da ludicidade humana e do lazer apontam para uma necessária formação humana que vislumbre o processo de construção e reconstrução permanente de si enraizado na amorosidade do brincar, capaz de valorizar a autonomia do ser humano diante do seu tempo livre para as vivencialidades do lazer com pleno envolvimento de sua subjetividade. Trata-se portanto, de uma formação humana autopoiética que estamos denominando na Base de Pesquisa Corporeidade e Educação – BACOR/UFRN – de formação ludopoiética. Uma formação humana que considera o fenômeno lúdico como um fenômeno do ser vivo e como tal um fenômeno autopoiético. Assim, direcionamos o nosso olhar para a ludopoiese e para uma formação humana que assume o processo ludopoiético como fundamental para a existência humana.

Para a construção dessas pontes ludopoiéticas entre a formação acadêmica proposta pelo curso de Lazer e Qualidade de Vida do CEFET-RN e a autoformação humana vivenciada como lazer pelos participantes do estudo, utilizamos como categorias de análise, quatro propriedades do lazer formuladas por Dumazedier (1979) com inclusão de outra concebida por Cavalcanti (2008). Assim, para a nossa reflexividade autopoiética adotamos as seguintes categorias: autotelia; autoliberação; autoconectividade; autovalia e autofruição.

A partir dessas categorias apresentaremos algumas pontes ludopoiéticas que estão sendo construídas na formação acadêmica em lazer do CEFET-RN que perspectivam a autopoiese do lazer dos futuros profissionais que atuarão como animadores de um verdadeiro lazer poiético.

A propriedade de autotelia foi evidenciada por todos os participantes do estudo, apontando a sua relação com a formação acadêmica, uma vez que a

descoberta das finalidades do lazer foram vivenciadas nos estudos com a reflexividade autopoiética, trazendo situações reais para discussão nas diversas formas que o processo ludopedagógico se apresentava: quer no ensino, na pesquisa ou na extensão. Foi unanimidade as valiosas vivências ludopoiéticas oportunizadas pela formação acadêmica no CEFET-RN. O lazer passou então a ter um sentido existencial próprio para todos os participantes do estudo.

A propriedade de autoliberação para o lazer relaciona-se com a formação acadêmica à medida que a discussão teórica se ampliou com a mediação vivencial dos saberes da experiência cultural trazidos pelos alunos como situações reais do cotidiano vivido para o projeto formativo do futuro profissional do lazer.

A propriedade da autoconectividade está bastante implicada na formação acadêmica à medida que o processo de reflexividade vivencial permanente exige naturalmente esta atitude subjetiva de envolvimento com uma aprendizagem significativa.

A propriedade de autovalia vivenciada durante a formação acadêmica manifesta-se no entusiasmo dos alunos do curso de Lazer e Qualidade de Vida quando participam de projetos e eventos de pesquisa e de extensão. Embora a sociedade ainda não reconheça e/ou valorize adequadamente o profissional do lazer, os alunos do curso do CEFET-RN demonstram auto-estima e auto- confiança na profissão que escolheram.

A propriedade de autofruição, característica marcante das vivências do lazer, está presente em várias situações de aprendizagem que valorizam o processo ludopedagógico na formação acadêmica. Várias são as disciplinas e os projetos institucionais comprometidos com a perspectiva do reencantamento da educação no ensino superior. Para o futuro profissional do lazer, a aprendizagem do reencantar-se pela vida é fundamental. Portanto, é função da estrutura curricular permitir a vivência de autofruição na construção de saberes e sentimentos próprios para sua atuação ludopoiética no campo do lazer.

 

 

CAPÍTULO V

CONTEMPLANDO A FORMAÇÃO LUDOPOIÉTICA À