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Construindo um solário para a experiência de mulheres em pós-abrigamento

(...) A cidade em romaria Foi beijar a sua mão O prefeito de joelhos O bispo de olhos vermelhos E o banqueiro com um milhão Vai com ele, vai, Geni! Vai com ele, vai, Geni! Você pode nos salvar Você vai nos redimir Você dá pra qualquer um Bendita Geni! Foram tantos os pedidos Tão sinceros, tão sentidos Que ela dominou seu asco Nessa noite lancinante Entregou-se a tal amante Como quem dá-se ao carrasco Ele fez tanta sujeira Lambuzou-se a noite inteira Até ficar saciado E nem bem amanhecia Partiu numa nuvem fria Com seu zepelim prateado Num suspiro aliviado Ela se virou de lado E tentou até sorrir Mas logo raiou o dia E a cidade em cantoria Não deixou ela dormir Joga pedra na Geni! Joga bosta na Geni! Ela é feita pra apanhar! Ela é boa de cuspir! Ela dá pra qualquer um! Maldita Geni! Geni e o Zepelim Chico Buarque

Neste capítulo gostaríamos de poder ser abrigo para as experiências das mulheres que participaram desta pesquisa. O abrigo que nos referimos é no sentido de solário, assim como abrigo é pensado no seu sentido original, de apricus, que expõe ao sol. Desta forma, pretendemos trazer à luz a experiência de mulheres no pós-abrigamento na cidade de Natal, este é um momento significativo para as políticas de proteção, mas que possui ainda pouca visibilidade dentro dos documentos norteadores.

Para ajudar a preservar a identidade das colaboradoras deste estudo ocultaremos dados que possibilitem a sua identificação. Dessa forma, utilizaremos nomes fictícios para as nossas participantes, estes nomes foram escolhidos seguindo o caminho da Casa-Abrigo4 e do Centro de Referencia5, que homenageiam grandes mulheres potiguares que se destacaram nas mais diversas áreas e que abriram espaço para a expressão das mulheres dentro da sociedade.

Após a apresentação das participantes da pesquisa, irei estruturar o texto interpretativo separando-o em três partes, pois antes ao falar do pós-abrigamento, as participantes se remetiam a dois momentos anteriores; a descrição da sua vida e da situação de violência (primeiro parte), o momento na Casa-Abrigo Clara Camarão (segunda parte) e a partir desses dois momentos articularam suas experiências no pós-abrigamento (terceira parte). Dessa forma, adotei a mesma estrutura na organização do texto para tecer minhas reflexões.

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Clara Camarão foi uma indígena brasileira, proveniente da tribo potiguar. Viveu no século XVII e se destacou por participar de batalhas na expulsão dos holandeses do território brasileiro. Ela liderou um pelotão formado só por mulheres, chamado de “Heroínas de Tejecupapo”. Ao que tudo indica era habito entre alguns indígenas, que as mulheres acompanhassem seus pais e maridos tanto nos tempos de guerra, como nos tempos de paz.

5Elizabeth Nasser é antropóloga, professora, poetisa e militante do movimento de mulheres potiguar desde

4.1 - Nísia6

Nísia tem 35 anos, trabalha em um salão de beleza e possui curso superior incompleto. Está em um relacionamento com seu companheiro há 19 anos, que também é seu agressor. Eles estão juntos desde os seus 16 anos e eles têm dois filhos dessa relação, uma adolescente de 16 anos e um menino de 6 anos. Logo no início da entrevista ela informa que está convivendo novamente com o seu agressor. Nísia relata que sua relação é marcada por mentiras, traições e situações de violência, porém, por não ter sofrido agressão física, encontra dificuldades para receber apoio da família e de pessoas próximas, sendo esse um dos motivos de ter retornado a convivência com o marido.

Apesar dos problemas da relação existirem há anos, Nísia conta que a situação se agravou quando ela tentou se separar do companheiro, após descobrir que mesmo cumprindo pena em regime fechado, ele recebia visita íntima de outra mulher na penitenciária, e que esta mulher acabou engravidando dele nesse período. O seu marido cumpria pena de um crime que havia cometido treze anos atrás e que só agora havia sido julgado. Apesar de ter apoiado o marido inicialmente, a descoberta da gravidez fez com que Nísia voltasse a morar com os pais. Nesse período ela inicia uma nova relação amorosa, que tem duração breve, mas, foi tempo suficiente para iniciar as ameaças do seu agressor.

A situação começou a se agravar quando ele ainda estava no presídio e tentava exercer seu controle através dos telefonemas feitos de dentro da prisão. Quando ele consegue ir para prisão domiciliar os conflitos se intensificam ao ponto de Nísia ter seu telefone celular

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Homenagem a Nísia Floresta, que foi uma pioneira do feminismo no Brasil por ter publicado vários textos em jornais e escrito livros em defesa dos direitos das mulheres, seus feitos se tornam ainda mais especiais se considerado o que era esperado de uma mulher do seu tempo, uma sociedade patriarcal, escravocrata e recém- saída da condição de colônia. Apesar do seu reconhecimento, Nísia Floresta não passou imune aos problemas relacionados à condição de ser mulher, casou-se aos 13 anos e mesmo o casamento tendo durado poucos meses, trouxe dificuldades para a vida de Nísia anos mais tarde, quando teve um segundo relacionamento. Inconformado o primeiro marido ameaçou processá-la por adultério e abandono de lar. Sendo especulado que este seria um dos motivos da mudança repentina da família para o sul do Brasil em 1832.

quebrado no seu ambiente de trabalho por motivos de ciúme. Nessa mesma ocasião, ele a ameaça de morte, sendo esse o estopim para que Nísia realize a denúncia. Na delegacia, ela é orientada a buscar abrigo com familiares em outras cidades ou ir para a Casa-Abrigo Clara Camarão. Diante da situação de ameaça e de não se sentir confortável em buscar refugio na casa de familiares, Nísia concorda em ser abrigada, e é encaminhada da delegacia para a Casa Clara Camarão com seu filho mais novo, enquanto a filha mais velha fica na casa da avó materna.

4.2 - Débora7

Débora tem 43 anos, tem ensino médio completo, trabalha como manicure na sua própria casa, onde pode conciliar esta atividade com os cuidados ao seu filho mais novo (19 anos) que possui síndrome de down e diagnóstico de autismo. Além do filho mais novo tem outros dois filhos de 23 e 22 anos que não moram com ela.

Débora já foi abrigada duas vezes, uma em 2008, quando sofria violência do seu primeiro marido, com quem estava junto há quinze anos; o marido também direcionava as agressões aos filhos que na época da separação tinham entre 14 e 9 anos. Para se proteger, ela ficou seis dias abrigada, até que o agressor foi afastado da residência do casal pela polícia para que ela ficasse na casa com os filhos após o abrigamento.

O segundo abrigamento ocorreu em 2011, desta vez ela ficou um mês e quinze dias abrigada. O agressor era o seu atual companheiro amoroso com quem ela mantém até hoje um relacionamento, somando oito anos juntos até o momento da entrevista. Porém as agressões não se encerraram após o abrigamento e por isso ele já foi preso duas vezes, a primeira vez passou oito dias e na segunda vez 33 dias, sendo liberado após o pagamento da fiança. A prisão do seu agressor tem sido o recurso utilizado recentemente por Débora, pois, o

7Homenagem a Débora Seabra, a primeira professora com síndrome de Down no Brasil. Além disso, é atriz,

abrigamento não é uma opção viável pra ela, agora que seu filho mais novo já tem mais de 18 anos, se tornando um impedimento para ela, já que ele tem síndrome de down e ela é sua principal cuidadora.

Nos dois relacionamentos descritos por Débora, ela conta que as agressões duraram anos e que trouxeram consequências negativas para sua vida, mas a maior parte do tempo da entrevista é utilizada por Débora para falar sobre o segundo agressor. Ainda que o primeiro relacionamento tenha durado mais tempo, a separação aconteceu logo após o abrigamento, sendo respeitado com menos resistência pelo seu primeiro marido o que havia sido determinado pela justiça. Já o segundo relacionamento, apesar de ter menos tempo de duração que o primeiro, mobiliza mais a participante da pesquisa, no momento da entrevista eles estavam morando juntos novamente.

As agressões acontecem de várias formas, desde relações sexuais forçadas, ameaças, destruição do seu patrimônio como celular, cama e outros objetos, ciúmes em relação aos outros homens. Ele tenta isolar Débora dos familiares, amigos, até mesmo os clientes que costumam ir até a casa dela em busca dos serviços de manicure.

As entrevistas das duas participantes serão analisadas juntas, pois, até mesmo os pontos nos quais divergem trarão contribuições ao serem pensadas paralelamente. Em relação aos pontos em comum vemos no breve perfil apresentado acima que as participantes da pesquisa têm características semelhantes. São mulheres adultas, que estão em um relacionamento com seu agressor há vários anos, com mais de um filho e ambas trabalham como manicure.

4.3 - A mulher idealizada: do impessoal à solidão

No primeiro capítulo deste trabalho, falamos sobre a construção das idealizações dos comportamentos das mulheres ao longo da história, e apesar das mudanças ocorridas durante

os séculos, os padrões em torno da mulher como esposa, dona de casa, mãe e submissa à figura masculina sempre estiveram presentes nos diversos contextos apresentados.

Estes aspectos irão se relacionar com a abertura do Dasein, ou seja, o homem é constitutivamente um ser-no-mundo, e por ser sempre abertura, ele é seduzido o tempo todo a atender as demandas que lhe vêm ao encontro. A divulgação do amor romântico apresentado nos filmes, novelas e nos contos de fadas às meninas ainda na infância irão influenciar a construção do que é ser uma mulher e como ela deve se relacionar amorosamente.

Tentar atender estas expectativas externas é ao mesmo tempo cair no impessoal, é fechar a abertura do dasein, no entanto, este velamento pode ser rompido, e a disposição afetiva que mais irá propiciar esse desbloqueio para Heidegger (1927/2005) é a angústia. No caso das participantes desta pesquisa, observamos que viver uma relação amorosa com violência possibilitou questionar essas orientações dadas pelo mundo, de que casamento é sinônimo de final feliz, como podemos ver na fala de Nísia e Débora:

“Ai eu disse para minha mãe que eu não vou mais viver assim, tanta coisa que eu já

passei tanta coisa que eu já aguentei, e agora vou ter que aguentar ele dizer que quer me

matar, e pode acontecer de fazer, aí eu fui e prestei queixa dele.” (Nísia).

“Eu não queria mais, eu não estava aguentando mais ele perto de mim. Aquela raiva, aquele ódio! Ele queria transar comigo à força, ele me batia, me judiava e queria transar

comigo à força.” (Débora).

“Quando eu era pequena eu dizia, eu quero ter meus filhos, minha casa, meu marido, e aí não é do jeito que a gente pensa, não é só você ter seu marido ter sua casa e viver feliz

para sempre.” (Nísia).

Ao se depararem com as ameaças dos seus maridos, Nísia e Débora entram em contato com outras possibilidades, diferentes do amor romântico que elas haviam aprendido na infância, nessa relação o que aparece é o sentimento de posse dos seus companheiros

amorosos sobre elas. Com as ameaças de morte concretas, as participantes dessa pesquisa se aproximam do seu caráter de finitude ontológica e ôntica. Para Heidegger (1927/2005) é justamente diante da possibilidade de não mais existir que a angústia se apresenta. Como nos diz Sá (2015, p.51), “na angústia a existência é arrancada das ocupações com os entes intramundanos para a livre abertura em que se dá o mundo como tal”. Neste sentido, o angustiar-se gera um sentimento de estranheza, de não sentir-se em casa, indicando a possibilidade de ser de outra forma para o Dasein.

É a partir dessa experiência de violência dentro dos seus relacionamentos e de intenso sofrimento que Nísia e Débora rompem com seus projetos construídos no impessoal da mulher como que tudo suporta em nome do amor e buscam alternativas. Porém, a angústia como desveladora da nossa finitude e abertura para sentidos mais próprios é raro na existência cotidiana, pois, o que predomina, em geral, é a experiência imprópria (Sá, 2015). Em muitas situações, ao tentar atender a determinadas expectativas e normas sociais, ou seja, em um modo impessoal de existir, que as mulheres se veem presas em relacionamentos abusivos por longos anos. A violência vai, assim, se perpetuando por gerações, como um modo de se relacionar, de ser-com-o-outro. Isso aparece novamente a partir da fala de Nísia:

“Eu vi minha mãe algumas vezes chorar, eu entendia que ela chorava pelos cantos de parede porque havia brigado com meu pai e eu levei isso pra mim.” (Nísia).

Nísia, assim como sua mãe, executa papéis que são esperados de mulheres, mães e esposas da sua época. Mesmo que vivenciem situações de violência, isto é velado, é feito pelo canto das paredes, o que elas tornam público é uma relação bem sucedida, dentro do que é esperado para um casamento, a partir da sua cultura e do mundo compartilhado por elas. Ou seja, mesmo em situações de violência as mulheres são ensinadas que devem manter esse fenômeno dentro do ambiente doméstico, escondido e ao mesmo tempo, protegidos de receberem críticas e intervenções, como podemos ver no trecho a seguir:

“Eu passei muito tempo vivendo de aparências, a gente passava um mês sem se falar dentro de casa e quando a gente passava na rua era como se nada tivesse acontecido, então é

muito difícil hoje pra mim porque as pessoas não entendem, ‘ah, mas vocês viviam tão bem’, mas não era tão bem.” (Nísia).

Enquanto a angústia nos singulariza, no impessoal estamos em sintonia com o mundo e com os outros. Apesar de ter um preço alto, viver no impessoal é viver sem precisar escolher, isso é, no impessoal estamos distante das responsabilidades desta escolha, por isso é possível que o Dasein, em muitos momentos, permaneça velado para si mesmo. Isso acontece de maneira tal, que as próprias mulheres repetem e reforçam as ideias patriarcais, nas quais elas são tidas como inferiores e menos merecedoras de condições igualitárias de vida, pois esse é o mundo que as atravessa e que dessa maneira contribui para a construção das suas tramas de significados, como nos mostra Nísia no trecho a seguir:

“Às vezes eu deixava de comer para deixar pra ele ter uma melhor situação, o pedaço

de carne mais bonito era o dele.” (Nísia).

A expressão dos diferentes modos como tratamos homens e mulheres na nossa sociedade se apresentam sutilmente no cotidiano desde as coisas mais banais, como a divisão de um pedaço de carne durante uma refeição ou, através da aceitação de determinadas formas de violência. A todo tempo, as pessoas ao nosso redor nos demandam determinados comportamentos, e exercem o papel de controle sob a mulher, como presente na fala de Nísia:

“A minha família não era a favor do que eu fiz (a denúncia), porque eles achavam que por ele não me agredir, porque ele não me agrediu fisicamente, ele me agrediu materialmente

e verbalmente só.” (Nísia).

Pela manutenção do casamento, as situações de violência são relativizadas e até certo ponto permitidas. Mesmo que exista uma legislação que orienta todos a respeito das formas de violência, no cotidiano a expressão da violência contra a mulher se naturaliza a ponto de não

ser mais vista como importante por aqueles ao redor dela. E ao tentar romper com esta situação, as mulheres encontram resistência por estarem quebrando padrões construídos durante séculos.

Em relação a temas que possuem posições mais conservadoras como a sexualidade da mulher, que ainda é tabu numa sociedade fortemente cristã como a nossa, a força das orientações compartilhadas se mostra. Nesse momento, os vizinhos, parentes e amigos contribuem na vigilância para defender a moral da boa família e representam o papel de vigilantes do casamento, do status de uma vida feliz a dois, que deve ser o destino de toda mulher. Isso fica muito claro na fala de Nísia e Débora ao relatarem as dificuldades em retomar suas vidas depois do rompimento dos seus casamentos pela situação de violência, como pode ser visto a seguir:

“Se eu fosse pra uma festa ou pra algum evento, ou se eu fosse pra praia, eu estava com alguém, eu estava me prostituindo, eu estava fazendo alguma coisa de errado.” (Nísia).

“Aí eu não ia pra casa dos meus pais com três filhos, porque quando eu saí da casa dos meus pais eu saí uma moça.” (Débora).

Débora nos traz a impossibilidade de não poder voltar para a casa dos pais por já não ser mais virgem, o que seria mal visto pelos outros, até mesmo pela sua família. E qualquer outra atividade que esta mulher queira realizar, que vá de encontro ao padrão da mulher “bela, recatada e do lar”, como apresentado por Nísia, tais como ir à praia ou uma festa, também será visto pelas pessoas ao seu redor como ameaçador e errado.

Enquanto a mulher vê suas possibilidades se restringirem ao sair de uma relação abusiva, o homem continua possuindo o pleno direito de seguir sua vida e expressar sua sexualidade. O que é esperado e tolerado pela sociedade em relação ao homem é justamente o oposto, ele deve se mostrar viril e apto a manter relações sexuais com várias mulheres ao

mesmo tempo, inclusive quando está comprometido com uma relação monogâmica, como nos apresentam as participantes desta pesquisa:

“Ele sempre me traiu, ele sempre me enganou, na questão dele praticar os crimes que ele praticou, de ter outras pessoas, conviver com outras pessoas e comigo, de ter outros filhos

enquanto estava comigo.” (Nísia).

“Ele é um homem mulherengo, conhecido. Quando eu o conheci, era eu e mais quatro mulheres, comigo eram cinco. Só que eu não sabia, eu fui descobrindo.” (Débora).

Enquanto a infidelidade do homem é aceita como algo natural e permitido, as mulheres são julgadas de outra maneira, essa diferença no tratamento dos comportamentos amorosos de homens e mulheres apesar é uma herança patriarcal que foi inclusive assegurada até recentemente pelas leis brasileiras como apresentado no primeiro capítulo deste trabalho. Sendo assim, a possibilidade das participantes desta pesquisa se relacionarem com outras pessoas ou até mesmo com suas amigas e pessoas do seu meio é visto como ameaçador pelos seus agressores, pois, ainda se perpetua o pensamento que a mulher cabe apenas o ambiente doméstico e ao homem o espaço público, como vemos abaixo:

“Quando estava próximo dele sair eu me envolvi com uma pessoa, eu saí duas vezes com essa pessoa e quando ele saiu (...) acabou descobrindo e foi daí que gerou todas as

confusões porque ele dizia se pegar eu mato” (Nísia).

“Porque ele não quer que eu fale com homem, ele não quer que eu tenha contato com

amiga, ele tem ciúme. Ele tudo inventa, ele diz que as minhas amigas são vadias, fica botando

defeito, sabe?” (Débora).

Mesmo quando as mulheres não estão numa relação com seus agressores, eles continuam a se relacionar com elas através do controle e da dominação, as mulheres são vistas como posse dos seus companheiros amorosos. Sá, Mattar e Rodrigues, (2006) nos dizem que é na tentativa de obter segurança, no apego ao outro que se busca controlar, o homem desvela

a si próprio e ao outro como “fundo de reserva” disponível ao uso. Este modo de se relacionar nos remete assim à determinação instrumental da técnica, ao desvelar-se a si e ao outro como meios para um fim, como um instrumento.

Na nossa época, o Dasein está sempre referido a um contexto de significância, mundo, em que predomina o uso ou utilidade como modo mais imediato de se relacionar com os outros entes, este é o modo da ocupação. Vemos então, os agressores de Débora e Nísia reduzindo o ser-com-o-outro ao mundo das ocupações, empenhando-se no controle, na certeza e na segurança. Nesse modo mediano de “cuidado”, imperam a dependência e a dominação, ainda que não apropriadas tematicamente e encobertas por discursos impessoais de valorização dos “afetos” e da “necessidade do amor” (Sá et al, 2006).

A partir do exposto, observamos que a experiência de ser homem e ser mulher se

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