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O consumidor celíaco e os produtos alimentícios sem glúten Embora academicamente, como foi apresentado no item anterior,

FONTE: GREEN; CELLIER, 2007 3.1.2.3 Fatores Genéticos

3.2 PRODUTOS ALIMENTÍCIOS SEM GLÚTEN

3.2.2 O consumidor celíaco e os produtos alimentícios sem glúten Embora academicamente, como foi apresentado no item anterior,

seja observado um aumento no número de pesquisas que objetivem desenvolver novos produtos alimentícios sem glúten, que sejam seguros e que possuam boa qualidade nutricional e sensorial, a realidade de mercado parece ser bastante diferente. Com frequência o que se verifica são produtos que utilizam pouca tecnologia, e apresentam baixo valor nutricional e pobre qualidade sensorial (MARIOTTI et al., 2009). Problemas relacionados com a disponibilidade e elevado custo de produtos alimentícios sem glúten vêm sendo relatados em pesquisas realizadas em diversos países e estão entre os principais enfrentamentos cotidianos dos celíacos.

Estudos conduzidos por Lamontagne, West e Galibois (2001), no Canadá, e por Araújo e Araújo (2011), no Brasil, utilizando o mesmo questionário, apontaram resultados semelhantes. No Canadá, dos 234 celíacos investigados 39 % afirmaram insatisfação com a variedade de produtos sem glúten, 40 % insatisfação com a disponibilidade e 88 % disseram estar insatisfeitos com os preços dos produtos. A satisfação com a variedade/qualidade dos produtos esteve significantemente

relacionada com a adesão à dieta isenta em glúten. Já no Brasil, dos 105 indivíduos com doença celíaca avaliados 37 % estavam pouco satisfeitos com a variedade e 57 % insatisfeitos com a disponibilidade dos produtos no supermercado. O preço dos produtos novamente foi o fator que gerou maior insatisfação entre os entrevistados: 88 % referiram estar pouco satisfeitos ou não satisfeitos.

Problemas com a variedade dos produtos alimentícios sem glúten também foram percebidos por Sverker, Hensing, e Hallert (2005), na Suécia. Os autores utilizaram uma abordagem qualitativa para identificar os dilemas vivenciados por 43 celíacos e constataram que a pequena variedade destes produtos era uma das maiores dificuldades cotidianas, uma vez que restringia as escolhas alimentares e tornava a dieta monótona.

Segundo Zarkadas et al. (2006), em uma pesquisa realizada no Canadá com 2681 celíacos, a dificuldade para encontrar alimentos, especialmente de boa qualidade sensorial, é um dos maiores obstáculos para seguir a dieta livre de glúten, afetando 85 % dos entrevistados. Segundo 40 % dos participantes do estudo, a maior disponibilidade de produtos sem glúten nos supermercados seria o fator que mais contribuiria para qualidade de vida de pessoas com doença celíaca.

No Chile o problema com a disponibilidade de alimentos sem glúten também figura entre os principais obstáculos enfrentados por celíacos, de acordo com Bravo e Muñoz (2011). Os autores pesquisaram 20 adolescentes celíacos e seus pais, além de 20 pais de crianças celíacas e verificaram que 75 % dos pais sentiam dificuldade de encontrar os alimentos e 97,5 % consideravam os preços elevados. Para mais de 50 % dos pais, o alto custo dos produtos sem glúten era o principal empecilho para adesão à dieta. No entanto, 55 % dos pais e 65 % das crianças afirmaram que a maior disponibilidade de alimentos seria o fator que promoveria melhor adesão à dieta.

A situação dos produtos sem glúten em estabelecimentos comerciais está de acordo com os dados reportados por indivíduos com doença celíaca. Singh e Whelan (2011) investigaram 30 pontos comerciais de Londres e verificaram que a disponibilidade foi pequena e que o preço de todos os produtos alimentícios sem glúten era significantemente superior (p < 0,001) aos seus equivalentes convencionais, custando entre 76 - 518 % mais caro.

Limitada disponibilidade dos produtos e os elevados preços também foram observados por Lee et al. (2007) nos Estados Unidos da América e por Stevens e Rashid (2008) no Canadá. A pesquisa de Lee et al. (2007) foi realizada em cinco diferentes estados e constatou que,

além da limitada disponibilidade de alimentos sem glúten no país, todos os produtos eram significantemente mais caros (p < 0,05) do que seus equivalentes convencionais, custando em média 240 % mais caro. No estudo conduzido por Stevens e Rashid (2008), foram avaliados 56 produtos alimentícios sem glúten em duas grandes cadeias de supermercados e comparados com seus equivalentes convencionais. Todos os produtos alimentícios sem glúten foram significantemente mais caros (p < 0,0001) do que seus equivalentes, custando em média 242 % mais caro.

A limitada disponibilidade de produtos alimentícios sem glúten, aliada aos elevados preços destes alimentos pode prejudicar a adesão ao tratamento da DC, com potenciais consequências à qualidade de vida de pessoas com doença celíaca, com comprometimentos em âmbito econômico, social e psicológico, além das complicações clínicas e nutricionais (LEE et al., 2007; SINGH; WHELAN, 2011; LEE et al., 2012). As dificuldades de adesão à dieta também estão relacionadas à baixa palatabilidade, à frequente contaminação dos alimentos por glúten e à pressão social (LERNER, 2010; KONING; MOL; MEARIN, 2013). Entre crianças e adolescentes, a baixa palatabilidade dos alimentos parece ser a principal razão para a fraca adesão ao tratamento (ROMA et al., 2010).

Olsson et al. (2009), realizaram grupos focais com 47 adolescentes celíacos suecos entre 15 e 18 anos de idade. A baixa disponibilidade e qualidade sensorial dos alimentos sem glúten foram apontadas como motivos que geram desconforto social, pois aumentavam a visibilidade, os comentários e a curiosidade das pessoas acerca do que eles comem, bem como os questionamentos sobre a doença.

De acordo com Hall, Rubin e Charnock (2013) há uma elevada porcentagem de celíacos que consome glúten, seja não intencional (54 %) ou intencionalmente (40 %). Segundo os autores, promover a melhoria nos rótulos dos produtos, aumentar a oferta dos produtos no supermercado e promover maior conscientização acerca do problema nas indústrias potencializaria o melhoramento deste quadro.

A insatisfação dos consumidores celíacos com diversos fatores relacionados aos produtos alimentícios sem glúten, como destacam as pesquisas supracitadas, sugere que suas opiniões e percepções enquanto consumidores de alimentos estejam sendo negligenciadas pela indústria. Além disso, percebe-se que tais questões estão sendo abordadas de modo superficial pela comunidade acadêmica.