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Capítulo 1 – Comportamentos de saúde dos estudantes universitários

2. Comportamentos de saúde em estudantes universitários

2.2. Comportamentos de risco dos estudantes universitários

2.2.1. Consumo de álcool

O álcool constitui a droga mais consumida pelos EU (O’Malley & Johnston, 2002). Relativamente a este fenómeno, várias investigações têm descrito a exposição a que, particularmente, estes jovens estão sujeitos (Lorant, Nicaise, Soto & d’Hoore, 2013) pelo que frequentar o Ensino Superior parece aumentar o risco de consumo (Santos, 2011).

Se, por um lado, o aumento do consumo de álcool pode ser explicado pelo incremento da independência do jovem e pelo menor controlo (Dworkin, 2005), por outro lado, pode ser explicado pela vivência de uma fase de vulnerabilidade intelectual, emocional e social (Karam, Kypri & Salamoun, 2007) num novo ambiente caraterizado pela influência do grupo de pares (Lorant & Nicaise, 2014). Assim, é importante considerar que o Ensino Superior incrementa, entre outros aspetos, a homogeneidade social (Read, Merrill & Bytschkow, 2010) e as atividades recreativas nas quais emergem estes consumos (Borsari, Bergen-Cico & Carey, 2003; Read et al., 2010).

Além disso, tem-se evidenciado que as relações de amizade caraterizadas por laços recíprocos promovem os consumos de álcool, na medida em que estudantes socialmente próximos tendem a manter comportamentos semelhantes. Os resultados das investigações têm sinalizado, também, consumos de álcool mais elevados em estudantes que residem com um maior número de colegas (e.g., Lorant et al., 2013; Wicki, Kuntsche & Gmel, 2010), sobretudo se estes apresentam consumos excessivos (Karam et al., 2007).

Atendendo aos aspetos referidos, é compreensível que os EU registem um aumento acentuado de consumo, apresentem taxas mais elevadas de consumo excessivo e sejam mais suscetíveis a receber um diagnóstico de abuso de álcool do que os jovens que não frequentam o Ensino Superior (O’Malley & Johnston, 2002). Estes dados foram encontrados, por exemplo, nos estudos de Wechsler e colaboradores, que evidenciaram que cerca de 44% dos jovens universitários experiencia episódios de ingestão excessiva de álcool (Wechsler, Lee, Kuo, Seibrin, Nelson & Lee, 2002), alertando, assim, para o fenómeno do binge drinking, que remete para o consumo de álcool em excesso, particularmente de cinco ou mais bebidas (quatro ou mais para o sexo feminino) numa determinada ocasião, num intervalo de duas horas, pelo menos uma vez nas últimas duas semanas ou no último mês (Schulenberg, Johnston, O’Malley, Bachman, Miech & Patrick, 2016; Wechsler et al., 2002). Em Portugal, dados recentes também apontam neste sentido, pois cerca de metade dos jovens refere consumir álcool entre 3 a 9 vezes no mês e a maioria afirma ter ficado embriagada, pelo menos, uma ou duas vezes nesse mesmo espaço de tempo (Reis & Matos, 2017).

Os padrões de consumo de álcool parecem variar de acordo com as caraterísticas sociodemográficas e académicas dos EU. Neste sentido, os estudantes do género masculino parecem apresentar consumos superiores comparativamente a estudantes do género feminino (Amaral, Lorenço & Ronzani, 2006; Dantzer, Wardle, Fuller, Pampalone & Steptoe, 2006; Imai, Coelho & Bastos, 2014; Karam et al., 2007; O’Malley & Johnston, 2002; Stock et al., 2009; Wicki

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et al., 2010) sendo estas diferenças patentes no que respeita à frequência de consumo, aos episódios de consumo excessivo, aos problemas relacionados com o álcool e, ainda, ao objetivo desse comportamento - ficar embriagado e sentir-se bem, contrariamente à motivação das mulheres, em que o consumo de álcool surge, predominantemente, como forma de lidar com os problemas (Harrell & Karim, 2008) -. Por outro lado, os efeitos do álcool nos EU do género masculino tendem a ser mais públicos, enquanto nos do género feminino tendem a ser mais privados (Perkins, 2002).

Relativamente à idade, Wechsler e colaboradores (2002) demonstraram que maiores níveis de consumo parecem verificar-se em EU com idades compreendidas entre os 21 e os 23 anos. Por sua vez, outros estudos revelaram que a média de idade de maiores consumos ou de consumos de risco se encontra nos 21 anos (e.g., Imai, Coelho & Bastos, 2014; Lorant et al., 2013). Por outro lado, um estudo com universitários suecos apontou para perturbações associadas ao consumo de álcool com uma prevalência superior entre os 21 e os 22 anos para os EU do género feminino e os 24 ou mais anos para o género masculino (Andersson, Johnsson, Berglund & Ojehagen, 2007), pelo que a idade em que se verifica o auge destes comportamentos parece situar-se entre os 21 e os 25 anos (Santos, 2011).

Também a situação de residência parece influenciar os consumos, uma vez que os EU deslocados apresentam uma maior probabilidade de consumo excessivo de álcool comparativamente aos que se encontram na sua habitual residência, com os pais (Gfroerer, Greenblatt & Wright, 1997; Dantzer et al., 2006; Fromme et al., 2008; Santos, 2011; Wicki et al., 2010). Por seu lado, um estatuto socioeconómico superior parece estar, também, positivamente associado a consumos mais elevados por parte dos EU (Karam et al., 2007; Lorant & Nicaise, 2014; Santos, 2011). No que diz respeito ao ano que estes jovens frequentam no Ensino Superior, os resultados das investigações ainda parecem algo contraditórios. Neste sentido, Underwood e Fox (2000), por exemplo, constataram que, no que concerne ao álcool, os estudantes do 4º ano apresentavam consumos de risco superiores aos EU do 1º ano. Por seu turno, Coelho (2010) demonstrou níveis de consumo de álcool mais elevados entre estudantes do 1º ciclo comparativamente aos do 2º ciclo. Outros autores também concluíram que o consumo de álcool sofre um declínio ao longo dos anos (e.g., Bewick, Mulhern, Barkham, Trusler, Hill & Stiles, 2008), ainda que tais evidências decorram apenas do estudo de EU entre o 1º e o 3º ano.

Já no que se refere à área de estudos, várias investigações têm demonstrado que o consumo de álcool parece ser superior na área das Ciências Exatas – particularmente nos cursos de Engenharias -, comparativamente às Ciências Sociais e Humanas e às Ciências da Saúde (e.g., Bevilaqua, Braga, Leonel & Bem, 2009; Ferreira, 2008; Santos, 2011), resultados que podem ser explicados pelo maior número de jovens do género masculino na área das Engenharias que, como referido anteriormente, apresenta mais comportamentos etílicos (Santos, 2011).

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