• Nenhum resultado encontrado

Consumo de carotenoides pela população brasileira

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Consumo de carotenoides pela população brasileira

A tabela 2 reúne dados relativos ao consumo de carotenoides de acordo com o sexo.

Tabela 2 – Ingestão de carotenoides de acordo com o sexo – Brasil, 2008-2009 Carotenoides (µg/dia) Níveis prudentes de ingestão Brasil Sexo Masculino Feminino

Total FD Total FD Total FD

β-caroteno 3.000 a 6.000 1.826,0 287,0 1.734,4 326,9 1.911,4 249,8 α-caroteno * 293,4 39,1 267,5 43,5 317,5 34,9 β-criptoxantina * 218,5 31,3 206,1 35,9 229,9 26,9 Licopeno 5.000 a 10.000 892,4 168,2 882,5 194,5 901,6 143,8 Luteína+Zeaxantina * 886,7 150,2 888,3 176,6 885,2 125,6 Pró-vitamínicos A 5.200 a 6.000 2.337,9 357,4 2.208,1 406,3 2.458,9 311,7 Carotenoides Totais 9.000 a 18.000 4.117,0 675,9 3.978,9 777,5 4.245,8 581,1 Nota: FD = Fora do domicílio.

57

O consumo médio per capita de carotenoides totais pela população brasileira foi de 4.117,0 µg/dia, sendo 3.978,9 µg/dia e 4.245,8 µg/dia para homens e mulheres respectivamente. O consumo fora do domicílio foi mais expressivo entre os homens, pois eles ingeriram 19,5% do total (777,5 µg/dia) fora do lar, enquanto as mulheres, 13,6% (581,1 µg/dia). Situação similar ocorreu com os pró-vitamínicos A: maior consumo total entre as mulheres e maior proporção de ingestão fora do domicílio entre os homens.

As médias de ingestão de carotenoides totais e pró-vitamínicos para a população brasileira encontram-se abaixo dos valores discriminados como seguros. A contribuição da alimentação fora do domicílio foi importante, sobretudo para os homens, que atingiram cerca de um quinto da ingestão total fora do lar. As mulheres ingeriram a maior quantidade de carotenoides, no entanto, a participação da ingestão fora do domicílio foi inferior.

Entre os carotenoides prevaleceu maior ingestão de beta-caroteno, possivelmente por essa substância ser mais amplamente distribuída na natureza e em maiores quantidades nos alimentos. Já a beta-criptoxantina foi o carotenoide presente com menor frequência na dieta da população.

O consumo de frutas, verduras e legumes repercute diretamente na ingestão de carotenoides. Sendo assim, segundo Mondini (2010), menos de um quinto da população adulta, residentes em 27 cidades brasileiras, atende à recomendação mínima de consumo diário de frutas e hortaliças. O consumo foi maior entre indivíduos do sexo feminino, adultos com maiores rendimentos e entre a população com mais idade.

Bezerra e Sichieri (2010) observaram a frequência de aquisição alimentar fora do lar. Os autores constataram que o consumo foi maior entre os homens, pois foi verificado que 39,1% deles adquiriram pelo menos um item para consumo fora do lar. Já as mulheres apresentaram frequência de gastos fora do domicílio de 31,4%. Para ambos os gêneros, a Região Sudeste apresentou maiores frequências (homem = 43,2% e mulher = 34,7%), superando a média nacional.

Em relação às possíveis fontes de carotenoides na dieta, identificadas pelos referidos autores, está o grupo de frutas. Embora muito baixa para ambos os sexos, a frequência de aquisição de frutas fora do domicílio para mulheres foi de 0,7% e, para os homens, de 0,6%. No que se refere aos gastos com refeições fora

do lar, as frequências foram de 13,2% e 9,8% para homens e mulheres, respectivamente.

O papel da mulher e do homem na sociedade ainda é bem distinto. Muitas famílias brasileiras seguem o modelo tradicional, onde o homem é responsável pela renda e a mulher, pelas atividades domésticas. Mesmo quando as mulheres participam do mercado de trabalho, acabam, muitas vezes, assumindo uma jornada dupla de trabalho: no emprego e no lar. Essa relação afeta diretamente os hábitos alimentares dos integrantes do grupo familiar. Nem sempre há tempo para o preparo das refeições e, quando se come em casa, pode-se optar por alimentos rápidos, práticos e de fácil preparo, o que nem sempre é a alternativa mais saudável. Ao longo das últimas décadas a tecnologia também contribuiu para a mudança dos hábitos alimentares da população, sobretudo após a popularização de equipamentos como, por exemplo, o forno micro-ondas.

Todas estas mudanças podem ter impactos diretos e negativos no consumo de carotenoides pela população brasileira, uma vez que a ingestão de alimentos industrializados e prontos para o consumo geralmente estão ganhando espaço na dieta do brasileiro (GAINO et al., 2012) e não estão entre as fontes significativas de carotenoides. Não bastasse este fato, os alimentos industrializados ainda são fontes consideráveis de gorduras saturadas e sódio que, ingeridos em excesso, podem levar à obesidade, ao aumento da pressão arterial e as doenças decorrentes destas desordens.

Morato e Silva (2008) constataram, com base nos dados da POF 2002- 2003, que a disponibilidade média para a população brasileira foi de 3.282,9 µg/dia para carotenoides totais e 1.471,4 µg/dia para os pró-vitamínicos A. Transcorridos seis anos, utilizando-se dos dados da POF 2008-2009, Gaino (2012) verificou que a disponibilidade domiciliar aumentou, sendo o consumo de 1.892,2 µg/dia e 4.872,9 µg/dia respectivamente para carotenoides pró-vitamínicos A e totais.

Cabe esclarecer que as análises apresentadas por Morato e Silva (2008) e Gaino (2012) referem-se à disponibilidade domiciliar de alimentos e não levoaram em consideração a ingestão alimentar, tampouco o consumo realizado fora do domicílio.

Com relação às fontes de energia e nutrientes (contidas na alimentação fora do domicílio), deve-se considerar os programas de alimentação e nutrição. Por exemplo, o PAT tem o objetivo de incentivar o consumo saudável de

59

alimentos fora do lar e, no entanto, Veloso e Santana (2002), verificaram que o fato de ser beneficiário do programa foi associado positivamente ao aumento de peso, estando entre o grupo de maior risco os trabalhadores eutróficos, pré-obesos ou de baixo nível socioeconômico. Os resultados sugerem, ainda, que o programa de alimentação do trabalhador exerce impacto negativo sobre o estado nutricional dos trabalhadores de baixa renda.

Programas de apoio ou incentivo a alimentação, implementados pelos órgãos públicos, serão ineficientes se não estabelecerem mecanismos para acompanhar a eficiência dos mesmos, por exemplo, por meio da avaliação do estado nutricional dos indivíduos participantes. Na ausência desse monitoramento, os efeitos podem ser prejudiciais à saúde, ao invés de prevenir doenças e promover qualidade de vida.