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Ao falar de consumo, a compra compulsória de bens materiais é uma das primeiras coisas a que se associa o assunto. Foram as mudanças trazidas pela sociedade pós-industrial que tornaram esta uma das questões centrais do consumo. Algumas teorias investigam o consumo através do desencadeamento do desejo por consumir, enquanto outras focam na tensão social, status e processos identitários ocasionados pelo mesmo.

O primeiro modelo, chamado por Campbell [2001] de hedonista, conclui que o desejo por algo incita o devaneio, despertando a vontade de desejar algo e, consequentemente, uma

frustração quando este desejo não é suprido. O desejo é transposto para a busca da satisfação em novos produtos.

O segundo modelo propõe que todos os bens são portadores de significados, mas apenas quando inserido numa coletividade que dá sentido a estas mensagens, permitindo que os bens

informem. Slater [2001] fala que essa comunicação por meio dos bens [pela apropriação dos mesmos com o consumo] negocia status e identidade, ou melhor, posição social entre os indivíduos.

Ao adquirir algum produto o indivíduo comunica que pertence à determinada cultura, em determinado espaço e tempo, num determinado gênero, status e poder, contribuindo com modelos de comportamento e estilos de vida. Neste processo de consumo, o indivíduo vai adquirindo uma identidade própria.

O consumo de bens de moda é o que mais interessa a esta pesquisa, já que é por meio do vestuário, como uma segunda pele, que o homem se apresenta à sociedade. Da mesma forma, por meio deste artefato, também exprime o que idealiza do futuro.

Ao longo da história, vemos o homem representar por meio cinematográfico, suas

expectativas, anseios ou predições em relação ao futuro, usando o figurino como seu suporte primário e indispensável. Características do vestuário em determinado tempo e espaço são negadas ou recorridas como se uma negação de seu passado e, principalmente, de seu presente, possibilitasse uma representação mais crível de futuro.

As mudanças nas condições de uma sociedade, resultado da dinâmica cultural, mudam também o que ela espera do futuro. Este aspecto mutante é visível ao observar as representações de futuro no decorrer do tempo.

Com o aumento significativo dos meios de produção de bens e serviços nas últimas décadas do século XX, diversas mudanças ocorreram no que diz respeito ao comportamento de consumo. Segundo McCracken [2003, p. 21] “a revolução do consumo é encarada agora como tendo modificado os conceitos ocidentais de tempo, espaço, sociedade, indivíduo, família e estado”. Para ele, a importação de “chita barata e as musselinas”, trazidas das Índias pela Inglaterra, despertou o interesse dos consumidores ingleses e iniciou esta revolução.

Essa sociedade de consumo traz uma grande mudança na visão da função da moda. O consumo desta deixa de ser acatado como reflexo de produção para ser considerado fundamental para a reprodução social, passando a ter conotação cultural.

que estes ganhem espaço em outros pontos do mundo, tornando-os universais. O mundo passa a ser um só lugar. Esses signos passam a fazer parte do cotidiano de várias culturas de forma natural. Por intermédio dos bens, a cultura se faz presente em toda parte.

O cinema, por meio dos figurinos, produtos da cultura de consumo, ajuda a criar um

imaginário de futuro, desestabilizando a noção original de uso ou significado dos bens e lhes dando signos novos, com novos sentimentos e desejos associados.

O cinema de ficção científica focado no futuro reforça as expectativas desse tempo vindouro suprindo um anseio por imagens de objetos, cenários e, em especial, de vestuário como mais uma maneira de representar esse tempo.

As imagens apresentadas no cinema, na publicidade, nas novelas, nas fotografias, etc. apresentam não uma representação do “real”, mas uma expressão de atitudes, gestos com uma linguagem visual verbal e não-verbal atrelada a ela.

A identidade de moda é criada através da transferência de significado para os bens e da aquisição destes pelos expectadores. O cinema futurista molda novos significados culturais para estes artefatos, e os rituais de consumo passam estes para o consumidor. Estas

propriedades culturais passam a sobrepor as propriedades do objeto, e logo temos a

transferência de significado. Estes símbolos são permeados de inovações culturais e mudanças comportamentais e formam um repertório rico, vasto e versátil de significados.

A ação simbólica ou ritual é uma ação que manipula o significado cultural com propósito de comunicação e classificação social e individual. Através do ritual de consumo afirma-se, evoca-se, assinala-se e revisam-se os símbolos e seus significados de ordem cultural. O ritual é, então, uma ferramenta de manipulação do significado cultural. Quando o significado é ajustado no consumidor, está completa sua jornada através do mundo social.

O filme cinematográfico se encontra entre estes produtos culturais e retrata uma visão de mundo a ser consumida pelos adeptos do cinema e, em cada caso, do gênero e estilo explorados. O interessante, no entanto, é observarmos esse movimento contrário, onde o mundo passa a ser influenciado pela “fantasia” da história, absorvendo e afiliando-se às suas ideologias, gírias, gestos e, como não podia deixar de ser, pelo figurino.

O modo de vestir dos personagens de um filme pode influenciar de maneira indireta, através da sugestão de silhuetas, estéticas, cores, acessórios e materiais, que irão coligar o

espectador com a ideologia do filme [e, consequentemente, ao grupo que se identifica com o mesmo] ou de forma mais direta, como podemos ver no fenômeno do cosplay [costume play], onde os aficionados pelos filmes reproduzem fielmente as vestimentas de seus heróis e as divulgam em festas, blogs e comunidades virtuais e em convenções especializadas.

Vemos, assim, o figurino tornar-se também um objeto de consumo, físico e ideológico, na função de criação e definição de estereótipos. Este repertório estético-visual penetra o imaginário coletivo de futuro que, por sua vez, adentra na criação dos designers de moda.

Ou seja, os figurinos de filmes futuristas, corpus analítico desta pesquisa, se encaixam no ciclo de moda seja no lançamento de tendências ou de um novo visual que vai inspirar a criação de outros designers ou na validação de alguma tendência saída dos grandes desfiles de moda, já que os mesmos foram criados naturalmente para o futuro.

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