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PERFIL SÓCIO ECONOMICO E ECOLÓGICO DOS PESCADORES ARTESANAIS E ESTRATÉ GIAS PESCA ARTESANAL NAS PESCARIAS DO MÉDIO RIO CUIABÁ,

2.3. RESULTADOS e DISCUSSÃO

2.3.7. Consumo, dieta e restrições alimentares dos pescadores

Na dieta alimentar dos pescadores artesanais existe hábitos, preferências, restrições e tabus alimentares diversificados e sazonais referentes ao consumo de peixes do rio Cuiabá.

Declararam ser mais abundante o consumo alimentar de peixes de escama no período da vazante e estiagem e de peixes de couro no período da enchente e cheia, excetuando a Piranha (P. natereri) que é abundante durante o ano todo e dominante no cardápio dos pescadores durante a extrema cheia quando ocorre a Piracema- Defeso.

Em Bonsucesso 33% dos pescadores e 20% das pescadoras consomem qualquer peixe na alimentação, 65% dos pescadores e 59% das pescadoras preferem peixes de escama, entre os peixes os mais apreciados entre os homens são 15% Pacu (P. mesopotamicus) , 10% Piavuçu (L. macrocephalus) e 10% Curimbá (P. lineatus,), entre as mulheres são 13% Piavuçu (L.

52 macrocephalus) e 10% Pacu-peva (M. paraguayensis). Declaram ter preferência por peixes de couro 18% dos pescadores e 24% das pescadoras, os peixes mais apreciados são 45% Pintado (P.

corruscans) e 18% Jiripoca (H. platyrhynchos) e o mais consumido na dieta 25% Bagre (P.

maculatus). A Piranha (P. natereri) é consumida na alimentação de janeiro a março, respondendo por 48 % do consumo alimentar no período da Piracema- Defeso.

Os pescadores da comunidade de Bonsucesso, possuem restrição alimentar no consumo de peixes do rio Cuiabá; 10 % dos pescadores e 14% das pescadoras, destes 33% dos homens e 40 % das mulheres não consomem Botoado (P. granulosus) declaram não consumi-lo devido o gosto e cheiro característico da carne deste peixe principalmente durante o período da seca, descrito pelos pescadores como cheiro de folha pobre e gosto de barro na carne.

Em Bonsucesso declaram não consumir em sua dieta, o Ximburé (S. barelli) 40% das pescadoras consideram o peixe fedido e 10% não consomem o Jaú (P. lutkeni ) porque acreditam que ele se alimenta de cadáveres em decomposição inclusive de cadáveres humanos em sua dieta.

100% das mulheres e 20 % dos homens não consomem na alimentação o Barbado (P.

pirinampu) nos meses de julho a agosto, justificando que neste período o peixe sangra igual mulher, ambos os gêneros descrevem que na biologia deste o peixe, ocorre à liberação de uma secreção vermelha com textura viscosa, a qual os pescadores consideram similar a sangue, isto condiciona nos pescadores o desinteresse em consumí-lo durante o período da seca no rio Cuiabá.

Relatam ainda que neste período o Barbado têm a capacidade de sugar as vísceras dos outros peixes,colocando a boca no ânus do outro peixe sugando e consumindo as entranhas do peixe que posteriormente morre, segundo os pescadores o peixe morre seco.

Em Barranco Alto, 23% dos pescadores e 100% das pescadoras declaram consumir qualquer peixe na alimentação, 58% dos pescadores e 80% das pescadoras tem preferência alimentar por peixes de escama, sendo os mais apreciados 21 % pacu (P. mesopotamicus) e 21% peraputanga (B. microlepis, os pescadores relatam que a piranha (P. natereri) responde por 25 % do consumo alimentar de peixe para o período da cheia. Declaram ter preferência por

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peixes de couro 28% dos pescadores e 20% das pescadoras, sendo os mais apreciados o 34% Pintado (P. corruscans) e 21 % Jurupensen (H. platyrhynchos). 15% dos pescadores declaram não consumir o Barbado (P. pirinampu) devido ao fato anteriormente citado. A piranha (P.

natereri) compõe o cardápio alimentar em 25% das refeições do período Defeso - Piracema. Em Sucuri, 69% dos pescadores e 30% das pescadoras declaram consumir qualquer peixe em sua dieta alimentar, 64% pescadores e 70% das pescadoras tem preferência alimentar por peixes de escama, sendo os mais apreciados 27 % Pacu (P. mesopotamicus) e 17% Peraputanga (B. microlepis) e os mais consumido a 40% a Piava (L. vittatus), a Piranha (P. natereri) responde por 75 % do consumo alimentar de peixe para o período da cheia. Declaram ter preferência por peixes de couro 11% dos pescadores e 20% das pescadoras, o peixe mais apreciado e consumido entre 25% dos pescadores é o Jurupensen (Surubim cf. lima).

Possuem restrições no consumo alimentar de peixes 8% dos pescadores e 29% das pescadoras, destes 7% não comem Ximburé (P. mucosa) 23% não consomem o Botoado(P.

granulosus), 60% dos pescadores declaram ter alguma restrição sazonal no consumo de peixes do rio Cuiabá em sua alimentação.

Possuem algum tipo de restrição alimentar no consumo de peixes do rio Cuiabá 29% das pescadoras de Sucuri , destas 23% das mulheres não consomem Botoado (P. granulosus), devido o gosto e cheiro característico da carne deste peixe durante o período da seca, descrito pelos pescadores como cheiro de folha pobre e gosto de barro na carne; 33 % não consomem na dieta Jaú (P. lutkeni ) porque acreditam que ele se alimenta de cadáveres inclusive humano em sua dieta. 66% das pescadoras declaram nunca consumir o Barbado (P. pirinampu) devido ao fato anteriormente citado.

Em sucuri 33% das pescadoras declararam não consumir o Pacu (Piaractus

mesopotamicus) na semana Santa e 20% não o consome este peixe durante todo o período da quaresma, as entrevistadas consideram a privação no consumo da espécie neste período, uma prova de respeito à dor das divindades cultuadas nesta ocasião.

54 O Pacu é um animal dado por Deus pros pescadores do Cuiabá ( rio) e eles (Deus e Nossa Senhora) tão sofrendo nesse tempo, a morte do filho deles que também era pescador, pescado de alma.

( E. S. M. 55anos ♀ Sucuri)

O Curimbatá (Prochilodus lineatus) é restrito na alimentação feminina durante os períodos de menstruação e puerpério entre 33% das pescadoras, declaram considerar este peixe gorduroso e inadequado para o consumo durante estes eventos.

Mulher menstruada, parida e de resguardo não pode come curimbá, é olhoso!! (A.G.F. 43 anos ♀ Sucuri)

O consumo alimentar per capita de peixes entre os pescadores artesanais varia sazonalmente entre os períodos de vazante e seca e, de enchente e cheia do rio Cuiabá. Os pescadores declaram consumir de duas a três vezes peixe por semana nos períodos de vazante e seca, relatando que neste período é intensificada a pesca comercial os mesmos tem preferência por vender os peixes capturados em detrimento de consumi-los.

Quando é pescador como eu, sempre a gente vai pega o melhor peixe pra vende : Pacu de R$ 10,00 a 20,00 um,Pintado R$ 6,00 a 10,00 o quilo, Peraputanga R$ 4,00 a 8,00, Dourado R$ 5,00 a 8,00 o quilo, Piaviçu de R$ 3,00 a 5,00 cada, vende tudo, compra as coisa pra casa, carne de boi é mais barato do que o quilo do peixe.( J. R. A, 35 anos♂, Bonsucesso)

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Entre os períodos de enchente e cheia à intensificação do consumo de peixes conforme o nível do rio vai subindo e a pesca comercial reduz a intensidade, neste período, inicia-se o defeso ( novembro a fevereiro), quando os pescadores relatam, ocorrer à ampliação da pesca de subsistência, o consumo per capita de peixes na alimentação de pescador amplia, de cinco para sete vezes por semana.

Os pescadores artesanais declaram que o atraso no recebimento do seguro defeso, durante o período da Piracema, condiciona em alguns casos, ter que consumir peixe em todas as refeições do dia e todos os dias durante a extrema cheia do rio Cuiabá, entre os meses de janeiro e fevereiro.

Os resultados obtidos demonstram à dependência dos pescadores em relação aos peixes consumidos em sua dieta alimentar, a ampliação do consumo per capita de peixes ocorre no período da cheia e a redução no consumo per capta durante a estiagem.

A variação das espécies de peixes consumidas na alimentação dos pescadores artesanais evidencia a predominância de tabus e restrições sazonais sobre os peixes de couro no consumo alimentar do período das águas, os peixes de escama do período da seca possuem menos restrições para o consumo.

A variação no consumo de peixes na dieta alimentar dos pescadores pode estar relacionada a uma restrição alimentar temporal, decorrente da adaptação dos mesmos, a variação da qualidade das águas conforme o pulso de inundação do rio Cuiabá.

Madi e Begossi(1997) estudando a pesca e as escolhas alimentares entre populações humanas da margem do rio Piracicaba, observaram que o Mandi (P. maculatus), peixe apreciado na região, é evitado durante a estação da seca, quando o nível do rio esta mais baixo e suas águas mais poluídas.

De acordo com Colding e Folke,( 1997) tabus representam regras sociais não escritas que regulam o comportamento humano, podendo ainda ser consideradas instituições informais locais e definem o uso dos recursos em ecossistemas por comunidades humanas.

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Neste contexto as restrições e tabus alimentares descritos pelos pescadores artesanais do rio Cuiabá são respostas sociais que podem contribuir localmente para evitar a sobre pesca de determinadas espécies , para conservar os estoques pesqueiros através da rotação das espécies alvo das pescarias na comunidade.

Colding e Folke,(1997) demonstram a importância ecológica de certos tabus , provando que eles afetam , e as vezes manejam diretamente , vários componentes do ambiente natural local. Restrições como tabus proporcionam a proteção de comunidades biológicas e de populações de algumas espécies.