• Nenhum resultado encontrado

Consumo de drogas ilícitas

2. Os J OVENS E O C ONSUMO DE S UBSTÂNCIAS

2.3. Consumo de drogas ilícitas

A adolescência é o período que impõe ao indivíduo novas experiências, que podem causar uma dependência para toda a vida. O uso de drogas é um fenômeno bastante antigo na história da humanidade e constitui um grave problema de saúde pública, com sérias consequências pessoais e sociais no futuro dos jovens e de toda a sociedade. Neste período, o adolescente não aceita orientações, pois analisa a possibilidade de ser adulto, de ter poder e controlo sobre si mesmo. É um momento de diferenciação em que se afasta da família e adere ao seu grupo de pares. Se o grupo usar drogas, o adolescente poderá vir a utilizar também, pois quer fazer parte deste grupo mostrando que tem liberdade para usar qualquer tipo de substância (Fonseca, Rebelo & Damião, 2006).

O uso de drogas na adolescência pode ocorrer pela pressão do jovem estar sempre inserido em grupos de amizades, que entre curiosidades e experimentações, fazem o uso precoce e indevido de drogas neste período, em que o adolescente se identifica com os amigos e desafia a família, para conquistar maior liberdade (Malbergier, 2001).

As drogas com efeito estimulante aumentam a atividade cerebral, deixando os estímulos nervosos mais rápidos. Excitam especialmente a área sensorial e motora. A anfetamina, a cocaína (produzida das folhas da planta da coca, Erytroxylum coca) e seus derivados, como o crack, fazem parte desse grupo (Lemos & Zaleski, 2004).

Segundo estes autores, as drogas perturbadoras são substâncias que fazem o cérebro funcionar de uma forma diferente, muitas vezes com efeito alucinógeno. Não alteram a velocidade dos estímulos cerebrais, mas causam perturbações na mente do utilizador. Incluem o haxixe

(produzidos pela planta Cannabis sativa), os solventes orgânicos (como a cola de sapateiro) e o LSD (ácido lisérgico). As drogas de efeito misto combinam dois ou mais efeitos. A mais conhecida desse grupo é o ecstasy, metileno dioxi-metanfetamina, que produz sensações como estimulante, e como alucinógena.

No momento atual, a substância mais utilizada é o haxixe, obtido a partir da Cannabis. É evidente que esta substância goza de alguma fama junto dos jovens, que defendem com frequência ser usada por todos e não ter qualquer perigosidade (IDT, 2008). É de facto usada por muitos jovens, mas não se pode afirmar também que quem a experimenta vai passar para outras drogas consideradas mais perigosas, ou até tornar-se toxicodependente.

A abordagem do uso de haxixe advém em parte das motivações que levam à sua utilização. A droga pode ser utilizada como um facilitador social, porque provoca sensações de relaxamento e desinibição, um certo aumento da acuidade visual e auditiva e alguma pressão para o riso e conversa fácil, agradáveis no relacionamento interpares, mas inclui os riscos das restantes drogas no que toca às consequências da mesma.

Independentemente do local de inserção do jovem, quer na família ou em meio escolar, é importante compreender individualmente o percurso do jovem, no que toca ao tipo de utilização do haxixe e o contexto onde esta tem lugar.

Pode identificar-se desta forma várias fases, que serão descritas a seguir: a fase da

experimentação, provocada pela pressão muitas vezes por parte dos amigos, pela curiosidade

ou apenas pela experiência de sentir prazer numa situação nova; a fase do consumo

recreativo, muito comum hoje em dia, fazendo com que o jovem consuma numa situação de

convívio com os amigos, para se divertir mais, para não ser diferente dos outros, para ter mais prazer; a fase do consumo intensivo, mais frequente em jovens que manifestam aborrecimento, desapego pelas atividades habituais, sintomas depressivos, e conflitos familiares; a fase do consumo descontrolado, o consumo da substância irá ocupar o primeiro lugar na vida do jovem, que abandona os seus interesses anteriores. As discórdias familiares aumentam e pode ocorrer absentismo escolar (Sousa et al., 2007).

Segundo a OMS, cit. por Neto, Fraga e Ramos (2012), 4,8% da população mundial, entre 15 e 64 anos de idade, usou drogas ilícitas pelo menos uma vez nos doze meses anteriores à avaliação em 2005/2006, o que corresponde a 200 milhões de pessoas.

Apesar da seriedade do uso dessas substâncias, o seu impacto na mortalidade e na morbilidade é inferior ao estimado para álcool e tabaco (as drogas lícitas mais consumidas) e com maior número de utilizadores.

Apesar da grandeza do resultado ser menor que a do tabaco e a do álcool, a OMS estima que 0,6% da população possua problemas associados ao uso de drogas ilícitas. As principais causas de morte prematura e morbilidade associadas ao consumo de drogas podem ser a

overdose, a infeção por Vírus de Imunodeficiência Adquirida (VIH), a infeção por hepatite B

e C, suicídio e trauma (homicídios, acidentes de viação e outras mortes acidentais) (Neto et al., 2012).

Ainda que os acidentes de viação sejam a principal causa de morte dos jovens nas idades dos 15 aos 19 anos, seguidos por suicídio e violência, os dados tendem a desconsiderar a relação entre a proporção de acidentes e o consumo de drogas. Existem estudos que demonstram a associação entre consumo de drogas, violência, acidentes de viação e depressão. O uso precoce de drogas, nomeadamente a cannabis, está relacionado à maior probabilidade de consumo de drogas ilícitas, no futuro e ao desenvolvimento de dependência, além de predizer problemas psiquiátricos tardios, aumentando o risco de problemas psicóticos em indivíduos frágeis (Caldeira, 1999).

O consumo de drogas na adolescência está também associado à baixa escolaridade, fator que pode reduzir as oportunidades de desenvolvimento individual, com repercussões ao longo da vida.

A Estratégia da União Europeia de Luta contra a Droga de 2013-2020 tem por objetivo contribuir para a redução da procura e da oferta de droga dentro da União Europeia, bem como para diminuir os riscos e danos sociais e para a saúde causados pela droga graças a uma abordagem estratégica que apoie e complemente as políticas nacionais, crie uma estrutura que permita desenvolver ações coordenadas e conjuntas e sirva de base e enquadramento político à cooperação externa da União Europeia neste domínio (União Europeia, 2012).

O consumo e o tráfico de drogas em Portugal têm vindo a apresentar, ao longo dos últimos anos, modificações mais ou menos percetíveis. Ressaltam de entre estas, a alteração do perfil dos consumidores e dos padrões de consumo, a diversidade de oferta de substâncias e, até, a própria perceção social do fenómeno e a respetiva mudança de paradigma (IDT, 2010).

Após as várias considerações sobre o consumo de tabaco, álcool e drogas ilícitas, surge a necessidade de criar estratégias no sentido de promover a saúde dos jovens e de criar estilos de vida saudáveis.

Documentos relacionados