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Consumo e endividamento das famílias

1 INTRODUÇÃO

3.3 Consumo e endividamento das famílias

As dívidas das famílias têm aumentado muito nos últimos 21 anos. Em 1990 elas representavam 20% do PIB, em 1997 estavam em 42% do PIB e em 2011 passaram para 92% do PIB, correspondendo a um aumento de 72 pontos percentuais de 1990 a 2011 (PEREIRA, 2011).

Gráfico 9 - Endividamento das famílias, em percentagem do PIB, 1997-2011

Fonte: Pereira (2011) e Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira, séries históricas. Elaboração da autora.

Nota: O endividamento corresponde às dívidas financeiras que são a soma de empréstimos obtidos e títulos de dívida emitidos pelo setor. Além das famílias, os dados englobam empresários em nome individual e instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias.

O nível do endividamento das famílias é ainda maior ao se verificar o crescimento da dívida em percentagem do rendimento disponível: em 1990 girava em torno dos 19,6% (RIBEIRO, 2012), em 1997 passou para 59%, atingindo 126% em 2011. Um aumento de 106,4 pontos percentuais. A tendência de crescimento destas dívidas pode ser observada no Gráfico 9 acima, que abrange os anos de 1997 a 2011.

Já a Tabela 5 evidencia o ritmo de crescimento de 1997 a 2000, em média, 5,8% ao ano. Percebe-se uma alta taxa de crescimento das dívidas das famílias no final dos anos 1990, acima de 15%, e em 2010. Em 2011, inicia-se uma taxa de crescimento decrescente.

Tabela 5 - Endividamento das famílias em percentagem do PIB e do rendimento disponível, 1997-2011 Anos Em percentagem do PIB Em percentagem do rendimento disponível Crescimento anual do endividamento 1997 42 59 1998 49 69 15,1 1999 57 81 17,0 2000 60 85 4,5 2001 63 90 5,7 2002 67 97 7,1 2003 72 103 7,4 2004 77 109 6,2 2005 82 115 6,4 2006 86 123 5,4 2007 89 127 2,8 2008 92 128 3,4 2009 95 131 3,9 2010 94 128 -1,2 2011 92 126 -2,0

Fonte: dados 1997 a 1999, Pereira (2011) e 2000 em diante, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade

Financeira, séries históricas. Elaboração da autora.

Mas para que se endividaram? O Relatório da Administração Financeira do Banco de Portugal deste ano publicou um gráfico (Gráfico 10) que mostra que, desde o ano 2000, a maioria dos empréstimos bancários obtidos pelas famílias para a aquisição da casa própria (em média, 75 % dos empréstimos bancários enquanto os outros 25% são destinados para o consumo e outros fins).

Gráfico 10 - Endividamento das famílias em percentagem do rendimento disponível, 2000­ 2011

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Fonte: Banco de Portugal, Relatório de Administração Financeira Maio 2012.

O crescimento do número de parques habitacionais desde os anos 1990 evidencia este processo de aumento na compra de imóveis habitacionais. Entre 1990 e 1997 a taxa de crescimento médio de moradias situou-se em torno de 1,6%. Entre 1998 e 2002 a taxa média crescimento passou para 2,5%. A partir de 2003, e em decorrência da recessão iniciada neste ano, as taxas começaram a cair e permaneceram em torno de 1,3%. Entre 1990 e 2011, 1. 665 milhões de novas casas foram construídas (Tabela 6).

Apesar do preço médio real das casas ter subido pouco desde final dos anos 1980 o fato de ter havido dois períodos de aumento de preços, 1988-1993 e 1995-2002, justamente no período de crescimento da economia em que a oferta satisfazia a procura na compra de casas, contribuiu muito para o aumento do endividamento das famílias (PEREIRA, 2011).

Tabela 6 - Parques habitacionais, 1991-2011__________________________________(continua) Anos 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Parques Habitacionais

(milhões) 4,21 4,27 4,34 4,4 4,48 4,55 4,62 4,71 4,82 5,01 5,11 Parques Habitacionais

adicionais (milhares) 58 68 65 72 71 75 92 108 186 99 Taxa de crescimento anual 1,4 1,6 1,5 1,6 1,6 1,6 2 2,3 3,9 2

Tabela 6 - Parques habitacionais, 1991-2011_________________________________(conclusão) Anos 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Parques Habitacionais (milhões) 5,23 5,32 5,4 5,47 5,53 5,6 5,66 5,72 5,75 5,88 Parques Habitacionais Adicionais (milhares) 126 91 72 78 60 69 61 59 28 127 Taxa de crescimento anual 2,5 1,7 1,4 1,4 1,1 1,2 1,1 1 0,5 2,2 Fonte: INE, Estimativa do parque habitacional 1991-1999 . Elaboração da autora.

Entre 1988 e 1993 a economia de Portugal recebeu um grande impulso devido à entrada do país na Comunidade Econômica Europeia seguida de uma maior estabilização econômica alcançada neste período. Até o final da década de 1980, Portugal tinha um déficit na oferta habitacional, fato que começou a mudar a partir da década de 1990 em que houve forte expansão no mercado imobiliário. A associação entre o aumento do rendimento nacional a maior oferta de residências e o aumento dos preços habitacionais incentivou o investimento das famílias na compra da casa própria e consequentemente causou o aumento do endividamento (PEREIRA, 2011).

O período entre 1995 e 2002 compreendeu o processo de entrada de Portugal na união monetária europeia. Devido a isto, houve a redução das taxas de juro (Gráfico 11) e a melhoria na facilidade de obtenção de crédito que associada a um novo período de expansão da economia portuguesa fez com que a procura na compra residencial aumentasse. Como os preços das casas seguiram o ritmo do aumento da procura habitacional a consequência foi o aumento do endividamento das famílias também neste período (PEREIRA, 2011).

Gráfico 11 - Taxas de juro nominais de longo prazo, 1985-2009

u T ---1---1---[---1---1---r---1---1---E--- S---1---T--- E---1---1---1---E--- S---1---r--- S---1---1---C---5“

1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 Fonte: adaptado de Faria (2010).

A febre imobiliária de Portugal cituou-se, portanto, no final da década de 1990. O país não chegou a ter uma bolha imobiliária nos anos que precederam a crise de 2008 pois após 2003 os preços residenciais começaram a cair. Em contrapartida, outros países europeus como a Espanha, a Irlanda, a Bélgica, a Holanda e o Reino Unido tiveram grande crescimento nos preços das casas após 1995, incentivando a criação de uma bolha imobiliária que estourou devido a crise de 2008 causando grandes problemas bancários e da dívida publica nestes países (PEREIRA, 2011).

Em Portugal, além dos motivos já citados, outros dois motivos incentivaram o aumento na compra de casas: o crescimento do setor da medição imobiliária após 1990 e as características do mercado imobiliário que incentiva mais a compra de casas do que o aluguel das mesmas.

Após 1990 grandes agências imobiliárias internacionais foram para Portugal e impulsionaram o mercado do país fazendo com que as principais agências nacionais surgissem nesta época. Além disto, o mercado de arrendamento do país é muito limitado incentivando desta forma a compra da casa própria e o endividamento das famílias e do país (grande parte do crédito imobiliário foi financiado no estrangeiro) (PEREIRA, 2011).

Luíza Farinha, investigadora do Banco de Portugal coloca ainda outros dois motivos que influenciaram o endividamento das famílias: “a política de taxas de juros bonificados para as famílias de rendimento mais baixo e razões demográficas relacionadas com a estrutura etária da população” (PEREIRA, 2011, p. 245).

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