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A Companhia Energ´etica de Minas Gerais S.A. - CEMIG ´e uma concession´aria de energia el´etrica do Brasil. Neste estudo, vamos analisar alguns aspectos relacionados `a composi¸c˜ao do valor de uma conta emitida pela CEMIG, a partir das pr´oprias informa¸c˜oes presentes no site da companhia [29]. Al´em disso, faremos uma r´apida abordagem a respeito das bandeiras tarif´arias, vigentes a partir de 1o de janeiro de

2015, que causam impacto no valor da conta de energia.

De acordo com informa¸c˜oes presentes no site da CEMIG, a parte superior da figura 4.5“apresenta a quantidade utilizada, valor da tarifa (incluindo encargos e tributos) e valor do fornecimento de encargos (em reais) para a grandeza el´etrica de consumo de energia (kWh)” [29].

Note que: 122 × R$ 0,82822887 = R$ 101,04392214 = R$ 101,04 (Lei do Real). Por´em, o valor que aparece na conta ´e R$ 101,01, o que indica algum tipo de arredondamento, cuja justificativa n˜ao est´a vis´ıvel na fatura.

O item seguinte, “Encargos/Cobran¸ca”, de acordo com a CEMIG, se relaciona com “o valor da Contribui¸c˜ao para Custeio de Ilumina¸c˜ao P´ublica (CCIP), repassado `a Prefeitura Municipal. Este valor ´e calculado conforme consumo de Ilumina¸c˜ao P´ublica registrado no mˆes e o tipo de convˆenio entre Prefeitura e CEMIG” [29]. De acordo com a ANEEL, “A Contribui¸c˜ao para Custeio do Servi¸co de Ilumina¸c˜ao P´ublica (CCIP) est´a prevista no artigo 149-A da Constitui¸c˜ao Federal de 1988, que estabelece, entre as competˆencias dos munic´ıpios, dispor sobre a forma de cobran¸ca e a base de c´alculo da CCIP, mediante lei espec´ıfica aprovada pela Cˆamara Municipal” [3].

O pr´oximo item na figura 4.5 se relaciona `as tarifas aplicadas (sem impostos). Note que:

122 × R$ 0,54572 = R$ 66,57784 = R$ 66,57 (Lei do Real) (4.2) Esse ´e o valor da energia el´etrica, desconsiderando os tributos, ou seja, o valor pago em tributos ´e de R$ 113,74 - R$ 66,57 = R$ 47,17.

O pen´ultimo item da figura 4.5 apresenta um valor adicional relacionado `as bandeiras tarif´arias, que j´a est´a inclu´ıdo no valor a pagar.

De acordo com informa¸c˜oes do site da CEMIG,

“Com o in´ıcio da aplica¸c˜ao das bandeiras tarif´arias nas contas de energia das distribuidoras, em 1o

de janeiro de 2015, houve um impacto tamb´em no valor das contas de energia, que poder˜ao sofrer acr´escimos gradativos, de acordo com o consumo.

Na bandeira verde, que representa condi¸c˜oes favor´aveis de gera¸c˜ao de energia, a tarifa n˜ao sofre nenhum acr´escimo.

Com a bandeira amarela, que representa a gera¸c˜ao em condi¸c˜oes menos favor´aveis, a tarifa sofrer´a acr´escimo de R$ 0,020 a cada kWh consumido. (Valor informado sem c´alculo de impostos).

Bandeira vermelha - Patamar 1: condi¸c˜oes mais custosas de gera¸c˜ao. A tarifa sofre acr´escimo de R$ 0,030 para cada quilowatt-hora kWh consumido.

Bandeira vermelha - Patamar 2: condi¸c˜oes ainda mais custosas de gera- ¸c˜ao. A tarifa sofre acr´escimo de R$ 0,035 para cada quilowatt-hora kWh consumido.” [28]

Na conta observada, a bandeira vigente ´e a amarela, e o valor total cobrado foi de R$ 2,67. Note que 2,67/122 ∼= 0,021885. Como podemos ver, esse valor est´a um pouco acima dos R$ 0,020 estipulado pela ANEEL. Isto ocorre porque os valores apresentados como referˆencia para cada bandeira s˜ao informados sem a incidˆencia de impostos.

Falando em impostos, de acordo com a ANEEL, “Nas contas de energia est˜ao inclu´ıdos tributos federais (PIS/COFINS), estaduais (ICMS) e municipais (CCIP)” [3].

A figura 4.6 mostra outro recorte da conta da CEMIG, em que est˜ao destacados tais tributos, exceto a CCIP, que j´a mencionamos anteriormente.

Figura 4.6: Tributos em uma conta da CEMIG [29].

De acordo com a CEMIG, os valores destinados ao COFINS (Contribui¸c˜ao para o Financiamento da Seguridade Social) e ao PIS/PASEP (Programa de Integra¸c˜ao Social) s˜ao repassados ao Governo Federal e suas al´ıquotas s˜ao definidas a partir do faturamento da empresa, portanto s˜ao vari´aveis a cada mˆes [29]. Na situa¸c˜ao analisada, temos:

• PASEP: 0,73/101,01 ∼= 0,007227 = 0,7227%. • COFINS: 3,41/101,01 ∼= 0,033759 = 3,3759%.

No per´ıodo considerado para a conta de energia que estamos analisando, as al´ıquotas para o PASEP e para o COFINS s˜ao, respectivamente, de 0,7227% e 3,3759%.

Em rela¸c˜ao ao ICMS, podemos ver na figura 4.6 que h´a um maior detalhamento de informa¸c˜oes, com o valor da al´ıquota (30%), a base de c´alculo e o valor do tributo.

A equa¸c˜ao (4.2) nos d´a o valor da conta, sem a incidˆencia de impostos, que ´e de R$ 66,57. Agora, vamos agregar a esse valor os tributos (em reais), estabelecendo os valores finais, de acordo com a Lei do Real (desconsiderando a CCIP):

• COFINS: 3,3759% de 66,57 = 2,24. • PASEP: 0,7227% de 66,57 = 0,48 • ICMS: 30% de 66,57 = 19,71.

• TOTAL: 66,57 + 2,24 + 0,48 + 19,71 = 89,00.

Neste c´alculo, o total de tributos corresponde a, aproximadamente, 34,1% (sem a CCIP). Entretanto, de acordo com a figura4.5, o valor a pagar, desconsiderando a CCIP, ´e de R$ 101,01. Para entender o porquˆe dessa divergˆencia, vamos fazer os c´alculos de outra forma, considerando que os tributos comp˜oem a pr´opria base de c´alculo (R$ 101,01).

• COFINS: 3,3759% de 101,01 = 3,41. • PASEP: 0,7227% de 101,01 = 0,73 • ICMS: 30% de 101,01 = 30,30.

• TOTAL: 66,57 + 3,41 + 0,73 + 30,30 = 101,01.

Vejamos a rela¸c˜ao entre os valores encontrados no segundo c´alculo e o valor da tarifa, desconsiderando os impostos (R$ 66,57):

• COFINS: 3,41/66,57 ∼= 5,1% • PASEP: 0,73/66,57 ∼= 1,1% • ICMS: 30,30/66,57 ∼= 45,5%

• TOTAL: 5,1% + 1,1% + 45,5% = 51,7%.

Isso significa que, em virtude os valores dos trˆes tributos integrarem a pr´opria base de c´alculo, o consumidor paga, na situa¸c˜ao considerada, 51,7% de tributos, em vez de 34,1%. Em outras palavras, o consumidor paga tributo sobre o pr´oprio tributo. Assim, aplicando a f´ormula de taxa de varia¸c˜ao, vista na subse¸c˜ao 3.7.6, temos:

101,01 − 89

89 ∼= 13,49%.

O valor do servi¸co prestado pela CEMIG encareceu 13,49%, o que, na situa¸c˜ao, representa um desembolso adicional de R$ 12,01 (101,01 - 89,00), considerando o modo como os tributos s˜ao calculados.

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E importante esclarecer que tal pr´atica de c´alculo ´e amparada por legisla¸c˜ao espec´ıfica, o que pode ser verificado por meio da leitura da chamada Lei Kandir (Art. 13, §1o, I) [21].

“A chamada cobran¸ca “por dentro” dos tributos ICMS, PIS/PASEP e COFINS ´e estabelecida pelas leis federais correspondentes e implica que os valores desses tributos integram a pr´opria base de c´alculo sobre a qual incidem suas respectivas al´ıquotas. ([2], p.15)

O ICMS ´e cobrado “por dentro”, ou seja, com um peso maior que sua al´ıquota nominal.” ([3], p.25)

Na situa¸c˜ao analisada, a al´ıquota nominal do ICMS ´e de 30%, entretanto, a al´ıquota efetiva foi de 45,5%.

Indo um pouco al´em, se seguirmos a l´ogica de que a base de c´alculo dos tributos deveria ser o valor da conta sem qualquer tributo, h´a um aumento de mais de 70% no valor da conta de energia el´etrica, ocasionada pelos tributos, conforme o c´alculo a seguir:

113,74 − 66,57

66,57 ∼= 70,86%.

Outro dado interessante na conta da CEMIG ´e o hist´orico de consumo, que pode ser verificado na figura 4.7. Para os valores de consumo m´edio di´ario ´e feito um c´alculo de m´edia aritm´etica, em que se divide a quantidade de kWh consumidos no mˆes pela quantidade de dias de faturamento. Por exemplo, no mˆes AGO/16, temos:

175

32 = 5,46875.

Na conta, o valor apresentado possui apenas duas casas decimais, ou seja, 5,46 kWh/dia.

Com os dados do hist´orico de consumo tamb´em ´e poss´ıvel calcular a m´edia aritm´etica mensal de consumo de kWh considerando os ´ultimos 13 meses. Utilizando a equa¸c˜ao (3.1), temos: ¯ x = 122 + 107 + 161 + 142 + 175 + 154 + 126 + 132 + 146 + 126 + 167 + 148 + 127 13 Logo, ¯ x = 1 833 13 = 141 kWh.

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