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Hospital PPP

3.2 CARACTERIZAÇÃO DAS METODOLOGIAS DE APURAMENTO DE CUSTOS NA SAÚDE

3.2.2 Contabilidade e controlo de gestão

Devido à integração de Portugal na União Monetária, impuseram-se novas regras na informação contabilística. O Plano Oficial de Contabilidade Pública (POCP) veio introduzir novas avaliações de desempenho para o controlo orçamental. O novo plano previa a associação da contabilidade financeira, de custos e orçamental. Em 2000, pela Portaria n.º 898/2000, entra em vigor o Plano Oficial de Contabilidade para o Ministério de Saúde (POCMS), obrigatório para todos os órgãos do Ministério da Saúde. São definidos princípios de aplicação do método das secções homogéneas com a finalidade de aperfeiçoar (continuamente) a obtenção dos dados analíticos necessários a uma gestão hospitalar eficaz.

A contabilidade analítica dos hospitais públicos é normalizada através do Plano de Contabilidade Analítica dos Hospitais 17(PCAH) (Ministério da Saúde, 2007) onde é proposta a metodologia de apuramento de custos das secções – método com maior tradição e aplicado na maioria dos hospitais portugueses, ainda que atualmente exista a opção do sistema Custeio Baseado nas Atividades18.

Em síntese, segundo a literatura (Mugford, Hutton, & Fox-Rushby, 1998) as metodologias de apuramentos de custos mais comuns nas organizações hospitalares

17 Última alteração: Portaria nº110-A/2007.

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dividem-se em duas perspetivas: bottom-up e top-down. Ou seja, a abordagem bottom-up recolhe informação ao longo do processo de produção – método direto; a análise top- down toma por base a contabilidade central do hospital – Método das Secções e o Sistema Activity Based Costing (ABC) 19.

Método Direto

Neste método é feita a identificação dos recursos utilizados por doente ao longo de todo o processo de produção dos cuidados de saúde que lhe dizem respeito (Mugford et al., 1998). Para tal, é preciso conseguir um levantamento real dos custos por cada episódio - todos os recursos consumidos quer em internamento quer em consulta e, devem ser feitas as devidas imputações das devidas secções que mesmo indiretamente contribuíram para o custo final. É imposta uma recolha de dados rigorosa, sendo frequentemente descrito como um dos métodos mais exigentes.

Surgiu nos Estados Unidos da América como unidade de pagamento na Medicare (em 1983), com o princípio do pagamento prospetivo por doente. A partir daí, mostrou-se ser uma prática de interesse na determinação dos custos (Young, 2003).

Associado a este modelo estão os sistemas de informação, pois é necessário um suporte informático para a anotação de registos.

Método das Secções Homogéneas

Grande parte dos hospitais nacionais (incluindo o HSA) segue esta metodologia, prevista no PCAH, com a finalidade de imputar todos os custos do hospital a todas as suas secções.

O PCAH (Ministério da Saúde, 2007) descreve as secções homogéneas como centros de custo com as seguintes características:

19 Custo Baseado nas Atividades (CBA).

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 Cada secção deve ter apenas um responsável pelo controlo de custos,

 Os custos apurados devem respeitar funções ou atividades análogas,

 Devem existir unidades de medida de atividade para permitir a quantificação das funções ou atividades de cada secção, as unidades devem existir.

O plano divide as secções da seguinte forma: secções principais, secções auxiliares e secções administrativas. Conforme a Figura 8 na página seguinte, para melhor entendimento.

Os custos que se associam diretamente (sem dificuldade) a uma secção por serem efeito direto da sua atividade são os custos diretos. Após a verificação destes, é necessário proceder à repartição dos custos pelas secções auxiliares e administrativas, utilizadoras desses recursos, custos indiretos (relativos ao segundo, terceiro e quarto nível).

A imputação dos custos às diferentes secções ocorre em quatro níveis: (i) imputação dos custos diretos pelas secções principais, auxiliares e administrativas; (ii) repartição dos custos totais das secções administrativas pelas secções auxiliares e principais; (iii) divisão dos custos das secções auxiliares de apoio geral às secções beneficiárias da atividade daquelas e, por fim; (iv) distribuição dos custos das secções auxiliares de apoio clínico às secções principais beneficiárias da atividade daqueles.

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Figura 11 - Representação Gráfica das Secções Homogéneas

Fonte: (Ministério da Saúde, 2007, p. 25).

Sistema ABC

Outra opção para a obtenção dos custos é o Activity Based Costing que permite saber o custo exato de cada ato prestado. Segundo Arnabaldi e Lapsley (2005) a adoção deste método aumenta a eficiência das organizações de cuidados de saúde. São vários os

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estudos que defendem este sistema como uma ferramenta de gestão eficaz nas organizações de saúde (Chan, 1993; Lee & Mahenthitan, 1994; Upda, 1996).

Os impulsionadores do ABC foram Cooper e Kaplan em meados da década de oitenta. Esta ferramenta parte de três premissas: (i) os produtos/serviços requerem atividades; (ii) as atividades consomem recursos e (iii) por sua vez, os recursos são avaliados monetariamente.

O sistema desenvolvido para os hospitais públicos assenta nos seguintes princípios:

Figura 12 - Processamento do fluxo de custos através do ABC

Fonte:(Borges et al., 2010, p.146).

A execução deste modelo em contexto hospitalar possibilita o apuramento dos custos dos serviços prestados, contabilizando a atividade praticada: consultas, urgências, atos de diagnóstico e terapêutica ou cirúrgicos.

São identificadas quatro fases da implementação do sistema: (i) identificação e definição das atividades; (ii) imputação dos custos às atividades; (iii) seleção dos indutores de custos e (iv) imputação do custo das atividades aos produtos. A partir daqui é possível fundamentar que a aplicação desta ferramenta traduz-se na obtenção mais próxima dos custos reais, permitindo tomar melhores decisões com maior competência. O Quadro 5

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apresenta a descrição das principais vantagens e desvantagens das metodologias apresentadas:

Quadro 5 - Vantagens e desvantagens dos métodos contabilísticos

Fonte: Costa et al. (2008, p. 135).

Método das Secções Vantagens

• A sua generalização e aplicação uniforme na grande maioria dos hospitais públicos portugueses (Plano de Contabilidade Analítica)

• Regularidade da sua obtenção Desvantagens

• O grau de desagregação da informação é limitado • Falta de correspondência com os centros de produção • Critérios individuais de imputação de custos indiretos • Falta de celeridade na divulgação da informação Activity Based Costing Vantagens

• Obtêm-se custos por atividade e por doente saído, portanto mais detalhado que o anterior

• Aplicável também às atividades desenvolvidas em ambulatório • Através do ABC realiza-se uma "radiografia" dos atos praticados • Permite a comparação dos níveis de eficiência entre atividades

desenvolvidas por diferentes unidades Desvantagens

Difícil identificação dos cost drivers no processo de produção de cuidados de saúde

• Pode não refletir os custos reais de determinado episódio (valorização pelas atividades desenvolvidas)

Método Direto Vantagens

• Representa os custos reais por episódio

• A informação pode ser incorporada num processo clínico eletrónico do doente

• Possibilita a complementaridade com informação produzida noutros níveis de prestação

• Possibilita um processo de definição de pesos relativos e de preços mais exatos.

Desvantagens

• Exige uma recolha exaustiva de dados ao longo do processo de produção e da valorização dos meios de produção

• É necessário um sistema de informação robusto centralizado no doente • Difícil imputação dos custos indiretos

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