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Contabilidade Patrimonial

No documento TIA Asp Al ADMIL 498 Rodrigo Mendonça (páginas 35-39)

Capítulo 2: Contabilidade Patrimonial e Imobilizado

2.3. Contabilidade Patrimonial

Uma vez que a Contabilidade Orçamental é de fluxos, “não permite apresentar a situação patrimonial da Administração Pública” (Agrochão, 2011, p.10). Desta forma, e no sentido de aumentar a transparência na prestação de contas e disponibilizar nova informação de suporte à decisão, a contabilidade patrimonial permite avaliar os ativos; monitorizar as necessidades, no que diz respeito aos ativos; e avaliar ganhos e proveitos, incluindo a utilização e depreciações ou amortizações, num determinado período (Arnaboldi e Lapsley, 2009).

Muitos são os conceitos que património assume. Na ótica pública, património público entende um universo vasto de “bens, direitos, e obrigações, que sofrem sistemáticas

alterações de valor, de titularidade, de usos, de classificações (…), de reafectações, consoante a sua finalidade” (Frade, 2003, p. 223). Tradicionalmente, a definição de património é-nos facultada por Pinto, Santos e Melo (2013, p. 43) como sendo “o conjunto

dos bens (como edifícios, equipamentos, mercadorias em armazém), direitos (como dívidas de terceiros) e obrigações (como dívidas a terceiros) ”. Para efeitos do presente trabalho, património é considerado como “bens tangíveis, com duração superior a um ano,

equivalente ao que no POCP se designa por imobilizado corpóreo” (Ferreira, 2014, p. 1).

A gestão do património é de extrema importância considerando o património como potencial para a atividade da entidade contabilística; como os bens, que por constituírem valores relevantes, devem ser protegidos e preservados. Tendo em conta estas dimensões, decorrem responsabilidades patrimoniais do Estado no que diz respeito à qualidade de vida dos cidadãos e da salvaguarda do interesse público (Frade, 2003).

No que respeita à inventariação de bens (identificação, classificação, valorização e amortização) esta é feita a partir do Cadastro de Inventário de Bens do Estado (CIBE), sendo a gestão dos bens uma combinação dessa inventariação, com a contabilização de acordo com o Plano Oficial de Contabilidade Pública (Ferreira, 2014).

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Para efeitos de prestação de contas acerca da contabilidade patrimonial, o balanço é o principal mapa para espelhar esta realidade (Pinto, Santos e Melo, 2013).

2.3.1. Cadastro e Inventário dos Bens do Estado

Para a inventariação podemos definir, segundo Silva (2011), logo à partida três tipos diferentes de inventários: os iniciais, sendo aqueles que se realizam no início de uma atividade ou passados muitos anos, e são caracterizados por ser em massa e em grande escala, os relatórios, que são aqueles posteriores aos iniciais, ocorrendo por norma passado um ano económico e tendo como objetivo determinar erros ou omissões desde os últimos, e temos os extraordinários, feitos normalmente por razões de controlo ou fiscalizações ou até quando a entidade entra em liquidação.

Com a entrada em vigor do POCP, o Estado deparou-se com a necessidade de manter o controlo do seu património, mas sem regularizar métodos de inventariar. Desta necessidade nasce o CIBE.

Inicialmente, ainda anterior ao POCP, aparece o Cadastro e Inventário dos Móveis do Estado (CIME), pela Portaria n.º 378/94, de 16 de junho, no entanto esta portaria deixava os bens imóveis. Com o surgimento do POCP introduz-se o conceito de imobilizado corpóreo e passa a ser exigido uma inventariação sistemática, criando-se a Portaria n.º 671/2000, de 17 de abril, o CIBE, de modo a colmatar essas lacunas.

Esta Portaria procura nos seus objetivos, conforme o art.º 1º nos indica, sistematizar os inventários do património do Estado, sendo inventários de bens móveis, veículos, imóveis e direitos neles inerentes. Para isso, define critérios coincidentes com a contabilidade patrimonial do POCP de modo a obter resultados no balanço.

Assim, no seu art.º 2º, o CIBE abrange: o Cadastro e Inventário dos Móveis do Estado (CIME); o Cadastro e Inventário dos Veículos do Estado (CIVE); e o Cadastro e Inventário dos Imóveis e Direitos do Estado (CIIDE).

No mesmo art.º, delimita a abrangência dos inventários aos organismos da administração central sujeitos ao regime geral de autonomia administrativa, como é o caso do Exército, ainda que na al. a) do n.º3 do mesmo art.º conste que não são abrangidos pelo CIBE “os bens do Estado afetos às Forças Armadas”. Isto é, embora se possa entender que as FFAA se encontram exclusas de cumprir a Portaria, estas não têm definido nenhum modelo para a sua estrutura, por isso acabam por seguir a Portaria “bastando apenas ajustar

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responder a este subsector” (Frade, 2003, p. 282). Por isso criou-se “a título provisório, a classe 501 aplicável aos bens de natureza militar, que deverá ser usada até à alteração do CIBE” (Ferreira, 2014, p. 2).

A portaria aplica-se a todos os bens duradouros, sendo que os não duradouros, são os estipulados pelo n.º 2 do art.º 3º da mesma Portaria sendo “bens não duradouros os que têm

consumo imediato, em regra, com duração útil estimada inferior a um ano”, regularizados

segundo o POCP como existências.

Assim sendo, as FFAA regulam-se pela Portaria, que fixa a vida útil para cada tipo de bem, associado a um código CIBE, bem como a taxa de amortização por quotas constantes, não sendo depreciáveis bens com relevância cultural.

Cada bem deve ser inventariado por si só, excetuando os casos dos bens imóveis que são vistos como um agrupamento imóvel ou como um imóvel autónomo, sendo para cada qual constituídas três fichas: a ficha de identificação ou registo histórico, onde se poderá observar: a informação do bem, com toda a informação patrimonial ao longo da vida útil do bem móvel, a ficha de inventário, com se registam as alterações patrimoniais ao artigo, e a ficha de amortizações, com os registos contabilísticos de todos os decréscimos ao valor em função do tempo decorrido.

As regras gerais para todos os cadastros e inventários estão patentes no art.º 28º da Portaria CIBE, onde verificamos que os bens de imobilizado corpóreo mantêm o seu registo em inventário desde que são adquiridos, rececionados e inventariados até ao momento do seu abate, geralmente associado ao terminus da sua vida útil5. O mesmo artigo define ainda

o conceito de “vida útil dos bens”, compreendido como “o período durante o qual se espera que os mesmos possam ser utilizados em condições de produzir benefícios futuros para a entidade que os usa ou controla”.

De modo a poder atribuir um valor ao bem de imobilizado, a Portaria CIBE estipula os critérios de valorimetria6 no seu art.º 31º, sem que contradiga o POCP. Caso se trate de um bem de relevância histórico-cultural, assumimos valor 0 ou, caso seja necessário, o valor do seguro do bem, com as devidas amortizações. Todos os valores supra referidos assumem também o valor necessário à conservação para manter o grau de operacionalidade.

5 Quando não seja possível determinar o ano em que se adquiriu o bem de imobilizado, assume-se o ano do inventário inicial.

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As amortizações7, explanadas no art.º 32º como sendo por quotas constantes, aplicam-se aos bens do ativo imobilizado por estes estarem, segundo Frade (2003), sujeitos ao desgaste físico provocado pelo uso, que corresponde ao desgaste associado à vida útil; ao desgaste físico resultante de fatores extrínsecos a atividade e ação normal do bem; e o desgaste físico provocado por fatores inesperados ou estranhos. Aplicamos uma amortização única8, como nos indica a Portaria CIBE no n.º 1 do art.º n.º 34º, aqueles bens de imobilizado cujo “valores unitários não ultrapassem 80% do índice 100 da escala salarial das carreiras

do regime geral do sistema remuneratório da função pública”, valor esse indicado como

274 Euros (€)9, mantendo o seu registo em inventário até ao momento de abate.

Por fim, a Portaria referida define no seu art.º 36º que os bens móveis de natureza cultural, os animais para alimentação, os veículos automóveis com relevância histórica, os bens imóveis que não sejam possíveis de avaliar ou que se valorizem pela raridade e os terrenos em geral, não são sujeitos a amortizações como os restantes bens de ativo imobilizado.

Concluindo, podemos afirmar que “o CIBE inclui todos os bens móveis e imóveis

com duração superior a um ano, definindo para isso três principais objetivos: a definição de critérios de inventariação, a unificação de critérios e a inventariação” (Silva, 2011, p. 18).

2.3.2. Balanço

De todas as demonstrações financeiras, o Balanço ganha a maior importância, como nos é evidenciado no POCP, por ter sido “criada uma conta de imobilizado específica para os bens de domínio público”10. É nesta demonstração financeira que se encontram explanados os bens afetos à organização, numa relação quantitativa e com informação financeira relevante. Segundo Pinto, Santos e Melo (2013, p. 49), o balanço é “uma demonstração da posição financeira da entidade, (…) permitindo estudar uma entidade na perspetiva da liquidez, da flexibilidade financeira, e da sua capacidade de gerar rendimentos e pagar as suas dívidas”.

7 As amortizações aplicadas pelo CIBE são designadas por amortizações técnicas, visto representarem uma redução gradual do valor contabilístico dos elementos do Imobilizado.

8 No final do ano de aquisição.

9 Esclarecido pela Nota Técnica (NT) 03/FIN/09, de 17 de dezembro, que estabelece os procedimentos para imobilizados de baixo valor. Este valor é sofrível de atualização, mas mantem-se desde a data da publicação da NT referida.

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Neste ponto de vista, o Balanço verte a situação patrimonial da organização fazendo a distinção entre o Ativo, que compreende o capital fixo e o capital circulante; e os Fundos Próprios e Passivo, que compreendem fontes de financiamento das aplicações, resultados e créditos concedidos à organização (Frade, 2003).

Nesta relação par, deveremos ter sempre um equilíbrio entre o Ativo e Passivo, sendo o primeiro constituído pelas classes 1 – disponibilidades, classe 2 – dívidas a receber, classe 3 – existências e classe 4 – imobilizado, e o segundo pelas dívidas a terceiros, também contemplados pela classe 2, e os diferimentos e acréscimos. Salientam-se para a matéria em estudo as classes 3 – existências, anteriormente designada por consumíveis, onde mantemos presente uma relação quantitativa dos bens, estes relacionados com as despesas e consumos correntes, sendo perecíveis de armazenamento; e a classe 4 – imobilizado, classe essa que inclui os bens do imobilizado corpóreo, onde designamos o tipo de bem e o seu uso final, estando-lhe associadas despesas de caráter plurianual e estabelecendo uma relação forte com o CIBE (Idem).

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