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1. OS CUSTOS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL FEDERAL

1.2 OS CUSTOS NAS CIÊNCIAS ECONÔMICAS E CONTÁBEIS

1.2.5 A contabilização dos custos plenos

A noção de contabilização dos custos plenos, full costs accounting em inglês, não é só um conceito descritivo de uma ação, mas sim uma categoria teórico-empírica, pois descreve toda uma mudança de mentalidade no mundo dos negócios, que na prática ocorre por comportamento pró-ativo de atores políticos, de homens de negócios de mente arejada, liderando a introdução na contabilidade de custos das grandes corporações a parcela de custos societais ou sociais (custos sociais e ambientais), que para muitos são considerados custos ocultos, custos externos, etc.

Convém esclarecer que a contabilização dos custos plenos altera a visão tradicional da contabilidade de custos das empresas, que na maioria dos casos entende que os custos totais da operação dessas empresas, são formados por custos fixos e custos variáveis.

A corporação pioneira na implantação da prática da contabilização dos custos plenos foi a Ontário Hydro, empresa canadense proprietária de vários estabelecimentos geradores de energia elétrica incluindo usinas hidrelétricas, termoelétricas e nucleares. Pelo fato de vender energia elétrica para os Estados Unidos da América, a alta direção da empresa desde há algum tempo, pelo menos desde a década de 1970, vem nas suas demonstrações contábeis e relatórios financeiros, incluindo paulatinamente este tipo de contabilização durante as décadas de 1970 e 1980.

Várias modificações na direção dessa empresa ocorreram após 1992, após ter acontecido a Conferência do Meio Ambiente Humano em 1972 e a Eco-92, quando Maurice

Strong, um gestor e dirigente canadense que por sua mentalidade arejada, flexibilidade de negociação entre grupos de interesses conflitivos (desenvolvimentistas e ecologistas) começa a trabalhar na Ontário Hydro e a motivar a empresa a implantar o desenvolvimento sustentável em toda a sua estrutura, baseada na sua experiência como Secretário das citadas conferências e por ter sido o primeiro Secretário do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA.

A maneira que Maurice Strong encontrou foi criando uma força-tarefa interdisciplinar em 1993 que desenvolvesse a elaboração e internalização da estratégia do desenvolvimento sustentável, com base na Agenda 21, produzida na Eco-92. A partir da definição de uma política de responsabilidade sócio-ambiental e a reorganizar a contabilização dos custos na organização e gestão da Ontário Hydro. Com a criação dessa equipe de trabalho interdisciplinar, essa empresa canadense inicia a criação de diretrizes para internalizar a contabilização dos seguintes grandes grupos de vetores de custos: a) gestão de materiais e resíduos; b) gestão da água; c) gestão do ar; d) gestão do uso da terra; e) programas ambientais (estudos de custos sociais, auditorias ambientais, iniciativas ambientais corporativas, etc); e um programa de eficiência energética e tecnologia de energia renovável (ONTÁRIO HYDRO, 1996). A implantação da contabilização dos custos plenos nessa empresa seguiu as diretrizes definidas pela EPA norte-americana em um documento oficial chamado Uma introdução para a contabilização ambiental.

Em 1996, a Ontário Hydro é convidada pela IFC – a empresa financeira do Banco Mundial, para apresentar um estudo de caso de sua experiência. Essa iniciativa e sua divulgação, mostra que uma mudança está ocorrendo na gestão das grandes empresas dos países desenvolvidos. Dado que administradores, economistas, contabilistas, engenheiros, biólogos, ecologistas e outros profissionais participaram desse esforço, associações nacionais de contabilistas, primeiro do Canadá, depois do Reino Unido se articulam para assimilar profissionalmente tais reorganizações da mensuração dos custos plenos nas grandes empresas, envolvendo também economistas, administradores e técnicos dos governos na área da política ambiental e de outros órgãos públicos. Tais preocupações geraram vários artigos em gestão ambiental empresarial (EPSTEIN, 1996), relatórios de contabilistas no Canadá (CICA, 1997), no Reino Unido (ACCA, 2001). Foram criados cursos de capacitação na incorporação dos custos sociais e ambientais nos sistemas tradicionais de contabilidade empresarial nos Estado Unidos (CONWAY-SCHEMPF, 1998) e provavelmente no Canadá e outros países europeus.

Dois autores seguidores da economia ecológica no Reino Unido mostram em um capítulo de livro, que a internalização das variáveis sócio-ambientais, são possíveis pela abordagem da análise do ciclo de vida e pela contabilização dos custos plenos (GALE; STOKOE, 2001). A figura 1 extraída e adaptada mostra uma comparação entre o que inclui

os sistemas tradicionais de contabilização empresarial e a contabilidade ambiental já assumindo a filosofia da contabilização dos custos plenos. Pela observação da figura 1, a contabilização dos custos plenos é definida pela inclusão dos custos sociais e ambientais suportados pela sociedade.

Se no âmbito das empresas tais mudanças vinham ocorrendo, um movimento similar e paralelo foi desenvolvido pelos economistas especializados em economia do meio ambiente, elaborando o desenho das contas ambientais para a sua inclusão na Contabilidade Social dos países. Destacam-se alguns esforços realizados por esses economistas e retirados da bibliografia estudada. Foram elaborados a contabilização econômica e ambiental integrada para a Papua Nova Giné (BARTELMUS, ET alii, 1992). Logo a seguir foi apresentada ao Banco Mundial uma proposta de operacionalização da contabilidade ambiental do ponto de vista das Contas Nacionais (BARTELMUS; van TONGEREN, 1994). Uma discussão sobre a mensuração do desenvolvimento, usando a noção keynesiana de custo de uso foi elaborada também na perspectiva da Contabilidade Nacional (EL SERAFY, 1995). E antes de terminar a década de 1990 mais uma proposta de inclusão das contas ambientais na Contabilidade Nacional das Philipinas foi apresentada (BARTELMUS, 1999).

Figura 1 - A Relação entre a Contabilidade Ambiental e outras formas de Contabilidade

Fonte: Adaptação própria de

GALE, Robert J. P.; STOKOE, Peter K. (2001, p.135)

Custos

Financei- ros Diretos e Indiretos

Custos Contingentes Reconhecidos

Uma ampla gama de Custos Diretos,Indiretos, contingentes e menos custos quantificáveis

Custos Sociais (sociais e ambientais) Externos suportados pela sociedade Contabili- dade Convencional de Custos incluindo Custos baseados em atividades Avalia- ção de Custos Totais Contabi -lização dos Custos Plenos

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