The City Next Door; Branding Alexandria, Egypt
3. Apresentação e discussão de resultados 1 Dados sociodemográficos dos inquiridos
3.2 Relação estabelecida entre residentes e visitantes 1 Frequência do contacto
3.2.2 Contacto turista-residentes e capacidade de carga
Como se pode verificar nas Tabelas 2 e 3, o contacto entre turista-residente tende a ser maior nos inquiridos ligados ao setor do Turismo, Comércio e Serviços. Estes residentes reconhecem que o desenvolvimento do turismo é favorável nos vários contextos em que se insere. Para esta análise foram considerados os residentes que responderam positivamente relativamente às variáveis do estudo. Em termos gerais, esta análise permite-nos concluir que a maioria dos inquiridos gostam de ver turistas na cidade, contactar com outras culturas e consideram que o turismo traz dinamismo à cidade. No entanto, 40% dos inquiridos de ambos os setores de atividade reconhecem que já tiveram de alterar o seu estilo de vida devido à presença de turistas na cidade. Apenas 43.3% dos inquiridos ligados a outros setores de atividade consideram que o turismo reforça o orgulho portuense, contrastando com os 66.7% dos inquiridos ligados ao setor do Turismo, Comércio e Serviços. Uma grande percentagem dos inquiridos ligados a outros setores de atividade considera que a presença dos turistas afasta a presença dos residentes e que as atrações são voltadas exclusivamente para os turistas (73.3% e 63.3%, respetivamente). Mais de metade dos inquiridos ligados ao setor do turismo, comércio e serviços consideram que a presença de turistas afasta a presença dos residentes (53.3%), no entanto apenas 31.1% destes inquiridos consideram que a cidade já atingiu o limite máximo de turistas, contrastando com os 68.3% de outros setores de atividade.
Mais de metade dos inquiridos ligados ao setor do Turismo, Comércio e Serviços (57.8%) consideram que a cidade está preparada para receber mais turistas, contra 26.7% dos inquiridos ligados a outros setores de atividade. Apenas 20% dos inquiridos ligados a outros setores de atividade consideram que a autarquia local está a tomar medidas para controlar a massificação turística e 63.3% consideram que as atrações são viradas exclusivamente para os turistas. Concluímos com esta análise que os residentes com atividades ligadas ao Turismo, Comércio e Serviços e que destas atividades beneficiam diretamente, tendem a ter perceções mais positivas face à presença de turistas na cidade. Os inquiridos ligados a outros setores de atividade defendem que os visitantes afastam a presença dos residentes (73.3%), as atrações são viradas exclusivamente para os turistas (63.3%) e que a capacidade de carga da cidade está a ser ultrapassada (68.3%). Para Eusébio e Carneiro (2010), citados em Eusébio e Carneiro (2012), quando os residentes percecionam os benefícios do turismo tendem a desenvolver atitudes favoráveis em relação ao turismo, contribuindo assim para uma maior interação com os visitantes. Esta interação poderá contribuir para um aumento da satisfação dos residentes e consequente satisfação dos visitantes.
133 Turismo, Comércio
e Serviços Outros Total
X2 Sig. N (45) % N (60) % N (105) % Gosta de contactar com
turistas?
Gosta de ver turistas na cidade? 31 35 68.9 77.8 29 42 48.3 70.0 60 77 57.1 73.3 5.026 1.323 0.081 0.516
Gosta de contactar com outras culturas?
44 97.8 54 90.0 98 93.3 2.500 0.114
Os turistas trazem dinamismo a cidade
41 91.1 53 88.3 94 89.5 0.212 0.646
O turismo reforça o orgulho portuense
30 66.7 26 43.3 56 53.3 5.625 0.018**
Costuma dar informações aos turistas
Alguma vez alterou os seus hábitos/estilos de vida por causa da presença de turistas
34 18 75.6 40.0 45 24 75.0 40.0 79 42 75.2 40.0 0.004 0.000 0.948 1.000
Alguma vez se privou de participar em atividades da cidade por causa da presença de turistas
Alguma vez foi impedido de aceder a locais da cidade por causa da presença de turistas A presença de turistas afasta a presença dos residentes
Existem locais no Porto onde preferia não encontrar turistas?
Considera que a cidade já atingiu o limite máximo de turistas?
Considera que a cidade está preparada para receber mais turistas?
Participa em ações de planeamento turístico Considera que a autarquia está a tomar medidas para controlar a massificação turística?
Considera que as atrações são viradas, exclusivamente, para os turistas 14 14 24 15 14 26 6 21 17 31.1 31.1 53.3 33.3 31.1 57.8 13.3 46.7 37.8 22 24 44 29 41 16 4 12 38 36.7 40.0 73.3 48.3 68.3 26.7 6.7 20.0 63.3 36 38 68 44 55 42 10 33 55 34.3 36.2 64.8 41.9 52.4 40.0 9.5 31.4 52.4 0.352 0.880 4.507 2.377 14.283 10.370 1.326 8.485 6.733 0.553 0.348 0.034** 0.123 0.000* 0.001* 0.249 0.004* 0.009*
134 lhe desagrade
particularmente? 14 31.1 22 36.7 36 34.3 0.352 0.553 Fonte: Elaboração própria.
* p<0.01 ** p<0.05
3.3 Impactos do turismo na comunidade local
Como demonstrado na Tabela 4, a percepção dos benefícios avindos do turismo são maioritariamente de natureza económica (4,05). Estes valores são superiores nos inquiridos ligados ao setor do Turismo, Comércio e Serviços. Em menor escala estão os benefícios ambientais percebidos pelos residentes com uma média total de 2,10 e uma percentagem de 7.7%, entre os que consideram os impactos positivos ou extremamente positivos. São os inquiridos ligados a Outros setores de atividade que percecionam impactos menos positivos a este nível (1.7% contra 15.6% de outros setores de atividade). A nível sociocultural, os benefícios do turismo são percebidos maioritariamente nos inquiridos ligados ao setor do Turismo, Comércio e Serviços com uma percentagem de 57.8% comparativamente com Outros setores de atividade (26.7%). No geral, os residentes com atividades ligadas ao Turismo, Comércio e Serviços consideram positivo o desenvolvimento turístico na cidade nos vários contextos em que se insere comparativamente com outros setores de atividade, sendo as diferenças estatisticamente significas. Tal como sustenta a revisão de literatura utilizada para o presente artigo os residentes com interesses comerciais na área do turismo e que deste setor dependem e beneficiam economicamente expressam atitudes mais favoráveis face ao desenvolvimento do turismo. Os benefícios económicos continuam a ser os mais citados quando a literatura associa os impactos positivos do turismo.
Tabela 4. Impactos do turismo: económicos, socioculturais e ambientais (apreciação global)
Em que medida considera positivo o desenvolvimento do turismo na cidade do Porto:
Turismo, Comércio e Serviços (45) Outros (60) Total (N=105) t- value Sig. Concorda 1 (%) Valores médios2 Concorda 1 (%) Valores médios2 Concorda 1 (%) Valores médios2 A nível económico 86.7 4.40 60.0 3.78 71.4 4.05 3.405 0.001* A nível sociocultural 57.8 3.69 26.7 3.02 40.0 3.30 3.260 0.002* A nível ambiental 15.6 2.36 1.7 1.92 7.7 2.10 2.295 0.024** Fonte: Elaboração própria.
Notas: 1 Percentagem de respondentes que concordam são os que responderam 4 ou 5 na escala de Likert de 5 pontos; 2 a escala varia de 1=nada positivo até 5=extremamente positivo.
* p<0.01 ** p<0.05
Como evidenciado na Tabela 5, os inquiridos ligados ao setor do Turismo, Comércio e Serviços tendem a percecionar os impactos positivos do turismo, ao contrário dos inquiridos ligados a outros setores de atividade que tendem a percecionar impactos mais negativos associados ao setor. Tal como defende a literatura, os impactos mais citados são essencialmente de natureza económica, no entanto existem outros impactos de que o setor turístico poderá ser responsável: impactos socioculturais e ambientais. A nível económico, todos os inquiridos tendem a percecionar impactos positivos ao nível do aumento do emprego (76.2%), no entanto apenas os inquiridos ligados ao setor do Turismo, Comércio e Serviços é que associam impactos positivos no aumento do rendimento (68.8%). Em termos negativos, todos os inquiridos associam impactos de grande escala ao nível do aumento do custo de vida (78.1%) e do preço das habitações (88.5%). Estes impactos estão ligados ao papel dos turistas como consumidores, que atuam como verdadeiros “gentrificadores”. Estes alcançam espaços com maior poder aquisitivo em comparação com os locais, levando a um aumento geral dos preços e tornando-os insuportáveis para os residentes. A nível sociocultural, os inquiridos ligados ao setor do Turismo, Comércio e Serviços tendem a percecionar impactos positivos em grande escala no aumento do empreendedorismo (88.9%), recuperação de espaços degradados (88.9%), contribuição para a preservação do património (75.6%) e aumento do contacto e interação com os turistas (100% e 88.9%, respetivamente). Esta interação, tal como defendido pela literatura utilizada no presente estudo, tende a
135
percecionar impactos socioculturais negativos relacionados com o fenómeno da gentrificação (81.0%), precariedade no setor hoteleiro, restauração e similares (67.6%) e nas alterações de estilos de vida (63.8%). Muitas vezes, os residentes têm de aceitar os efeitos da superlotação e alterar o seu modo de vida. Em casos extremos a população local pode ser impedida de desfrutar das instalações naturais de seu próprio pais ou região. Os principais beneficiados são os proprietários de terrenos, os empreendedores imobiliários e os turistas. A maioria prejudicada é a população dos bairros locais, que se vê obrigada a deslocar-se para a periferia. A nível ambiental, os inquiridos tendem a associar impactos menos positivos, nomeadamente ao nível da poluição (ar, água, lixo, ruído) e problemas associados ao tráfego (69.5% e 72.4%, respetivamente). Os custos ambientais percebidos são elevados em ambas as variáveis do estudo, no entanto são os inquiridos ligados ao setor do Turismo, Comércio e Serviços que tendem a associar impactos mais negativos a este nível.
Tabela 5. Impactos positivos e negativos do turismo (análise por setor de emprego)
Turismo, Comércio e Serviços (n1=45) Outros Total t-value Sig. (n2=60) (N=105) Concorda 1 Valores médios2 Concorda 1 Valores médios2 Concorda 1 Valores médios2 (%) (%) (%) Impactos económicos positivos Aumento do rendimento 68.8 3.84 38.3 2.92 51.4 3.31 3.424 0.001* Aumento do emprego 4.581 0.850 93,3 4,33 63,3 3,48 76,2 3,85
Melhoria das infraestruturas
básicas 44,4 3.22 41,7 3,23 42,9 3,23 -0.055 0.956
Impactos económicos
negativos
Aumento do custo de vida 71.1 4.20 83.4 4.32 78.1 4.27 -0.619 0.537
Aumento dos preços da
habitação 84.5 4.44 91.7 4.63 88.5 4.55 1.170 0.245 Impactos socioculturais positivos Aumento da qualidade de vida 44.5 2.96 13.3 2.22 26.6 2.53 2.816 0.006* Aumento do empreendedorismo 88.9 4.40 70.0 3.78 78.1 4.05 3.878 0.000* Aumento da disponibilidade de serviços 42.3 3.27 46.7 3.15 44.8 3.20 0.526 0.600 Aumento de ofertas recreativas 75,5 3,93 63,3 3,63 68,6 3,76 1,570 0,120 Aumento da procura de atividades recreativas pelos residentes
46.7 3,27 31,7 2,90 38,1 3,06 1,654 0,101
Aumento da participação dos
residentes nas políticas locais 46,7 3,47 28,4 2,88 36,2 3,13 2,660 0,009*
Ressurgimento das tradições
locais 37,8 3,02 28,3 2,57 32,4 2,76 1,844 0,068
Aumento de eventos e
136
de outras culturas 75,6 4,13 61,7 3,63 67,7 3,85 2,789 0,006*
Aumento do contacto com
turistas 100 4,69 78,4 4,17 87,6 4,39 4,025 0,000* Aumento do conhecimento da cultura local 68,9 3,84 51,7 3,28 59,0 3,52 2,613 0,010* Contribuição para a preservação do património 75,6 4,00 51,6 3,32 61,9 3,61 3,280 0,001* Aumento da procura de atividades culturais pelos residentes 46,6 3,29 26,7 2,90 35,3 3,07 1,725 0,088 Aumento da disponibilidade de serviços e atividades culturais 66,7 3,80 55,0 3,38 60,0 3,56 2,089 0,039** Recuperação de espaços degradados 88,9 4,29 71,6 3,75 79,1 3,98 2,948 0,004*
Aumento da interação com
turistas 88,9 4,36 68,4 3,77 77,2 4,02 3,453 0,001*
Aumento da formação dos
profissionais de hotelaria 73,3 4,07 70,0 3,83 71,5 3,93 1,258 0,211
Impactos socioculturais
negativos
Alteração dos estilos de vida 68,9 3,76 60,0 3,77 63,8 3,76 0,090 0,928
Aumento do stress 42,2 3,24 58,3 3,68 51,4 3,50 1,790- 0,076
Aumento de atividades ilícitas (crimes, droga, prostituição e roubo)
22,2 2,67 30,0 2,85 26,6 2,77 0,756 0,451
Alteração das tradições locais 42,2 3,16 40,0 3,13 41,0 3,14 0,09 0,928
Restringir o número de áreas públicas a que tem livre acesso
31,1 2,89 38,3 3,18 35,2 3,06 1,41 0,161
Aumento da gentrificação (deslocamento dos residentes para a periferia) 75,6 3,91 85,0 4,37 81,0 4,17 1,8 0,075 Aumento do trabalho precário em hotelaria, restauração e similares 57,8 3,49 75,0 4,00 67,6 3,78 2,139 0,035** Impactos ambientais positivos Aumento da preocupação com o ambiente 44,5 3,07 21,7 2,58 31,5 2,79 2,187 0,031** Aumento da preservação ambiental 31,1 2,78 18,4 2,52 23,8 2,63 1,194 0,235 Impactos ambientais negativos
Aumento da poluição (ar,
137 Fonte: Elaboração própria.
Notas: 1 Percentagem de respondentes que concordam são os que responderam 4 ou 5 na escala de Likert de 5 pontos; 2 a escala varia de 1=discordo completamente até 5=concordo completamente.
* p<0.01 ** p<0.05
CONCLUSÃO
O turismo enquanto fenómeno mundial não está somente ligado aos fatores económicos, mas também aos fenómenos ambientais, sociais e culturais, impactuando nos vários destinos onde se desenvolve. Quer isto dizer que os impactos do turismo no destino poderão influenciar a própria vida dos residentes, e consequentemente, a interação que estes estabelecem com os visitantes do destino. Quando falamos em desenvolvimento turístico dos destinos, os residentes identificam impactos favoráveis ou desfavoráveis que o turismo poderá ser responsável (Andereck et al., 2005). O presente estudo permite-nos concluir que os inquiridos ligados ao setor do Turismo, Comércio e Serviços tendem a associar em maior grau os impactos positivos do setor. Os inquiridos associam impactos económicos, socioculturais e ambientais. Os benefícios percebidos são, essencialmente, de natureza económica e os custos de natureza ambiental. Tal como sustenta a literatura, os residentes ligados ao setor do Turismo e que dele beneficiam diretamente, tendem a percecionar impactos positivos e a desenvolver atitudes favoráveis face ao desenvolvimento do setor. Quando os benefícios do turismo são maiores que os seus custos, os residentes terão uma atitude positiva e favorável face ao desenvolvimento turístico (Ap, 1992). Por sua vez, quando os residentes percecionam impactos negativos, ou percebem que os custos são maiores que os benefícios, tendem a desenvolver atitudes negativas e desfavoráveis. O estudo permite- nos concluir que os inquiridos ligados a outros setores de atividade tendem a percecionar impactos mais negativos ou associam os benefícios deste desenvolvimento em menor grau, traduzindo-se em atitudes desfavoráveis que poderão colocar em causa a satisfação dos visitantes. Os impactos negativos são maioritariamente de ordem ambiental e sociocultural. Em termos económicos, estes inquiridos tendem a associar impactos positivos, principalmente ao nível do emprego. Os inquiridos ligados a outros setores de atividade gostam de ver turistas na cidade, mas consideram que a sua presença afasta a presença dos residentes. Consideram ainda que as atrações são exclusivamente viradas para os visitantes e que a cidade não está preparada para receber mais turistas, defendendo inclusivamente que a capacidade de carga do destino já terá sido ultrapassada. Em geral, os inquiridos associam impactos negativos ao nível do aumento do preço das habitações, aumento do custo de vida, deslocamento dos residentes para a periferia da cidade, alterações no estilo de vida, precariedade em hotelaria, restauração e similares, poluição e tráfego. Em termos positivos, reconhecem benefícios ao nível do emprego, aumento do empreendedorismo, aumento do contacto com os visitantes, recuperação de espaços degradados, aumento de ofertas recreativas e aumento da formação dos profissionais de hotelaria. Quando os residentes percecionam os benefícios do turismo tendem a desenvolver atitudes favoráveis em relação ao turismo, contribuindo assim para uma maior interação com os visitantes. Esta interação tende a ser maior nos inquiridos ligados ao setor do Turismo, Comércio e Serviços tal como é demonstrado nas Tabelas 2 e 3. Esta interação poderá contribuir para um aumento da satisfação dos residentes levando ao desenvolvimento de atitudes mais favoráveis face ao desenvolvimento turístico. Para investigações futuras, seria interessante analisar os impactos do turismo e a relação residente- visitante nos inquiridos que vivem mais próximos ou afastados das áreas com maior densidade turística e nos inquiridos nativos ou recém-chegados à comunidade. A revisão de literatura utilizada e a recolha de dados efetuada permite-nos concluir que estas poderão ser variáveis de estudo interessantes para futuras investigações.
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