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Contato com o tato: entendendo este sistema sensorial Desde 300 a.c o sentido do tato conquistou o fascínio dos cientistas Aristóteles foi o

2 Revisão teórica

2.4 Contato com o tato: entendendo este sistema sensorial Desde 300 a.c o sentido do tato conquistou o fascínio dos cientistas Aristóteles foi o

primeiro a reconhecer o tato como um dos cinco sentidos primordiais que auxilia na forma como o mundo é percebido pelos indivíduos (NELSON; LUMPKIN, 2011).

Na evolução dos sentidos, o tato é o primeiro a ser desenvolvido no ser humano quando este ainda encontra-se no ventre da mãe, e corresponde ao principal meio para conhecer o mundo durante a infância e até mesmo na fase adulta (FIELD, 2001). De acordo com Montagu (1986), pode-se dizer que o toque foi o primeiro sistema sensorial a se tornar funcional em todas as espécies animais até agora estudadas, e no que diz respeito ao ser humano, tem-se que todas as atividades desenvolvidas por ele, como por exemplo, pentear os

cabelos, se alimentar, tarefas escolares ou relacionadas ao trabalho, são dependentes do sistema tátil (AQUILLA; YACK; SUTTON, 2003).

A pele é um órgão tátil envolvido não só na proteção do corpo humano, como também no crescimento e desenvolvimento do organismo, além de ser um importante meio de comunicação, uma vez que a sensação de toque é a primeira a se desenvolver no embrião humano (MONTAGU, 1986). Esta mesma autora enfatiza que a pele é o mais antigo, maior e sensível dos órgãos humanos e sua função sensorial consiste em perceber os estímulos de calor, frio, toque, pressão, e dor, por meio dos inúmeros receptores sensoriais localizados em sua camada mais superficial, a epiderme, a qual abriga o sistema tátil, permitindo assim que o indivíduo perceba o mundo externo e aprenda sobre o seu ambiente. Este aprendizado ocorre desde a infância, pois nesta fase a criança explora o mundo físico e o sentido do tato a auxilia na descoberta das propriedades dos objetos, a exemplo da elasticidade, forma, suavidade, temperatura, ou textura (FIELD, 2001). Complementando este entendimento, Santaella (2001, p. 77-78) afirma que:

O sistema tátil é constituído, ele mesmo, de cinco sentidos: pressão, calor, frio, dor e cinestesia, que geram o toque cutâneo restrito à pele, o toque háptico, na junção da pele com o movimento das juntas, o toque dinâmico, envolvendo pele, juntas e músculos, o toque térmico, aliado à vasodilatação ou vasoconstrição e o toque orientado, levando à percepção dos objetos em relação à gravidade. Diferentemente dos outros sistemas perceptivos, aparentemente mais localizados, o sistema háptico inclui todo o corpo.

De forma sucinta, conforme Loomis e Lederman (1986), o sentido háptico (tato) refere-se à percepção mediada tanto pela sensibilidade cutânea, a qual indica o contato da pele com o estímulo, como pelos estímulos cinestésicos, os quais são responsáveis por transmitir informações sobre a localização espacial do corpo, pelos movimentos corporais e esforço muscular, sem a utilização da visão. Os mesmos autores observam que a sensibilidade cutânea auxilia no contato com o estímulo, ao passo que as variações em estimulação cinestésica transmitem toda a informação espacial essencial para a execução de uma determinada tarefa ajeitar. Porém, Tiest (2010) destaca que a utilização de ambos os estímulos permitem que uma maior riqueza de informações sobre o mundo sejam exploradas pelos indivíduos.

No que concerne os indivíduos com deficiência visual, estes possuem um modo particular de estar, perceber e compreender o mundo (BELARMINO, 2008). Em decorrência da ausência da visão, o entendimento visual de um objeto ou de uma situação será reforçado pela experiência tátil (PADULA; SPUNGIN, 2000). Conforme Griffin e Gerber (1996) as informações do ambiente captadas por este sentido, apresentam-se menos refinadas quando comparadas com as informações obtidas pela visão. Pode-se dizer que “o tato permite analisar

um objeto de forma parcelada e gradual. A visão, ao contrário, é sintética e globalizadora. Assim, as informações parciais fornecidas pelo tato precisam ser integradas, para chegar a uma conclusão global” (GIL, 2000, p. 29). Griffin e Gerber (1996) complementam afirmando que a ausência do sentido da visão implica na necessidade de experiências alternativas de desenvolvimento, no intuito de promover capacidades sócio-adaptativas. Para tanto, é necessária a exploração do desenvolvimento tátil pelo indivíduo ainda quando criança, o qual consiste em cinco etapas.

A primeira fase é consciência das qualidades táteis que consiste em perceber pelo movimento das mãos as características hápticas dos objetos, incluindo, texturas, temperaturas, superfícies vibráteis e os mais variados tipos de consistências. Nesta fase também é possível apreender os contornos, tamanhos e pesos. A segunda fase abrange o conceito e o reconhecimento de forma, ou seja, a capacidade da criança deficiente visual de distinguir a forma de um objeto. Uma vez distinguindo, a terceira fase que é a representação gráfica, encarrega-se de apresentar as formas geométricas tridimensionalmente pelo manuseio de objetos sólidos antes de progredir para a representação bidimensional. As representações gráficas podem ser, por exemplo, em relevo, linhas retas e curvas, formas geométricas e contornos de objetos. A fase final do desenvolvimento da modalidade tátil é o sistema de simbologia, o qual não possui semelhança com o objeto, mas leva ao entendimento e significado do mesmo. Um dos sistemas mais comuns é o Braille que possui pontos em alto relevo, perceptíveis pelo tato, os quais representam os elementos da linguagem (GRIFFIN; GERBER, 1996). Estes autores ressaltam também que essas etapas da modalidade tátil permitem que as crianças cegas interpretem de forma complexa o ambiente. É necessário trabalhar o tato e as habilidades manuais para que a pessoa possa aprender o braille e desempenhar com mais facilidade e eficiência as atividades da vida diária (GIL, 2000). Além disso, as pessoas com deficiência visual que tem o hábito de ler por meio do sistema braille ou que executam trabalhos manuais tendem a desenvolver maior refinamento do tato (SÁ; CAMPOS, SILVA, 2007)

Gil (2000, p.24) afirma que “as mãos são os olhos das pessoas com deficiência visual. O uso das mãos como instrumento de percepção deve ser intensamente estimulado, incentivado e aprimorado”. Assim, para que o sentido do tato e seus principais agentes que são as mãos se coloquem a serviço da pessoa com deficiência visual é necessário que o indivíduo desenvolva duas habilidades: ‘educar’ a mão para que ela se transforme em um órgão de percepção, em um instrumento de exploração e conhecimento aguçado, e desenvolver a coordenação bimanual (das duas mãos), pois a coordenação ouvido/mão precisa

substituir a coordenação olho/mão estabelecida pelos indivíduos que possuem o sentido da visão (GIL, 2000).

É importante considerar que as pessoas com deficiência visual possuem a colaboração dos demais sentidos para perceber e compreender o mundo em sua volta, apesar de possuir como fonte mais importante de percepção, o sentido do tato (BELARMINO, 2008). A referida autora complementa afirmando que nos indivíduos cegos, seus pés enviam continuamente informações ao cérebro; a bengala funciona como uma extensão da percepção tátil das suas mãos; os ouvidos são encarregados da ecolocalização e o olfato oferece uma série de informações sobre o ambiente à sua volta. Sá, Campos e Silva (2007) acreditam que o desenvolvimento aguçado da audição, do tato, do olfato e do paladar é resultante da ativação contínua desses sentidos por força da necessidade que as pessoas com deficiência visual possuem interpretar o mundo a sua volta, assim estes sentidos remanescentes funcionam de forma complementar e não isolada.

Pode-se dizer, que as informações apresentadas sobre o sentido do tato se faz essencial para papel exercido por este sentido na experiência de consumo de roupas e calçados das PcDs visual no ambiente de varejo. Sendo assim, na próxima seção, são apresentadas as principais contribuições teóricas sobre o construto experiência de consumo.