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CAPÍTULO V – UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

5.1 Breve histórico sobre as unidades de conservação

5.1.2 Contexto brasileiro

É cediço que a forma de colonização brasileira realizada pela ocupação e exploração predatória, mormente na área litorânea de todo o território brasileiro, foi extremamente prejudicial para o meio ambiente. O legado deixado marcou profundamente os ecossistemas naturais e perpetuou uma relação de usufruto predatório sem precedentes. Assim, vários ambientes naturais foram devastados, aterrados e modificados por ações antrópicas. Hodiernamente, como consectário lógico da necessidade de alteração desse quadro, tenta-se buscar um resgate desses ambientes.

Ao se falar desta temática, devemos abrir um parêntese para refletir sobre o histórico das Unidades de Conservação no Brasil que teve início com a proposta do Engenheiro André Rebouças de criar dois parques no ano de 1876: um na Ilha do Bananal e outro na região das Sete Quedas. Contudo, essa proposta não foi concretizada, e só em 1937 foi criado o primeiro parque nacional brasileiro: o Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Janeiro. Mesmo assim, é importante lembrar que os primeiros dispositivos voltados à proteção de áreas ou recursos em terras brasileiras têm seu registro ainda no período colonial.

Foram implementadas várias iniciativas relacionadas à proteção da natureza, no país como um todo. Na década de 30, ocorre um processo de transformação no

78 Brasil, passando de país agrário para urbano-industrial. Esse período foi marcado por transformações estruturais e pela necessidade de controle e gestão dos recursos naturais pelo Estado, exigindo um maior controle da política de implementação de área protegidas (GUERRA,2009). Nesse contexto, várias ações foram realizadas, merecendo grande destaque, o ano de 1934, quando foi decretado o Código de Águas e Minas e o Código Florestal. Sobre este assunto Franco (2010 p. 209) escreve:

O código florestal foi especialmente importante para a história das áreas protegidas no Brasil. Instituído pelo Decreto 23.793 de 23 de janeiro de 1934, ele definiu que as florestas nativas seriam consideradas de interesse comum a todos os habitantes do país e, por isso, sobre elas deveria haver limitações aos direitos de propriedade. Dentro desse contexto, a década de 1960 foi especialmente marcada pela criação do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), órgão responsável pela criação e manejo das unidades de conservação. Em 1964, foi decretado o Código Florestal que instituía as áreas de preservação permanente e as reservas legais. O relato de Guerra (2009, p. 42) caracteriza muito bem esse momento:

O governo criou o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), em 1967, como autarquia do Ministério da Agricultura responsável por parte da execução da política ambiental, incluindo a gestão de todas as unidades de conservação federais existentes.

No início da década de oitenta, mais precisamente em 1981, foi promulgada a Lei 6.983/81, que instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente e o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). Com o advento da legislação foram estabelecidos os órgãos responsáveis pela gestão dos recursos naturais. Nesse aspecto, trata-se de um período de pretensão de gestão integrada dos recursos naturais, com o surgimento — além do elemento estatal/governamental — de novos atores nesse processo, com destaque para o setor privado e da sociedade civil organizada. A consolidação desse processo tem seu ápice com o advento da Constituição Federal de 1988, que, dentre outros avanços, trouxe um capítulo específico para o Meio Ambiente, incumbindo ao Estado e à coletividade a responsabilidade pela manutenção de sua qualidade.

79 Em continuidade ao processo de normatização do tema, em 1989 foi criado o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), regulamentado pela Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. Esclareça-se que o órgão criado (IBAMA) foi resultado de instituições anteriormente existentes, tais como IBDF (Secretaria da Agricultura), a SEMA (Ministério do Interior) e das Superintendências do Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE) e do Desenvolvimento da Borracha (SEDHEVEA), ambas do Ministério da Agricultura.

Mais recentemente, em 2007, foi criado pela Lei 11.516 o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), estruturado com natureza de autarquia em regime especial. Trata-se de órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e integra o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). Cabe ao Instituto executar as ações do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, podendo propor, implantar, gerir, proteger, fiscalizar e monitorar as Unidades de Conservação instituídas pela União; com isso, sendo retirada a competência da gestão das unidades de conservação do IBAMA e passando para o novo órgão.

Esboçadas as breves considerações sobre o histórico das Unidades de Conservação, passamos à esquematização das fases da história no Brasil. Esse

esquema possibilita apontar de forma simples como se processou os desdobramentos da criação dessas Unidades de Conservação. A análise da cronologia da implantação de unidades de conservação no território brasileiro pode ser dividida em cinco etapas, como explicitado na figura 16.

1937 1939 1959 1970 1971 1974 1979 2000 2000

80 Figura 16 – Representação esquemática do histórico das Unidades de Conservação no Brasil. Organização: Luana Lopes, 2011.

Nota-se que, em cada um desses momentos históricos, as Unidades de Conservação foram, aos poucos, tomando forma e adquirindo características peculiares. A primeira etapa estende-se de 1937 a 1939, com a criação do primeiro parque nacional, o de Itatiaia. A segunda refere-se à transferência da capital federal para a região Centro-oeste, abrangendo os anos de 1959 a 1970, momento em que o País se volta para o desenvolvimento da região amazônica.

Por sua vez, a terceira etapa compreende o período de 1971 a 1974, com o estabelecimento da Política Brasileira de Parques Nacionais e Reservas equivalentes. A quarta etapa tem início em 1979, chegando até quase aos dias atuais, sendo criadas neste período as estações ecológicas e as áreas de proteção ambiental (APA‘s). Finalmente, no último período, foi consolidada a lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), cujo decreto de regulamentação foi sancionado em 2002, até o momento atual.

Criação do Parque Nacional de Itatiaia Transferência da Capital do país Política brasileira para Parques

Criação de APA‘s e estações ecológicas SNUC

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