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4 DIÁRIOS DE AULA: CONSTRUÇÕES VIVENCIADAS EM PROCESSOS DE

5.1 CONTEXTO DA PESQUISA

O Conjunto Habitacional Hildo Meneguetti, mais conhecido como “Guajuviras”, é uma área de casas e apartamentos que ficou conhecida popularmente com o nome de uma árvore nativa da região. Situamos aqui a Escola Estadual de Ensino Médio, na cidade de Canoas (RS), local em que foi desenvolvida a pesquisa. Inicialmente o bairro onde a escola localiza-se foi constituído por casas e apartamentos da COHAB, ocupados em 1987, a partir de um movimento social pela urgência da questão ambiental em Canoas.

Hoje, com o passar dos anos é composto por várias ocupações e sub-ocupações, ultrapassando 60.000 habitantes. Durante muito tempo, a comunidade não teve acesso à infraestrutura mínima e a busca por essas condições fez que o bairro ficasse conhecido pela luta por moradia e melhores condições de vida. Embora o índice de pobreza e violência ainda seja alto na região, o bairro tem características de urbanidade, com as melhorias que vem sendo implantadas gradativamente: é uma “cidade” dentro da cidade de Canoas.

O Regimento da escola traduz a seguinte ideia: “[...] vivendo sobre essas tensões inconciliáveis, as pessoas buscam uma vida digna, lutam pela qualificação da vida de seus filhos e nessa perspectiva buscaram as escolas das redes estadual e municipal.” A Escola Estadual, contexto da pesquisa, foi uma das conquistas que a população do bairro obteve na qualificação das suas vidas, nasceu para atender e ouvir a comunidade. (REGIMENTO, 2001, p.2).

No Regimento Escolar (2001), é registrado que foi na socialização de encantamentos e desafios, gestados a partir da assunção de uma prática freireana em ação, é explicitado crenças na possibilidade de transformação em movimentos coletivos de debates, de tomada de decisões, de construção do conhecimento, de experiências. Nesse sentido, vem desafiar a concretude dos sonhos de muitos daqueles que acreditam ser a educação um dos instrumentos de contribuição para com o redimensionamento histórico-social-ético-cultural da realidade da comunidade escolar.

Assim, a escola assumiu a prática de saber escutar em movimentos nos quais a intencionalidade é falar com o outro e não a ele, partindo do pressuposto que muitos são os saberes necessários a uma prática educativa realmente comprometida com uma educação emancipatória, na perspectiva de transformação da realidade, a partir de decisões partilhadas coletivamente.

Segundo o Regimento (2001) a pesquisa, como fonte sócio-antropológica, epistemológica e filosófica, desencadeou, então, uma relação significativa entre conhecimento e realidade a partir do exercício do diálogo amoroso e da escuta curiosa, possibilitando, no planejamento, a construção, a (re) construção, a significação e a (re) significação da leitura do contexto.

Ainda segundo a inspiração e ideário que regem a escola investigada, pensar o processo da pesquisa socioantropológica em um movimento de resgatar a escola, como uma das instituições comprometidas com esse processo de transformação, fez com que fosse firmado verdadeiramente um compromisso histórico com a comunidade na qual a mesma está inserida. Esse compromisso com a comunidade perpassa pelo acesso, permanência e aprendizagem de todos, desde o 1º ano do Ensino Fundamental, quando se dá início ao processo de alfabetização.

5.1.2 Critérios de Escolha para os Sujeitos da Pesquisa e Contexto Investigado

Pareceu-nos mais efetivo em termos de investigação eleger o lugar da própria

pesquisadora para desenvolver o estudo, afinal é aí onde a escuta e a escrita produzem a sustentação para o projeto de pesquisa. É onde a análise dos dados coletados ganha significação e contextualização da realidade e aprofundamento teórico. É onde a pesquisadora trabalha desde 1992, 05 anos como alfabetizadora e 15 anos como Supervisora Educacional. Por isso mesmo, se pode esperar que a pesquisa já começasse a se projetar sobre o ambiente analisado desde o início de sua realização.

Dessa forma, a possibilidade de estar inserida em contextos de alfabetização, entre professoras alfabetizadoras, faz com que a inquietude da pesquisadora, em torno de movimentos da construção da leitura e da escrita, faça buscar saberes que possam agregar e qualificar a formação docente das mesmas a fim de contribuir na construção dos conhecimentos dos alunos, já que os índices de aprendizagem nos três primeiros anos do Ensino Fundamental são insatisfatórios.

Assim sendo, o foco da pesquisa se centra nas práticas docentes de professoras alfabetizadoras de 1º, 2º e 3º ano do Ensino Fundamental, em função de acreditarmos que o processo formal de alfabetização se inicia no primeiro ano e se estende nos três primeiros anos, sobretudo, depois da homologação da Lei que foi publicada no Diário Oficial da União, através da Resolução CNE/CEB nº 7, de 14 de dezembro de 2010, homologada pelo Ministro da Educação, definindo:

Art. 30 Os três anos iniciais do Ensino Fundamental devem assegurar:

III - a continuidade da aprendizagem, tendo em conta a complexidade do processo de alfabetização e os prejuízos que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como um todo e, particularmente, na passagem do primeiro para o segundo ano de escolaridade e deste para o terceiro.

§ 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, no uso de sua autonomia, fizerem opção pelo regime seriado, será necessário considerar os três anos iniciais do Ensino Fundamental como um bloco pedagógico ou um ciclo sequencial não passível de interrupção, voltado para ampliar a todos os alunos as oportunidades de sistematização e aprofundamento das aprendizagens básicas, imprescindíveis para o prosseguimento dos estudos. (BRASIL, MEC, 2010)

Para assegurar o cumprimento da referida resolução a escola pesquisada já inseriu a Progressão Continuada em seu regimento a partir do ano letivo de 2011.

5.1.3 Sujeitos da Pesquisa: Perfil e Caracterização

O número de sujeitos participantes do estudo totaliza 05 professoras alfabetizadoras que atuam no 1º, 2º e 3º ano do EF de uma Escola de Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública Estadual, cidade de Canoas (RS). Todas as pesquisadas possuem Habilitação em Magistério e Graduação em Pedagogia.

 Professora A: possui Magistério e Pedagogia com Habilitação em Orientação Educacional e 17 anos de docência. Atualmente atuando no 3º ano.

 Professora B: possui Magistério e Pedagogia com Habilitação em Séries Iniciais e Orientação Educacional e 05 anos de docência. Atualmente atuando no 2º ano.

 Professora C: possui Magistério e Pedagogia com Habilitação em Gestão e Supervisão e 10 anos de docência. Atualmente atuando no 3º ano.

 Professora D: possui Magistério Pedagogia com Habilitação em Séries Iniciais e Educação Infantil e 06 anos de docência. Atualmente atuando no 3º ano.

 Professora E: possui Magistério e Pedagogia com Habilitação em Séries Iniciais e Educação Infantil e 03 anos de docência. Atualmente atuando no 1º ano.

Destaca-se que todas apresentam em comum o fato de possuírem Magistério e formação em Ensino Superior – Graduação em Pedagogia, embora apresentem discrepâncias em termos de tempo de atuação. Isto é posto, pois nos faz pensar em levar em conta este tipo de dado na análise dos resultados alcançados. Atendendo aos critérios éticos de uma investigação, as professoras estão identificadas por letras do alfabeto para preservar o anonimato dos sujeitos pesquisados.

5.1.4 Ética da Pesquisa

A presente pesquisa foi tratada e encaminhada, atendendo as normas do Comitê Científico FACED/PUCRS. Foram encaminhados os documentos necessários: apresentação da pesquisadora, apresentação do projeto à Instituição à qual os sujeitos de pesquisa estão vinculados, assinatura da carta de aceite da Instituição pesquisada, conforme anexos (Anexo A). Da mesma forma foi feito o encaminhamento do Termo de Compromisso Livre e Esclarecido aos sujeitos da pesquisa (Apêndice A).

De acordo com o pronunciamento da Comissão Científica o projeto de pesquisa atende aos requisitos exigidos, sendo aprovado pela Comissão Científica da Faculdade de Educação, conforme parecer em anexo.

5.2 PROBLEMA DE PESQUISA

De que forma os Diários de Aula podem contribuir como instrumento de qualificação profissional no cotidiano de alfabetizadoras do 1º, 2º e 3º ano do EF de uma Escola de Ensino Fundamental e Médio da rede pública de Canoas (RS)?

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