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CONTEXTO E NECESSIDADE DO TRABALHO DE AGENTE COMUNITÁRIO

No documento PR Priscila Molinari Mello (páginas 56-59)

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2 CONTEXTO E NECESSIDADE DO TRABALHO DE AGENTE COMUNITÁRIO

Outro ponto relevante foi em relação ao seu contexto de trabalho e do que os levou a trabalhar como ACS, bem como da sua importância na comunidade, se

gostavam ou não da função e qual sua concepção16 profissional, ao que segue os depoimentos:

“É...em primeiro lugar foi a...a...a...ai não sei a palavra (pausa)...é a... comunidade em si né, pra eu ver...eu ver a situação né da comunidade em si. Todo mundo reclama e fala e ninguém vê a realidade né... E segundo lugar...a disponibilidade de horário que... que.... pesou bastante também né e...em terceiro lugar o...digamos assim...o acolhimento das pessoas porque eu...eu...todo mundo reclamava: ai não tem, não tem...não tem agente né...não tem ninguém que faça (referindo-se que devido a isso as pessoas a acolhem bem)... então daí como apareceu a oportunidade [...] eu me encaixei [...] já fazia três anos que não tinha (nenhum ACS nesta área)”.

A3 O depoimento acima conduz à compreensão de que não se trata de uma decisão por si só, mas a necessidade do trabalho, conforme se segue na continuidade do discurso:

“Eu gosto...eu gosto...eu gosto...eu gosto de trabalhar como agente...apesar de eu tá fazendo um curso que parece que não tem nada a ver (curso superior na área de educação)...mas no fundo eu até acho assim, que quem tá estudando, que nem eu pra trabalhar com criança né...”.

A3 Embora não demonstre clareza, o A3 tenta estabelecer uma relação entre a atual função e o curso superior que está realizando, buscando uma ligação entre as áreas e o conhecimento que está adquirindo, deixando claro que quando tiver a oportunidade, será profissional da educação. O trabalho de ACS pode ser algo momentâneo, para sanar suas necessidades atuais.

Os demais ACS expressam mais claramente que iniciaram sua função também por uma necessidade e não por escolha própria:

“Na verdade...eu já pensei em várias vezes desistir...porque “lutá” com o povo não é fácil né, mas o problema é que faz falta nas visitas né...a gente conhece todo mundo [...] a gente não vai, sente falta né...por o pessoal querer bem né...se eu tivesse umas cinco família que não quisesse visita eu acho que já tinha saído também né..porque é ruim chegar numa casa e não te atender bem né [...] eu gosto por causa disso..no começo eu imaginava que ia ser ruim, porque você chegar todo mês na casa....

P: você começou por uma necessidade de trabalhar então?

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De acordo com o Dicionário de Português online – Michaelis (http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portuguesportugues&palavra=conc ep%E7%E3o), concepção é a “ideia que a pessoa formula da sua própria atuação e status nos grupos sociais a que pertence”.

...uma necessidade...é...esse é verdade. Hoje graças a Deus eu não trabalho por necessidade, trabalho porque gosto.”

A2 “[...] comecei por motivo de saúde né [...] porque eu não podia ficar no serviço mais pesado...por causa do meu problema [...]

A1 “Gosto, nossa gosto muito! (Pausa). Na verdade...eu tava desemprega né, dai até escutei no rádio que tavam contratando estagiário e fui lá me informar, me chamaram e eu tô gostando do meu trabalho...apesar do salário eu gosto, porque você conhece, você cria um vínculo com a pessoa, a pessoa desabafa, às vezes você tá cheio de problema... chega na casa da pessoa... ela começa a falar, falar, você pensa meu Deus, os meus problemas são tão pequeninhos perto dessa pessoa...eu gosto mesmo! P: Você acha importante então este trabalho?!

Importante é né... porque....como que eu vou explicar pra você assim...facilita e muito o trabalho deles aqui daí né (dos profissionais do posto de saúde)...vacina... principalmente a vacina...a importância da vacina, você chega lá né, eu tenho cadastro dos idoso, das criança, chega lá e tomou a vacina? Não? Por que que não tomou a vacina? Daí é cobrado também... então facilita pra gente e pra eles, que você tá ali fazendo a visita...”

A4

Os depoimentos revelam, quase por unanimidade, o gosto por serem Agentes Comunitários de Saúde, mesmo que os motivos iniciais para a escolha da profissão tenham sido diversificados, como necessidade de trabalhar ou por motivo de saúde e disponibilidade de horários.

Os discursos dão ênfase às funções de cuidar de vacina, consulta e hipertensos, o que vem a corroborar com o estudo de Baralhas e Pereira (2011), onde as autoras observaram ênfase dada nos aspectos biológicos e também curativos (principalmente com a prática medicamentosa), sugerindo a tendência ao modelo hegemônico17 já ofertado pelos serviços de saúde, sendo que, embora muitas vezes mencionem a dinâmica da promoção da saúde, seus relatos revelam esta atuação mais voltada às doenças.

Cardoso e Nascimento (2010) também referem que o agente comunitário de saúde tem grande potencial para concretizar a união dos serviços de saúde com a

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O modelo hegemônico na saúde é reducionista, centra-se na doença o orienta-se pela cura. Deveria ser priorizado na prática um modelo de assistência integral, humanizado e comprometido realmente com a comunidade (ALVES, 2005).

comunidade, considerando toda a singularidade deste contexto. Entretanto na prática, observa-se outra direção, focada na doença e no agente de saúde enquanto fiscalizador, atitudes estas reforçadas pelo sistema de saúde hierárquico.

Embora gostem do trabalho e sintam-se importantes frente à comunidade a qual pertencem não se apropriaram deste papel de agente ativo e transformador da realidade local. Para Marzari, Junges e Selli (2011), a visão do ACS depende de um autoconceito, pois o ACS é reconhecido por pertencer a uma comunidade através do saber popular. Entretanto, esta proposta da ESF não amadureceu suficientemente este reconhecimento de perfil, nem a lógica do trabalho em equipe, além de ainda não estimular satisfatoriamente a formação específica destes profissionais.

Devido a estes e demais fatos é que Silva et al (2012) consideram necessário favorecer e ampliar os investimentos na educação permanente, bem como acompanhar o trabalho realizado por estes ACS, para que se evite a descaracterização do papel, o que acaba comprometendo a qualidade de serviço que este profissional presta à comunidade.

Segundo Bornstein e David (2014), a formação dos ACS deve ser vista como direito destes trabalhadores para que desempenhem seus papéis com dignidade e com qualidade, devendo ser considerado como um avanço para que se cumpra os princípios que sustentam o SUS como política universal.

5.3 CONHECIMENTO SOBRE PARALISIA CEREBRAL E IDENTIFICAÇÃO DE

No documento PR Priscila Molinari Mello (páginas 56-59)