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METODOLOGIA DA PESQUISA

3.2 Contexto e participantes

A pesquisa foi realizada com alunas egressas de um curso de licenciatura em Letras com a habilitação em ensino de português como segunda língua em uma universidade pública

no centro-oeste do Brasil. Este curso é previsto para ser completado em quatro anos divididos em dois semestres cada um. Ao longo do último ano da graduação, os alunos devem cursar duas disciplinas de estágio supervisionado, uma em cada semestre.

Durante o curso, o aluno deve produzir material didático para o ensino de português para índios, surdos ou comunidades de outras nacionalidades, ou produzir material de apoio ao professor de PLA. A base teórica prevista nas ementas das disciplinas tem predominância aparentemente linguística. Duas disciplinas de literatura são obrigatórias, bem como duas disciplinas de fonética e fonologia. Algumas disciplinas incluem literatura da Linguística Aplicada em seus programas, apesar de não ter em seu currículo uma disciplina que trate da ciência Linguística Aplicada das formas como ela é compreendida no cenário acadêmico atual30

.

As participantes têm idades que variam entre 21 e 26 anos, tendo egressado da licenciatura entre o segundo semestre de 2010 e o primeiro semestre de 2013. Busquei selecionar os participantes de forma a representar o universo de alunos do curso, observando experiência de docência, protagonismo no processo de formação (participação em pesquisa, projetos de iniciação à docência, etc.), ano de formatura e disponibilidade para as entrevistas. As quatro participantes preencheram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme previsto pela Resolução 196/1996, denominada Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo seres humanos.

Para os relatos abaixo, conforme informei aos próprios participantes, utilizo pseudônimos a fim de preservar a identidade ideológica deles, cumprindo os princípios éticos da pesquisa, conforme Punch (1994):

“Em geral, há um forte sentimento entre os pesquisadores de campo com relação ao cenário e aos participantes de que eles não devem ser identificados em impresso [material divulgável] e de que eles não devem sofrer dano ou constrangimento como consequência da pesquisa.” (p. 92, tradução livre)

A preferência aos nomes pseudônimos ao invés de iniciais foi dada para proporcionar melhor fluidez na leitura do texto, esta escolha tem sido feita com bastante frequência nas pesquisas interpretativistas na Linguística Aplicada e em outras ciências sociais.

30 Para maior compreensão acerca da concepção do que é Linguística Aplicada e de seu reconhecimento como ciência, recomendo a leitura de Menezes et al (2009) e Schmitz (1992). Trato disso na seção 4.1.2 deste trabalho.

Encerro esta subseção com a tabela abaixo, que contém os perfis das participantes de forma resumida:

3.3 Instrumentos

Nesta seção, escrevo sobre os instrumentos que utilizei em minha pesquisa: (a) entrevistas semiestruturadas; (b) notas de campo; (c) análise documental; e (d) questionários estruturados. Entrevistas e questionários são amplamente usados em pesquisas sobre formação de professores no escopo da LA (GIL, 2005, p. 178). Nesta pesquisa, tanto as notas de campo quanto os questionários estruturados são usados como apoio à análise das entrevistas semiestruturadas.

3.3.1 Entrevista semiestruturada

Decidi lançar mão da entrevista semiestruturada como instrumento de pequisa, com gravações31

em áudio e transcrições, para a coleta de registros nesta pesquisa por acreditar que este tipo de entrevista condiz com o paradigma qualitativo interpretativista no qual me baseio.

De acordo com Fontana e Frey (1994), espera-se do entrevistador estruturado um comportamento que ele seja aquele que dita o passo da entrevista, tratando o questionário norteador como um roteiro teatral a ser seguido de forma padrão e direta. Para este

31 Foram 168 minutos de gravação realizadas em dispositivos móveis durante encontros em locais diversos da cidade.

entrevistador, todas as entrevistas devem ser tratadas de forma similar e o roteiro deve permanecer inalterado.

Já a entrevista semi-estruturada, de acordo com os autores, admite que o pesquisador com foco qualitativo adotando uma postura êmica não vá procurar explicar a realidade alheia, mas entender uma realidade da qual ele também pode fazer parte. Desta forma, o roteiro de nossa entrevista não foi o mesmo para todos os participantes, mas sofreu modificações durante as entrevistas de acordo com as respostas dos entrevistados a fim de registrar o máximo de informações possíveis que nos ajudassem a responder nossas perguntas de pesquisa com fidelidade aos registros obtidos a partir deste instrumento. Isto permitiu uma compreensão mais abrangente na análise das entrevistas.

3.3.2 Notas de Campo

Bogden e Biklen (1998) falam sobre a importância das notas de campo para a pesquisa, tanto como instrumento de coleta de registros como também como importante apoio a outros instrumentos, como entrevistas, questionários e observações. Aqui, utilizo as notas de campo como apoio às entrevistas semiestruturadas, já que contêm informações que não foram gravadas. Além disso, as notas de campo também auxiliaram no andamento da entrevista auxiliando-me a fazer perguntas que levassem a um aprofundamento na abordagem de determinadas questões mencionadas pelas participantes.

3.3.3 Análise Documental

De acordo com Moura Filho (2005), a análise documental pode ser utilizada como instrumento de coleta de registros através de levantamentos bibliográficos.

Analiso documentos oficiais concernentes à formação inicial de professores de português como segunda língua na busca de constituir que imagem é aquela que se tem do que o professor de PLA deveria ser. A apresentação do curso no sítio eletrônico da instituição e a síntese do projeto de curso. Infelizmente, não consegui ter acesso ao Projeto Político- Pedagógico apesar do esforço feito para tal. O que me foi fornecido pelo departamento responsável foi apenas uma síntese do projeto do curso elaborada em 2001.

3.3.4 Questionário estruturado

Apesar de remeter a pesquisas quantitativas ou de referencial positivista, escolhi como uma das ferramentas desta pesquisa o questionário estruturado. Justifico o uso do questionário estruturado por ter como objetivo avaliar a relevância das disciplinas para a formação inicial dos professores de acordo com seu próprio julgamento em uma escala de 1 a 10.

Houve dois propósitos para sua aplicação: um foi a ativação da memória do participante sobre as disciplinas cursadas, o outro foi um pretexto para fazer perguntas direcionadas às experiências diretas formativas relacionadas a determinadas disciplinas. Este instrumento foi utilizado junto à entrevista como apoio, assim como as notas de campo, e aplicado antes que as perguntas fossem gravadas.

Pelo fato de ter sido um material voltado para o apoio das entrevistas, não houve uma análise categórica e sistemática dos dados obtidos das escalas. Apesar disso, o material encontra-se anexo a esta dissertação.

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