Na mesma linha de pensamento, Bronfenbrenner (1987), defende que o desenvolvimento do ser humano é condicionado não apenas pelo próprio indivíduo, mas também, por todos os sistemas contextuais em que este se insere.
Bronfenbrenner considera o sujeito como um ser activo e dinâmico em constante interacção, directa ou indirecta, com os contextos em que se vai situando, também eles dinâmicos e interactivos, duplamente interactivos até, pois para além de reciprocamente estabelecerem relações com os indivíduos, estabelecem-nas também entre si, salientando ainda a ideia de uma relação recíproca sinergética – sujeito/ambiente e ambiente/sujeito – e de uma rede múltipla de relações de intercontextualidade.
Desta forma, o autor atrás citado, defende o desenvolvimento humano segundo uma perspectiva ecológica, na qual chama a atenção para a importância dos contextos no comportamento e no desenvolvimento da criança.
Neste sentido, propõe um modelo de desenvolvimento e de aprendizagem que privilegia as relações dinâmicas e recíprocas que se estabelecem entre a pessoa e o meio ambiente em que se integra. Ambiente este, que o autor representa como um conjunto de quatro estruturas ou sistemas mutuamente interactivos e progressivamente mais abrangentes: micro, meso, exo e macrossistema.
Por esta ordem, o microssistema diz respeito ao contexto imediato com que a pessoa interage e no qual se integra em actividades, papéis e relações interpessoais particulares (enquanto aluno, educador, colega, pai), durante um certo período de tempo. Como exemplos de microssistemas podemos
mencionar a família, o Jardim de Infância, o grupo de jogos, o local de trabalho, etc.
A especificidade de cada microssistema varia em função das suas características físicas e sociais, influenciando de forma diferenciada, a qualidade das interacções e desse modo a aprendizagem e o desenvolvimento dos sujeitos.
Este contexto exerce ainda um papel fundamental na construção das “actividades molares” que se tornam essenciais em todo o processo de desenvolvimento humano.
Assim, e referindo-se à ideologia de Bronfenbrenner, Portugal, G. (1992:59) define actividade molar, como sendo
“um comportamento contínuo, com um movimento ou tensão próprios e que é percebido pelo sujeito como tendo um significado ou intenção” sendo actividades que aparentam a
sistematicidade própria dos processos contínuos e duradoiros, por oposição “aos comportamentos moleculares” que muitos são
quase momentâneos e com um impacto mínimo” como acções
percebidas como instantâneas.
O mesossistema compreende as inter-relações entre dois ou mais contextos em que a pessoa participa activamente num momento preciso da sua vida. O mesossistema, como sistema de microssistemas, engloba por exemplo, as inter-relações recíprocas estabelecidas entre o Jardim de Infância e a família, o grupo etário, a escola e o mundo do trabalho.
O exossistema refere-se a um ou mais contextos que não incluem a pessoa como participante activo, mas nos quais ocorrem situações que vão afectar o que ocorre no contexto imediato ou são por este afectadas e, em consequência, delimitam o que aí se passa. Como exemplos de exossistemas temos as administrações locais, as estruturas nacionais, os
mass media, o local de trabalho dos pais das crianças,
estabelecidas pelo educador ou pelo próprio pai com a criança.
Por último, o macrossistema compreende o nível mais global e externo do ambiente ecológico. Consiste no conjunto de crenças, atitudes, tradições, valores, leis e outros, que caracterizam a sociedade, a cultura ou subcultura em que o sujeito em desenvolvimento se integra.
Segundo Portugal, G. (1992:42) Bronfenbrenner, à semelhança de Bruner (1964), Piaget (1977) e Vigotsky (1979), também conceptualiza o desenvolvimento humano como resultante da mudança das estruturas do conhecimento, entendendo-o como
“o processo pelo qual o sujeito adquire uma concepção mais alargada, diferenciada e válida do ambiente ecológico e se torna motivado e apto a desenvolver actividades que permitem descobrir, manter ou alterar as propriedades desse ambiente ecológico”. Nesta dimensão, Bronfenbrenner defende que não é
possível afirmar que há desenvolvimento só porque determinadas mudanças ambientais provocam novos comportamentos, mas que é necessário, que estes persistam e evoluam ao longo do tempo.
Também para Alarcão, I. e Sá-Chaves, I. (1994:208) “se a relação concertada entre os contextos é condição favorável de desenvolvimento, temos também de reconhecer que esta sintonia nem sempre se verifica e até admitir que, às vezes, é difícil de conseguir dado o esforço conjunto que envolve e a existência de canais de comunicação transcontextuais que nem sempre são abertos à veiculação transversal da informação”.
Torna-se ainda importante referir que para Bronfenbrenner, o desenvolvimento processa-se simultaneamente ao nível da percepção e da acção. Ao nível da percepção a criança, progressivamente, vai incluindo outros elementos na sua visão do mundo, outros contextos e inter-relações entre estes, nos quais não participa directamente tal como nas
tradições, nas crenças, nos estilos de vida da comunidade sociocultural em que se insere. Ao nível da acção, a criança vai aumentando progressivamente a variedade e a complexidade das actividades que realiza em diferentes contextos.
Os contextos assumem assim, na perspectiva do autor, uma importância capital, uma vez que o ambiente ecológico é concebido como uma série de estruturas que se encaixam umas nas outras, sendo as mais próximas do sujeito, por ele experiênciadas directamente e outras mais afastadas, mas que também não deixam de influenciar as condições do seu desenvolvimento.
Para Leitão, F. (1994:26), “o estudo do desenvolvimento
humano em contexto, procura apreender a complexidade das relações sistémicas entre os vários envolvimentos imediatos da criança (o seu micro-sistema) e a forma como essas relações são mediadas por factores sócio-culturais mais alargados”.
Bronfenbrenner assegura ainda, que é importante não apenas o ambiente real, mas e sobretudo, o ambiente percebido, indo esta percepção influenciar decisivamente a interacção da criança com o meio e consequentemente ter implicações no seu desenvolvimento.
Outro aspecto a que Bronfenbrenner atribui especial importância é aos papéis sociais a que a criança se encontra exposta (pai, mãe, educador, colegas) e aos papéis que experimenta (filho, aluno, irmão, colega), ao longo do seu processo de desenvolvimento, nos diferentes microssistemas em que se integra. A possibilidade de a criança se envolver em relações e actividades com pessoas que desempenham papéis variados, proporciona-lhe oportunidades de construção de conhecimentos úteis ao seu sucesso pessoal e social.
desenvolvimento depende, em grande parte, de contextos que ultrapassam o micro-sistema e se situam em estruturas sociais e institucionais mais abrangentes, ao mesmo tempo que dependem das interrelações que entre os vários contextos se estabelecem” (Alarcão, I. e Sá-Chaves, I., 1994:208).
As relações exossistémicas e macrossistémicas são aspectos não menos relevantes para Bronfenbrenner. Tratando- se de contextos não frequentados directamente pela criança, não deixam no entanto, de influenciar a criação de ambientes educativos específicos e com potencialidades diferenciadas de desenvolvimento.