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O contexto histórico do Mercado Brasileiro de Eletricidade frente às reformas do

4. ABORDAGEM LEGAL E REGULAMENTAÇÃO

4.1. O contexto histórico do Mercado Brasileiro de Eletricidade frente às reformas do

De acordo com Garcia (2008), a primeira grande reforma do setor elétrico brasileiro ocorreu diante da substituição do Modelo Estatal pelo Modelo de Livre Mercado, sendo iniciada no ano de 1992, pelo governo Collor, por meio do Plano Nacional de Desestatização (PND). Tal reforma aconteceu devido a problemas econômicos (endividamento de estatais que dominavam o setor elétrico), técnicos (aumento desenfreado da demanda elétrica e falta de investimentos em geração, transmissão e distribuição de energia) e pressões internacionais (muitos países no mundo também mudavam seu modelo baseando-se em outros privatizados mais bem estruturados, como, por exemplo, o britânico e o norte-americano). As primeiras mudanças ocorreram através das privatizações das estatais que dominavam a área, sendo que os alvos inicialmente encetados foram as distribuidoras de energia elétrica. Outrossim, a nova base legal para o modelo do setor elétrico foi dada através das seguintes Leis: CHAVES (2010)

 Lei n° 8631/1993 - conhecida como “Lei da Reforma Tarifária”, introduziu a competição no mercado de energia no país.

 Lei n° 8.987/1995 - forneceu as regras gerais para a licitação das concessões em vários segmentos de infraestrutura, incluindo o setor elétrico. Além disso, estabeleceu direito e deveres das concessionárias.  A Lei n° 9.074/1995 - criou a figura dos consumidores livres, assegurou

conceitos de Produtor Independente de Energia (PIE) e Autoprodutores de Energia (APE).

 Lei n° 9.247/1996 e Lei n° 9.648/1998 - foram introduzidas as figuras do órgão regulador (ANEEL), do órgão operador (Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS) e do mercado atacadista (Mercado Atacadista de Energia Elétrica - MAE). Também foram estabelecidas a subdivisão de dois grupos dos consumidores livres.

A partir do estabelecimento dos regimentos acima citados, houve a liberação de grandes consumidores do monopólio comercial das concessionárias de distribuição, uma vez que foram criados os Consumidores Livres – CL’s (são os consumidores que estão aptos a escolher seu fornecedor de energia elétrica). Os consumidores de energia elétrica, então, foram divididos em dois grupos: os livres e os cativos (termo usual adotado ao grupo que não possui os pré-requisitos do consumidor livre, podendo ser suprido somente por concessionário ou permissionário de distribuição mediante tarifa regulada). A Tabela 3 informa os requisitos para ser considerado um consumidor livre.

Tabela 3 - Caracterização dos consumidores livres

Fonte: Barja (2006)

De acordo com a Tabela 3, uma das subdivisões dos consumidores livres é composta por unidades com cargas maiores ou iguais que 3 MW atendidos em qualquer tensão (depois de jul/95) ou patamares maiores iguais a 69 kV (antes de jul/95). Outra subdivisão é composta por unidades com cargas maiores que 0,5 MW atendidas com qualquer tensão, contudo, seu supridor de energia está restrito ao leque de fontes alternativas de energia – usinas a biomassa, energia solar, energia eólica, etc.

Ainda, com o intuito de garantir a utilização e a comercialização da energia produzida pelo produtor independente e pelo autoprodutor foi assegurado o livre acesso à

rede elétrica, isto é, o direito de qualquer agente - carga ou geração - de se conectar e fazer uso da rede de transmissão e distribuição, mediante o ressarcimento dos custos de transportes envolvidos (regulamentado pela Resolução ANEEL nº. 281 de 1999). Vale ressaltar, então, que o uso dos sistemas de transporte para a comercialização de energia elétrica, seja na compra ou na venda, deve ser negociada separadamente.

No contexto dos agentes cogeradores de energia, é interessante frisar que o consumo ou a venda excedente de eletricidade se da por meio da conexão com sistema de transmissão ou distribuição. Para tal é obrigatório por parte do acessante celebrar os contratos com a concessionária ou permissionária, que envolverão questões de estudo, projeto e execução das instalações, mediante a obediência dos Procedimentos de Rede e de Distribuição. (BARJA, 2006)

Contudo, o racionamento elétrico ocorrido em 2001, devido a problemas previamente citados no item 1.2, levou o Governo Federal a conduzir a outra reforma e reestruturação no Setor Elétrico Brasileiro, nos anos de 2003 e 2004. O MME propôs, então, a “Reforma das Reformas”, ocorrida por meio das sansões das Leis n° 10.847 e 10.848, ambas de 15 de março de 2004; e do Decreto n° 5.163, de 30 de julho de 2004. O Novo Modelo revisou o modelo antigo (Modelo de Livre Mercado) e trouxe novas diretrizes. (SOUZA, 2008; CHAVES, 2010)

O Novo Modelo, instituído em 2004, tinha por principais objetivos (MME, 2003):  garantir a segurança de suprimento de energia elétrica, sendo esta

considerada premissa básica para o desenvolvimento econômico;

 promover a modicidade tarifária, por meio da contratação eficiente de energia para os consumidores regulados;

 promover a inserção social no Setor Elétrico, em particular pelos programas de universalização de atendimento;

 justa remuneração para os investidores, de modo a incentivá-los a expandir o serviço;

A partir do Novo Modelo, foram criados novos agentes institucionais do modelo elétrico, entre eles, uma entidade responsável pelo planejamento de longo prazo do setor elétrico – EPE -, uma instituição para dar continuidade ao MAE e a comercialização de

energia elétrica no Sistema Interligado (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica - CCEE). Em continuidade, também foi formado um novo comitê com a função de avaliar permanentemente a segurança do suprimento de energia elétrica (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico - CMSE). (SOUZA, 2008; CHAVES, 2010)

Assim, em relação ao segmento do mercado de energia elétrica - geração, comercialização, transmissão e distribuição - estão inseridos dois ambientes distintos: o Ambiente de Contratação Livre (ACL) e o Ambiente de Contratação Regulado (ACR), de acordo com a Figura 32. Os agentes de geração (geração, produção independente ou autoprodução) poderão vender energia elétrica nos dois tipos de ambientes, contudo os comercializadores (atuam na intermediação entre o agente gerador e os consumidores) poderão atuar apenas na compra e venda realizadas no ACL. (MME, 2003)

Figura 32 - Visão geral do modelo de geração

Fonte: MME (2003)

O modelo, de acordo com a Figura 30, ilustra os dois ambientes de contratação. De um lado, o ACR, fruto de um monopólio natural (classificação das distribuidoras e transmissoras), acaba atendendo o consumidor cativo e o protegendo em função da modicidade tarifária. A contratação é formalizada através de contratos bilaterais regulados,

chamados de Contratos de Comercialização de Energia Elétrica no Ambiente Regulado (CCEAR), celebrados entre agentes vendedores (comercializadores, geradores, produtores independentes ou autoprodutores) e compradores (distribuidores) que participam dos leilões de compra e venda de energia elétrica. De outro lado, o ACL, fruto de uma concorrência aberta, acaba atendendo os consumidores livres. Esse ambiente é caracterizado pelos segmentos da geração e da comercialização, levando à otimização do mercado no que diz respeito à oferta e à formação do preço da energia elétrica. Há a livre negociação entre os agentes geradores, comercializadores e consumidores livres, sendo que os acordos de compra e venda de energia são firmados por meio de contratos bilaterais. (SOUZA, 2008; CHAVES, 2010; BARJA, 2006; GARCIA,2008)

De acordo com Chaves (2010), o ACR é um ambiente mais seguro para os agentes geradores, pois têm garantia de contratação de longo prazo, garantindo o retorno de investimento. Nesse mercado, as distribuidoras são obrigadas a firmar contratos de energia para o atendimento de suas respectivas demandas com uma antecedência de 5 anos. Para contratação de energia, são realizados leilões reversos, isto é, leilões em que os vencedores são aqueles que ofertarem a energia pelo menor preço. A classificação dos leilões de energia é dada em função de energia: energia nova (usinas a serem construídas) e energia velha (usinas existentes). A primeira consiste na necessidade do abastecimento de mercado em 3 anos (A-3) com 15 anos de contrato ou 5 anos (A-5), com 30 anos de contrato; a segunda consiste em leilões com abastecimento ou fornecimento de energia a curto prazo (A-1). Poderão ainda ser encontrados leilões de ajuste (abastecimento temporário para atendimento de até 1% da energia contratada) e leilões de reserva. A ANEEL é responsável por estabelecer as regras do leilão, enquanto que a CCEE é a condutora do leilão propriamente dito.

Segundo Dantas (2013), a maior parte do montante de energia negociada no ACR, oriunda da bioeletricidade, foi através do leilão de energia reserva. O objetivo desse leilão é auxiliar o SIN, de modo a aumentar a sua segurança, frente desequilíbrios conjunturais entre oferta e demanda. A energia em reserva consiste em uma energia adicional ao sistema e que não deve ser usada para lastrear o consumo, sendo que o seu custo é repartido entre todas as distribuidoras e demais consumidores de energia através do Encargo Energia Reserva.

No ambiente ACL não há obrigatoriedade de contratação antecipada de energia, ou seja, o CL poderá contratá-la às vésperas da realização da demanda, diferentemente do ACR. Quanto as relações comerciais, estas são livremente negociadas, no entanto, devem ser formalizadas em Contrato de Compra e Venda de Energia Elétrica no Ambiente de Contratação Livre (da sigla CCEAL, comumente chamado contrato bilateral, isto é, de compra e venda de energia, estabelecendo preços, prazos e montantes de suprimento em intervalos temporais determinados) ou em Contrato de Compra de Energia Incentivada (da sigla CCEI, aplicado em contratações onde a fonte energética provém de empreendimentos renováveis com potência instalada inferior ou igual a 30 MW). (CHAVES, 2010; CCEE, 2013) Dantas (2013) afirma que as maiores oportunidades para geradores de bioeletricidade estão inseridas em ambientes ACL. Um dos fatores positivos frente à comercialização nesse tipo de ambiente é a maior rentabilidade dos investimentos, uma vez que ocorrem negociações de contratos mais flexíveis e geralmente possuem preços superiores aos do mercado cativo. Outra questão importante em relação à bioeletricidade é a não dependência de combustíveis que envolvem mercados financeiros, cotações de moedas, comercialização internacionais, com isso o produtor não corre risco de vender eletricidade abaixo do preço de produção (essas situações frequentemente acontecem com a geração termelétrica através de combustíveis fósseis).

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