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CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.2 História do Átomo incluída nos manuais escolares

4.2.4 Contexto no qual a informação histórica sobre o Átomo é enquadrada

Na tabela 9 apresenta-se o resultado da análise dos manuais escolares selecionados para este estudo, no que respeita ao contexto no qual o conteúdo histórico acerca do Átomo é enquadrado. Conforme atrás referido (secção 3.3.3) registou-se, em cada manual escolar analisado, se a informação histórica acerca do Átomo é apresentada em um ou mais contextos (científico, tecnológico, social, político ou religioso).

Pela análise dos resultados (tabela 9) pode-se verificar que, na generalidade dos manuais escolares, há informação histórica que apresentada num contexto científico (a informação histórica surge relacionada com o conhecimento científico ou matemático disponível ou com a falta desses conhecimentos) e tecnológico da época (o conteúdo histórico é apresentado em relação com a tecnologia da época ou em falta). Só dois dos manuais (M9D e M10L) apresentam algum conteúdo histórico enquadrado num contexto político (a informação histórica surge relacionada com a política da época).

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Tabela 9Contexto no qual a informação histórica sobre o Átomo é enquadrada

Os excertos que se seguem ilustram como a informação histórica incluída na abordagem do Átomo é enquadrada no contexto científico ou tecnológico de uma dada época.

“Os espectros de emissão atómica, além de darem informações sobre a composição e a temperatura das estrelas, também foram o motor de grandes avanços relativamente ao conhecimento humano sobre a estrutura da matéria, obrigando a um passo de gigante na formulação do modelo atómico.” (M10 L, p. 86);

“Durante muito tempo, o átomo não era mais do que uma ideia que a comunidade científica acabou por aceitar, com uma ou outra excepção… Mas ninguém tinha visto um átomo! Porém nos séculos XIX e XX, uma enorme diversidade de experiências sugeria a existência de átomos, tornando a sua aceitação cada vez mais consensual. Hoje em dia, os átomos podem ‘ser vistos’ usando microscópios de varrimento por efeito túnel. […] portanto, já ninguém duvida da sua realidade.” (M9C, p.134); “Ao contrário de Aristóteles e Platão, os gregos Demócrito e Leucipo, no século V a.C., acreditavam que

a matéria era constituída por pequenas partículas, a que chamavam átomos. A ideia atomista grega, porém, não pode ser considerada uma teoria científica, pois baseava-se numa filosofia vagamente assente nos sentidos. Só mais de 2000 anos após o mundo grego é que as ideias atomistas foram retomadas e enquadradas numa verdadeira metodologia científica, baseada na experimentação.” (M10N, p. 90);

No que respeita ao contexto político, pode-se referir, como exemplo, o seguinte extrato, encontrado num manual de 9º ano, o qual salienta a contribuição de um cientista num projeto político, durante a Segunda Guerra Mundial:

“Chadwick físico inglês, […] dedicou-se ao estudo do átomo e descobriu o neutrão no núcleo do átomo […] tornou-se professor de Física na Universidade de Liverpool e, durante a Segunda Guerra Mundial, integrou o projeto Manhattan nos Estados Unidos, desenvolvendo as bombas atómicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.” (M9D, p. 212)

Quanto ao contexto religioso (a informação histórica surge relacionada com as crenças religiosas da época), só um dos manuais apresenta algum conteúdo histórico enquadrado nesse mesmo contexto (M10L). O extrato seguinte ilustra um exemplo de um contexto religioso que condicionou a evolução do modelo atómico:

“Na Idade Média as ideias de Aristóteles eram religiosamente e acriticamente aceites. Só com a revolução científica dos séculos XVI e XVII é que apareceram outras ideias de outros filósofos gregos como a matéria ser constituída por átomos.” (M10L, p. 86)

Contexto

Manuais escolares 9º ano Manuais escolares 10º ano

A B C D E F G H I J L M N O P Q Científico x x x x x x x x x x x x x x x x Tecnológico x x x x - x x x x x x x x x x x Social - - - - Político - - - x - - - x - - - - - Religioso - - - x - - - - -

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Relativamente ao contexto social (a informação histórica surge relacionada com as condições de vida e com os valores reconhecidos da época), não foi encontrada qualquer referência nos manuais escolares analisados (tabela 9).

Em suma, constata-se que os manuais escolares de 9º ano são muito semelhantes aos de 10º ano no que respeita à forma como a informação histórica incluída na abordagem do Átomo é contextualizada. Os resultados da análise efetuada evidenciam que a evolução do conhecimento do Átomo é apresentada como sendo, de um modo geral, somente condicionada pela tecnologia e pelo saber científico de cada época, e não por fatores sociais, políticos ou religiosos.

No entanto, os Programas e Currículos das disciplinas, conforme se salientou na secção 1.2.3, propõem que se evidenciem, designadamente no ensino básico, influências da sociedade sobre as ciências, através de análises e debates de descobertas científicas, o que não se verifica na generalidade dos manuais analisados. No que respeita ao ensino secundário, no Programa de Física e Química A são apresentadas como finalidades da disciplina “Compreender o papel do conhecimento científico, e da Física e Química, em particular, nas decisões do foro social, político e ambiental” ou “Ponderar argumentos sobre assuntos científicos socialmente controversos” (p. 6 e 7). A não apresentação da informação histórica no contexto social e a escassa apresentação no contexto religioso e político dificulta o alcance das finalidades desta disciplina, pois a análise das influências dos diversos contextos da História das Ciências ajudará a preparar os alunos para compreender as atuais relações das ciências com a sociedade, a política, o ambiente, etc..

No entanto, os resultados da análise de manuais no que respeita ao contexto em que o conteúdo histórico incluído na abordagem do Átomo é apresentado eram de esperar pois são semelhantes aos obtidos por outros autores que analisaram o conteúdo histórico em manuais escolares (ex: Leite, 2002; Amorim, 2009; Ternes, Scheid & Güllich, 2009; Vidal, 2009).