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Para que o trabalho infantil seja estudado e compreendido, faz-se necessário que sejam analisados os indicadores existentes referentes ao assunto, bem como as razões pelas quais ele continua existindo. Além disso, analisar como a legislação interna e externa protegem aquelas crianças e adolescentes que são explorados por meio do seu trabalho.

Será construído um panorama do Brasil no que diz respeito ao trabalho infantil, analisando os dados mais atualizados sobre o assunto, bem como a compreensão das pesquisas pelas quais eles são coletados e fazendo uma comparação com pesquisas anteriores.

A perpetuação da exploração do trabalho infantil existe em virtude de alguns aspectos que surgem de situações econômicas, sociais, culturais, dentre outras. Alguns deles são fortificados pela reprodução de mitos, considerados grandes e consistentes causadores da manutenção dessa violação de direitos. Seu combate é extremamente necessário em virtude das consequências causadas ao sujeito explorado e, também, as suas famílias, mas também à sociedade em geral.

A legislação brasileira possui um arcabouço de normas que buscam proteger aqueles que têm seus direitos violados por meio da exploração de seu trabalho. Essas normas são compostas por leis internacionais que, no Brasil, são recepcionadas, bem como por leis constitucionais e infraconstitucionais. As principais fontes são, além da CF/88, o ECA e a Consolidação das Leis do Trabalho.

2.1. O CENÁRIO DO TRABALHO INFANTIL NO BRASIL

O perfil do trabalho infantil no mundo e no Brasil precisa ser compreendido para que sejam planejadas políticas públicas que atendam às necessidades de cada localidade. A OIT publicou em 2017 as estimativas globais de trabalho infantil: resultados e tendências entre 2012-2018, em que abordou dados sobre a situação mundial no que diz respeito ao tema.

Segundo ela, no ano de 2016, 152 milhões de crianças se encontravam trabalhando. A pesquisa considerou a faixa etária entre cinco e dezessete anos. Deste número, 64 milhões de meninas e 88 milhões de meninos. Outras informações importantes trazidas pelo documento são de que 19 milhões tinham idade inferior a doze anos de um grupo de 73 milhões, ou seja, quase metade do total desempenhava atividades consideradas perigosas (OIT, 2017).

Levando em consideração uma divisão territorial, o continente americano ocupa o terceiro lugar dentre o número de casos de trabalho infantil. Em primeiro lugar ficou o continente africano com 72,1 milhões de casos; seguido pela Ásia e Pacífico com 62 milhões de casos. As Américas somaram 10,7 milhões de crianças exploradas através de seu trabalho, enquanto a Europa e a Ásia Central tiveram 5,5 milhões e os Estados Árabes tiveram 1,2 milhões de casos (OIT, 2017).

A nível mundial, existe um predomínio de crianças desenvolvendo atividades no meio agrícola. Trata-se de uma maioria expressiva, já que enquanto o meio rural concentra 71% dos casos, o setor de serviços apresenta 17% e a indústria, 12% (OIT, 2017).

A pesquisa apresentou ainda uma constatação importante: o fato de 58% do grupo ser composto por meninos. Esse dado pode ser um reflexo de uma ausência de sinalização do trabalho de meninas, especialmente considerando uma subnotificação dos casos de trabalho infantil doméstico (OIT. 2017).

No Brasil existem duas pesquisas importantes que podem colaborar para construção do contexto da exploração contra o trabalho infantil. O IBGE realiza pesquisas sobre o assunto desde 1967. Segundo Custódio (2017, p.55), o método utilizado pelo Censo possui obstáculos “(...) para as distinções em correspondência com os limites da idade mínima para o trabalho e as atividades não estejam perfeitamente delimitadas, (...)”.

No ano de 1990, a Pesquisa Nacional por Amostra e Domicílio incorporou o tema em sua coleta e análise de dados. Desse modo, o Censo e a PNAD, através de seus indicadores sociais, são importantes ferramentas para que se compreenda como o cenário brasileiro se comporta em relação ao trabalho infantil (IBGE, 2019).

Segundo o IBGE, o Censo é responsável pela “[...] principal fonte de referência para o conhecimento das condições de vida da população em todos os municípios do País e em seus recortes territoriais internos” (IBGE, 2019). Seu objetivo principal é:

O Censo Demográfico tem por objetivo contar os habitantes do território nacional, identificar suas características e revelar como vivem os brasileiros, produzindo informações imprescindíveis para a definição de políticas públicas e a tomada de decisões de investimentos da iniciativa privada ou de qualquer nível de governo. Também constitui a única fonte de referência sobre a situação de vida da população nos municípios e em seus recortes internos, como distritos, bairros e localidades, rurais ou urbanas, cujas realidades dependem de seus resultados para serem conhecidas e terem seus dados atualizados. (IBGE, 2019)

O censo do IBGE representa o meio mais complexo de coleta de dados da situação brasileira. O último censo foi realizado em 2010 e possui como indicador crianças e adolescentes entre cinco e dezessete anos. Apesar de não coincidir com os limites jurídicos de idade do trabalho infantil, são aqueles que de maneira mais sólida refletem a realidade brasileira.

Segundo o IBGE, a PNAD realiza o estudo de características populacionais, tendo como objetivo:

O sistema de pesquisas domiciliares, implantado no Brasil com a criação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, tem como finalidade a produção de informações básicas para o estudo do desenvolvimento socioeconômico do País. A PNAD foi definida para atender múltiplos propósitos, abrangendo as áreas demográfica, de saúde, consumo alimentar e nutrição, condições de habitação e equipamentos domésticos, educação e cultura, e nível econômico do domicílio. (IBGE, 2019)

Sobre o trabalho infantil, fazendo uma análise dos dados do Censo nos anos de 2000 e 2010, percebe-se que houve uma pequena diminuição, de 528.972 casos. Sendo que na faixa etária entre 10 e 13 anos, registra-se um aumento de casos.

Fonte: Censo/IBGE 2000 e 2010

As regiões brasileiras são extremamente diversificadas. Os indicadores do trabalho infantil acompanham essa diversificação. Fazendo uma comparação entre os dados colhidos entre os anos de 2000 e 2010, as regiões Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste apresentaram diminuição, enquanto a região Norte teve um aumento de 3,5% de casos.

Fonte: Censo/IBGE 2000 e 2010 0 500,000 1,000,000 1,500,000 2,000,000 2,500,000 3,000,000 3,500,000 4,000,000 4,500,000

10 a 13 anos 14 ou 15 anos 16 ou 17 anos Total

Brasil

Crianças e adolescentes ocupados - 10 a 17 anos