• Nenhum resultado encontrado

5.   ANÁLISE COMPARATIVA DOS RESULTADOS 95

5.1   Contextualização 95

A contextualização das realidades estudadas realizada no capítulo anterior é fundamental para que se possa analisar as diferenças no modelo de gerenciamento de recursos humanos de Brasil e Portugal, dado que a comparação parte de realidades bastante distintas, seja em relação às dimensões dos países e de seus serviços públicos, ou mesmo em relação à forma de organização político-territorial.

5.1.1 Descrição da organização político administrativa

Tendo como ponto de partida a organização político territorial temos uma federação no caso brasileiro, em contraponto a um Estado Unitário em Portugal. Enquanto na federação existe um compartilhamento da legitimidade e das decisões entre os níveis de governo, no Estado Unitário “o Governo Central é anterior e superior às instâncias subnacionais, e as relações de poder obedecem a uma lógica hierárquica e piramidal.” (Abrucio e Franzese: s/d, 1-2)

A relevância da apresentação deste tema como parte da análise é devido ao fato da produção de políticas públicas ser fortemente afetada pelo desenho institucional adotado por cada país (Abrucio e Franzese: s/d, 1). Embora no Brasil a

desempenho

4.6 – Relações Trabalhistas: acordo

coletivo e direito de greve. Negociação coletiva e direito de greve regulamentados 5. Organização da

área de Recursos Humanos

5.1 - Organograma: subordinação e

competências DGAEP, vinculada ao Ministério das Finanças 5.2 - Centralização versus

Descentralização. Destaque para decisões de contratação e reajuste salarial.

Descentralização de elementos da gestão de RH como decisões sobre remuneração variável

legislação federal impacte estados e municípios, qualquer mudança em âmbito federal traz efeitos imediatos diretamente apenas em seu quadro de funcionários, enquanto em Portugal a reforma recentemente adotada teve uma dimensão muito maior, seja pela concentração do pessoal no Governo Central, seja pela menor autonomia das regiões e autarquias locais em relação aos estados e municípios brasileiros.

Em relação a dimensão dos dois países, medida pelo tamanho da população, a discrepância também é grande. Enquanto o Brasil possui uma população aproximada de 185 milhões de habitantes, Portugal tem pouco mais de 10,5 milhões.

5.1.2 Dimensionamento do funcionalismo público

O funcionalismo público dos dois países estudados tem reflexos tanto da organização política administrativa como do tamanho da população. Como Estado Unitário, Portugal concentra cerca de 80% do funcionalismo do país vinculado à Administração Central, enquanto no Brasil o emprego público federal está estimado em 15% do total. Mesmo representando apenas 15% do total, em termos absolutos o contingente de trabalhadores da esfera federal brasileira é mais do que o dobro do que os cerca de 520 mil trabalhadores português. Como tendência, foi identificado no caso português um esforço para redução do quantitativo total de trabalhadores na Administração Pública, enquanto os dados brasileiros apontam para expansão, quando analisados os últimos 8 anos. A síntese desses dados está consolidada no quadro abaixo.

Dimensionamento do

Serviço Público Governo Federal do Brasil Governo Central de Portugal

Quantidade 1.111.583 522.925

Tendência – Evolução Ampliação de 21,86% em relação a 2002 Redução de 7,7% em relação a 2005 Representatividade em relação ao Emprego Público Total 15% 80,79%

Quadro 8 – Dimensionamento do Emprego Público em perspectiva comparada

Fonte: Elaborado pelo autor

Tanto o modelo de organização político-administrativo como a distribuição dos trabalhadores entre as esferas de governo apontam para um desafio mais complexo no caso Brasileiro em relação à implementação de reformas na gestão de

recursos humanos. Enquanto a reforma recém implementada em Portugal, seja pelo seu efeito normativo que extrapola a Administração Central, seja pela concentração de trabalhadores, teve uma dimensão de fato nacional. No caso brasileiro seus efeitos seriam mais limitados. Contudo, o Governo Federal Brasileiro, por seu papel de referência para Estados e Municípios, poderia funcionar como um catalizador de mudanças e implementação de boas práticas de gestão para todo o país.

5.1.3 Modalidades de vínculo existentes

A recente reforma implementada em Portugal teve como principal ação a revisão do modelo de vinculação dos trabalhadores do setor público com a Administração. De um modelo centrado no instituto da nomeação, que garantia estabilidade no modelo “emprego para vida toda”, passou-se à aproximação ao regime de contratação da iniciativa privada, com menor estabilidade e com a introdução da negociação coletiva das condições de trabalho. A partir da reforma, o modelo adotado pelo país, conhecido como Contrato de Trabalho em Funções Públicas, passou a responder por cerca de 90% do contingente de trabalhadores da Administração Central de Portugal. No regime de nomeação ficaram apenas aqueles responsáveis pelo exercício de poder de polícia e atividades de representação do Estado.

No Brasil predomina o modelo estatutário, muito semelhante ao regime de nomeação português. A Constituição Federal de 1998 determinou a aplicação de um regime único para toda administração direta, autárquica e fundacional, restando a possibilidade de aplicação do regime geral de contratação aplicado à iniciativa privada apenas para as empresas públicas e uma parcela mínima do quadro de pessoal do setor público. A terceira alternativa de vínculo é a contratação por tempo determinado, que no caso português é uma possibilidade vinculada aos dois modelos de vinculação, mas que no Brasil, por não ser prevista no estatuto do servidor público, foi tratada como uma terceira modalidade, mas que também representa uma pequena parcela do funcionalismo.

A figura abaixo busca representar de forma esquemática a distribuição do funcionalismo público nas duas realidades estudadas. Para efeitos comparativos, o modelo de nomeação português está para o modelo estatutário brasileiro, assim como o regime celetista brasileiro está para o contrato de trabalho em funções públicas lusitano.

Figura 7 - Modalidades de vínculo Portugal e Brasil, 2010

Fonte: Elaborado pelo autor

Enquanto a reforma portuguesa trouxe mais flexibilidade por meio da regulamentação do regime de contrato de trabalho em funções públicas como o modelo predominante de vinculação ao serviço público, o regime jurídico único previsto para toda administração direta, autárquica e fundacional, predominante no Brasil, limita o gestor público a um modelo uniforme para realidades diversas. O estatuto do servidor público é a única solução a ser aplicada indistintamente para atividades de formulação e regulação de políticas públicas, exercício de poder de polícia ou prestação de serviços.

O modelo brasileiro oficial, contundo, pode não ser um espelho exato do que acontece na prática das organizações finalísticas que precisam recorrer à contratação de trabalhadores com vínculo precário, como no caso da Fundação Oswaldo Cruz, entidade vinculada ao Ministério da Saúde, que em dezembro de 2007 contava com menos de 50% da força de trabalho composta por servidores permanentes. (Corrêa de Mello & Amâncio Filho: 2010, 629)