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O CAPS no qual foi realizada a intervenção, é um serviço de modalidade II e está localizado no município de Macaé, na região dos Lagos, no interior do Rio de Janeiro. Macaé possui uma população com cerca de 206.728 habitantes. Tratando-se da produção científica na cidade, uma característica importante a ser destacada é que o município possui cerca de 17 Universidades, dentre elas pelo menos quatro são de ensino público: UFF, UFRJ, UNIRIO, UENF9 e outras de ensino privado como, por exemplo: Estácio

de Sá, Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO), Salesiana, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé (FAFIMA) e Universidade Norte do Paraná (UNOPAR). Além disso, muitas dessas universidades possuem graduação em áreas da saúde, onde são oferecidos cursos de: Psicologia (UFF/Rio das Ostras, Salesiana e Estácio/Macaé), Enfermagem (UFF/Rio das Ostras e UFRJ/Macaé), Medicina (UFRJ), Nutrição (UFRJ), entre outros.

Observa-se que o município de Macaé é um vasto campo científico e, esta realidade provocou reflexões que foram discutidas ao longo do trabalho realizado. Alguns dos questionamentos que originaram a proposta de intervenção foram: “Quais relações existem entre os dispositivos de saúde mental, em especial o CAPS Betinho e as universidades ao redor? Como o CAPS se relaciona com a produção de conhecimento científico local?”

A RAPS do município é organizada a partir do “Programa de Saúde Mental” e, dividida a partir dos seguintes dispositivos: Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), Estratégia de Saúde da Família (ESF), Consultório na Rua, CAPS AD, CAPS II e CAPSI, Núcleo de Saúde Mental (ambulatório) e Hospital de Emergência), Serviço de Residência Terapêutica (SRT), Programa de Tabagismo, Emergência (Unidade de Pronto Atendimento/UPAs, Pronto Socorro/PAM Aeroporto e Hospital Público de Macaé/HPM). Dessa forma, o

9 As siglas correspondem respectivamente à Universidade Federal Fluminense, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Universidade do Rio de Janeiro e Universidade Estadual do Norte Fluminense.

CAPS Betinho, comparado à outros serviços de Saúde Mental que pude conhecer no interior do estado, está inserido em uma rede que se organiza de maneira bem estruturada. O serviço em destaque possui uma equipe técnica com cerca de 21 profissionais, dentre eles estão: Psicólogas, Assistentes Sociais, Técnica de Enfermagem, Enfermeira, Terapeuta Ocupacional, Musicoterapeuta, Técnicos Administrativos, Psiquiatras e Profissionais de Apoio. O dispositivo possui cerca de 400 usuários cadastrados e 50 pacientes em média, permanecem por dia no dispositivo. Quanto ao número de atendimentos diários, o coordenador do serviço destaca que a demanda é constante e extrapola a quantidade de pacientes que permanecem diariamente no serviço.

No CAPS são realizadas atividades a partir de oficinas terapêuticas, sendo esta considerada uma marca característica do cuidado nessas modalidades de serviços. As oficinas são espaços de criação fundamentais na medida em que possibilitam a produção de sentidos e também subjetivação dos usuários, contribuindo desta forma no processo de autonomia. Na maioria dos casos, as temáticas das oficinas refletem interesses e dificuldades dos usuários, e, por essa perspectiva pode-se afirmar que a construção desses espaços demandam protagonismo e um certo caráter de pesquisa participativa. Nesse sentido, fazendo referência ao campo da produção de pesquisa dentro do serviço, observa-se que embora o coordenador relate que há uma parceria muito interessante sendo construída com as Universidades, não existem pesquisas sendo produzidas no CAPS Betinho.

A partir desse dado, foi construída uma proposta de intervenção com o objetivo de desenvolver uma pesquisa participativa e, principalmente produzir um conhecimento colaborativo. A coordenação e a equipe aceitaram a proposta e a intervenção se deu por meio de uma oficina de consenso na qual participaram as alunas da pesquisa relatada anteriormente, a professora Daniela Bursztyn e alguns profissionais da equipe que participaram ativamente da produção de conhecimento.

Como primeira etapa, iniciamos uma discussão a fim de sensibilizar a equipe para o tema da produção de conhecimento compartilhado e, além disso, compreender melhor as relações já estabelecidas entre Universidades e CAPS Betinho. Nessa perspectiva, foi possível identificar os modos pelos quais existe

uma parceria entre Universidades locais e o CAPS, sendo esta parceria considerada pelo atual coordenador do Programa de Saúde Mental bastante íntima e produtiva. Este profissional destaca que tanto as Universidades públicas, em especial a UFRJ e a UFF, quanto também as privadas tem sido bastante presentes, criando encontros sistematizados. Um exemplo disto, se revelou no dia 18 de maio do ano vigente, data de comemoração do dia Nacional da Luta Antimanicomial, quando houve intensa participação de membros das universidades na construção de uma agenda de eventos em memória à esta data.

Além disso, foi relatado que, recentemente, uma professora universitária através de um projeto do edital PET – Saúde fomentou um curso de capacitação para rede assistencial, com o tema relacionado à atuação e manejo da gestão do cuidado em álcool e outras drogas. Durante a discussão outro profissional do serviço relembra um curso de capacitação oferecido pela Universidade para a rede de Saúde do município com o tema: “Redes Vivas e Estratégias de Saúde da Família (ESF)”. Outra iniciativa desenvolvida com parceria entre Universidade e serviço, neste caso, mais especificamente o CAPS AD é o programa da Escola de Redução de Danos.

Um profissional relatou também, um exemplo prático sobre o quanto a parceria entre Universidade e Serviço pode ser fundamental no processo de cuidado de um paciente. A situação apresentada foi de um pedido de internação compulsória de um jovem que fazia uso abusivo de uma determinada droga e a família que não conseguia suportar a situação acionou o Ministério Público. Em meio à essa situação, um agente comunitário da Atenção Básica que aprendeu estratégias de cuidado no curso da Escola de Redução de Danos, questionou a determinação e relatou que de acordo com o conhecimento compartilhado no curso, o jovem não poderia ser internado compulsoriamente, pois o mesmo havia diminuído o padrão de uso. A partir desse relato, o agente começou a movimentar a rede, o CAPS AD realizou uma visita e verificou-se que existia um conflito importante na família, porém o jovem havia diminuído o uso de drogas e, portanto a internação não era uma medida necessária. Esta experiência é um caso concreto de êxito na relação entre a universidade e os serviços de Saúde Mental e ilustra a importância desta parceria.

Outro modelo de parceria ocorre através de estágios nos quais a rede recebe há mais de dez anos, estagiários de psicologia e de enfermagem (em sua grande maioria, pela UFF e UFRJ, respectivamente). Um relato marcante na discussão realizada é de um profissional que observa que o espaço de produção acadêmica dentro do serviço ainda é muito incipiente. Entretanto, a parceria que existe enquanto campo de estágio é bastante potente e benéfica para ambos os lados. Com efeito, o estágio caracteriza uma importante articulação entre a produção de conhecimento da Universidade e a produção de conhecimento do serviço, em outras palavras, o conhecimento colaborativo.

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