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Capítulo 3 – Estudo de caso

3.1. Contextualização

Nesta escola, a reorganização curricular surge num contexto de vários anos de experiência no âmbito da Gestão Flexível do Currículo (desde 1997), assumida pelos professores como linha de trabalho não imposta, pelo menos nas palavras da Presidente da Comissão Executiva Instaladora (PCEI) na entrevista que nos concedeu:

…isto não arrancou com as cúpulas. Arrancou com um grupo de professores que acreditam e que já há muito tempo vinham trabalhando um pouco dentro das linhas em que acreditavam e achavam que era necessário que os alunos trabalhassem competências – que não se sabia muito bem como deviam de ser trabalhadas – que era

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Apresentam-se em anexo (Anexo 3) duas grelhas (A e B) especialmente construídas para a identificação e categorização destes itens, como explicado no capítulo referente à metodologia de investigação.

necessário criar-lhes tempos na escola para trabalharem em grupo, ou para aprenderam a estudar, para desenvolverem projectos, quer dizer, tudo isso agora está institucionalizado. Portanto, esses professores, quando tiveram acesso a essas novas linhas orientadoras gostaram. Acreditaram! (Luana, PCEI)

As coisas começaram por funcionar com o Conselho Executivo da altura como grande motor:

O Conselho Executivo tem fundamentalmente de ser um motor, não é? Criar condições? Nós não vamos obrigar ninguém a, enfim, a fazer opções nem violentar ninguém a modificar as suas práticas. Agora, nós podemos é criar condições para as pessoas reflectirem, as pessoas terem oportunidade de contactar com determinadas realidades, com exemplos, com práticas, com experiências, e, pronto, esse é o tal trabalho de sapa que vai minando. Por exemplo, o grande trabalho que tem sido feito, penso eu, é o envolvimento da escola toda na construção do seu Projecto Educativo, inicialmente, e agora, do Projecto Curricular de Escola. (Luana, PCEI)

Assim, o papel do Conselho Pedagógico, tinha de estar em consonância com o Conselho Executivo, mas a equipa de acompanhamento foi sempre considerada como essencial:

…o Conselho Pedagógico dinamizou com o apoio de uma equipa de acompanhamento onde estão os tais professores – que são os pensantes, que estão mais seguros dentro das coisas – que ajudam a encaminhar todo o trabalho e depois a própria conquista do Conselho Pedagógico foi importante. O Conselho Pedagógico rendeu-se perante propostas de trabalho bem organizadas, bem fundamentadas, bem apresentadas e que foram envolvendo as pessoas, sobretudo na fase em que, na interrupção das aulas, no período de Julho e Setembro em que os professores estão mais disponíveis, foram-se construindo as coisas. Agora, há já uma envolvência muito maior de toda a escola do que havia até ao ano passado…. [A] experiência foi envolvendo os anos progressivamente, primeiro começou com o 5º, depois passou ao 6º, e este ano envolveu o 7º mas, ao entrar no 7º, envolveu os professores do 3º ciclo. (Luana, PCEI)

O que a escola tem feito nos últimos anos já foi, inclusivamente, sujeito a avaliação:

No primeiro ano inclusivamente foi feita a avaliação da GFC pelo Professor Diogo Manuel e pela Drª Catarina. No segundo ano, já não foi avaliado dessa maneira – a não ser a experiência da Maria João – e no terceiro ano lançámo-nos na construção do Projecto Curricular de Escola que integra todos estes projectos. (Ana, CGF)

O trabalho na escola passa, posteriormente, pela coordenação ao nível da Gestão Flexível e dos Directores de Tur ma que unem esforços no sentido da concertação:

Ora bom, evidentemente, nós tentamos coordenar. Nós, na escola, eu sou dos directores de turma mas na escola existe uma coordenadora da Gestão Flexível.

Acontece que nós tentamos, eu e ela, tentamos coordenar trabalhos. Sempre … para que haja linhas orientadoras comuns na actuação, reuniões … são coisas que planificamos em conjunto, por exemplo, as actividades para as festas de Natal, coordenar actividades de tal maneira que se consiga desembocar na tal activ idade integradora que temos escolhido sempre o Natal; no meio do 2º período escolhemos o Carnaval. (Lídia, CDTs)

Consultando diversa documentação, é fácil perceber a tentativa de articulação entre os diversos órgãos (ver quadro 3.1) e entre o Projecto Ed ucativo e o Projecto Curricular da Escola Y. Este último salienta como problemas detectados os seguintes:

1. Existência, dentro de cada turma, de vários grupos de alunos com diferentes características, quer a nível cultural, quer na forma como se relacionam com os processos de aprendizagem, quer nas suas expectativas sobre os efeitos que a escola tem ou poderá ter na vida de cada um;

2. desmotivação pelos processos escolares sentida em alunos, professores e funcionários;

3. dificuldades de integração escolar por parte de um número considerável de alunos, gerando, variadas vezes, situações de indisciplina;

4. significativas dificuldades de aprendizagem por parte de um número relevante de alunos. (PCE, Escola Y)

Consequentemente são definidas como prioridades as seguintes: 1. Aumentar o gosto pela aprendizagem na escola;

2. melhorar o relacionamento interpessoal;

3. melhorar a comunicação entre os vários níveis organizacionais; 4. tornar o ambiente de trabalho mais agradável, tendo em conta todos

os elementos da escola;

5. rentabilizar com mais eficácia os recursos (humanos e materiais) existentes. (PCE, Escola Y)

A escola manifesta a intenção de “melhorar o bem-estar de todos os intervenientes no processo educativo pela promoção:

1. da real inclusão de todos os alunos nos processos escolares, de acordo com as características de cada um;

2. do sucesso, quer nos processos, quer nos resultados;

3. do gosto por ‘aprender na escola’, tornando as aprendizagens significativas e funcionais, para cada um dos intervenientes nos processos educativos;

4. da avaliação sistemática dos processos e dos resultados”. (PCE, Escola Y)

No mesmo documento é referido o modo de cumprir essa intenção:

1. Considerando as áreas indicadas como substratos de aprendizagem de todas as actividades da escola, incluindo as de enriquecimento curricular;

2. desenvolvendo o currículo através de metodologias diversificadas e activas, capazes de fomentar a autonomia individual e dos grupos de trabalho e a responsabilização pessoal, nos processos e nos resultados;

3. valorizando os processos de avaliação na perspectiva da reflexão pessoal sobre o seu próprio desempenho e a evolução pretendida;

4. promovendo a interacção entre as várias áreas disciplinares e não disciplinares, para o desenvolvimento do currículo de forma integrada e coerente. (PCE, Escola Y)

É necessário, então, prever com a necessária antecedência os contributos dos diversos órgãos pedagógicos, o que a escola fez, como se pode ver no seguinte quadro constante do referido Projecto Curricular da Escola Y:

Quadro 3.1 – Construção e desenvolvimento do projecto curricular da escola Y ( de

acordo com o PCE, Escola Y)

CONSTRUÇÃO E DESENVOLVIMENTODO PROJECTO CURRICULAR

ORGÃOS PEDAGÓGICOS ACÇÕES Conselhos de Turma CDT Conselhos de Discipl ina Depart a ment os de

Disciplina Conselho Pedagógico Conselho Executivo Grupo de Acomp/ do

PCE

Grupo do Apoio Pedagógico Grupo “45 minutos” Grupos de trabalho

Organização das turmas

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Organização dos horários (alunos /

professores / funcionários)

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Organização dos espaços

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Análise das competências gerais e

transversais

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Análise / formulação das

competências específicas

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Identificação / selecção dos

conteúdos estruturantes de cada disciplina/área disciplinar

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Planificação (para o desenvolvimento de competências), valorizando a autonomia, o trabalho cooperativo e a investigação.

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Interacção entre as áreas disciplinares e não disciplinares para a promoção da integração e da

coerência

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Avaliação periódica dos processos

e dos resu ltados

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Divulgação dos projectos a n ível da

(planificação, e desenvolvimento e avaliação)

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Acompanhamento do

desenvolvimento dos projectos

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Avaliação periódica dos processos

A articulação entre o Projecto Curricular de Turma e os projectos das Áreas Não Disciplinares, bem como com outros projectos, parece visível se consultarmos o seguinte quadro (3.2), igualmente retirado do Projecto Curricular da Escola Y:

Quadro 3.2 – Identificação dos vários projectos em desenvolvimento na

Escola Y (baseado no PCE da Escola Y)

Projectos Curriculares de Turma Projectos das Áreas Não Disciplinares

Outros Projectos: Projecto “ disciplina ”

- Alargar a acção do Gabinete de Tutoria: a) cobrindo todo o horário escolar

b) criando um “conselho de disciplina” para a análise e proposta de soluções para casos limite.

- criar laços de estreita cooperação na prevenção da violência com a psicóloga escolar, a escola segura, a assistência social, os seguranças da escola e a associação de pais.

- criar espaços não formais com actividades do agrado dos alunos nos intervalos e outros tempos livres (“feriados”, por exemplo), como a act ivação de um mini-ginásio.

- reuniões com os funcionários e os seguranças para encontrar consensos sobre formas de actuação para prevenir ou agir sobre situações de indisciplina ou de violência.

Projecto “ comunicação ”

- Delinear vias de informação entre os vários espaços da escola

- divulgar todas as actividades da escola através de um jornal de parede .

- definir os postos de recolha de informações internas, de funcionários, alunos, professores e encarregados de educação, assim como as formas de tratamento dessas informações.

Projecto “os espaços”

- Criar um grupo responsável por cada edifício ou espaço educativo (profe ssor + funcionário + alunos) - delinear formas de actuação relativamente à manutenção do bom ambiente desses esp aços;

- desenvolver formas de animação cultural em cada um dos espaços;

- Criar um grupo responsável por cada sala de aula (alunos das turmas que utilizam a sala + DT?) a) cuidar da organização e manutenção da sala de aula;

b) criar momentos de animação cultural da sala de aula, participando num projecto global para cada edifício;

- melhorar o aspecto geral da escola

- resolver os problemas relacionados com a degradação do material. - melhorar a Sala do Aluno

- melhorar a Sala dos Professores

Projecto “diversificação educativa”

- Turmas com currículo alternativo - “9º + 1 “

- Acompanhamento dos alunos com NEE - Centro de Aprendizagem – apoio pedagógico

Projecto “ hábitos de vida saudáveis ”

- Desenvolver, com todos os alunos, uma campanha de higiene que abranja todos os espaços da escola.

- Desenvolver, com todos os alunos , uma campanha de higiene alimentar, na cantina da escola. - Desenvolver acções de prevenção do tabagismo, da toxicodependência e do alcoolismo.

- Educação Sexual.

- Campanha de Dádiva de Sangue.

- Desenvolver acções de cooperação entre a Oficina da Saúde, os Directores de Turma, a Psicóloga Escolar e o Gabinete de Tutoria.

Projectos de Investigação

- “Multiculturalidade”

Recolha de dados para conhecer a realidade da escola. Trata mento dos dados recolhidos. Escolha de formas de acção em face dos resultados da análise dos dados.

- “Bem - Estar”

Recolha de dados para conhecer a realidade da escola. Trata mento dos dados recolhidos. Escolha de formas de acção em face dos resultados da análise dos dados.

Projectos de formação

- Acção de formação sobre “indisciplina e violência escolar” orientada pela Dr.ª… da Universidade…

- Toxicodependência / Educação Sexual / Co mpetências Sociais - Gestão dos Comportamentos na Sala de Aula

- Acções de formação para Funcionários

Projecto “ encarregados de educação ”

Melhorar \ Aumentar a participação dos Encarregados de Educação na vida da Escola

Projecto “ enriquecimento curricular”

Centro de informática, Biblioteca, Mediateca, Ludoteca, Videoteca, Desporto escolar, Oficina da saúde, Rádio – Escola, Jornal , Clube da Floresta, Oficina da Música, Oficina de Teatro

Coordenação de festas e espectáculos

No Projecto Educativo são ainda referidos os diversos espaços a que a escola decidiu atribuir o tempo semanal de 45 minutos permitido pelo Decreto-Lei nº6/2001.

Quadro 3.3 – Distribuição das actividades específicas do currículo da Escola

Y (segundo PCE da Escola Y)

Construção do Currículo - espaço específico da escola -

Ano de escolaridade Tempo semanal

Espaço Lúdico da Matemática 5º ano 45 minutos Tecnologias da Informação e da Comunicação 5º ano 45 minutos Oficina das Expressões 6º ano 45 minutos Educação para a Saúde 7º ano 45 minutos

Mas será que os documentos escritos são um reflexo do pensar e do sentir dos elementos entrevistados? Será que uma escola tão activa, enveredando por inúmeros projectos articulados com as Áreas Disciplinares e Não Disciplinares na tentativa de construção de um Projecto Curricular de Escola, consegue depois, ao nível dos diversos órgãos e ao nível micro do Conselho de Turma responder a esses desafios?

Em comum vamos colocar as vozes dos seguintes actores – alguns dos quais já iniciaram o seu contributo nas primeiras páginas deste capítulo:

? Frederico, o Director de Turma que acumula as áreas de Formação Cívica, Área de Projecto, Tecnologias da Informação e da Comunicação com a sua disciplina, Educação Visual e Tecnológica;

? Francisca, professora de História e Geografia de Portugal e par pedagógico de Frederico na Área de Projecto,

? Rui, professor de Língua Estrangeira, mais concretamente de Inglês; ? Inês, que o substitui no 3º período;

? Zita, professora de Matemática, par pedagógico no Estudo Acompanhado e dinamizadora do Espaço Lúdico da Matemática;

? Mariana, professora de Língua Portuguesa, par pedagógico de Zita no Estudo Acompanhado e par de Frederico nas Tecnologias da Informação e Comunicação;

? Joana, professora de Ciências da Natureza; ? Hugo, professor de Educação Física; ? André, professor de Educação Musical;

? Margarida, professora de Educação Visual e Tecnológica; ? Maria, professora de Educação Moral e Religiosa Católica.

E ainda, como elementos das estruturas de gestão:

? Luana, Presidente da Comissão Executiva Instaladora; ? Gil, Presidente do Conselho Pedagógico;

? Ana, Coordenadora da Gestão Flexível do Currículo; ? Lídia, Coordenadora dos Directores de Turma.

No nosso estudo intervieram todos os alunos da turma X, nas várias sessões de observação, e em especial a Mónica, a Conceição, a Isabel, o António e o Alexandre, que concederam uma entrevista em grupo.

É com as suas palavras que pretendemos retratar o que pensam e sentem estes diferentes actores.