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Neste capítulo é procedida uma contextualização a respeito da geologia regional e local às quais o empreendimento está inserido. Para tanto, são apresentados de maneira sucinta o contexto geotectônico e as unidades litoestratigráficas mapeadas em escala regional e local por trabalhos anteriores. Estas informações serviram de base para a individualização dos maciços rochosos de fundação da Barragem Governador Eduardo Henrique Accioly Campos.

3.1. Geologia regional

3.1.1. Domínio Pernambuco-Alagoas

O sítio de implantação da Barragem Governador Eduardo Henrique Accioly Campos está inserido no Domínio Pernambuco-Alagoas no contexto do Domínio Meridional da Província Borborema, encontrando-se ao sul do Lineamento Pernambuco (BRITO NEVES, SANTOS e VAN SCHMUS, 2000). Com orientação leste-oeste, o Domínio Pernambuco- Alagoas corresponde a uma grande uma faixa limitada ao norte pelo Lineamento Pernambuco e ao sul por zonas de cisalhamentos compressionais/transpressionais que a separam do Domínio Canindé e Domínio Rio Coruripe (MEDEIROS, 2000; MENDES e BRITO, 2016). Santos (1995), Van Schmus et al. (1995), Medeiros e Santos (1998), Medeiros (2000) e Silva Filho, Guimarães e Van Schmus (2002) definem o Domínio Pernambuco-Alagoas como resultado de uma complexa colagem de unidades litoestratigráficas de idades diversas, separando-o em dois complexos: Complexo Belém do São Francisco e Complexo Cabrobó. As rochas destes complexos se encontram deformadas, metamorfizadas e afetadas por intenso magmatismo.

3.1.1.1. Complexo Belém do São Francisco (PP2bf)

O Complexo Belém do São Francisco foi definido por Santos (1995) como sendo composto por ortognaisses migmatíticos e migmatitos com facies schlieren, nebulítica e raft. Sua associação típica é dada por metaleucogranitos róseos e migmatitos que incorporam restos de ortognaisses tonalíticos a granodioríticos e supracrustais do Complexo Cabrobó (SANTOS, 1999). Santos (1995) indica que, apesar de uma idade modelo de 1,33 Ga ter sido obtida pelo método Sm/Nd, a maior parte deste complexo tem origem mesoproterozóica. Este complexo possui foliação difusa ou milonítica de baixo ângulo e ganha destaque no mapa geológico, em escala regional, da área de influência política do município de Palmares-PE por ser uma das unidades litoestratigráficas de maior abrangência nas proximidades do local de implantação da barragem (Figura 6).

3.1.1.2. Complexo Cabrobó (MP3ca2 e MP3ca4)

Segundo Santos (1999) o Complexo Cabrobó é remanescente de um amplo processo de anatexia parcial que afetou o Domínio Pernambuco-Alagoas, ocorrendo intercalado tectoni- camente com o Complexo Belém do São Francisco. De acordo com este autor ambas as unidades constituem a raiz de um complexo de thrusts empilhados e o limite entre as mesmas é de difícil determinação. Este complexo é composto por rochas de natureza metavulcano- sedimentar, representadas por biotita gnaisses e (muscovita)-biotita xistos que apresentam recorrentes intercalações com rochas metamáficas, rochas calcissilicáticas, calcários cristalinos e quartzitos. Além destas, uma sequência essencialmente metassedimentar é reconhecida em seu interior, revelada por metarcóseos com muscovita e metagrauvacas turbidíticas (SANTOS, 1995; GOMES, 2001). Suas rochas foram metamorfizadas na fácies anfibolito alto, permitindo o estabelecimento de condições de pressão e temperatura necessárias para que processos de migmatização tenham ocorrido de maneira localizada. Guimarães et al. (2007) descreveram a sequência MP3ca2 como composta por granada-biotita-gnaisses e a sequência MP3ca4 como constituída por quartzitos com intercalações feldspáticas.

3.1.1.3. Suíte Intrusiva Leucocrática Peraluminosa (MNγ2al)

Segundo Medeiros (2000) e Mendes e Brito (2016) esta suíte engloba leucogranitóides peraluminosos foliados, meso a neoproterozoicos, posicionados no final do evento Cariris Velhos, e que possuem como característica marcante a ocorrência associada de duas micas (muscovita e biotita) e/ou granada.

3.1.1.4. Suíte Itaporanga (NP3γ2it)

Segundo Guimarães et al. (2007) esta suíte está representada por granitóides neoprote- rozoicos, sin a tardi-tectônicos à orogênese brasiliana; revelada por meio de granodioritos e sienogranitos porfiríticos, com fenocristais de k-feldspato ou plagioclásio, e por dioritos de textura equigranular. A mineralogia destes tipos litológicos é descrita por estes autores como sendo composta por: microclina, quartzo, biotita, titanita, plagioclásio, epidoto, apatita, zircão e minerais opacos. Gomes (2001) assinala que esta suite é composta por biotita-anfibólio granitóides grossos a porfiríticos com enclaves dioríticos e fácies sieníticas e Mendes e Brito (2016) salientam a possibilidade da existência de estruturas de fluxo na mesma.

3.1.1.5. Suíte Intrusiva Conceição (NP3γ2c)

Esta nomenclatura foi proposta incialmente por Almeida, Leonardos Júnior e Valença (1967) com relação à associação magmática calcialcalina normal com epidoto primário, relacionada ao plutonismo sin a tardi-tectônico à orogênese brasiliana que afetou a Faixa Piancó Alto Brígida, Domínio Transversal da Província Borborema. A referida nomenclatura foi posteriormente estendida por diversos autores aos demais domínios da Província Borborema, não havendo uniformidade neste processo. Segundo Santos, Ferreira e Silva Júnior (2002) trata- se de uma suíte composta por tonalitos a granodioritos de granulação fina a média e, em fases menores, dioritos e gabros. Apesar de não mapeada na escala regional, Guimarães et al. (2007) atestam sua ocorrência na folha Garanhuns, articulada ao oeste da área estudada, sob a forma de stocks de composição granodiorítica a tonalítica ou sills e diques dioríticos; equigranulares, com anfibólio, biotita e enclaves máficos. Esta suite pode ocorrer ainda na forma de corpos isolados ou associada à Suíte Itaporanga e apresentar contatos bruscos ou migmatíticos com as rochas encaixantes, sendo identificados em algumas ocasiões schlieren biotíticos, relativos a fantasmas das encaixantes. Guimarães e Silva Filho indicam a ocorrência desta suite nas proximidades do eixo barrado na folha Palmares, ainda não publicada/disponível online.

Figura 6. Mapa geológico do município de Palmares com a localização do eixo barrado.

Fonte: baseado em Geobank (2017), Guimarães et al. (2007) e Mendes e Brito (2016)

3.2. Geologia local

Dentre os serviços contratados pela SRHE para a elaboração do projeto da Barragem Governador Eduardo Henrique Accioly Campos estava incluso o mapa geológico em escala

local do sítio de implantação da obra (Figura 7). Pode-se observar, através de sua análise, que as unidades geológicas relacionadas ao embasamento cristalino são atribuídas aos complexos Belém do São Francisco e Cabrobó de maneira indiscriminada, não havendo distinção entre os mesmos. As unidades descritas são: migmatitos, ortognaisses e ‘núcleos granitóides’. Destaca- se ainda a extensiva ocorrência de depósitos quaternários, representados pelos depósitos flúvio- aluvionares. No estudo de caso, é realizada a discriminação das unidades geológicas do embasamento que compõem as fundações da barragem, sendo estas precedidas do termo ‘maciço’, amplamente utilizado no campo da Geologia Aplicada/Geologia de Engenharia.

Figura 7. Mapa geológico do local de implantação da Barragem Governador Eduardo Henrique

Accioly Campos.