• Nenhum resultado encontrado

III- PARTE – Reflexões sobre a Prática Letiva

1. A Prática Pedagógica

1.1 Contextualização

O segundo ano do Mestrado em Português Língua Segunda / Língua Estrangeira está subordinado à iniciação à prática pedagógica, que o estudante deve desenvolver para obter uma experiência profissional que possa ajudá-lo na sua caminhada como futuro professor de Português Língua não Materna.

Como é natural, quase todas as Universidades Públicas de Portugal promovem a realização de cursos anuais, cursos de verão e cursos especiais de Português Língua Estrangeira (PLE) para os estudantes de mobilidade e outros estrangeiros que se encontram em Portugal. A Universidade do Porto, através da Faculdade de Letras (FLUP) tem um departamento específico – Departamento de Estudos Portugueses e Estudos Românicos – que assume como uma das suas funções específicas organizar os cursos de PLE destinados aos estrangeiros.

O objetivo principal do curso é habilitar os estudantes estrangeiros com a competência comunicativa em língua portuguesa para facilitar a sua integração na vida social e familiarizá-los com a cultura portuguesa. Nesta ótica, os diferentes cursos estão divididos de acordo com o nível de proficiência que os candidatos apresentam à partida, aferido por referência ao Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, ou seja, em três níveis, subdividindo-se cada nível em dois, que representam 60 horas de contacto com a Língua Portuguesa:

Utilizador Elementar Nível A – A1 (Iniciação); A2 (Elementar) Utilizador Independente Nível B – B1 (Limiar); B2 (Vantagem) Utilizador Proficiente Nível C – C1 (Autonomia); C2 (Mestria)7

O trabalho que é objeto do presente relatório teve o seu enquadramento institucional num destes cursos de PLE (curso anual de 2012-2013) que o referido departamento da FLUP organizou para estudantes estrangeiros, cuja maioria era constituída por estudantes de mobilidade que se encontravam a frequentar os cursos da Universidade do Porto ao abrigo do programa ERASMUS.

Após uma avaliação diagnóstica, os estudantes que se candidataram à frequência do curso anual em cada um dos dois semestres letivos foram distribuídos pelos diferentes níveis acima indicados. Entretanto, refira-se que o curso anual da FLUP está organizado em dois semestres (de outubro a fevereiro e de fevereiro a junho) e as aulas ocupam quatro horas semanais, duas horas por cada aula.

As turmas com as quais estivemos em contacto direto, e onde desenvolvemos as tarefas letivas inerentes à nossa iniciação à prática pedagógica, funcionavam em horário pós- laboral (17h30-19h30), às terças e quartas-feiras. Eram duas turmas de Nível B.1 (uma em cada semestre letivo), cujo nível de proficiência, de acordo com o estabelecido no QECR, deve permitir ao estudante ser:

“Capaz de compreender as questões principais, quando é usada uma linguagem clara e estandardizada e os assuntos lhe são familiares (temas abordados no trabalho, na escola e nos momentos de lazer, etc.). É capaz de lidar com a maioria das situações encontradas na região onde se fala a língua-alvo. É capaz de produzir um discurso simples e coerente sobre assuntos que lhe são familiares ou de interesse pessoal. Pode descrever experiências e eventos, sonhos, esperanças e ambições, bem como expor brevemente razões e justificações para uma opinião ou um projecto8”.

Terminando o semestre, os estudantes estariam assim em condições de comunicar com certa independência, ou seja, com uma competência comunicativa em Língua Portuguesa mais desenvolvida.

1.1.1 Caraterização das Turmas

Como ficou dito atrás, durante o ano letivo 2012/2013 estivemos em contacto com duas turmas de PLE, uma por semestre, que passaremos a denominar por T1 (Turma de 1º Semestre) e T2 (Turma de 2º Semestre).

A T1 era composta inicialmente por 16 estudantes de diferentes nacionalidades, sendo a maioria de nacionalidade espanhola (quatro alunos), seguida das nacionalidades japonesa, alemã, polaca e timorense (com dois representantes cada), a que se juntavam um inglês, uma checa, um iraniano e um italiano. A maioria eram estudantes universitários, ERASMUS, mas havia também um investigador, uma estudante do ensino secundário e uma dona de casa (com formação académica de nível superior). Esta turma era constituída por uma faixa etária compreendida entre os 16 e os 46 anos. A T2 era composta também por estudantes de diferentes nacionalidades, sendo a maioria de nacionalidade espanhola (cinco alunas), a que se juntavam estudantes de nacionalidade italiana e ucraniana (dois representantes cada), e ainda um austríaco, uma japonesa, um irlandês e um suíço (de origem italiana). Tal como acontecia com a T1, esta turma tinha uma maioria de estudantes universitários, ERASMUS, mas nela encontravam-se também um músico, uma tradutora e uma ilustradora. Era uma turma cujas idades se situavam numa faixa que ia dos 20 aos 45 anos.

As duas turmas eram, pois, heterogéneas, não só no que concerne ao nível etário, mas também quanto à língua materna de cada um dos seus elementos. Mas a heterogeneidade não se limitava só à variedade de nacionalidades ou da faixa etária, estendendo-se igualmente aos níveis de proficiência que os diferentes alunos apresentavam, refletidos na diversidade de dificuldades linguísticas e nas vivências culturais de cada um dos membros das duas turmas.

Na prática, percebemos que existiam, em cada turma, dois níveis de proficiência em Língua Portuguesa, um B1 (limiar) e um B2 (vantagem). Naturalmente que os espanhóis, devido à proximidade estrutural das línguas alvo e materna (Portuguesa e Espanhola) apresentavam mais habilidades comunicativas em relação aos estudantes de outras nacionalidades, mostravam uma maior facilidade em comunicar, sobretudo oralmente. Quanto aos estudantes de outras nacionalidades, alguns apresentavam uma certa reserva na participação oral, fosse devido às suas limitações linguísticas, fosse em

virtude das suas práticas culturais, de que eram exemplos mais claros os das 3 estudantes japonesas e do iraniano.

Dum modo geral, era percetível que a Língua Portuguesa era importante na vida académica (estudantes) e profissional (para os profissionalizados) dos alunos, podendo afirmar-se, nesta perspetiva, que embora pudessem apresentar pontos de partida bem distintos, os aprendentes tinham metas semelhantes, as quais se traduziam no desejo de adquirirem e/ou melhorarem as competências comunicativas na língua portuguesa. Um aspeto que merece referência é o relativo ao cumprimento de horário por parte dos alunos, sobretudo da T1. O facto de chegarem sempre com um atraso no mínimo de cinco a dez minutos representou um transtorno, na medida em que muitas das vezes interferiu na boa execução do plano de aula chegando, no limite, a comprometer parcialmente o cumprimento dos objetivos traçados para a unidade didática.

Documentos relacionados