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3.1 – CONTEXTUALIZAÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL NA PERSPECTIVA DOS TRABALHADORES DA PESCA ARTESANAL TRABALHADORES DA PESCA ARTESANAL

Na Europa, a “ questão social” eclodiu na segunda metade do século XIX, após a Revolução industrial e levou a uma crise na concepção idealista-liberal da sociedade e do Estado. Isso motivou a burguesia buscar uma solução para resolver essa questão a partir de adequadas intervenções de reforma social para impedir o avanço do Estado socialista.Nesse modelo, emergiu a noção de Estado com a responsabilidade de assegurar a proteção social para manter o bem-estar dos seus membros.A compreensão das condições de existência das comunidades em situações de miséria social, agentes e vítimas da Revolução Industrial, ocorreu no século XIX na Inglaterra (CASTEL,2013).Caracteriza-se assim como questão social quando a sociedade ou nação vivencia o risco e a coesão social que a configura.

O desemprego em massa,a instabilidade das situações de trabalho para trabalho precário e desmantelamento da proteção social criaram novas categorias de pessoas:multiplicação de indivíduos que ocupam na sociedade a posição de inempregáveis,desfiliados,dissociados,desqualificados e supérfluos.

A sociedade hoje é marcada por “zonas de coerção” composta pelos: integrados chamados trabalhadores estáveis; vulneráveis trabalhadores em situação de “risco”;desfiliados – os que estão fora da sociedade salarial É cada vez mais crescente o número de pessoas que se encontram em situação de flutuação na estrutura social. São grupos de indivíduos à margem da sociedade salarial, da chamada “civilização do trabalho” (CASTEL,2013).

A condição do assalariado tornou-se a base da “sociedade salarial”moderna. O lugar ocupado pelo assalariado mede a possibilidade de ruptura.As sociedades contemporâneas ficam apreensivas e traz para a posição prioritária os temas relacionados a vulnerabilidade, exclusão, segregação, precariedade e desfiliação. Tornar-se uma sociedade refém da condição assalariada era sinônimo de degradação da condição humana.Por exemplo, o artesão arruinado, o agricultor falido, o aprendiz que não chegava a mestre.Neste contexto atual do assalariado é caracterizada uma diferente condição da trabalhadora autônoma e artesanal das marisqueiras.No entanto, essa situação não a retira da condição de vulnerabilidade. O assalariamento em crise é precário, com a possibilidade de desemprego.

Atualmente,fala-se no termo exclusão que não significa a falta de relação social mas trata-se de um conjunto de relações sociais de toda a sociedade.Os excluídos são vulneráveis na grande maioria e trata-se de uma situação de desestabilização dos estáveis, dos trabalhadores qualificados que se tornaram precários e os que estão desempregados(CASTEL,2013).O social assistencial após esse período transformou- se em uma construção de políticas com função integradora e protetora.O Estado Social é importante na resposta ao risco e a situação de vulnerabilidade, a partir dessas obrigações que a lei impõe, no caso, novo regime de proteção social.Apesar da análise do autor referir-se à realidade francesa, ele pontua reflexões ou conceitos quanto ao papel do Estado no tratamento da questão social na realidade brasileira, em especial, a elaboração de políticas públicas e de uma cultura política baseada na abordagem referente aos direitos constitucionais (CASTEL,2013).A compreensão dos problemas que as nações enfrentam necessita de uma contextualização de todos os processos que antecede.

A evolução na direção da social democracia na Europa criou o Estado Providência onde deixou de existir as incertezas e sobressaltos assegurando-se a aposentadoria decente e tornando acessível a todos a melhor assistência médico-hospitalar” (ROSANVALLON,1998, p.12).

Na França encontram-se regimes autônomos para atender os artesãos, profissionais e comerciantes.Os trabalhadores do meio rural, exceto os assalariados agrícolas,fazem parte de regimes especiais.Assim como no Brasil,as marisqueiras e pescadores artesanais são considerados segurados especiais.

Esses segurados são especiais por não haver a obrigatoriedade de contribuição para o acesso aos benefícios previdenciários ,sendo ,para tanto a comprovação do exercício daquelas atividades laborativas previstas em lei.Ressalte-se,contudo,que há benefícios que só serão concedidos àqueles segurados que contribuem à Previdência (como aposentadoria por tempo de contribuição) ,nesses casos,a lei possibilita ,como prevê a Constituição ,ao segurado especial a faculdade de contribuir com o percentual de 2,6%(2,5% para a previdência social mais 0,1% para o financiamento das prestações por acidente de trabalho)incidente sobre o valor bruto da comercialização de sua produção (FREITAS,2014,p.276).

A nova questão social foca na centralidade do suporte de identidade social e pertencimento à sociedade.Nesse contexto de trabalhadores sem trabalho, a questão social prevê uma organização social desse trabalho com o suporte do “Estado de providência ativo que busca acompanhar o enriquecimento da noção de direito social par encontrar o caminho do que poderia ser um novo direito de inserção na sociedade” (ROSANVALLON,1998).

Há uma tendência no entendimento da nova questão social em remunerar a exclusão.A análise parte da convicção de que o desemprego, por exemplo, pode durar muito e possibilitar uma perspectiva de instalar uma rede de proteção social mínima. O Estado Providência assumiu nas décadas de 1960 e 1970, a proteção dos cidadãos que não podiam trabalhar por conta de uma incapacidade mental, física ou por acidente.“Estado providência compensa as perdas de renda (por desemprego, doença, aposentadoria), assume diretamente algumas despesas (com a saúde) e

diferentes benefícios às pessoas desprovidas de recursos”(ROSANVALLON,1998, p.93).

No Brasil, o contexto mais contemporâneo da questão social é envolvido em consequências políticas e econômicas, em decorrência do processo de globalização e da implantação da concepção neoliberal tanto a nível nacional e internacional, propiciando às famílias uma exposição a situações de vulnerabilidade e de risco social.A Política Nacional de Assistência Social (aprovada pela Resolução nº 145, de 15 de outubro de 2004) visa incorporar demandas presentes na sociedade no que se refere a responsabilidade política na busca da efetivação da assistência social como direito de cidadania e responsabilidade do Estado cujo fundamento é concebido a partir da análise dos conceitos supracitados.A zona de vulnerabilidade é diretamente proporcional ao crescimento do desemprego e que a condição de assalariado está vinculada à proteção aos riscos sociais. Essa vulnerabilidade social é definida como “uma zona intermediária instável, que conjuga a precariedade do trabalho e a fragilidade dos suportes de proximidade” (CASTEL,2013, p.24).

Esses conceitos de vulnerabilidade e risco social são essenciais no processo de contextualização do universo pesqueiro e de grande relevância na constituição das categorias de estudo desses trabalhadores.A questão principal está vinculada à situação de pobreza, que seria responsável pela condução desses sujeitos à exclusão e ao “risco”.Associado aos modos de comportamento, a situação de moradia, a discriminação, cotidiano divergente dos ideais, saberes e valores que são divergentes aos conhecimentos técnicos ou especializado, processo que leva a esses marisqueiros e marisqueiras aos estereótipos da visão como população de vulneráveis ou que vivem em situação de risco.

Os trabalhadores artesanais não estão na categoria dos desfiliados, pois, nunca foram assalariados.O fato de estarem associados nas colônias são incluídos no universo da filiação ,pois, há um simbolismo incorporado às suas crenças e valores próprios do seu ambiente de trabalho.Contudo, vulneráveis na sua condição enquanto grupo social devido à insuficiência de recursos para atender suas necessidades.Essa falta de condições de suprir as demandas básicas refletem uma questão social que retrata a sua falta de acesso a bens e serviços que promovam uma melhoria do seu capital social .

Bourdieu (1980) define capital social como um “conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão vinculados a um grupo,por sua vez ,constituído por um conjunto de agentes que não são dotados de propriedades comuns,mas,também são unidos por relações permanentes e úteis “

Assim, os trabalhadores da pesca artesanal vivem insuficiência de capital físico, capital humano e capital social.No primeiro refere-se à busca de bem-estar, ex: moradia, terra ou território de pesca, máquinas, animais, poupança, crédito, seguro e proteção.O segundo menciona trabalho ativo e o valor agregado em educação e saúde, principalmente, na condição física para o trabalho assim como qualificação.O terceiro trata do contato, acesso à informação, confiança e participação.

3.2 – OS PESCADORES ARTESANAIS E SUAS CONDIÇÕES DE SAÚDE E