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Contextualização do SAI: seu Objeto e a sua Relação com a Missão e os Objetivos

CAPÍTULO III. O SETOR ATENDIMENTO INICIAL

3.3. SETOR DE ATENDIEMNTO INICIAL: CANAL DE ACESSO À JUSTIÇA E DE

3.3.1. Contextualização do SAI: seu Objeto e a sua Relação com a Missão e os Objetivos

Um esboço do contexto no qual se insere o SAI parte, de um lado, de uma análise do procedimento que a Lei n.º 9.099/95 delineou para aquela pessoa que aciona ou é acionado nos Juizados Especiais Cíveis; de outro, da política de planejamento estratégico do Poder Judiciário Rondoniense.

Em análise superficial, pode-se dizer que, em obediência aos critérios elencados no art. 2.º da lei,98 os Juizados Especiais Cíveis adotam um procedimento com características

bem distintas dos procedimentos contemplados no Código de Processo Civil. A título de exemplo, o procedimento ordinário, no mais das vezes, desenvolve-se em quatro fases, a saber, postulatória, conciliatória, instrutória e de julgamento. A fase denominada postulatória abrange, no que é mais importante para o autor, a petição inicial; enquanto para o réu, a sua defesa.

Nos juizados, o procedimento, além de ser eminentemente oral e informal, é marcado pela concentração de atos, onde as fases típicas do procedimento ordinário se confundem. O rito, basicamente, segue o seguinte itinerário: o cidadão pode ajuizar as causas de até 20 (vinte) salários-mínimos, sendo que, naqueles que estiverem entre 20 (vinte) a 40 (quarenta) salários-mínimos, é obrigatória a representação por advogado.

Recebida petição, a secretaria designa audiência de conciliação, a qual terá que ser efetivada dentro de 15 dias da data do protocolo do pedido no juizado. O réu, no caso, toma

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"Art. 2.º. O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação".

conhecimento da ação e da audiência mediante sua citação e intimação pelo correio. Presentes o autor e o réu (e os advogados, se necessário), inicia-se uma audiência, conduzida por um conciliador. Havendo acordo, o mesmo será reduzido a escrito e homologado pelo juiz.

Caso não seja obtida a conciliação e recusando-se as partes à submissão da causa à arbitragem, abre-se espaço para que o réu ofereça defesa e, se for o caso, formule pedido contraposto. Pode o autor, na própria audiência, responder ao pedido contraposto ou, se for o caso, em outra audiência oportunamente designada. Outra alternativa muito adotada é simplesmente marcar a audiência de instrução e julgamento, autorizando, segundo o Enunciado 10 do FONAJE, que o réu apresente sua defesa até a data dessa audiência. Na audiência de instrução, tenta-se nova conciliação das partes. Caso frutífero, lavra-se o termo respectivo com homologação do juiz. Caso contrário, o juiz ouve as partes, as testemunhas, julga e dá a sentença.

Embora o procedimento dos juizados seja concentrado, para fins didáticos consideremos como fase postulatória o momento em que o autor e o réu praticam, respectivamente, seus principais atos processuais, quais sejam, a formulação do pedido inicial e da defesa (incluindo o pedido contraposto).

Com efeito, o procedimento dos juizados especiais cíveis é uma opção para o autor, ante o disposto no § 3.º, do art. 3.º da Lei n.º 9.099/95. Também é uma opção à assistência por advogado quando se busca um pedido com valor de até 20 salários-mínimos. Lado outro, caso haja a opção pelo juízo comum, a representação por advogado é obrigatória. E aqui, pergunta- se: quais seriam as providências prévias a serem tomadas pelo advogado antes do ajuizamento da demanda?

A par da regularização processual e atos típicos deste momento, tais como contrato de honorários, o certo é que, pela prática forense no dia-a-dia, o advogado, para evitar uma falha na elaboração da petição inicial, colocará nela todos os aspectos da causa do seu cliente. Para tanto, há uma conversa prévia ou senão várias em que o advogado procura saber como se deram os fatos e que provas o cliente dispõe para colaborar suas alegações. A mesma situação ocorre para o lado do réu, quando se defende em juízo.

Pois bem, no procedimento dos Juizados Especiais Cíveis, o contexto é bem diferente. O § 3.º do art. 14 reza que, optando a parte por agir sem advogado, nas causas de até 20

(vinte) salários-mínimos, formulará sua reclamação oral perante a Secretaria do Juizado. Essa fórmula empregada pela lei, embora aparentemente simplista, não se revela tão fácil na prática.

De fato, muito se diz que as pessoas estão tendo mais consciência dos seus direitos. Esse é um fato que tem se tornado uma realidade. Contudo, o fato de ter mais consciência do seu direito não significa dizer que elas saibam como proceder em defesa desse mesmo direito ou, mais ainda, formular sua reclamação. Quando a pessoa opta por procurar um advogado, parte da idéia que esse profissional, por seu conhecimento, saberá atuar em sua defesa. Essa mesma concepção, não se pode ignorar, existirá perante o Poder Judiciário, no caso dos Juizados Especiais Cíveis. A pessoa que o procura acreditará que de pronto receberá a orientação e as informações necessárias à propositura da sua ação judicial, tais como, por exemplo, trazer todos os documentos que tiver e que se relacionarem com o conflito.

De seu turno, é essencial dizer sobre a pessoa que é demandada na justiça: o réu. Ao ser convocado a comparecer a uma sessão de conciliação, na maioria das vezes dirige-se ao fórum, querendo saber no que seu nome está envolvido. E aqui, depois de relatado o problema, pode ser orientado a procurar um advogado. Caso não deseje, a Secretaria do Juizado, tal como agiu quando uma pessoa se intitula autor de uma reclamação, um similar atendimento deverá ser dispensado ao demandado. No exercício dessa atividade, a Secretaria do Juizado deve orientar o réu, com a imparcialidade necessária de que tipos de defesa poderá se valer ou, ainda, se for o caso, informá-lo de que poderá também formular pedido contraposto.

Denota-se, como já foi realçado, que a fórmula do § 3.º, do art. 14, da Lei n.º 9.099/95, não é tão simples como a teoricamente pode-se supor. Ao atribuir à Secretaria do Juizado o encargo de colher a reclamação oral, a lei buscou possibilitar esse atendimento direto e eficaz do autor com o Poder Judiciário. E com o réu não é diferente. Apesar de a exegese dos artigos 30 e 31 da mesma lei dar a entender que tal atitude ocorrerá em audiência apenas, não se pode ignorar que o demandado já procura a Justiça bem antes. Em tal ocasião, a Secretaria do Juizado é que será o setor próprio para o réu previamente obter informações sobre como proceder. Tal em razão da redação do art. 9.º, primeira parte, da lei que fala em assistência sem advogado "às partes" e não apenas ao autor.

O contexto descrito acima mostra que o SAI tem por objeto o aprimoramento da fase postulatória dos Juizados Especiais Cíveis com ênfase na conciliação, viabilizando um acesso e uma eficaz participação das partes no processo judicial, dentro da missão institucional do Poder Judiciário do Estado de Rondônia. 99

Por outro lado, diante do quadro caótico em que se encontra o Poder Judiciário brasileiro, quando se fala em celeridade e efetividade da prestação jurisdicional, o planejamento estratégico tem sido um importante instrumento usado por algumas administrações judiciárias para reverter esse quadro.100 Exatamente por ser um processo

gerencial, possibilita à máquina judiciária, uma vez identificando os problemas locais e regionais, antecipar-se aos mesmos. Além disso, oportuniza o ajustamento do Poder Judiciário a um cenário mais amplo, inédito e diversificado.

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Segundo Mota: "A missão refere-se ao propósito final que justifica a organização. A missão informa a maneira pela qual a organização se estabelece perante seus usuários; define a atividade e como desempenhá-la (ou para a qual foi designada). Por ser ampla, a missão alcança grande generalidade, mas deve fornecer um sentido de direção e ação bastante nítido. Não se trata somente de uma proposta atraente, mas de uma referência a ser interiorizada por todos os funcionários e a ser conhecida pelos clientes, provedores e público externo. Portanto a missão indica o tipo de serviço ao usuário e que conhecimento este irá utilizar. Fornece um caráter singular e distinto à organização e ajuda a: esclarecer os usuários e o público sobre o que esperar da organização; fazer os funcionários interiorizarem o sentido comum de direção e compromisso; referenciar as decisões e ações; estabelecer a amplitude da ação organizacional; definir um caráter coletivo e uma identidade própria (junto com valores)", in Juizados Especiais – Projeto de Mestrado Profissional em Poder Judiciário, p. 13.

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A noção do que seja Planejamento Estratégico é explicada por Mota, que assim explana: "... o planejamento estratégico, além dos avanços metodológicos, significa a conquista da visão de grande escopo e longo prazo na determinação dos propósitos e caminhos organizacionais. Tal planejamento se volta para o alcance de resultados, através de um processo contínuo de antecipar mudanças futuras, tirando vantagens das oportunidades que surgem, examinando os pontos fortes e fracos da organização, estabelecendo e corrigindo cursos de ação a longo prazo. Portanto é essencialmente um processo gerencial, que se concentra nos níveis hierárquicos mais elevados da organização e que não pode ser concebido como atividade clássica de planejamento, delegável a comissões ou grupos de planejamento. Constitui a essência de alto nível, sobre a qual o maior peso da responsabilidade externa e interna pelos rumos da organização. A adoção do planejamento estratégico requer normalmente uma mudança bastante significativa na filosofia e na prática gerencial da maioria das empresas ou instituições públicas: ele não é implantável por meio de simples modificações técnicas nos processos e instrumentos decisórios da organização. É, na realidade, uma conquista organizacional que se inicia no nível de mudanças conceituais de gerência, resultando em novas formas de comportamento administrativo, além de novas técnicas e práticas de planejamento, controle e avaliação.". Ob. cit., pp. 47-48.

Com efeito, o Estado de Rondônia, por exemplo, vive um momento de expansão e de transformação na economia. Como já salientado, uma nova onda de agravamento de questões sociais está à vista por causa da construção de duas grandes hidrelétricas no Rio Madeira.

À luz desse panorama geral é que o Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia instituiu, em dezembro de 2007, sua primeira política de Planejamento Estratégico, com base no exercício de 2008 a 2011, fixando suas expectativas pelo estabelecimento de macroobjetivos, que estão distribuídos em quatro perspectivas:101 a) Sociedade: promover

uma justiça transparente, humana e desburocratizada; b) Processos internos: otimizar processos de trabalho; c) Orçamento: implantar planejamento orçamentário participativo, com transparência e efetiva aplicação; e d) Capital Humano e Crescimento

Organizacional: valorizar o patrimônio intelectual; promover a expansão e modernização do

Poder Judiciário de Rondônia.

Para que tais objetivos possam ser alcançados, em um lapso temporal de quatro anos, o Poder Judiciário Rondoniense estabeleceu um elevado número de objetivos e ações estratégicos voltados à modernização, ao desenvolvimento organizacional e à reorganização da estrutura judiciária, em seus aspectos físico, administrativo e pessoal. Entre eles, destacam- se com o objeto e o contexto de utilização do SAI:

PERSPECTIVA DA SOCIEDADE

Objetivo Estratégico Garantir à sociedade uma justiça ágil e contínua que facilite o acesso do cidadão à prestação jurisdicional.

Ações Estratégicas Melhorar o atendimento prestado ao usuário.

Promover a imagem e o funcionamento do Poder Judiciário do Estado de Rondônia perante a sociedade.

PERSPECTIVA: PROCESSOS INTERNOS

101 Essas perspectivas estão em sintonia com a Missão e a Visão que foram fixados ao Poder Judiciário

Rondoniense, conforme consta no Planejamento Estratégico: “Missão: Oferecer à sociedade acesso à Justiça, solucionando conflitos com rapidez, qualidade e eficácia, observando os princípios humanos e éticos em busca da pacificação e garantia da justiça social”; “Visão: Ser reconhecida como uma instituição acessível, que promova justiça com celeridade, qualidade e transparência, e que contribua para o desenvolvimento social”.

Objetivo Estratégico Melhorar a produtividade e dar maior celeridade aos procedimentos por meio da otimização do fluxo e da qualidade das informações.

Ações Estratégicas Otimizar as práticas cartorárias.

Simplificar, padronizar e normatizar os procedimentos internos.

PERSPECTIVA: CAPITAL HUMANO E CRESCIMENTO ORGANIZADO

Objetivo Estratégico I Efetivar políticas de gestão de pessoas nos âmbitos da capacitação, do incentivo e da integração com intuito de promover o desenvolvimento profissional, pessoal e qualidade de vida.

Ações Estratégicas Criar a escola do Judiciário para treinamento e capacitação de servidores.

Reavaliar o programa de capacitação dos servidores do PJRO.

Objetivo Estratégico II Promover a expansão e a modernização do Poder Judiciário de Rondônia.

Ações Estratégicas Ampliar a utilização de recursos tecnológicos. Redimensionar o quadro de pessoal.

Desta forma, o que se objetiva demonstrar é que os parâmetros norteadores do planejamento estratégico do Poder Judiciário Rondoniense reforçam a necessidade e a importância da implantação do projeto SAI, por dois motivos que podem ser ao menos indicados.

Em primeiro lugar, o alcance de uma justiça mais informativa, cidadã e, sobretudo, igualitária, sob o ponto de vista material, tal como o desejável pelo artigo 5º, inciso I, da Constituição Federal de 1988. O Poder Judiciário, na contemporaneidade, prima, entre outras coisas, pelo asseguramento da igualdade aos desiguais. A atribuição legal de colher a reclamação oral perante a Secretaria do Juizado, faz com que o Poder Judiciário assuma um dever de dotar o Juizado Cível de um mecanismo que forneça um atendimento acolhedor e eficiente ao jurisdicionado, seja ele frágil economicamente ou de informação, tão bom quanto esperaria se a parte procurasse diretamente um advogado.

Em segundo lugar, vivemos em uma era de rupturas e mudanças, exigindo, em certas situações, uma reorganização interna. Em Rondônia, para fazer com que o Juizado Especial Cível continue sendo uma máquina judicial eficiente, torna-se importante repensar, pelas características da população jurisdicionada e os conflitos de maior incidência nas três entrâncias, uma remodelagem no atendimento ao público. E justamente aqui é que o SAI representa um ganho de eficiência, pela especialização dos servidores que irão tratar com os jurisdicionados que o procuram.