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Contextualizando as origens e estruturas do COREDE VRP

No documento UNISC UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL (páginas 51-56)

2 METODOLOGIA E DETALHAMENTO OPERACIONAL DA PESQUISA

3.1 Contextualizando as origens e estruturas do COREDE VRP

Um dos grandes desafios para as políticas públicas no que se refere ao processo decisório tem sua origem em um conjunto de elementos que formam a diversidade do Estado do Rio Grande do Sul.

Conforme Coelho (2010, p. 20)

O Rio Grande do Sul apresenta grande diversidade interna apesar de não ser das mais extensas Unidades da Federação Brasileira. Esta variedade tem origem em diferentes ecossistemas e paisagens naturais, bem como nas formas históricas de colonização e ocupação (sesmarias, colônias e assim por diante) pluralidade étnica e estágio cultural dos diferentes ciclos de povoamento. O resultado secular foi a consolidação de diversificadas realidades sociais, econômicas e culturais em diferentes regiões.

No entanto, a disposição por parte do povo para a integração de diferentes etnias possibilitou, ao longo do tempo, um florescimento cultural que fez surgir no Rio Grande do Sul uma vocação de seus atores sociais para soluções comunitárias, e cuja participação se evidenciou e se fortaleceu, quando das dificuldades.

Essa vocação para soluções comunitárias representou um processo lento, mas gradual, de conscientização popular onde segundo Coelho (2010, p. 22)

existiram mobilizações e organizações das comunidades para participar das decisões sobre políticas públicas como o Movimento Comunitário de Base, em Ijuí, na década de sessenta. Ainda, por outro lado, o RS também revelou certa vocação de ligar a participação popular à questão orçamentária, ou seja, a presença da cidadania nos processos de discussão e escolha de investimentos, gastos e prioridades dos entes estatais.

Porém, o Estado do Rio Grande do Sul sempre se posicionou na vanguarda de questões participativas políticas, como reflexo ou mesmo impulsionada pela consciência e responsabilidade civil. Dessa maneira, a participação popular em decisões ligadas a questão orçamentária trouxe ao RS um pioneirismo que conforme Coelho (2010, p. 22)

[...] teve experiências de Orçamento Participativo em alguns municípios (Pelotas, 1983, uma das pioneiras no Brasil). Foi o único Estado a

reconhecer em sua Constituição de 1989 a ‘iniciativa popular’ também para propor emendas aos projetos de leis orçamentárias, algo não previsto na Constituição Federal.

No entanto, para participar de forma consciente e responsável no processo de decisões políticas, revela-se a necessidade de que os atores sociais tenham pleno conhecimento das situações locais/regionais. Esta condição, dos atores terem pleno conhecimento da situação local, trouxe uma nova realidade, a qual a sociedade civil não estava plenamente preparada para assumir. Este despreparo da sociedade civil quanto ao processo de participação nas decisões, criou uma lacuna entre o Estado e a população oriunda do estado democrático.

Partindo deste contexto, a população clamava por uma alternativa que trouxesse amparo legal para ambos atores, de um lado o Estado, representando a posição da administração pública, e de outro lado, as pessoas, como representantes da sociedade civil com interesses individuais e coletivos diretos nas questões locais/regionais.

Desta forma, vieram os COREDES preencher esta lacuna referenciada, através da inovação representativa da sociedade no processo de gestão orçamentária com o que corrobora Frantz (2004, p. 9) quando afirma

processa-se algo de novo no cenário do poder político do Estado do Rio Grande do Sul, um processo de educação política pela participação no debate sobre o desenvolvimento regional, por meio da construção de novas relações políticas, com a entrada em cena de novos atores sociais no cenário das relações políticas com o objetivo de construir e ampliar os espaços públicos de participação.

Contudo, o papel da sociedade vai além da participação na construção de novas relações políticas, estabelece-se uma posição como ‘intermediadora de interesses’ por meio da articulação e organização das necessidades locais/regionais prioritárias das instituições públicas e sociedade civil.

No entanto, observa-se uma dificuldade nesta condição de intermediar interesses, uma vez que fatores como as desigualdades regionais afetam sensivelmente as comunidades, com reflexos locais e regionais. Desigualdades que se aceleram em alguns municípios gaúchos onde uma das razões é o declínio demográfico.

Segundo Bandeira (2010, p. 37), o declínio demográfico resulta de dois fenômenos:

i) a continuidade da emigração em busca de empregos em regiões mais dinâmicas, processo cujos efeitos se manifestam, com intensidade variável, desde o início do século vinte e, ii) mais recente, a acentuada redução das taxas de fecundidade verificada nas últimas décadas no Rio Grande do Sul onde a taxa caiu a menos da metade desde a década de sessenta, situando-se em 1,8 filhos por mulher em 2005.

Com isto, em virtude das desigualdades regionais, principalmente com referência a questão da emigração para centros maiores, a qual afeta, por consequência, os dois fenômenos (emigração pela oportunidade de emprego e aumento da natalidade nos centros maiores em virtude da emigração), amplia-se a responsabilidade que os COREDES trazem em seu conjunto de objetivos, os quais devem proporcionar através de suas lideranças, alternativas que possam reverter este quadro de desequilíbrios gerados pela emigração local, disponibilizando condições e recursos humanos e técnicos, para o desenvolvimento socioeconômico regional.

Segundo Bandeira (1999, p. 32)

os Conselhos Regionais de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul foram criados com a finalidade de suprir a falta de instâncias de articulação regional no Estado, constituindo-se, simultaneamente, em instrumentos de mobilização da sociedade, capazes de aprofundar a compreensão dos problemas regionais, e em canais de comunicação com a administração pública, que possibilitassem a participação da comunidade na formulação e na implementação de iniciativas voltadas para a promoção do desenvolvimento regional.

O Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio Pardo que abrange este estudo, está localizado na região central do Estado, conforme pode ser visualizado na Figura 2.

Figura 2 - Mapa de localização do COREDE VRP Fonte: SEPLAN/DEPLAN em 18/10/2010.

Segundo dados da Fundação de Economia e Estatística (2011), a população total residente na região de abrangência do Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio Pardo em 2010 era de 418.109 habitantes. Com uma área de 13.255,7 km², a densidade demográfica registrada no Vale do Rio Pardo em 2010 foi de 31,5 hab/km². Outros indicadores sociais da região dizem respeito à taxa de analfabetismo, que em 2000 era de 9,49 %; já a expectativa de vida ao nascer no mesmo ano era de 70,58 anos enquanto o coeficiente de mortalidade infantil em 2009 era de 13,33 óbitos por mil nascidos vivos. No que diz respeito aos principais dados econômicos da região, cabe mencionar que o PIBpm em 2008 era de R$ mil 7.299.173,00 e o PIB per capita alcançou um valor médio de R$ 17.082,00 enquanto as exportações totais em 2010 foram de U$ FOB 1,755,753,339.

Compõem o Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio Pardo vinte e três municípios, os quais são representados pelos seus respectivos

Conselhos Municipais de Desenvolvimento (COMUDES), localizados conforme disposto na Figura 3.

Figura 3 - Mapa de localização dos municípios pertencentes ao COREDE-VRP Fonte: SEPLAN/DEPLAN em 18/10/2010

A finalidade do COREDE, com base no Estatuto do Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio Pardo (Anexo E) é promover a participação de todos os segmentos da sociedade regional no diagnóstico de suas necessidades e potencialidades para a formulação e implantação de políticas e diretrizes para promover o desenvolvimento integrado da região e diminuir os desequilíbrios existentes.

Além disso, segundo Coelho, Frizzo e Marcondes (2010, p.17) o Conselho Regional de Desenvolvimento tem como objetivos:

I – formular e executar estratégias regionais, consolidando-as em planos estratégicos de desenvolvimento regional; II – avançar a participação social e cidadã, combinando múltiplas formas de democracia direta com representação política; III – constituir-se em instância de regionalização das estratégias e das ações do Executivo, Legislativo e Judiciário do Rio grande do Sul, conforme estabelece a Constituição do Estado; IV – avançar na construção de espaços públicos de controle social dos mercados e dos mais diversos aparelhos do Estado; V – conquistar e estimular a crescente participação social e cidadã na definição dos rumos do processo de desenvolvimento gaúcho; VI – intensificar o processo de construção de uma organização social pró-desenvolvimento regional e VII – difundir a filosofia e a prática cooperativa de se pensar e fazer o desenvolvimento regional em parceria.

Percebe-se, portanto, que o COREDE VRP tornou-se um fórum de integração entre os interesses do Estado como Governo e suas deliberações no processo de políticas públicas, e a sociedade civil, visualizando há possibilidade de atender seus anseios, necessidades e prioridades, através da participação nas decisões por meio do voto na Consulta Popular.

No documento UNISC UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL (páginas 51-56)