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2. DEFENSORIA PÚBLICA

2.1 CONTEXTUALIZANDO O CONCEITO DE DEFENSORIA PÚBLICA

A Constituição Federativa do Brasil, de 10 de outubro de 1988, reconheceu um conjunto de direitos fundamentais aos cidadãos, dentre eles, a assistência jurídica, prevista mais especificamente em s u rt. 5º in iso LXXIV o qu l ispõ qu “o Est o pr st rá ssistên i jur i int gr l gr tuit os qu omprov r m insufi iên i r ursos”.

Percebe-se então que a referida Carta Magna preocupou-se em concretizar, frente à democracia, o dever do Estado em garantir os direitos fundamentais e sociais aos cidadãos, possibilitando o acesso à justiça de forma ampla aos necessitados. 81

Inerente ao acesso à justiça, o referido artigo discorre do princípio da dignidade da pessoa humana, que é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, bem como dos objetivos fundamentais contidos no artigo 3º da CF, tais como: erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. 82

Uma instituição pública primordial para a concretização desse acesso, que faz parte da função essencial à justiça, inclusive, é a Defensoria Pública. Sobre o assunto, está previsto no art. 134 da CF o que é a referida instituição:

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.

Assim, na forma como instrui o inc. LXXIV, do art. 5º, da CF, o Estado, através da Defensoria Pública, é responsável pela orientação jurídica e defesa em todos os graus aos necessitados, bem como a defesa dos direito humanos, direitos individuais e coletivos e de grupos em situação vulnerável.

Ressalta-se que assistência jurídica não significa somente representação em juízo para pessoas que não tenham condições de arcar com os honorários advocatícios, como ocorre na assistência judiciária, mas abrange, além desta, a orientação e consultoria, o acompanhamento extrajudicial, inclusos nesse a elaboração de contratos, a consultoria jurídica e formas mais

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CAOVILLA, Maria Aparecida Lucca. Acesso à justiça e cidadania. Chapecó: Argos, 2006, p. 70.

82 ALVES, Cléber Francisco; PIMENTA, Marília Gonçalves Pimenta. Acesso à justiça em preto e branco:

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eficazes de resolução de conflitos, como a mediação e a arbitragem, bem como educação em direitos, com a conscientização dos direitos e dos meios para assegurá-los. 83

Assim, o que se pode concluir analisando as responsabilidades da Defensoria Pública, é que sua relevância para a cidadania não serve apenas como uma nota técnica, mas sim como uma instituição imprescindível para a demanda de medidas práticas e concretas que assegurem tudo aquilo que abrange assistência jurídica ao cotidiano da realidade brasileira. 84

Importante aludir que a competência legislativa acerca da assistência jurídica e da Defensoria Pública (inc. XIII, do art. 24 da CF) está prevista no caput do art. 24, da CF, o qual determina que “compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente”. Isso significa que cabe à União legislar sobre normas gerais e aos Estados sobre regras específicas.

Nesse contexto, menciona-se o art. 134, §1º, da CF, que dispõe:

Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para a organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.

Portanto, em consonância com o referido parágrafo, do art. 134, goza a Lei Complementar n. 80, de 12 de janeiro de 1994, posteriormente alterada pela Lei Complementar n. 132 de 2009, a qual organiza a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e Territórios, além de prescrever normas gerais para a organização das Defensorias Públicas nos Estados, como seus princípios, objetivos e funções institucionais.

Cabe ainda mencionar que, segundo o §2º do art. 134, da CF, acrescentado pela Emenda Constitucional n. 45/2004, às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa, bem como a iniciativa de sua proposta orçamentária.

A autonomia administrativa consiste na autogestão, incluídas a aplicação direta de suas receitas, contratação de serviços e gestão de pessoal, desde que respeitados os seus objetivos e as normas legais a que estão subordinados. Já a autonomia funcional consiste na permissão que a Instituição possui de definir as rotinas dos Defensores Públicos no cumprimento de suas atribuições, a forma com que prestará a assistência jurídica, para atingir suas finalidades constitucionais. 85

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MELOTTO, Amanda Oliari. A Defensoria Pública e a proteção de direitos metaindividuais por meio de ação

civil pública. Florianópolis: Empório do Direito, 2015, p. 27 e 31.

84 TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 14ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 1120. 85 RÉ, Aluísio Lunes Monti Ruggeri. Manual do Defensor Público: Teoria e Prática. Salvador: JusPodivm, 2013,

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Isso quer dizer que a referida instituição é apta a estruturar e desenvolver suas atividades de representar e tutelar os direitos fundamentais da população, sem qualquer interferência externa. 86

Em suma, a Defensoria Pública é uma instituição com função jurisdicional essencial à justiça, que se faz necessária para o exercício da atividade jurisdicional, garantindo o acesso igualitário à justiça, mormente na defesa dos interesses dos cidadãos hipossuficientes.

Assim, necessário se faz discorrer acerca de um breve histórico da origem da Defensoria Pública no Brasil, com o objetivo de explicitar como foi implantada no Estado de Santa Catarina.

2.2 BREVE HISTÓRICO DA ORIGEM DA DEFENSORIA PÚBLICA ESTADUAL NO