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Continuidade do Conhecimento

No documento TIA Asp Cav Lopes (páginas 48-51)

CAPÍTULO 3 REQUISITOS DAS GUARNIÇÕES DE CARRO DE

3.3. Potencial de Combate ao Nível do Elemento Humano

3.3.4. Continuidade do Conhecimento

O Conhecimento pode ser definido como:

“Uma mistura fluída de experiência condensada, valores e informações contextuais,

que proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e informações. Nas organizações, este encontra-se materializado não só na documentação e repositórios, mas também nas rotinas, processos, práticas e normas da organização”41 (Davenport & Prusak, 2014, p. 4).

No mesmo sentido, Gozzi (2012, p. 9) define conhecimento “como a potencialidade adquirida para compreensão da realidade, através das interações entre pessoas, que favorece

a ação em busca de resultados mais efetivos para os problemas do cotidiano”.

O conhecimento pode ser classificado em duas tipologias: tácito e explícito (Nonaka, Toyama & Byosière, 2001).

O conhecimento diz-se explícito quando pode ser declarado, mostrado e explicado (Bobeda, n.d.). Este tipo de conhecimento “pode ser expresso em linguagem formal e sistemática e pode ser partilhado sob a forma de dados, fórmulas científicas, especificações, manuais e assim por diante. Desta forma pode ser facilmente processado, transmitido e

armazenado” (Nonaka et al., 2001, p. 494). Este tipo de conhecimento é considerado como “apenas a «ponta de um iceberg» em relação ao conhecimento que os indivíduos detêm”

(Cisne, Kaneoya & Santos, 2015, p. 100).

Já o conhecimento tácito “é altamente pessoal e difícil de formalizar” (Nonaka et al.,

2001, p. 494), sendo que, segundo Polanyi (1966, p. 4), “nós sabemos mais do que aquilo

que conseguimos explicar”. O conhecimento tácito encontra-se “profundamente enraizado

na ação, procedimentos, rotinas, obrigações, ideais, valores e emoções” (Cohen & Bacdayan, 1994; Schön, 1983; Winter, 1994 citados em Nonaka et al., 2001, p. 494). Este tipo de conhecimento encontra-se assim intrinsecamente relacionado com a experiência do

indivíduo e com “fatores intangíveis como crenças, emoções, habilidades, entre outros”

(Cisne et al., 2015, p. 100). O conhecimento tácito inclui dois elementos distintos: o técnico e o cognitivo. O elemento técnico engloba conhecimento informal e difícil de descrever relativo a know-how, habilidades e aptidões práticas (ex. destreza de um artesão adquirida depois de muitos anos de experiência a realizar as mesmas tarefas) (Nonaka et al., 2001). O

40 Ver Apêndice M. 41 Tradução livre do autor.

31 elemento cognitivo relaciona-se com o conceito do “modelo mental” de Johnson-Laird (1983), o qual corresponde a “esquemas, paradigmas, perspetivas crenças e pontos de vista, que auxiliam os indivíduos a perceber e definir o mundo que os rodeia através da criação e

manipulação de analogias na sua mente” (Nonaka et al., 2001, p. 494).

O conhecimento pode ser avaliado em função das ações e decisões a que conduz. Assim, um melhor nível de conhecimento ir-se-á repercutir numa maior proficiência no desempenho de funções nas mais variadas áreas (Davenport & Prusak, 2014).

O conhecimento evolui ao longo do tempo através da experiência que assimilamos em cursos, livros, instrutores e aprendizagem informal42. O conceito de experiência pode ser

definido como o “processo de aquisição de conhecimento ou aptidões através da realização,

observação ou sentimento de coisas” (Cambridge University Press, 2017), referindo-se àquilo que fizemos e que nos aconteceu no passado e proporcionando uma perspetiva histórica que permite reconhecer padrões comuns entre o que nos aconteceu no antecedente e as novas situações que vão surgindo (Davenport & Prusak, 2014).

O conceito de “ground truth”, ou em português “verdade no terreno”, desempenha um papel fulcral no processo de aquisição de conhecimento, uma vez que a vivência de situações reais de forma prática “on the gound” torna-se mais enriquecedora do que o seu estudo teórico. É com base nesta experiência empírica que se torna possível aferir o que realmente funciona em termos práticos ou não (Davenport & Prusak, 2014).

O conhecimento gera linhas de ação desenvolvidas com base na experiência e observação de sucessivas tentativas e erros, permitindo conceber soluções para novos problemas com base em problemas similares anteriormente resolvidos. O acumular de conhecimento permite, assim, reconhecer padrões conhecidos em novas situações, gerando uma resposta adequada com base em respostas dadas em situações passadas. Isto gera velocidade de reação, aumentando a velocidade da resposta, uma vez que não é necessário

criar uma solução “do zero” sempre que surge uma nova situação, mesmo que complexa.

Estes padrões de experiência interiorizada, evitam que seja necessário analisar conscientemente todas as etapas necessárias ao processo cognitivo de resolução de uma determinada situação. A solução é assim gerada de forma intuitiva, sem que, por vezes, saibamos como chegámos até ela. Isto não significa que as etapas cognitivas necessárias para

42“Aprendizagem decorrente das atividades da vida quotidiana, relacionadas com o trabalho, a família ou o

lazer. Não é estruturada (em termos de objetivos, duração e recursos) e tradicionalmente não conduz à certificação. Pode ser intencional mas, na maioria dos casos, não o é (carácter 'fortuito'/aleatório)” (Comissão Europeia, 2001, p. 40).

32 dar resposta a uma determinada situação não existam, significa apenas que essas etapas já estão de tal forma aprendidas e enraizadas que ocorrem automaticamente, de forma inconsciente, e a grande velocidade (Davenport & Prusak, 2014).

A habilidade de um condutor experiente constitui um bom exemplo desta situação. Assim, um condutor experiente realiza rapidamente uma série de tarefas complexas, sem ter de pensar nelas, coisa que um condutor iniciante não seria capaz de fazer. O condutor experiente desenvolve um sentido intuitivo sobre o que esperar na estrada, antecipando as situações antes mesmo de estas acontecerem. A experiência permite que este consiga detetar sinais minuciosos que um condutor principiante quase certamente não conseguiria detetar, melhorando o seu desempenho na condução (Davenport & Prusak, 2014).

O conhecimento e a sua eficaz gestão constituem assim, atualmente, a maior vantagem competitiva das organizações, assente na forma como os seus colaboradores empregam o seu conhecimento, experiência e capacidades. A Continuidade do Conhecimento contribui para uma maior qualidade dos resultados obtidos, permitindo a preservação de conhecimento crítico, mantendo assim uma vantagem competitiva assente no conhecimento (Hana, 2012).

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