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Dos oito contos que compõem As Palavras Secretas, seis são bastante longos, um deles chegando a trinta e uma páginas. Esses contos alongados são muito característicos da composição de Rubens Figueiredo. O fato de serem mais extensos confere-lhes características que os aproximam da construção da narrativa do romance.

Quanto ao tempo, de acordo com A criação literária, de Massaud Moisés (1967, p. 44), na narrativa desse gênero, comumente os acontecimentos se dão em um espaço curto, passando- se apenas em horas ou dias. Nos contos “As palavras secretas” e “Sem os outros”, ao contrário, observamos que a narrativa abrange um grande espaço de tempo da vida dos protagonistas. Temos, então, a história de Matias narrada desde sua infância até a sua juventude, e a de Joana, desde sua infância até sua fase adulta.

Quanto ao espaço, Massaud Moisés, (1967, p. 43), afirma que o conto trabalha-o de modo restritivo, em geral, apenas um lugar, pois raramente a personagem se movimenta. Em “A ele chamarei Morzek”, “As palavras secretas”, “Sem os outros” e “A arte racional de curar”, temos o inverso: os espaços são múltiplos, e, inclusive, as personagens se deslocam constantemente.

Observamos que alguns desses contos apresentam estruturas que são possíveis devido ao caráter alongado dos contos. Em “As palavras secretas”, ora a narrativa se volta para Matias na sua busca pelos eremitas, ora se volta para o que acontece na gruta do desfiladeiro. Esses dois momentos acontecem concomitantemente no tempo, mas na estrutura da narrativa aparecem de forma intercalada e são separados por um traço. No conto “A arte racional de curar”, encontramos duas narrativas e a presença de outro tipo de discurso, o poema. E na “Ilha do caranguejo”, vemos que o autor deixa um espaço entre trechos da narrativa, a fim de separá-los, como se fossem capítulos.

7 CONCLUSÃO

Notamos que muitos aspectos são recorrentes nos contos de As Palavras Secretas. Em todas as narrativas, de forma mais acentuada ou mais tênue, surge a questão da identidade. Por duas vezes essas narrativas tocam na questão da imitação do outro, como forma de construção de uma personalidade. Temos, então, personagens que constroem uma identidade pautada nas características do outro e entram em conflito consigo mesmas por não se identificarem com a individualidade alheia. Assim, temos a fragmentação do indivíduo - marca muito significativa do conto contemporâneo.

Nos três primeiros contos - “A ele chamarei Morzek”, “As palavras secretas” e “Sem os outros” - os protagonistas precisam isolar-se para encontrar sua própria identidade .

Encontramos, também, em três das narrativas dessa obra - “As palavras secretas”, “ Eu, o estranho ” e “Os distraídos ” - o elemento neofantástico, que é uma proposta do crítico argentino Jaime Alazraki de uma nova abordagem para o gênero fantástico, surgido a partir do século XX.

Para que o leitor possa perceber o interior tenso e confuso com o qual convive cada protagonista, Figueiredo constrói narradores que contam sua própria história ou narradores que têm o poder da onisciência, por isso encontramos em As Palavras Secretas somente narradores autodiegéticos ou heterodiegéticos oniscientes.

Quanto à composição estrutural, notamos que as narrativas, em sua maioria, são não- lineares: apresentam estrutura circular e digressões. Além disso, a obra é composta por narrativas muito alongadas e que, portanto, apresentam características próprias do romance: espaços múltiplos, tempos que abrangem grande parte da vida das personagens, e divisões de trechos da narrativa como se fossem capítulos.

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