3.2 Descrição da proposta
3.2.4 Contração do Espaço
Neste tópico, pretendemos explicar como o comprimento de um corpo varia de referencial para referencial. À semelhança da simultaneidade dos acontecimentos e da dilatação do tempo, recorremos a uma experiência imaginada e construímos diferentes representações para estudar esta situação. Também fazemos a transição da representação dos referenciais fixo e móvel para uma representação esquemática, possibilitando chegar à expressão matemática que relaciona os dois comprimentos medidos em referenciais diferentes.
A Figura 3.6 mostra uma sequência de slides em que fazemos novamente a relação entre os comprimentos medidos em referenciais diferentes, utilizando o diagrama de espaço-tempo. Esta representação também pode ser acompanhada pelo exemplo que construímos com o software Geogebra (Figura 3.7) para modelar a situação.
52 Figura 3.6 Sequência de slides para explicar a relação entre os comprimentos da carruagem
medidos em referenciais diferentes
A atividade com o Geogebra permite reificar conceitos, isto é, concretizar os objetos abstratos, no sentido que são representações de ideias ou relações, conferindo-lhe o estatuto de “objetos diretamente manipuláveis”, no sentido que podem ser diretamente manipuláveis no computador. Podemos ir construindo o diagrama de espaço-tempo: colocar os eixos dos referenciais fixo e móvel, a linha do mundo do sinal luminoso e do espelho, alterar a velocidade da carruagem em relação à velocidade da luz, alterar a distância do espelho à lâmpada e estudar a implicações resultantes destas manipulações.
53 Figura 3.7 Animação criada no software Geogebra de um diagrama espaço-tempo
Esperamos ter clarificado como construímos a sequência didática, pretendendo reproduzir o processo de pensamento, diminuir a carga cognitiva, promover a discussão com pequenas questões e utilizar múltiplas representações da mesma situação, de forma a que possamos trabalhar a diferenciação progressiva e a reconciliação integradora, consolidando os novos conhecimentos aos anteriores.
O número de slides é elevado mas, desta forma, o aluno, ou professor, pode optar por avançar mais rapidamente e navegar pela proposta, de acordo com o seu ritmo de aprendizagem.
O diagrama em V representado na Figura 3.8, esquematiza o processo de construção da proposta didática. Na parte central deste diagrama estão a questão de investigação e as subquestões, que orientaram o nosso trabalho. No vértice do V, estão os acontecimentos (construção da proposta didática potencialmente significativa) que irão responder às questões de investigação e que estão intimamente interligados aos dois lados do V. O lado esquerdo do V refere-se ao domínio conceptual e o lado direito do V, o domínio metodológico, existindo uma permanente interação entre os dois lados de modo que tudo o que é feito no lado metodológico é guiado por conceitos, princípios, teorias e filosofia do lado conceptual.
54 Figura 3.8 Diagrama em V da proposta didática.
Domínio conceptual Domínio metodológico
Filosofia:
Construtivismo.
Teorias:
- Teoria da Relatividade Restrita (TRR). - Teoria da aprendizagem significativa de Ausubel, Novak e Gowin.
- Teoria do interacionismo social de Vygostsky.
- Transposição didática.
Princípios:
- Postulados da TRR.
- O conhecimento prévio é a variável que mais influência as aprendizagens. - A aprendizagem significativa depende da intencionalidade do aprendiz.
- Os materiais e as estratégias devem ser potencialmente significativas.
- São as situações que dão sentido aos conceitos.
- O professor é o organizador do ensino. - A avaliação deve buscar evidências de aprendizagem significativa.
- Um episódio educativo envolve uma relação quadrática entre aluno, docente, materiais educativos e computador, dentro de um contexto.
- A aprendizagem deve ser significativa.
Conceitos:
Física:
Tempo; espaço; simultaneidade; velocidade; referenciais inerciais e diagramas de espaço- tempo
Ciências da Educação
Educação; ensino; aprendizagem; curriculum; aprendizagem significativa; reificação de conceitos; concepção alternativa; situações-problema;
negociação de significados; diferenciação progressiva; reconciliação integrativa; consolidação; mediação; progressividade; complexidade; organizadores prévios; múltiplas representações; familiarização e avaliação.
Juízos de valor:
- Elaboração de uma sequência didática teoricamente fundamentada e, por isso, com maior potencial de êxito na facilitação da aprendizagem significativa.
Juízos cognitivos (afirmações sobre conhecimentos):
- Ter em atenção o conhecimento prévio do aluno, os organizadores prévios, a diferenciação progressiva, a reconciliação integradora e a consolidação.
- Promover atividades colaborativas em grupo, ou individualmente, de situações- problema; mediando a negociação e a captação de significados.
- Procurar evidências de aprendizagem significativa dentro de uma perspetiva de progressividade e complexidade.
Transformações:
Organização da unidade didática partir de uma filosofia educacional, das teorias e princípios de aprendizagem significativa e da transposição didática.
Registos/factos:
- Resolução de questões envolvendo situações-problema.
- Inquérito por questionário.
- Conhecimentos curriculares específicos a serem trabalhados em situação formal de ensino.
- Conhecimentos prévios dos alunos. - Materiais instrucionais.
- Estratégias de ensino diversificadas.
Acontecimentos
Construção da proposta didática potencialmente
significativa
Questão de investigação:
Que estrutura curricular é a mais adequada para favorecer a aprendizagem
significativa da TRR?
Subquestões:
- Quais são as principais dificuldades dos professores
e dos alunos? - Quais são as conceções dos
professores e dos alunos sobre os aspectos essenciais
da TRR? - Quais são os materiais que os professores utilizam na preparação das aulas? - Qual é a importância da aprendizagem da TRR no ensino secundário?
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4 Dois estudos de caso
Neste trabalho, elaboramos dois instrumentos investigativos para a recolha de dados de uma amostra de conveniência não aleatória, de forma a responder às nossas questões de investigação.
Realizamos uma pesquisa e análise da literatura publicada em revistas científicas e em dissertações, em documentos e em livros, das dificuldades concetuais existentes nos alunos e nos professores e das propostas didáticas. Com base neste estudo, elaboramos uma proposta didática da TRR, onde abordamos a experiência de Michelson–Morley, numa perspetiva histórica e experimental, a simultaneidade de acontecimentos, a dilatação do tempo e a contração do espaço.
Um dos instrumentos investigativos, teste (Anexo I), foi aplicado a professores e alunos para verificar se as conceções no ensino da TRR eram semelhantes às detetadas em outros estudos.
O outro instrumento investigativo, inquérito por questionário (Anexo II), foi aplicado a professores com o objetivo de avaliar do ensino da TRR e a proposta didática elaborada sobre esse ensino, pretendendo responder a algumas questões deste estudo:
Que estrutura curricular é adequada à aprendizagem da TRR?
Qual é a importância da aprendizagem da TRR no ensino secundário? Quais são as principais dificuldades dos professores?
Quais são os materiais que os professores utilizam na preparação das aulas?
Também realizamos um inquérito por questionário a alunos (Anexo III), como objetivo de avaliar do ensino da TRR e a proposta didática elaborada sobre esse ensino, pretendendo responder a algumas questões deste estudo:
Quais são as principais dificuldades dos alunos?
Qual é a importância da aprendizagem da TRR no ensino secundário, para os alunos?